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Terrorismo do Bolsa Família e os efeitos letais do boca a boca
20 de Maio de 2013, 21:00 - sem comentários aindaO episódio do pânico coletivo causado pelo boato em torno do fim do Bolsa Família mostrou os efeitos devastadores do boca a boca quando as pessoas temem perder algo importante para suas vidas. As consequências foram visíveis e impactantes, mas as causas estão envoltas num emaranhado de suspeitas, que provavelmente exigirão algum tempo para serem esclarecidas.
O certo é que não foi algo espontâneo, fortuito ou ocasional. O fato de ter atingido dez estados brasileiros, na sua maioria localizados no Norte e Nordeste do país, em bairros periféricos e cidades do interior, mostra que existiu algum tipo de sincronismo para mobilizar pessoas, em geral mulheres, com reduzido acesso às fontes primárias de informação.
A única pista possível e concreta para identificar a origem é a velha pergunta: a quem interessa um episódio como esse? É claro que a questão será inevitavelmente politizada e com isso cada parte terá o seu discurso para livrar-se das suspeitas.
Quem poderia resolver a questão é a Polícia Federal, encarregada pelo governo de investigar o caso, mas a natureza sincronizada da corrida à Caixa Econômica Federal, inclusive para receber um pouco plausível e extemporâneo presente doDia das Mães, no valor de 200 reais, vai exigir da PF um esforço bem maior do que o dedicado costumeiramente a casos de corrupção entre políticos ou em ações espetaculares contra o narcotráfico.
Se a Polícia Federal for capaz de esclarecer rapidamente o caso do Bolsa Família, apresentando resultados irrefutáveis, ela estará prestando um enorme serviço ao país porque se mostrará capaz de neutralizar o uso criminoso do boca a boca para implantar o medo, insegurança e dúvida na população. Isso não é pouca coisa numa realidade onde a informação passou a comandar quase tudo em nossa sociedade.
Este é o nosso grande dilema contemporâneo. Como gerenciar individualmente processos coletivos de disseminação de boatos, rumores e notícias? Todos nós passamos a ter algum tipo de responsabilidade informativa para interromper a sequência de eventos que transformam o boca a boca numa arma letal.
A origem de um boato geralmente é centralizada e verticalizada, mas as suas consequências só podem ser neutralizadas de forma coletiva, com base na soma de vontades e conhecimentos individuais.
Alguém tem um interesse direto e uma estratégia preestabelecida para iniciar o processo viral de disseminação de um rumor ou informação distorcida. Os receptores reagem em função de seus interesses, estado de espírito e nível de informação. Mas quando o boato atinge o bolso, crenças religiosas ou relações familiares, as reações quase sempre são instintivas e emocionais, ampliando os efeitos pretendidos pelo cérebro por trás da boataria.
No caso do Bolsa Família, não adianta politizar porque – aí, sim – cairemos num bate-boca estéril que só aumentará o clima de dúvida e incerteza sobre o qual se apoiou a corrida à Caixa Econômica. O episódio, pelas suas consequências, pode ser classificado como um delito porque provocou vítimas, destruição egerou o terror entre famílias temerosas de perder um benefício que hoje é a base da política de redistribuição parcial de renda no país. É um tipo caso para a polícia, não só da Federal (a quem cabe a maior responsabilidade), mas todas as demais corporações policiais do país.
(Publicado por Carlos Castilho)
A ministra dos caras pálidas
20 de Maio de 2013, 21:00 - sem comentários aindaGleisi Hoffmann simboliza a opção do governo Dilma pelos ruralistas em desfavor dos índios |
Você mede socialmente uma administração pela forma como os desvalidos são tratados.
Olhe para os índios, e você vai ver quanto o Brasil tem que avançar no desenvolvimento social – a despeito das frequentes autocongratulações do PT.
Pobres índios.
Eles devem ter imaginado que, com um governo de raízes populares, sua vida melhoraria.
Talvez a mesma ilusão tenha tomado os moradores de Pinheirinho, o assentamento destruído há pouco mais de um ano em São José dos Campos.
Bem, a realidade é diferente. Nada mostra tão claramente o quanto o PT está engessado nas reformas sociais de que o país tanto necessita quanto a relação do governo Dilma com os índios e, do outro lado, com os ruralistas.
A opção pelos ruralistas é torrencial.
A ministra da Casa Civil Gleisi Hoffman personifica isso. No começo de maio, na Câmara dos Deputados, ela desqualificou diante de uma plateia de ruralistas um dos raros apoios com os quais os índios contam: a Funai.
Foi aplaudida.
A Funai é um órgão envolvido com os interesses indígenas e, portanto, não é imparcial, disse ela. Gleisi colocou sob suspeição a competência da Funai para desenvolver as atribuições que estão sob a sua responsabilidade.
Dias depois, ela disse que “o governo não pode e não vai concordar com minorias com projetos ideológicos irreais”.
Irreais?
Um momento: preservar o resto do resto de terras indígenas é irreal?
Mudaram os índios, mudaram os fatos – ou mudou o PT?
“O PT no poder parece que esqueceu toda a trajetória que o construiu”, disse recentemente um ativista dos direitos indígenas. “É doloroso que a sociedade, à frente os povos indígenas, tenha que partir para o confronto contra o PT-Governo para evitar que este se afunde no agronegócio dilapidador da biodiversidade e para impedir a exploração predatória.”
Como isso aconteceu?
O governo Dilma Rousseff é hoje refém da bancada ruralista. Sem ela não aprova projetos como a MP dos Portos.
Escreveu um outro ativista: “A bancada ruralista chantageia, joga pesado, barganha. Sabe como enredar o governo porque joga de forma unitária, classista, não titubeia na defesa dos seus interesses. Há análises que interpretam que o maior partido no Brasil é o ‘partido dos ruralistas’.”
Continua ele: “Na ótica do governo, afrontar os ruralistas é empurrá-los para o apoio a outras candidaturas. Nas articulações políticas visando 2014 não é bom tê-los como inimigos, avalia o Palácio do Planalto. Sabe-se que o apoio dos ruralistas foi importante para a vitória de Dilma Rousseff em estados da região centro-oeste. As articulações para reeleição de Dilma contam com o apoio senão de todos, de parcela significativa dos ruralistas.”
Ouça agora a antropóloga Spensy Pimentel: “Num país como o Brasil, o bom trato com a questão indígena ajuda a definir o grau de nobreza de um governo. Porque os indígenas, aqui, não são expressivos, em termos eleitorais, mas eles são um componente da mais alta relevância no que se refere a nossa história e nossa identidade como brasileiros”.
Mas não dão votos e nem ajudam a passar projetos do governo no Congresso – e por isso são desprezados.
(Publicado no DCM)
Dois terços dos jornalistas têm problemas para obter dados do poder Executivo
20 de Maio de 2013, 21:00 - sem comentários aindaPara celebrar o primeiro ano em vigor da Lei de Acesso no Brasil, a Abraji realizou pesquisa online com jornalistas para avaliar como a imprensa vem usando essa ferramenta – e descobrir em que pontos a aplicação da lei ainda está deixando a desejar. De 20 de fevereiro a 9 de abril deste ano, 87 jornalistas de 14 estados diferentes responderam a um questionário objetivo que mostra como a LAI vem sendo aplicada em níveis federal, estadual e municipal e pelos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
A pesquisa mostra que o poder Executivo, nas três esferas, é o que recebe o maior número requerimentos da imprensa. E também é aquele em que há o maior número de problemas. Nas três esferas territoriais, 2 em cada 3 repórteres ouvidos pela Abraji relataram problemas ao pedir informações públicas a governos.
O relatório, disponível para download neste link e no site www.abraji.org.br , também busca compreender a natureza dos problemas relatados. Informações sobre dados administrativos – referentes a contratos, repasses e salários de servidores – são os mais citados entre aqueles que tiveram dados negados pelos governos, seja em nível federal, estadual ou municipal.
Há também relatos de negativas de acesso a dados de fiscalização – como relatórios de auditoria e procedimentos de controle interno –, mencionados por 47% dos jornalistas que pediram dados aos legislativos estaduais. Informações que expressam o posicionamento dos dirigentes públicos – como notas técnicas, ofícios, e-mails e memorandos – foram negadas a 39% dos repórteres que solicitaram dados ao governo federal ouvidos no levantamento.
Ao final da pesquisa, os jornalistas foram convidados a especificar de forma espontânea os órgãos onde encontraram mais problemas para obter informações de interesse público. Dentre as 44 entidades citadas, vale destacar a Casa Civil da Presidência, o Comando do Exército (quatro menções cada um) e Assembleia Legislativa de São Paulo (três menções).
Para o presidente da Abraji, Marcelo Moreira, a aprovação da Lei de Acesso foi “uma das mais importantes conquistas para o jornalismo brasileiro dos últimos anos” e permitiu a “mais repórteres e editores buscar informações cujo acesso antes era dificultado”. Moreira pondera que “ainda há um longo caminho a ser percorrido para que a publicidade de informações de interesse público seja observada como preceito geral e, o sigilo, como exceção”, como determina a lei.
“Por isso jornalistas aproveitaram o aniversário da Lei de Acesso para trazer, por meio da Abraji, uma série de sugestões e reivindicações fundamentais à implementação da lei na forma prevista”, explica Moreira.
Sugestões
Entre as medidas sugeridas para o aprimoramento da aplicação da Lei, jornalistas citam a necessidade de estabelecimento de prazos para que a Controladoria-Geral da União (CGU) responda a recursos anteriormente negados em instâncias inferiores. Atualmente, não há prazo definido. Uma vez no órgão, o pedido segue o rito administrativo – ou, nas palavras de um dos jornalistas ouvidos, “cai num buraco-negro”.
Os repórteres também fizeram considerações sobre o formato dos dados disponibilizados (que nem sempre é aberto, como determina a lei); destacaram a falta de estrutura e regulamentação para cumprimento da legislação em alguns órgãos de diferentes esferas do poder; a falta de clareza quanto a obrigações de concessionárias, agências governamentais e empresas de capital misto; a repetição de respostas negativas, mesmo após a apresentação de novos argumentos; e a falta de transparência na Comissão Mista de Reavaliação de Informações, que é a última instância recursal da lei.
A Lei de Acesso (12.527/2012) foi sancionada pela presidente Dilma Rousseff no dia 18 de novembro de 2011 e está em vigor desde 16 de maio de 2012. O texto foi encaminhado pela Casa Civil ao Congresso após pressão da sociedade civil, especialmente da Abraji e das organizações do Fórum de Direito de Acesso a Informação (que é coordenado pela Abraji). Da mesma maneira, foi o acompanhamento cuidadoso de sua tramitação que evitou alterações que poderiam desvirtuar os objetivos do texto original.
Na próxima semana, a Abraji, Artigo 19. Conectas e Transparência Brasil realizam o seminário “Um ano de transparência: usos e desusos da Lei de Acesso”, em São Paulo. O evento é gratuito e vai detalhar os resultados desta pesquisa da Abraji, além de debater experiências do terceiro setor com a regra. O objetivo é fortalecer a Lei de Acesso e sugerir melhores práticas para quem precisa cumpri-la e para quem quer usá-la. O evento será realizado no campus da ESPM (r. Dr. Álvaro Alvim, 123 | metrô V. Mariana) no dia 22 de maio, quarta-feira, das 9h às 12h. As inscrições podem ser feitas pelo link.
(Publicado pela ABRAJI)
Dadá Maravilha: “Brasil não tem condições de falar em Copa”
19 de Maio de 2013, 21:00 - sem comentários aindaEx-camisa 9 do Atlético-MG e do Internacional diz que futebol não é prioridade para ser bancado com dinheiro público e lamenta decadência técnica dentro de campo
Por Ciro Barros para Agência Pública
“Eu tenho propriedade para falar o que eu falo e o povo tem que me ouvir e me respeitar, se não vai ficar contra os números. E quem fica contra números é burro”.
Dadá Maravilha começou a entrevista incisivo como um cabeceio certeiro que se tornou sua marca registrada. Dos 926 gols que fez em 20 anos de jogador profissional, 499 gols foram de cabeça. Como ele gosta de lembrar é dele o recorde de gols de cabeça na história do futebol.
“A cabeça tem dois olhos, aí fica fácil de acertar né?”, brinca.
Igualmente diretas são suas críticas aos preparativos para a realização da Copa do Mundo no Brasil. “Belo Horizonte, por exemplo, para pensar em Copa do Mundo, acho que precisa pensar primeiro em metrô, pensar na saúde, na educação. E assim é no Brasil também. O negócio tá feio no Brasil. Tá feio, feio, feio…”, diz.
Dadá também usa a cabeça para criticar dirigentes, dizer que o futebol não é prioridade para o país e que se desiludiu com a Seleção Brasileira. Amparado na experiência acumulada na carreira (tricampeão do mundo em 1970, campeão brasileiro com o Atlético-MG, bicampeão brasileiro com o Internacional, campeão estadual com Sport, Náutico, Santa Cruz, Nacional-AM e Goiás), critica a qualidade técnica do jogo de hoje e diz que os atletas treinam pouco.
“Se eu jogasse hoje eu ia ganhar por baixo uns quatro milhões e ser artilheiro com 40, 45 gols no Brasileirão”, reflete o ex-camisa 9. Leia a entrevista abaixo.
O que você acha do Brasil receber a Copa do Mundo? Como você está avaliando isso?
Bom, eu como brasileiro estou super feliz. Agora, como entendedor de futebol e um pouco como uma pessoa que entende o que é uma pátria, eu não vejo o Brasil em condições normais de sediar uma Copa do Mundo. E eu estou muito preocupado com o trânsito, com os hotéis, com a infraestrutura que é necessária para a Copa do Mundo e para a própria vida do país. A vaidade, o que é normal mesmo do brasileiro, a minha vaidade como brasileiro de sediar uma Copa do Mundo está muito grande. Mas eu não tenho expectativa nem do Brasil ser campeão e nem do Brasil se dar bem na organização. Tomara que o Dadá esteja totalmente enganado…
E quais são os principais problemas que o Brasil enfrenta na preparação da Copa do Mundo fora de campo?
Fora de campo temos problemas de infraestrutura muito grandes; Belo Horizonte, por exemplo, para pensar em Copa do Mundo, acho que precisa pensar primeiro em metrô, pensar na saúde, na educação. E assim é no Brasil também. O negócio tá feio no Brasil. Tá feio, feio, feio… Os políticos não fazem alarde quanto a isso porque eles só querem fazer alarde no que é bom, o negativo eles cobrem, fingem que não vêem. Mas nós estamos carecas de saber que o povo está reclamando da saúde, da educação e enquanto isso o Brasil se dá ao luxo de sair fazendo elefantes brancos por aí, que não vão ter competições depois que justifiquem. Então eu sinceramente estou muito triste com tudo isso que está acontecendo. E o trânsito, como eu te falei, está como uma dinamite prestes a explodir. Tomara que eu esteja enganado, mas o negócio não está as mil maravilhas não.
O que você acha da Copa ser quase que inteiramente bancada com dinheiro público?
Bom, eu não concordo. Porque o país tem que ter prioridades e entre as prioridades não está o futebol. O futebol é um entretenimento, ele não pode ser por exemplo mais importante do que saúde e educação. Então estão tirando dinheiro da educação, da saúde, para investir em futebol. Estão desviando o foco. Mas independentemente disso, o brasileiro pode sofrer o que for, mas se ganhar a Copa ele vai ficar feliz. Então, já que se decidiu fazer a Copa, tomara que o Brasil ganhe a Copa para ajudar a amenizar a tristeza do povo brasileiro. Se o Brasil ganhar a Copa do Mundo, o cara vai tomar cachaça e vai esquecer que não tem nem arroz para comer.
E dentro de campo, o que você acha da equipe, da atual safra de jogadores da Seleção Brasileira?
Ninguém pode dizer hoje que o Brasil é o favorito para a Copa do Mundo, que o Brasil é um bom time, ou vai cair no ridículo. A verdade, infelizmente, é que nós estamos correndo o risco de passar uma vergonha dentro do nosso país. Duvidar do futebol brasileiro, eu não duvido não. Futebol brasileiro é o melhor que tem no mundo, só que antigamente nós éramos copiados, hoje a gente copia os outros times. Não estamos mais fazendo o nosso futebol de toque de bola, o nosso futebol de molecagem. Quando eu falo em molecagem estou falando sobre dribles, dar caneta, dar chapéu, enervar o adversário e botar a bola lá dentro. E o Brasil sabe dar olé, mas não está sabendo botar a bola lá dentro. Aqui é um nascedouro de craques, não dá para dizer o contrário. Mas o que eu acho é que você tem que avaliar os ideais de cada um. Por exemplo, na minha época o ideal da gente em primeiro lugar era vestir a camisa da seleção. Hoje não. O cara quer saber só de dinheiro. O bom hoje é quem tem dinheiro, quem não tem dinheiro é porque não é bom. Hoje o cara vende o corpo, a alma por dinheiro. Futebol o Brasil tem, só não tem é patriotismo mais. O cara vai lá para a Europa, é chamado para a Seleção, mas não vem porque o Brasil vai dar 5 mil de bicho [premiação paga, geralmente em dinheiro vivo, por resultados positivos com uma equipe ou seleção] e lá dá 15, 20. Falta patriotismo.
Mas você não acha que também há falta de vínculo do torcedor com a Seleção, e não só dos jogadores?
Eu, por exemplo, o Dario, o Dadá Maravilha. Eu sou mais atleticano do que brasileiro hoje. Torço mais para o Atlético do que para o Brasil. Eu digo isso em todo lugar. Podem até me condenar, mas eu falo. Quando eu era jogador, eu era primeiro brasileiro e depois atleticano. Sempre. Eu me desiludi porque na minha época da seleção brasileira, na seleção do tri, nós éramos patriotas até a cabeça. A gente vibrava, chorava, éramos unidos pela nação. O nosso nome era nação, era Brasil. Por isso que a minha seleção de 70 é considerada até hoje a melhor seleção de todos os tempos e eu tenho essa certeza até o fim da minha vida. Eu vou morrer e não vou ver nenhuma seleção melhor que a minha.
Pra muita gente a Seleção de 82 era comparável e até melhor que aquela de 70…
Comparável eu não acho, mas ela era também muito boa. Porque infelizmente no futebol a gente compara campeões. Quem é campeão é bom, quem não é, infelizmente está sujeito a chuvas e trovoadas. Infelizmente no futebol, o bom é o campeão.
E se você jogasse hoje? O Brasil resolveria os seus problemas com a camisa 9?
Olha, se eu jogasse hoje, com a produção que eu tinha, que chegava qualquer bola e eu fazia. Começava um campeonato e o artilheiro era o Dadá. Campeão é sempre o Dadá. Eu ia fazer isso. Ia continuar fazendo. Eu hoje, se eu jogasse hoje, o meu salário ia ser miseravelmente uns R$ 4 milhões. Eu seria artilheiro do brasileiro com 40 gols, 45, mais ou menos isso.
E como você vê o Fred, o Damião, os nomes que estão aí cotados para vestirem a 9 da Seleção Brasileira?
Me empolgo. Principalmente o Fred. O Fred eu tiro o chapéu para ele como jogador. O Damião também, mas está passando uma fase mais difícil, não sei o que aconteceu com ele que ele tava tão bem, agora nem tanto. Eu não duvido do jogador brasileiro. Eu duvido da mentalidade dos jogadores e dos dirigentes brasileiros, que só falam em dinheiro.
Você falou em mentalidade… Mas em geral, o que você mudaria no futebol brasileiro agora se você pudesse?
No futebol brasileiro hoje, a ideia é sempre defender para depois atacar. E eu acho que a melhor defesa é o ataque. Se você tiver um time habilidoso do meio de campo para a frente, vai sempre ficar difícil da bola chegar na sua defesa. Então é isso. Eu vou ver os treinos de futebol hoje e dá vontade de chorar. O cara não dá cinco cabeçadas no gol e já vai embora. Eu sou um cara exigente. Eu dava cem cabeçadas por dia, chutava a bola no gol cem vezes por dia. Por isso que eu fiquei essa perfeição, esse Dadá Maravilha. Eu treinei. Não me caiu do céu não, eu treinei muito. Por que que a bola do Dadá entrava no gol e a do outro não entrava? A coisa acontecia. Cansei de ouvir que eu tinha sorte, mas não era só isso não. Eu treinava muito e hoje os caras treinam muito pouco. Não vejo mais forquilha pro cara dar cabeçada, só vejo chutar em gol, mas assim mesmo os caras erram o gol.
E você acha que há uma deficiência técnica em curso no futebol brasileiro, comparado ao tempo em que você jogava?
Acho que há sim e estamos vivendo um problema de jogar só no contra-ataque. E como vai jogar no contra-ataque se hoje poucos jogadores brasileiros são velozes? Então temos que voltar a ter jogo de toque de bola, em agrupamento, com técnica. Como vamos esquecer o Santos do Pelé, o Botafogo do Garrincha, o Palmeiras do Ademir da Guia, o Corinthians do Rivelino? Não tem como. Esses times treinavam dar passes, lançar em velocidade. Hoje os caras treinam pouco. Na base também. 90% dos jogadores chegam no profissional com deficiências técnicas. Até porque tem a coisa do cara só chegar ao profissional se tiver um bom empresário.
Você falou no começo da entrevista que te desagradava o fato de a Copa estar sendo bancada com dinheiro público, enquanto o povo sofre em outras áreas como a saúde e a educação. Você não acha que o futebol pode acabar servindo como um escape, uma distração para o povo em relação à vida política?
O futebol já esteve muito ligado à política. E até ajudava a manter a situação política, como na época do militarismo. O povo estava sofrendo, mas a gente fazia coisas lindas e maravilhosas dentro de campo, o povo ficava feliz, se envolvia no futebol e esquecia todo o resto que estava vivendo. Hoje eu já acho que o futebol não tem mais esse poder porque o nosso futebol não está mais maravilhoso. Tanto que o Brasil está na vergonhosa e modesta 19ª posição no ranking mundial. Nós sempre fomos os primeiros e hoje estamos nessa posição. É uma vergonha. O futebol não está conseguindo mais esconder as coisas ruins que o torcedor, o brasileiro está vivendo.
E como você avalia, por exemplo, o futebol espanhol e alemão que são consideradas as grandes potências futebolísticas de hoje? Você gosta de ver o modo como eles jogam?
Eu gosto de ver o futebol espanhol. Eles estão passando uma fase ruim agora, mas acredito que a Espanha vai ser campeã do mundo de novo. O futebol alemão está passando uma fase muito boa, mas o futebol alemão só está fazendo o que o brasileiro fazia. Eles estão copiando o Brasil da época boa, enquanto o Brasil copia a Alemanha da época ruim.
E o que aconteceu no meio do caminho para que houvesse essa inversão? De a gente passar a copiar os europeus?
Acho que o principal é a questão da mentalidade de pensar só em dinheiro. Ninguém pensa mais em produção, por exemplo. Então o cara chega no profissional do Palmeiras, do Corinthians, do Atlético-MG, do Cruzeiro, do Fluminense, do Vasco, do Internacional e acha que já tá bem na fita, como diz a gíria. Acontece a acomodação, porque ali dinheiro o cara já ganha muito.
E o Galo? Você está feliz com o momento do seu time?
O Atlético está jogando de uma maneira maravilhosa ultimamente. Mas o Atlético oscila muito e às vezes cai numa esparrela de reclamar muito com o juiz. Time bom não reclama com o juiz. Jogador bom não reclama com juiz. Também o time faz muita falta. O Galo hoje é muito brilhante, mas faz muita falta. O meu Atlético ficou sem ganhar um cartão amarelo ou vermelho durante 27 jogos. Joguei 27 jogos e não ganhei um cartão. E olha que era pra eu tomar cartão. Porque ninguém corria como Dadá, eles me davam pontapé. E nem pulava. Pular comigo só se tivesse uma escada de bombeiro pra chegar aonde eu chegava. Pra correr comigo tinha que pegar táxi. Então os caras passavam o jogo todinho me batendo e eu ficava tranquilo. Vou reclamar? Eu tinha que fazer gol e era isso o que eu fazia. Hoje o cara toma um pontapé, revida e é expulso. Reclama com o juiz se ele anular um gol. Juiz anulava um gol meu e eu ficava rindo. Eu pensava: “problema dele, vai ter que anular mais dois”. Ninguém enervava o Dadá, porque eu dependia da minha tranquilidade. Eu tranquilo e o beque nervoso, quem vai levar vantagem?
E o que você acha que a Copa do Mundo pode trazer de avanço para o futebol brasileiro, para o país?
Os megaeventos vão enriquecer quem vier aqui, não vai deixar nada para o Brasil não. São esses caras que vão vir aqui, vão dizer que o Brasil é lindo, que as mulheres são bonitas e vão voltar para o lugar deles com os bolsos cheios. Nem impostos os caras vão pagar. E acho que todo brasileiro é impotente ao elogio. Elogiou a gente, a gente abre a guarda. Então eles fazem isso, nos elogiam e levam o que quiserem.
Faltou uma postura mais firme do governo com relação às exigências que a Fifa fez para a realização da Copa em solo brasileiro?
Acho que não, porque é o seguinte. O Brasil queria o privilégio de fazer a Copa e a Fifa também queria que fosse aqui e fez tudo quanto era exigência. O Brasil então para fazer uma Copa se cegou. A FIFA nos cegou. Cegaram os brasileiros, cegaram os políticos e agora nós estamos vendo a merda em que nós caímos. Agora eles estão pisando na cabeça da gente, exigindo demais e a cobrança está grande demais. Com a coisa em curso, é difícil resistir e fazer alguma coisa.
Falta mais posicionamento de pessoas de dentro do futebol com relação aos problemas estruturais que ele enfrenta?
Antigamente os dirigentes brigavam pelos clubes. Hoje eles brigam pelo interesse deles. Então os caras saem, quebram tudo e não presta conta a ninguém. Isso não é só com dirigentes não, é com os nossos governantes. O Brasil está uma vergonha dentro e fora de campo.
Você já foi discriminado por ser negro dentro do futebol?
Já. E qualquer jogador negro que falar que não foi é mentiroso.
Para fechar, o que você vê de futuro para o futebol brasileiro dentro e fora de campo? Qual o horizonte do futebol brasileiro pros próximos anos?
Se a gente analisar o futebol brasileiro, a gente tem que falar do jogador sim, mas tem que falar do torcedor. Sem torcedor não tem futebol. É o cara que compra 250 gramas de carne, poderia comprar mais, mas deixa o restante para comprar o ingresso. Tomando a birita dele, a cachaça dele e vendo o time dele jogar ele tá feliz. Mas você vê, pobre coitado do torcedor que está se acostumando com muito pouco de todo lado, no campo ou fora dele. Eu, como ex-jogador de futebol, acho que as coisas vão começar a melhorar quando houver mais amor à profissão de torcedores e dirigentes. O dinheiro não é a causa, é a consequência. Tem que haver mais respeito deles com os clubes e deles com eles mesmos. Tá cheio de jogador, por exemplo, passando pelo Atlético e não deixando marca nenhuma. Legado nenhum. Mas mesmo assim o cara tá rico, ganhou dinheiro. Isso eu acho vexatório. Tem muito ídolo de barro por aí.
Desgovernismo
19 de Maio de 2013, 21:00 - sem comentários aindaA ladainha do “fisiologismo sem resultados” desapareceu das análises assim que os tais resultados se confirmaram. Fisiologismo bem-sucedido remete a governabilidade, que por sua vez lembra o papel do Legislativo na condução das necessárias reformas institucionais, e aí a polêmica termina, porque nenhum colunista é bobo de se meter nesse redemoinho. Não à toa, o público permanece alheio ao teor da medida aprovada, e especialmente ao pesado jogo de interesses empresariais que a envolve. Por exemplo, a influência do pré-sal na abertura dos portos.
Já a atitude dos partidos oposicionistas não vale um perdigoto de credibilidade. Como é possível conceber a direita neoliberal e as bancadas empresariais se opondo a um projeto de viés liberalizante? Capitalistas de carteirinha combatendo medidas que aprimoram o escoamento da produção? E por que precisariam de ainda mais tempo em suas deliberações? Para alongar os “debates” com os lobistas da área? Sei.
No fundo, em uníssono com a crônica dos grandes veículos, PSDB e congêneres apostaram no quanto-pior-melhor, na inação generalizada, nas chantagens e traições que atravancam o programa administrativo endossado pelas urnas. São capazes de trair suas próprias bases programáticas, apenas para impor uma derrota ao governo. O país que se esfole.