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Programa Nacional de Banda Larga segue inacessível à população
18 de Março de 2014, 14:35 - sem comentários ainda“A situação é rigorosamente a mesma. Não houve melhora. O governo não fiscaliza e as operadoras não prestam o serviço corretamente. Simplesmente a democratização do acesso à internet não está acontecendo”
São Paulo – Seis meses após a primeira tentativa, a RBA tentou – novamente em vão – assinar o pacote de R$ 35 mensais, por 1 megabite de velocidade de acesso, com o qual o governo federal anuncia que pretende democratizar o acesso à internet. Três das quatro empresas de telefonia habilitadas a oferecer o programa continuam boicotando o acesso da população ao serviço. E uma delas chegou a abrir o processo de contratação, mas deixou a reportagem esperando na linha até a desistência.
O Ministério das Comunicações divulgou nesta semana que o programa agora "beneficia" 4.500 municípios, em 25 estados e no Distrito Federal (na reportagem anterior eram 3.412). A RBA tentou contratar o serviço com as empresas privadas parceiras do governo federal Telefônica/Vivo, CTBC/Algar Telecom, Oi e Sercomtel, tanto pela internet como no atendimento telefônico das empresas.
Pela internet é absolutamente impossível. Nenhuma empresa tem o serviço disponível para assinatura em suas páginas na rede. Um dos critérios do programa é estar disponível em todos os meios de relação com o cliente das empresas, além de ser divulgado em condições de igualdade com os demais planos, de maior valor. Ao ligar no atendimento telefônico das empresas, os serviços mais caros sempre eram anunciados prioritariamente sobre a proposta do PNBL, apesar de a reportagem solicitar o programa governamental.
Diante da situação, a RBA procurou o Ministério das Comunicações (MiniCom). Após ser informados que não haveria possibilidade para uma entrevista, enviamos os questionamentos por e-mail, mas não tivemos resposta. O ministério também não informou quantos assinantes do PNBL há hoje no país, nem como faz a fiscalização do cumprimento do programa.
A posição é a mesma do ano anterior, quando a pasta não respondeu aos pedidos de entrevista.
Para a advogada Flávia Lefrève, da Associação de Consumidores Proteste, não há perspectiva de mudança no momento. “A situação é rigorosamente a mesma. Não houve melhora. O governo não fiscaliza e as operadoras não prestam o serviço corretamente. Simplesmente a democratização do acesso à internet não está acontecendo”, afirmou. Ela lembrou que a ação judicial movida pela Proteste, na Justiça Federal, exigindo que o PNBL seja prestado como serviço público, continua parada.
Saiba mais:
O Programa Nacional de Banda Larga foi criado em 2010, a partir de um grupo de trabalho no Ministério do Planejamento, no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A proposta básica é a prestação do serviço de banda larga de 1 mega, ao custo fixo de R$ 35 mensais, sem a necessidade de assinar outros serviços ou pacotes.RBAPaulo Bernardo, o ministro
A proposta inicial era reestruturar e capitalizar a estatal Telebras, subordinada ao Ministério das Comunicações, para que ela concorresse diretamente com as grandes teles na prestação do serviço. Porém, com a chegada de Paulo Bernardo ao ministério, o empreendimento foi direcionado para as empresas privadas e a Telebras foi reduzida à função de levar o serviço onde as grandes operadoras não atuam, em virtude de suas perspectivas mercadológicas
Oi
No site da Oi, o PNBL continua relegado a uma linha fina, quase da mesma cor do fundo da página, em total dissonância com a oferta dos demais planos da empresa. A empresa indica um telefone para assinatura do serviço. E aí surgem outros problemas.
Ao solicitar o programa para a Oi fomos redirecionados várias vezes. Primeiro fomos informados que o 0800 que consta do site para assinar serviços de internet não serve para o PNBL. Depois, o novo número informado também não era o correto. No terceiro número, após longa espera, desistimos. Desta vez, ao menos, não fomos encaminhados a uma loja física da Oi como ocorreu no ano passado.
Ouça a solicitação de assinatura do PNBL à Oi:
Telefônica/Vivo
Na página da Telefônica/Vivo a situação é ainda pior. O programa não aparece facilmente em nenhuma página principal: home, Internet e Para Você. Somente clicando no link Outros Planos é que se encontra o PNBL. Mas não há indicação de um número de telefone para assinar o serviço. Somente na área de contratação dos serviços da própria empresa o telefone é informado.
No atendimento telefônico foi perguntado se o assinante era beneficiário do Programa Bolsa Família, o que contraria as diretrizes do PNBL. Segundo o Ministério das Comunicações, não há necessidade de estar cadastrado em programas sociais de qualquer esfera de governo, nem limite de renda para solicitar o serviço. Ao ser informado de que a candidata a assinante não recebia o benefício, o atendente informou que seria necessário assinar telefone e internet, impondo assim a submissão às normas da empresa. A situação é a mesma do ano anterior.
Ouça a solicitação de assinatura do PNBL à Telefônica/Vivo:
CTBC Algar Telecom
A CTBC também não traz o PNBL entre suas opções principais. Inclusive, o programa não consta da opção Banda Larga. É preciso clicar em "Inclusão Digital" para encontrá-lo. O telefone para assinatura, ao menos, estava bem destacado.
A reportagem apresentou-se como pretendente a uma assinatura do PNBL para o município de Ribeirão Corrente, interior de São Paulo, conforme anunciado pelo próprio MiniCom. No entanto, o atendente afirmou que não encontrava o local no sistema da empresa e recomendou à repórter se dirigir até uma loja física da empresa, o que também contraria as normas de prestação do serviço.
Ouça a solicitação de assinatura do PNBL à CTBC Algar Telecom
Sercomtel
A única melhora na situação se deu com a empresa paranaense Sercomtel. Embora chame de Banda Larga Popular – e não PNBL –, o programa está disponível na aba Planos e Serviços, da página de venda de serviços de internet. Além disso, é possível encaminhar um e-mail de solicitação do serviço e a empresa se dispõe a entrar em contato com o cliente. Na mesma página havia o número de telefone para contratação do plano.
Pelo telefone, o atendente atendeu prontamente à solicitação do PNBL e repassou a ligação para outro atendente. No entanto, após uma longa espera pela segunda parte do atendimento, desistimos.
Ouça a solicitação de assinatura do PNBL à Sercomtel:
A Sercomtel informou em nota que a demora se deu por uma situação adversa e também relativa ao período do mês. “Em função do atraso da entrega pelos Correios das faturas telefônicas com vencimento no dia 10, o call center esteve congestionado neste dia com as ligações de clientes que queriam informações sobre o fato. O ciclo de vencimento 10 é o que concentra a maior quantidade de assinantes da Sercomtel”, diz um trecho da nota.
Segundo a empresa, o formato do PNBL não é bem aceito pelos consumidores. A Se rcomtel tem um plano chamado Internet Econômica, lançado em 2010, que custa menos que o PNBL e é pré-pago. “A internet econômica já ganhou a adesão de 19,8 mil famílias londrinenses, principalmente da periferia da cidade, distritos e região rural. Já o PNBL possui apenas 17 acessos instalados (dados de fevereiro deste ano)”, completa.
Telebras
A estatal Telebras, que originalmente iria operar o programa, hoje firma parcerias com empresas provedoras de acesso à internet em regiões que não interessam para as grandes operadoras de telefonia.
Há seis meses, a estatal não soube informar nenhum provedor para operar o programa nas cidades de Aguaí e Cotia, em São Paulo. Ambas constam do programa, mas a empresa informou que não havia atendimento nos locais.
A situação piorou um pouco. A RBA nem sequer conseguiu fazer contato com a empresa pelos telefones disponíveis. O que consta da página do PNBL retorna mensagem de que não existe. No telefone geral, uma gravação pergunta se há interesse no PNBL e ao receber a resposta afirmativa direciona a ligação. Mas o telefone toca indefinidamente, sem ser atendido.
Respostas
A CTBC Algar Telecom limitou-se a informar, por meio de nota, que preza pelo atendimento de seus clientes e cumpre as exigências estabelecidas no Programa Nacional de Banda Larga.
A Oi informou que eventuais falhas no atendimento aos clientes serão corrigidas e que cumpre rigorosamente as normas estabelecidas pela Agência Nacional de Telecomunicações. A companhia informa ainda que pretende levar o PNBL a todos os municípios atendidos por ela.
A Telefônica/Vivo não respondeu aos questionamentos da reportagem.
(Publicado por Rede Brasil Atual)
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Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Brasileiro pagará R$ 21 bilhões para cobrir golpe nas contas de luz
18 de Março de 2014, 14:22 - sem comentários aindaO povo brasileiro vai pagar a conta. Cerca de R$ 13 bilhões sairão do tesouro nacional e outros R$ 8 bilhões serão repassados nas contas de luz da população, em futuros aumentos após as eleições de outubro. Até lá, as empresas farão empréstimo a juros altíssimos junto ao capital financeiro internacional.
A informação é publicada pelo Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB, 14-03-2014.
Os R$ 21 bilhões que a população terá que pagar, referente ao ano de 2014, vai beneficiar as empresas estatais dos governos estaduais do PSDB de São Paulo (CESP), Minas Gerais (CEMIG e LIGHT) e do Paraná (COPEL) e empresas transnacionais como Duke (EUA), Suez Tractebel (FRA) e AES (EUA). O valor pode ser ainda maior.
O valor é referente a cerca de 3.500 MW médios de energia que as empresas de distribuição de energia estão comprando das empresas de geração no chamado Mercado de Curto Prazo (energia a ser entregue em menos de 6 meses) a um preço de R$ 822,83/1.000 kW.
O povo brasileiro vai pagar a conta. Cerca de R$ 13 bilhões sairão do tesouro nacional e outros R$ 8 bilhões serão repassados nas contas de luz da população, em futuros aumentos após as eleições de outubro. Até lá, as empresas farão empréstimo a juros altíssimos junto ao capital financeiro internacional.
O MAB vinha denunciando constantemente que no interior do setor elétrico nacional, um conjunto de empresas privadas e outras tucanas estavam operando um grande golpe nas contas de luz, e que os futuros aumentos nas contas de luz poderiam ficar entre 18 e 31%. Estes aumentos seriam autorizados pela Agencia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) nas vésperas das eleições presidenciais - das 64 distribuidoras, 50 teriam o aumento autorizado entre abril e outubro.
Desde 2012, quando o governo anunciou uma redução nas tarifas, estas empresas não aceitaram a intervenção do governo para controlar os preços da energia elétrica e passaram a fazer uma grande disputa, chantageando o governo e a população com as chamadas “crises” no setor elétrico, com ameaças de apagões, etc.
Na renovação das concessões no final de 2012, os cerca de 7.700 MW médios das hidrelétricas da estatalEletrobrás, controladas pelo Governo Federal, passaram a vender sua energia a R$ 33,00/1.000 kW e isso permitiu uma redução da conta de luz da população.
No entanto as empresas Cesp, Cemig e Copel, que possuíam cerca de 5.500 MW médios, negaram-se a renovar as concessões e não aceitaram abaixar o preço. Além disso, a Light (de propriedade da Cemig) e a Duke possuem outros 800 MW médios que também ficaram livres para serem vendidos a R$ 822, já que seus contratos de venda se enceraram em 2013.
É a energia destas empresas que está faltando para as distribuidoras e que ao mesmo tempo está disponível para as geradoras especular e cobrar R$ 822. É energia de hidrelétricas construídas há mais de 30 anos, todas já amortizadas, que poderia ser comercializada a R$ 33. Para justificar e esconder o golpe, a propaganda ideológica, através dos grandes meios de comunicação e dos “especialistas em manipulação”, alega que o custo é alto por culpa da falta de chuva e do acionamento de térmicas. Uma grande mentira!
Como pode a hidrelétrica Luiz Carlos Barreto, de Furnas, localizada no rio Grande, divisa entre MG e SP, vender energia a R$ 33,00/MWh e, 30 Km abaixo, uma hidrelétrica (Jaguara) da CEMIG cobrar R$ 822,83/MWh por uma energia gerada pela mesma água? Que aumento de custo tão grande teria ali? Térmica elas não são! E se fosse falta de chuva afetaria as duas usinas de forma igual. Não seria melhor chamarmos de golpe especulativo?
O Governo cedeu à chantagem dos especuladores e certamente este enorme volume de dinheiro será utilizado na luta política contra os trabalhadores e contra o próprio governo em ano eleitoral.
As empresas privadas e as tucanas, além de colocar R$ 21 bi no bolso, estão esvaziando os lagos para forçar aumentos nas contas de luz e, de quebra, gerar um grande desgaste político eleitoral ao governo de plantão.
O que realmente esta em jogo é a busca para manter a alta taxa de exploração sobre os trabalhadores e sobre a população, através da manutenção das tarifas de energia elétrica em patamares internacionais. E, com isso, garantir aos acionistas e especuladores taxas de lucro extraordinárias.
E não há dúvidas sobre a origem desse golpe que se gestou no interior do setor elétrico nacional: a privatização do modelo energético nacional, hoje, controlado por empresas privadas.
(Com IHU)
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Mentiras sobre o Marco Civil da Internet
18 de Março de 2014, 14:10 - sem comentários ainda"O Marco Civil protege o consumidor da sanha das empresas que querem oferecer serviços de internet do jeito que elas querem e não necessariamente do jeito que o consumidor ache mais justo. Mas também protege o cidadão do autoritarismo de quaisquer governos de plantão", escreve Leonardo Sakamoto, jornalista, em artigo publicado no seublog, 17-03-2014.
Eis o comentário.
Estão circulando mensagens pela rede acusando o projeto do Marco Civil de querer implantar a censura e o controle do governo sobre a internet no Brasil.
Peraí, de que trem você tá falando, japonês? Vamos recapitular: a Câmara dos Deputados, novamente, está para votar esse projeto de lei que tende a ser um divisor de águas entre a internet que hoje conhecemos e o que querem fazer dela as operadoras de telecomunicações no Brasil. O documento é uma espécie de “Constituição'' da internet, uma carta de princípios que prevê os direitos dos usuários e deveres das prestadoras de serviço e do Estado.
Dizer que o Marco Civil vai implantar a censura e o controle do governo na internet é do mesmo naipe – guardadas as devidas proporções, pelamordedeus – de dizer que a Lei Áurea veio para tirar direitos das pessoas escravizadas. É uma inversão total, seja por desconhecimento ou má fé.
É claro que ninguém quer o Estado metendo o bedelho onde não é chamado e interferindo em nossa vida. Mas, várias vezes, ele é necessário para garantir que a vida de todos seja um pouco mais justa.
Por exemplo: se não houvessem leis e normas, eu, que tenho 1,83 m de altura, poderia chegar com meu tacape e levar a merenda de colegas menores e franzinos (#sakaboladão). Mas aceitamos abrir mão do cada-um-por-si-e-o-Sobrenatural-por-todos para garantir uma convivência pacífica.
Em outras palavras, se não houvesse nada, seria a Lei da Selva.
Outro exemplo: do ponto de vista trabalhista, muita gente reclama que a CLT engessa e atrapalha o desenvolvimento econômico. O que, pasmem, eu concordo. Mas imagine como a vida seria mais difícil sem férias remuneradas, 13o salário, adicional insalubridade, licença-maternidade, auxílio-doença, limite de jornada de trabalho, regras para operários não cozinharem em siderúrgicas ou congelarem em frigoríficos? A corda iria estourar para o lado mais fraco, ou seja, você trabalhador.
Seria tão mais legal que as empresas e governos olhassem para os trabalhadores e dissessem: puxa, isso é sacanagem contigo! Trabalhe menos se não você vai morrer. Mas também seria ótimo se o meu Palmeiras tivesse um time competitivo. Como não dá para viver em um mundo de ficção, é aquela coisa: ruim com algumas regras e leis, mas muito pior sem elas.
Isso não se aplica, claro, a você que nasceu em berço de ouro e trabalha por hobby. Mas aí eu me pergunto: por que está lendo este blog mala neste dia tão bonito e não dando a volta ao mundo em um catamarã?
Enfim, nem todo mundo nasce com tudo à disposição. Para algumas pessoas, principalmente as mais pobres, a sociedade pode ser bem sacana. Então, a necessidade de equilibrar um pouco as coisas, com o Estado, esse opressor de uma figa, sendo forçado a garantir direitos mínimos. Porque ao contrário de alguns que vêm comunistas e unicórnios em todos os lugares, se deixar, o Estado favorece quem já tem.
Tem gente que discorda, diz que é só o Estado sair de cena que as coisas se resolvem sozinhas, pois todo mundo quer o bem de todo mundo. Ahã, senta lá, Claudia – e leva os seus Ursinhos Carinhosos junto com você.
Pois bem, muitas vezes não é um Sakamoto de tacape que vai roubar sua merenda a fonte de preocupação, mas sim uma grande empresa que quer tungar você. Como topamos viver em sociedade, aceitando abrir mão de entrar no prédio da empresa e encher de tabefe os gênios que querem implantar consumidores de primeira e segunda classes, o jeito é apelar para que o Estado faça essa mediação.
Como? Aprovando leis no Poder Legislativo, julgando ações com base nelas no Poder Judiciário, fiscalizando o seu cumprimento no Poder Executivo.
Agora imagine se não houvesse leis que defendem os interesses dos consumidores. Que você comprasse aquela geladeira linda e, ao chegar em casa, descobrisse que ela esquenta ao invés de esfriar? Ou que encontrasse um rato, bêbado e morto, dentro da sua cerveja? Ou que o carro que você comprou amputasse seu dedo na hora de mexer no porta-malas? E não pudesse reclamar porque não a vida é assim mesmo e mais sorte da próxima vez?
O Marco Civil protege o consumidor da sanha das empresas que querem oferecer serviços de internet do jeito que elas querem e não necessariamente do jeito que o consumidor ache mais justo. Mas também protege o cidadão do autoritarismo de quaisquer governos de plantão.
O artigo 9o do projeto do Marco Civil garante a neutralidade da rede. Sem isso, as operadoras poderão vender pacotes diferenciados aos usuários em função do tipo de serviço acessado na rede. Mais ou menos assim: hoje você contrata o acesso à internet por uma operadora pagando mais em função da velocidade do acesso (500 KB, 1 MB, 2 MB etc).
No entanto, dentro da velocidade contratada (que é uma peça de ficção, claro) não há diferença em função do conteúdo ou das aplicações que trafegam nos cabos ou pelo ar. Ou seja, você, em tese, conta com a mesma velocidade independentemente se estiver mandando um e-mail ou vendo vídeo pornô. E pode exigir isso.
O que as teles querem fazer? Ter o direito de bisbilhotar na sua navegação, ou seja, checar o que se passa na sua vida, para saber que tipo de conteúdo e/ou serviço você está acessando a fim de criar pacotes diferenciados de acesso. Assim, se quiser baixar ou subir vídeos, por exemplo, terá que contratar um plano “plus-master-blaster”. Se ficar só no pacote básico (bem no estilo TVs por assinatura), só vai poder mandar e-mail e usar o Facebook. E lembre-se: parece que não, mas existe vida na internet além da TL do Facebook.
Já o artigo 7o define uma série de garantias à nossa privacidade. Ou seja, regras para que o governo não fique bisbilhotando a vida dos outros (Obama, lê eu aqui!). É justamente o contrário de um controle governamental da internet, pois hoje – pasmem – não há nada que nos proteja da sanha das empresas de telecomunicações, que querem lucrar com a venda dos nossos dados, e da espionagem de mandatários autoritários. Por isso o Marco Civilé tao importante.
Diferentemente do que andam espalhando por ai, o projeto de lei reconhece o direito do usuário à inviolabilidade de suas comunicações e ao sigilo de seus registros na Internet. Ou seja, deixa claro que nenhum fuinha tem direito de ficar xeretando na nossa vida.
Qualquer acesso a esses registros, tanto por terceiros quanto por autoridades, só ocorrera mediante decisão judicial. E, para que o pedido à Justiça seja válido, o Marco Civil exige que o interessado comprove sua utilidade, pertinência e que haja indícios concretos da prática ilícita.
Sem o Marco Civil, aliás, a censura poderá continuar acontecendo através de uma simples notificação aos provedores de conteúdo. E ela pode ser política (um deputado pode ameaçar um provedor por difamação e forçar um blog a sair do ar – e, não raro, muitos provedores se borram de medo e sacam fora para não terem problemas) ou comercial (apesar de ser permitida a reprodução de pequenos trechos de conteúdo sem o pagamento de direitosautorais, canais de TV acionam o Youtube, que tira tudo de lá mesmo sem ordem judicial, por receio de problemas maiores).
Ou seja, aquele vídeo legal pacas em que o humorista tirou um barato do apresentador que falou uma besteira sem tamanho, hoje vai pro saco por conta de uma situação de “insegurança jurídica''. Em outras palavras, você não pode nem usar a imagem para criticar ou tirar um sarro porque a lei não é clara quanto ao uso desse conteúdo. O artigo 20 do novo Marco Civil tira a responsabilidade dos provedores de conteúdos postados por terceiros, justamente para garantir a liberdade de expressão dos internautas!
Uns vão dizer que é dor de cotovelo minha por conta dos memes contra a minha pessoa circulando loucamente pela rede enquanto os vídeos-meme do William Bonner são rapidamente derrubados. Sim, confesso, é inveja.
“Ah, mas o projeto é o governo tentando censurar tudo e a todos'' [sobe som, tambores ritmados ao fundo, uma corneta do exército faz-se ouvir com o toque de alvorada, sons de botas e tropas marchando].
Né, não…
O Marco Civil é uma ideia tão democrática que ela não viria da cabeça de nenhum governo. Pelo contrário, foi uma construção coletiva, feita durante quatro cansativos anos de debates com ajuda de organizações da sociedade civil, entidades que defendem a liberdade de expressão e os direitos dos consumidores, enfim, uma pá de gente). Ou seja, é uma proposta da sociedade, que acabou encampada pelo governo por que a espionagem do Tio Sam vazou via Edward Snowden e o Brasil tinha que dar uma resposta à altura para não ficar chato. Daí, encampou o Marco Civilque já estava por aí.
Se fosse o oposto, o inventor da internet, Tim Berners-Lee (é… caro leitor com menos de 18 anos, a internet não esteve sempre aí, não), não teria declarado esta semana, no dia em que a web completou um quarto de século, que o mundo precisa de uma constituição universal para a internet, a fim de proteger os interesses dos usuários. Ou seja, o mundo precisa do que estamos fazendo agora com o Marco Civil.
Enfim, este texto, é claro, simplifica muito a coisa porque seria um porre ler mais do que isso. Mas se informem mais! Procurem na internet organizações que lidam com esse tema há anos e leiam os textos e discussões sobre esse assunto. No site www.marcocivil.org.br tem muita informação para vocês que querem, de fato, entender o que esta rolando. Não confiem em informação sem fonte circulando por aí, não formem sua opinião por memes (putz, isso é tão deprimente) ou por correntes sem dono que nascem em gabinetes de parlamentares que defendem pesados interesses econômicos.
Como já disse aqui, dependendo do que ocorrer com a votação do projeto (que, agora, está no meio do fogo cruzado da briguinha entre governo e PMDB e base “aliada'') poderá ser criado um apartheid digital, com usuários de duas classes distintas: os que podem pagar para ter acesso à internet “completa” e os que, mais uma vez, terão seu direito de acesso à informação e liberdade de expressão na rede cerceado por seu limitado poder de compra. Traduzindo: os mais pobres vão rodar de novo.
E a justificativa, como sempre, é aquele blablablá de que empresas irão quebrar, investimentos no desenvolvimento da internet não serão feitos, continuaremos na idade da pedra digital, a internet ficará mais cara. Mas não, não vai. Sem a neutralidade da rede é que as operadoras vão poder cobrar mais para que tenhamos acesso a conteúdos diferentes.
(Com IHU)
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Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Por uma Constituição Mundial para a Internet
14 de Março de 2014, 14:56 - sem comentários aindaMais do que simplesmente assinalar um aniversário, o homem que tornou possível a criação de páginas na Internet e a navegação entre elas da forma como a conhecemos hoje – o britânico Tim Berners-Lee – quis aproveitar a atenção do mundo nesta terça-feira [11/3] para apelar aos cidadãos que lutem por manter a World Wide Web “aberta e neutra”, por meio da aprovação de uma espécie de Constituição universal que salvaguarde os direitos de todos os utilizadores.
“Precisamos de uma Constituição universal, de uma carta de direitos”, disse Berners-Lee ao jornal The Guardian, no dia em que se assinala o 25.º aniversário do acontecimento que é geralmente associado à invenção da World Wide Web – quando o britânico enviou aos seus colegas do Laboratório Europeu de Física de Partículas (CERN, na sigla original) um documento com um título nada apelativo e pouco antecipador: Gestão de Informação – Uma Proposta.
Um quarto de século depois, as revelações sobre os programas de espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana – além da concentração cada vez maior de informações pessoais nos servidores de gigantes como a Google ou a Microsoft – levaram Tim Berners-Lee a alertar para os perigos da distorção da sua ideia inicial de uma Internet “aberta e neutra”.
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“A não ser que tenhamos uma Internet aberta, neutra, em que possamos confiar sem nos preocuparmos com o que está acontecendo por trás do pano, não podemos ter um sistema de governança aberto, uma boa democracia, um bom sistema de saúde, comunidades interligadas e diversidade cultural”, afirma Berners-Lee. E para quem pensa que o britânico ainda vive no final da década de 1980, com uma proposta que beira a ingenuidade, a sua resposta não podia ser mais desafiadora: “Não é ingênuo acreditarmos que isso é possível; o que é ingênuo é pensarmos que isso nos vai cair no colo.”
A ideia de uma Constituição universal dos direitos dos utilizadores da Internet – que se integra na iniciativa Web We Want (A Web que queremos) – surge da constatação de que os direitos de quem acessa e troca informação através da Internet estão cada vez mais ameaçados.
“Os nossos direitos são cada vez mais violados, por todos os lados, e o perigo é que nos habituemos a isso. Por isso, quero aproveitar o 25º aniversário [da World Wide Web] para voltarmos a assumir o controle da Web, e para definirmos a rede que queremos para os próximos 25 anos”, diz Berners-Lee.
Quase um ano depois das primeiras revelações feitas a partir dos documentos obtidos pelo analista de informações norte-americano Edward Snowden (as primeiras notícias, nos sites do The Washington Post e do The Guardian, foram publicadas a 6 de Junho de 2013), o criador da World Wide Web volta a dizer que já é tempo de os Estados Unidos perderem parte do enorme controle que detêm através da Internet Assigned Numbers Authority (IANA, a maior autoridade na atribuição de endereços IP, localizada no estado da Califórnia).
“Os EUA não podem ter uma posição global na gestão de uma coisa que é tão não-nacional. Os tempos atuais são propícios a essa separação, mas devemos manter uma abordagem inclusiva, uma abordagem em que governos e empresas possam ser controlados de alguma forma”, defende Tim Berners-Lee.
O maior desafio, destaca, é a aparente apatia da população, apesar das revelações dos últimos meses sobre os programas das agências de espionagem e da informação cada vez mais acessível sobre as práticas das empresas de tecnologia da informação.
O mais importante é fazer com que as pessoas lutem pela Web e que consigam perceber o mal que resultaria de uma rede fraturada. Como qualquer outro sistema humano, a rede precisa de ser policiada e, é óbvio, precisamos de ter leis nacionais, mas não devemos transformar a Web numa série de silos nacionais” – daí ser necessário desenhar uma Constituição universal, defende o britânico.
Ao participar da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, o criador da Worls Wide Web digitou as palavras this is for everyone [“é para todo mundo”] num computador, no centro do estádio. Ele mantém-se firmemente ligado aos princípios de abertura, inclusão e democracia, desde que inventou a web em 1989, optando por não comercializar o modelo. Para Berners-Lee, a ideia de os cidadãos recuperarem um pouco do controle da Internet é realista. Além disso, a sensação de que a submissão da rede a governos e empresas é inevitável não deve prevalecer. “Isso não vai acontecer enquanto não nos arrancarem os teclados dos nossos dedos frios e mortos”, diz .
Uma web livre para todos
Menino que cresceu no sudoeste de Londres, Tim Berners-Lee foi um usuário de trem, o que despertou seu interesse em modelos ferroviários e, depois, pela eletrônica. Mas os computadores já eram conceitos familiares em sua casa. Seus pais trabalharam na criação do primeiro computador construído para fins comerciais no mundo, o Ferranti Mk1.
Berners-Lee formou-se em Física na Universidade de Oxford e trabalhou em seguida com engenharia. Mas foi no CERN, Organização Europeia para Pesquisa Nuclear, em Genebra, que ele embarcou nos projetos que levariam à criação da world wide web.
Seu objetivo era permitir que os pesquisadores do mundo todo compartilhassem seus documentos, o que foi julgado como “vago mas interessante” por um gerente do CERN.
Ele combinou a tecnologia existente — como a internet e o hipertexto — para produzir um imento sistema de armazenamento de documentos interligados. Berners-Lee chamou a novidade de world wide web, embora seus colaboradores francófonos achassem difícil de pronunciar.
A internet foi aberta a novos usuários pela primeira vez em 1991, e em 1992 foi o primeiro navegador foi criado para buscar e selecionar os milhões de documentos já então existentes.
Embora a web tenha sido espaço para a criação e perda de inúmeras fortunas incontáveis, Berners-Lee e sua equipe garantiram o uso livre da rede, para todos os interessados.
Berners-Lee colabora hoje com várias organizações empenhadas em garantir que a web continue acessível a todos e que o conceito de neutralidade de rede seja respeitado pelos governos e corporações.
(Por Outas Palavras)
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Joaquim Barbosa, o imparcial
14 de Março de 2014, 10:24 - sem comentários aindaA simples derrota da tese da formação de quadrilha, tida como incontestável e de central importância na demonização de José Dirceu, já demonstra que havia algo muito errado nas certezas dos nobres ministros. Se o núcleo condenatório cometeu um erro tão grave na fase inicial, como acreditar que os outros vereditos foram corretos?
Também descobrimos que Barbosa escondeu informações relevantes sobre o caso, particularmente as que poderiam derrubar a teoria do uso de dinheiro público no tal “mensalão”. Sem a caracterização de quadrilha, e tampouco a de peculato, o processo minguaria para um trivial caixa dois e as penas seriam reduzidas. Mas, repito, a “justiça” das condenações era secundária.
Se levada a sério, a revisão criminal especulada pela defesa poderia levar o desmonte da farsa a graus inauditos de constrangimento. Um pouco mais de espírito investigativo e de racionalidade por parte dos ministros do STF e Barbosa arranca a fantasia de super-herói e revela de uma vez por todas a que veio.
(Por Guilherme Scalzilli)
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