Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir.
Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives
“Foi um teatro montado para entregar o Maracanã” diz manifestante
10 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários aindaPublicado no blog Copa Pública
O Copa Pública pediu ao membro do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas Gustavo Mehl, que participou da audiência pública, contar o que de fato aconteceu por lá. Leia:
“Logo no início da audiência de ontem, a gente pediu a fala. Era uma estratégia que estava combinada entre pais da Escola Municipal Friedenreich, alguns atletas, o pessoal da Aldeia Maracanã e o Comitê Popular. Eu li uma carta dizendo que a audiência não era válida porque um debate anterior deveria ter sido feito, sobre qual o tipo de gestão que o Maracanã deve ter, se pública ou privada e dizendo que a gente não iria participar desta farsa. Havia mais de 500 pessoas no lugar e todas estavam revoltadas, aplaudindo e gritando de forma unânime contra o teatro que estava montado para a entrega do Maracanã.
A partir daí foram duas horas de protestos, não houve audiência. Nós temos acompanhado várias audiências públicas do Estado do Rio de Janeiro e a verdade é que inverteram a lógica do que deveria ser uma conquista histórica de participação popular. São apresentados projetos, abre-se para algumas interferências e independente do que é falado, eles tocam o barco da maneira como querem. As audiências públicas são uma obrigação legal, mas estão funcionando como um rito formal para legitimar processos arbitrários.
Nós chegamos à audiência ontem conscientes de que esse circo iria ser armado novamente. Foram duas horas de vaias, apitaços, os ânimos estavam exaltados mas não houve violência em momento algum. De fato um indígena jogou uma sacola com fezes em direção à mesa, mas foi uma coisa dele, nós não sabíamos de nada. Alguns parlamentares concordaram que seria melhor cancelar a audiência pública e ainda assim o secretário estadual da Casa Civil, Régis Fichtner, como a gente esperava, seguiu com uma atitude extremamente patética, dizendo que “não era um pequeno grupo que iria fazer com que ele acabasse com a audiência”. E isso revoltou o pessoal ainda mais porque não era um “grupinho”, eram mais de 500 pessoas! Não existiu audiência pública. O que aconteceu foi uma grande confusão, falas da mesa ao microfone sendo abafadas pelas vaias e pelo clamor das pessoas.
Ainda assim, eles foram levando do jeito que dava e no fim o secretário declarou que seria uma derrota para a democracia se ele encerrasse a audiência. Mas que demoracia é essa? Nós estamos justamente criticando este processo tão arbitrário, quando o governo demoliu o Maracanã que tinha acabado de passar por duas reformas de mais de 400 milhões de dinheiro público. Era ali que deveria ter acontecido o debate. Desde o ano passado, quando o governo começou de forma mais concreta a afirmar para a imprensa que o Maracanã iria ser privatizado. Agora eles “destombam” o Julio Delamare às vésperas da minuta do edital, divulgam a nota do edital sem ter consultado a população ou os grupos afetados, fazem essa audiência pública mas na mesma semana o próprio secretário, o Sérgio Cabral e a secretária de esportes e lazer vão à imprensa para dizer que já está tudo fechado, que o modelo de privatização é esse, que a demolição da escola vai acontecer, que os equipamentos esportivos vão ser demolidos, que o Museu do Índio vai ao chão. De que adianta uma audiência Pública se as cartas já estão marcadas? Foi um escândalo, um escárnio e um grande símbolo de como a gente vive um momento muito delicado, não só no Rio de Janeiro mas em todo o país, de crise dos processos democráticos.
A demolição do Maracanã, a privatização e a intenção de elitizar o uso do estádio é um dos maiores crimes da história do Rio de Janeiro e da história do Brasil. Estão ignorando a nossa relação com o estádio e a vontade dos verdadeiros donos do Maracanã, as pessoas que usam, se relacionam, os torcedores brasileiros. O Maraca é nosso, não é a toa que os torcedores cantam isso. Se houve algum sentido nessa audiência pública de ontem, foi o de mostrar claramente o que a sociedade civil está dizendo sobre este processo. Não nos representa, não reconhecemos, não aceitamos e manifestamos repúdio absoluto à prepotência e autoritarismo do governo que imagina que vai tocar projetos contrários à vontade da população de forma impune.
Temos registros suficientes para provar que essa audiência não aconteceu. E vamos acionar os mecanismos competentes para questionar judicialmente a legitimidade dessa audiência. Não é possível que a demoracria brasileira aceite tamanho autoritarismo. Algum dia vão analisar o processo de destruição, reconstrução e venda do Maracanã, como um evento histórico emblemático da falta da participação popular e atentado à democracia”.
Popout
*Agradecimentos especiais ao fotógrafo André Mantelli que também estava lá e nos cedeu estas belas imagens
O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.
De volta à origem
8 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda Como na saga Guerra nas Estrelas, a história dos “mensalões” nacionais foi contada, até agora, de trás para frente. Assim como no clássico de George Lucas, a TV Justiça, no caso do “mensalão do PT”, apresentou ao público o enredo final de um psicodrama político sem antes informar o contexto da tragédia providencialmente encenada antes do segundo turno das recentes eleições municipais. A origem do épico mensaleiro espera, contudo, a hora de entrar em cartaz, assim que acabar o dilema da dosimetria dos 25 condenados do escândalo petista. Teremos, finalmente, caso a série realmente chegue ao final, a explicação sobre como Marcos Valério de Souza foi essencial no derrame de 100 milhões de reais no caixa 2 do PSDB com o apoio de empresas estatais mineiras comandadas pelo então governador do estado, o atual deputado federal Eduardo Azeredo.Escrito por Leandro Fortes e publicado na Carta CapitalVem aí (vem?) o “mensalão tucano”, a origem de tudo. Chamado de “mensalão mineiro” por setores condescendentes da mídia, foi formalmente classificado como “tucanoduto” e “valerioduto tucano” pelos agentes federais que o investigaram. Para quem assistiu ao julgamento do caso do PT no Supremo Tribunal Federal, ninho de inovadoras teses de domínio de fato e a condenações baseadas em percepções sensoriais, o “mensalão tucano” será ainda mais surpreendente por ter em abundância aquilo que muita falta fez no caso de agora: provas contundentes.
A certidão de nascimento do milionário esquema de lavagem de dinheiro montado por Marcos Valério em Minas e depois exportado ao PT é uma lista de pagamentos elaborada por Cláudio Mourão, tesoureiro da campanha de Azeredo, em 1998. Revelada em 2007, a lista trata de um total de repasses equivalente a 10,8 milhões de reais a parlamentares de 11 partidos, inclusive do PT, mas onde reinam soberanos o PSDB e o PFL, atual DEM. Mourão tentou negar a veracidade da lista, mas foi obrigado a reconhecer sua assinatura no papel depois de ser desmentido por uma perícia da Polícia Federal.
*Leia matéria completa na Edição 723 de CartaCapital, já nas bancas
Brasil é uma alternativa de gestão frente aos falidos modelos europeu e norte-americano para Domenico De Masi
7 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda Por André BürgerEm encontro na ESPM-RJ realizado em 5 de novembro, o sociólogo Domenico De Masi disse que o Brasil pode servir de modelo para o futuro do desenvolvimento do planeta. Segundo o autor da célebre obra 'O ócio criativo', lançada em 2000 (Ed. Sextante), somos uma democracia consagrada e sem tradição de guerras e, entre outras vantagens, somos um país politeísta, com crescimento econômico e uma única língua oficial. "Os brasileiros têm uma cultura baseada no acolhimento. São muito alegres, solidários e criativos", reconhece.
Para De Masi, o Brasil acompanhou por 450 anos o padrão econômico europeu e, nos últimos 50, as práticas norte-americanas de desenvolvimento. Com ambas as regiões em crise, o italiano acredita que temos a capacidade de criar um novo modelo organizacional.
Segundo o sociólogo, apesar de o país de Tom Jobim e Vinícius de Moraes não ser um expoente na produção científica e tecnológica, é uma nação muito criativa nas áreas de entretenimento, design e moda. "O mercado televisivo, com sua estética original, é um exemplo disso. O mesmo pode-se dizer da produção musical. Ao longo dos anos, o país soube preservar seus aspectos de brasilidade mesmo com as influências externas", explicou.
No livro que o fez famoso, De Masi apresentou sua insatisfação com o modelo social elaborado pelo Ocidente, focado na idolatria do trabalho e da competição mercadológica. Em 'O ócio criativo', propôs um cotidiano baseado no equilíbrio entre trabalho, conhecimento e divertimento, além de mais atenção à redistribuição do tempo, da riqueza, do saber e do poder. "É importante ressaltar que o ócio criativo não é ficar sem fazer nada e ser preguiçoso", esclareceu mais uma vez.
No evento, De Masi destacou a crise da Europa. "Muitas escolas de filosofia na Itália fecharam as portas nos últimos anos. Os jovens migraram para os cursos de economia e engenharia. Considero isso um suicídio. Por mais que engenheiros sejam importantes para se criar um iPad, por exemplo, precisamos de profissionais formados nas áreas de humanas para criar seus aplicativos e outros conteúdos para estes aparelhos", ponderou.
O filósofo criticou ainda os modelos indiano, chinês, americano - e seu consumo desenfreado - além do islâmico que, segundo ele, está presente em vinte países, na sua maioria, absolutista. "Enquanto na China e na Índia há o politeísmo, nas nações islâmicas há um monoteísmo muitas vezes fanático. Qualquer coisa feita deve ser avaliada de acordo com as escrituras sagradas, que oferecem várias interpretações", ironizou.
O italiano reprovou as práticas de gestão da atualidade. Lembrou que as regras de administração aplicadas até hoje surgiram na época em que prevaleciam os trabalhos manuais. São normas defasadas para cargos e profissões intelectuais que proliferaram com a evolução tecnológica. "Infelizmente, o atual modelo não leva em consideração esses profissionais. A criatividade é caprichosa", lembrou o sociólogo, para quem o processo criativo requer tempo e não pode ficar preso à rotina das oito horas diárias de trabalho.
"As sociedades ganham muito mais com a solidariedade do que com a competitividade. Além disso, o capitalismo vem se matando. O sistema vive de consumo. Se os bens se concentram nas mãos de poucos, não há consumo equilibrado. Por isso a fortuna concentrada destrói esse modelo. O empresário italiano Adriano Olivetti defendia que um presidente de empresa não poderia ganhar mais de cinco vezes o salário de um operário da mesma companhia. Infelizmente, essa filosofia não foi para frente".
De Masi lançou em parceria com o fotógrafo Oliviero Toscani, conhecido pelo trabalho visual desenvolvido para a grife Benetton, o livro 'A felicidade' (Ed. Globo, 2012). Na obra, por meio de textos e fotografias, os autores propõem uma reflexão sobre a relação entre esse sentimento humano e seus temas correlatos como riqueza, segurança e beleza.
Entrevista com Arthur de Faria, colunista do Sul 21
7 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários aindaEste texto estilo ‘jornalismo Wando’ acaba por aqui e seguem as falas de Arthur de Faria.
ComunicaTudo - O que veio antes, o jornalismo, o rádio ou a música?
Arthur de Faria - A música. Com 12 anos eu já sabia que queria ser músico. Aos 15, quando fui fazer vestibular, já estudava na Escola de Música da OSPA, e achei que era uma boa ter outra profissão que me desse mais dinheiro. Fiquei entre bioquímica e jornalismo. Escolhi jornalismo. Poucas vezes errei tão feio, rererere. Rádio foi um acaso. Nunca fui ouvinte de rádio. Até hoje não sou. Tava desempregado, apareceu o convite, fui ficando, ficando... em maio que vem completo VIN-TE anos no mesmo emprego!
ComunicaTudo - Como surgiu a pesquisa que mapeia a história da música em Porto Alegre? Há quanto tempo está rolando?
Arthur de Faria - Desde guri sempre gostei muito de música brasileira dos anos 1920, 30 e 40. Até hoje um dos meus cantores preferidos é o Francisco Alves. E nem falar nos compositores geniais desses anos, Noel, Caymmi e Ary Barroso na frente, mas poderia te citar uns vinte de que gosto muito. Bom. Aí, em 1989, quando fui trabalhar na Zero Hora, comecei a fazer matérias sobre artistas nascidos na Zona Norte, já que minha primeira editoria foi o efêmero caderno ZH Zona Norte. Fiz um materião sobre o rock do IAPI, outro sobre a Elis, matérias imensas mesmo, entrevistando muita gente. Fui guardando... Em 1991, o Carlos Branco, então coordenador de música da Secretaria Municipal de Cultura, governo Olívio, concebeu uma série de CDs e fascículos sobre a História da Música de Porto Alegre. Eu era do conselho e escrevi o primeiro, sobre as Origens da música da cidade - da fundação até antes do rádio. Aí já tinha um começo e uns meios. Resolvi continuar escrevendo, sempre, meio aleatoriamente. Em 1999 de novo o Branco: vendeu um projeto pra CEEE de lançar um livro com cinco CDs contendo 100 músicas que contava a história da música do RS no Século XX. Eu escrevi. Aí nunca mais parei.
ComunicaTudo - Encontraste algum registro raro durante a pesquisa?
Arthur de Faria - Bah. Centenas, meu. Tou publicando tudo.
ComunicaTudo - Acompanho tua coluna no Sul 21, como surgiu o convite?
Arthur de Faria - Pois então. Os caras me propuseram uma coluna semanal sobre música. Não topei, mas contra-ataquei: vocês não se interessam por publicar meu livro de mil páginas que eu já desisti de ver em papel? Toparam. E te juro que tou achando melhor que um livro físico, pela absoluta liberdade em botar tantas fotos quanto eu quiser, tantos links quanto eu quiser, fazer os soundclouds com as músicas de que estou falando... Já temos 10 horas de música de Porto Alegre, em variados soundclouds, e eu nem cheguei nos anos 1960 ainda...
ComunicaTudo - Tens alguma opinião formada sobre a questão da Ley de Médios e a democratização dos meios de comunicação no Brasil?
Arthur de Faria - Putz. Deveria, mas não. Nem sei o que é a Ley de Médios...
ComunicaTudo - Cara, como ouvinte do Programa Cafezinho, é inevitável de te perguntar sobre a revista do Civita. Sempre que questionado, tu mencionas as capas sobre a morte de Elis Regina ou sobre Cazuza. A Revista Veja tem sido duramente criticada por seus métodos, as ligações com o bicheiro Cachoeira, publicação de declarações ou de entrevistas que não aconteceram e por aí vai, tem como tu contar um pouco de sua experiência de trabalho na Revista Veja?
Arthur de Faria - Foi o que me fez desacreditar no jornalismo. Tinha sido demitido da Zero, onde adorei trabalhar, fiz muita coisa e raríssimas vezes fui censurado, e aí pintou esse free-lancer fixo na Veja/RS, que hoje não existe mais. A gente ia trabalhar todos os dias, mas não era contratado. Bom, aí não cheguei a oito meses e saí fora. Nesses oito meses ganhei inimigos que, alguns, me acompanham até hoje. E tem razão: eu entrevistava os caras e aí saía (MUITAS VEZES), entre aspas, coisas que eles não haviam dito. Nem tampouco eu havia escrito. Isso era praxe. Nas matérias pra Veja nacional então, era ridículo.
ComunicaTudo - Atualmente, como tu vê o cenário jornalístico do país?
Arthur de Faria - Peguei nojo.
ComunicaTudo - Costumas ler blogs jornalísticos? Os ‘blogs sujos’ tem tua leitura?
Arthur de Faria - Putz. Deveria, mas não. Nem os sujos nem os limpos.
ComunicaTudo - Tens algum posicionamento político declarado (partido, ideologia)?
Arthur de Faria - Olha, sou um cara de esquerda. Metodologicamente, marxista. Fui petista muito tempo, até o Alencar entrar de vice do Lula. Hoje sou Oliviodutrista e Fláviokoutzista. Como ambos, ao que parece, jogaram a toalha de concorrer a qualquer preço, tou meio solitário. Sobrou a Luciana Genro. Ah, essa também não tem concorrido a nada. Xiiii, acho que tou MUITO solitário.
Mas acredito num Estado Social Democrata como o melhor dos mundos possíveis. Mais que isso a história já provou que não dá certo, infelizmente.
ComunicaTudo - Certa feita, em teu Facebook publicastes um e-mail da assessoria de uma candidata a prefeitura de Porto Alegre, tem como contar aos leitores este episódio?
Arthur de Faria - O pessoal da campanha da Manuela, que eu nem sei quem são, e não tem culpa disso - certamente não a pobre da guria que me mandou o mail, o resto eu não sei -, entrou em contato pra eu gravar um video QUE NÃO ERA DE APOIO À CAMPANHA, mas sim em homenagem ao Dia do Rock. Ah, tá. Se tivessem me convidado a gravar um video de apoio à campanha, eu teria dito que não, porque não seria ela minha candidata, e ficaria por isso. Mas subestimar a gente nesse nível eu achei um desaforo. Copiei, tirei o nome da guria, e colei no facebook. Com a minha resposta: "Olha, se tiver um video de campanha CONTRA a Manuela, me chama que eu vou". Ou algo parecido.
ComunicaTudo - Arthur tu reciclou/aboliu a TV da tua casa, transformando-a em monitor de PC e em cama para teus gatos, cara, chega a ser tipo uma desintoxicação da agulha hipodérmica da programação?
Arthur de Faria - É desinteresse mesmo. E só pode ser assim, obviamente, porque a minha amada mulher tem o mesmo nível de desinteresse que eu. Mas minha filha, ainda que hoje seja 90% youtube e 10% TV tá neste momento vendo a tal novela boa essa que todo mundo fala, junto com a minha mãe, que veio visitar a gente. Acho que deve ter coisa boa na TV, mas não vou pagar cabo de novo nem fodendo. Tu troca 60 canais em três minutos e não tem bosta nenhuma que te prenda a atenção. Faz quatro anos que a gente não vê NENHUMA TV, eu e a Áurea. E sentimos ZERO falta.
ComunicaTudo - Como é ser um gaúcho ‘fora do eixo Gre-Nal’? Esse posicionamento já gerou alguma história tragicômica?
Arthur de Faria - Não, acho que não...
ComunicaTudo - Gostas de futebol?
Arthur de Faria - Poucas coisas na vida eu acho mais aborrecidas que futebol. Uma delas é a histeria patética de homens adultos discutindo sobre qual dos times escolhidos pra "torcer" joga mais bola. Não consigo fazer sinapse com a possibilidade disso ser um assunto para alguém com mais de sete anos de idade. Tou falando sério.
ComunicaTudo - E do Maradona?
Arthur de Faria - Figuraça!
ComunicaTudo - Sei que tu és um puta fã do cineasta Emir Kusturica, já assistiu ao filme ‘Maradona Par Kusturica’?
Arthur de Faria - SIM! Sen-sa-cio-nal. E eu resisti bravamente, mas não pulei as partes em que ele joga bola, rererere.
ComunicaTudo - Cara, e o ECAD? Dá pra fazer uma grana com esse modelo? Ou o modelo digital com ‘reconhecimento de música’ que deve ser implementado pelo Governo Federal será melhor? Ou será apenas ‘menos pior’?
Arthur de Faria - Cara, é um assunto que eu preciso estudar melhor. Mas só o que eu garanto é que, a cada três meses, recebo da minha entidade arrecadadora, a UBC, um dinheirinho arrecadado pelo ECAD. Re-lo-gio-sa-men-te. Às vezes são dezenas de reais, já aconteceu de ser milhares. NÃO TEM que acabar com o ECAD. Tem de fazer funcionar cada vez melhor.
ComunicaTudo - Cara, tuas andanças com a música te levaram do Rio Grande do Sul, passando por São Paulo, sertão, Acre, Argentina Uruguay e Leste Europeu, tem algum lugar que ainda não foste que gostaria de ir tocar?
Arthur de Faria - Bah, MUUUUUITOS. Dos estados brasileiros, toquei no máximo na metade. Da América Latina, só Buenos Aires e Montevideo. Da Europa, só Barcelona, Viena e Praga. E nunca toquei em Novo Hamburgo!!!
Mas acho que onde mais queria tocar, se fosse escolher, entre os lugares onde não estive, é no Japão. Todo mundo que vai tocar lá dos meus amigos volta pasmo com a recepção dos caras.
Foto de Fernanda Female |
Arthur de Faria - Parado, mas em hibernação. Se pintar alguma oportunidade, a gente se reúne de novo. Mas este ano tivemos um baque tristíssimo: o Osvaldo morreu, depois de três batalhas contra o câncer. Ganhou duas. Quando a gente se encontrar de novo, a gente vai sentir muita falta dele. Eu passei dias tristíssimo. Ele era uma pessoa e um músico muito, muito, muito especial.
ComunicaTudo - O teu projeto Duo Deno trocou mesmo de nome?
Arthur de Faria - Ainda tamos atrás, mas não é meu. É meu e do Pezão!
ComunicaTudo - Descrito no You Tube como: “Uma produção Black Maria concebida, roteirizada e dirigida por Gustavo Fogaça, o Guffo, em homenagem à pujança e a variedade da mulher gaúcha. E valorizando tudo que havia de melhor no pornô brasileiro dos anos 80. Menos o sexo.”
O clipe de Prenda Minha do Arthur de Faria e Seu Conjunto é frenético e dá ao espectador a oportunidade de, mentalmente, completar a ação da cena. Como surgiu a ideia pra esse conceito que funcionou tão bem?
Arthur de Faria - Os méritos são todos do Guffo! Uma graaaaande sacada!
ComunicaTudo - Além de radialista, pesquisador, músico, jornalista, mestrando em letras e arranjador, ainda tu é produtor musical. Teu trabalho mais recente nesta área, o álbum ‘It’s a Clown Music! Bandinha Di Da Dó’, que tal a experiência de trabalhar com a vertente circense sem perder a essência da rua?
Arthur de Faria - Foi um dos trabalhos mais prazerosos da minha vida. A idéia foi tentar compensar o que o disco não tem - a incendiária performance deles - com coisas que eles não podem ter sempre: muitos convidados colorindo tudo. Acho que deu certo.
ComunicaTudo - Como surgiu o ‘título’ o ‘Bregovic'*** dos Pampas’?
Arthur de Faria - Surgiu!?!?!? Bah, quem me dera!
ComunicaTudo - O Blog Comunica Tudo já derrotou a Rainha dos Baixinhos no prêmio Top Blog, alguma mensagem em especial?
Arthur de Faria - Queria mandar um beijo pra voxêis!!!!
ComunicaTudo – Ôtro.
* Combo que reúne músicos de Montevideo, Buenos Aires, Porto Alegre e São Paulo.
** Duo de Arthur com o baterista Fernando Pezão.
***Músico e compositor sérvio-bósnio que mistura ritmos tradicionais da Sérvia e arranjos modernos e pop.
Links dos trabalhos de Arthur de Faria:
Arthur de Faria pode ser ouvido na Pop Rock FM (www.poprock.com.br/) nos programas Vitrola Minha Vitrola (DOM 12hs), Cafezinho (SEG-SEX 12hs), Café das Cinco (SEG-SEX 17hs) e, ocasionalmente, no esportivo/futebolístico Refri, Cerveja e Água (SEG-SEX 13hs).
Facebook: https://www.facebook.com/ArthurdeFaria
Site Arthur de Faria & Seu Conjunto: http://www.seuconjunto.com.br/
MySpace do Duo Deno: http://www.myspace.com/duoduodeno
MySpace do Surdo Mundo Impossible Orchestra: http://www.myspace.com/surdomundo
Coluna de Arthur no Sul21: http://sul21.com.br/jornal/category/colunas/arthur-de-faria/
PS: Esta entrevista não existiria sem as mãos de Diego Pignones, colunista do Comunica Tudo.
Crise? A estratégia da Globo para o futuro
7 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda A saída da Globo do controle da NET Serviços deve ser analisada com muito cuidado. Segundo a visão deste blog, trata-se praticamente da conclusão de um processo que se iniciou há mais de dez anos, quando a Globo entrou em crise, incapaz de pagar suas dívidas. A decisão, então, foi manter o controle familiar do grupo (sem ceder participação patrimonial aos credores), mas vender quase tudo o que não estivesse relacionado diretamente com a produção de mídia.Por Gustavo Gindre, no Observatório do Direito à Comunicação
Foram vendidas fazendas, uma financeira (Roma), uma construtora (São Marcos) e vários outros negócios, muitos deles ligados à comunicação. A Globo deixou o controle da subsidiária da NEC no Brasil, praticamente encerrou as atividades de sua gravadora Som Livre, fechou a distribuidora Globo Vídeo e o varejo da Globo Disk, saiu da Teletrim, da TV portuguesa SIC e da Maxitel (atualmente parte da TIM), vendeu a empresa de telecomunicações Vicom e a gráfica Globo Cochrane e liquidou o sonho de uma operadora de parques temáticos.
Essa redução implicou, também, em desistir do mercado internacional. Embora importante como estratégia de divulgação, o lucro com a venda de novelas para outros países sempre foi residual no faturamento da Globopar. Ao mesmo tempo, a Globo International jamais ambicionou ser nada além de um canal para brasileiros vivendo fora do seu país.
Concorrentes nacionais
Na crise a Globo não esteve sozinha. Praticamente todos os grandes grupos de mídia brasileiros também reduziram suas ambições neste mesmo período. Hoje, a Globo tem receita líquida anual maior do que a soma de Record, SBT, Grupo Bandeirantes, RedeTV, Folha de São Paulo, Grupo OESP, UOL, RBS e Abril. Adversários como JB e Manchete ficaram pelo caminho. Some-se à fragilidade e incompetência dos outros grupos brasileiros de mídia, a atuação dos sucessivos governos, que, seja como regulador ou como fomentador, jamais demonstraram vontade de encarar o poderio da família Marinho.
Concorrência estrangeira
Mas, o cenário é completamente diferente quando se analisa os adversários estrangeiros.
Enquanto vendia a NET Serviços para Carlos Slim, a Globo assistiu a Televisa impedir o mesmo Slim de entrar no mercado mexicano de TV a cabo ao mesmo tempo em que investia no mercado de telefonia celular (Lusacell) e nos consumidores hispânicos que vivem nos Estados Unidos. Mas, os maiores temores da Globo não estão na América Latina.
A família Marinho teve forças para impedir que a TV aberta brasileira se tornasse interativa (mesmo tendo que praticamente banir o uso do middleware brasileiro conhecido como Ginga). Mas, ela não pode lutar contra o fenômeno das smartTVs e da chegada do video on demand. Com isso, empresas como Samsung, LG, Sony, Google, Apple e Amazon, que até então atuavam em outros mercados, passaram a disputar a audiência brasileira, em um fenômeno que só tende a crescer nos próximos anos.
Mas, há dois outros adversários ainda mais próximos. Se é poderosa no mercado nacional, a Globo não tem porte para enfrentar as operadoras de telecomunicações e os estúdios de Hollywood. Incapaz de derrotá-los em próprio solo brasileiro, a Globo partiu para uma estratégia defensiva-ofensiva.
Por pressão da Globo, a Lei 12.485 praticamente excluiu as operadoras de telecomunicações do mercado de mídia. Elas não podem ter mais do que 30% de produtoras e programadoras de TV paga e emissoras de TV aberta. E também não podem contratar os direitos de eventos de “interesse nacional” (como o Campeonato Brasileiro de futebol, a Copa do Mundo, as Olimpíadas e o carnaval da Sapucaí) ou “talentos” brasileiros (como artistas, diretores e roteiristas – exceto quando for para publicidade). Ao mesmo tempo em que constrói uma barreira contra as teles, a Globo segue associada ao grupo DirecTV (na Sky brasileira) e à America Movil (na NET).
A mesma estratégia foi adotada diante das majors norte-americanas. A Globosat mantém uma associação com Universal, Paramount, Fox, MGM e Disney nos canais Telecine, além de servir de segunda janela para a Sony-Columbia no Megapix. Mas, mantém poder de veto aos canais estrangeiros na Sky e na NET.
Com isso, a Globo busca ser um ponto de passagem obrigatório no mercado brasileiro, tentando se manter como o parceiro ideal para esses grupos transnacionais, ao mesmo tempo em que lhes dificulta a concorrência.
Futuro
A estratégia é inteligente e por enquanto vem dando certo. Mas, até quando? Ao mesmo tempo, ela é sintoma de um duplo fracasso das políticas (ou da falta delas) para as comunicações brasileiras. Exceto pela Globo (e em parte por causa dela), o país não foi capaz de criar grupos fortes de comunicação. E nossa “campeã nacional” precisa lançar mão de uma série de expedientes para impedir a concorrência estrangeira.
Não se trata nem de demonizar a Globo nem, muito menos, de uma tentativa de salvá-la dos gigantes internacionais. Mas, de reconhecer que, com Globo ou sem ela, o futuro não é nada animador para a comunicação brasileira.