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O feminino nos diplomas brasileiros
22 de Maio de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Foi editada, há alguns dias, uma leizinha que torna obrigatória a distinção masculino/feminino nos diplomas e certificados de todas as instituições de ensino do País. Embora ela represente mais um pequeno degrau que subimos em direção à igualdade de gêneros, sua consequência para nosso idioma, ao contrário do que muita gente andou apregoando por aí, é igual a ZERO.
Publicado em Sua Língua
Há coisa de um mês entrou em vigor a Lei 12.605, que torna obrigatória a diferenciação masculino / feminino nas profissões e graus que constam nos diplomas e certificados expedidos por qualquer instituição de ensino desta incomparável Pindorama. Para uma leitora que perguntou se esta lei mudaria alguma coisa no uso que fazemos do idioma, sou obrigado a dizer, com franqueza, que não muda nada, ou pouco mais que nada. É uma lei pequenina, tanto no texto quanto nos efeitos: a partir de agora, se uma filha minha se graduar em Arquitetura ou Enfermagem, terá a merecida satisfação de ver que seu diploma não lhe confere o antipático título de "Arquiteto" ou de "Enfermeiro", como ainda fazem muitas instituições de ensino bem conhecidas, mas sim o de "Arquiteta" ou "Enfermeira".
É só isso? É. Do ponto de vista sociológico, a lei até poderá contribuir um pouco para arejar a burocracia acadêmica, geralmente tão conservadora nestas questões de gênero; do ponto de vista lingüístico, no entanto, ela faz tanto efeito quanto aplicar clister em defunto. Como ela dispõe apenas sobre a forma de redigir o texto dos diplomas e certificados, dirige-se exclusivamente aos secretários de escola, que os emitem, e não a simples mortais como nós, que os recebemos. Pode ser que a lei provoque alguma comoção nos departamentos de registros das universidades, que terão de abandonar sua inexplicável resistência em usar os femininos que a língua põe à nossa disposição — mas em nada vai afetar nossa linguagem usual, que felizmente sempre foi muito mais democrática que a linguagem petrificada dos diplomas.
Acredite, leitora: neste quesito, somos muito mais avançados que os franceses. Se a sociedade brasileira ainda não oferece oportunidades idênticas aos dois sexos, ao menos nossa cultura sempre distinguiu o gênero das profissões. Aqui, no mundo real, a mulher que trabalha é professora, médica, ministra, técnica, reitora ou catadora de lixo, enquanto lá, no hexágono francês, ainda se cultiva a estranha tradição de empregar nomes exclusivamente masculinos. As combativas feministas francesas tentam criar e divulgar as formas femininas correspondentes, mas ainda é comum empregarem le ministre, le médecin ou le peintre tanto para homens quanto para mulheres. Sem conhecer o contexto, uma simples nota na coluna social como "le gendarme s’est marié en robe blanche" vira um verdadeiro enigma, já que não sabemos (estamos no séc. 21, gente!) se foi A ou O policial que casou de vestido branco.
Esta lei vem se juntar a outra bem mais antiga, quase tão inócua quanto ela: em 1956, o presidente Juscelino assinou a Lei 2.749, ainda vigente, que torna obrigatório o uso do gênero feminino (quando houver) na denominação dos cargos públicos ocupados por mulheres. Seu alcance também é limitadíssimo, pois a ela só estão sujeitas "as repartições da União Federal", as autarquias e os serviços "cuja manutenção dependa, totalmente ou em parte, do Tesouro Nacional" — ou seja, é uma norma interna do serviço público, semelhante à que estabelece o uso de gravata ou à que define o tamanho oficial dos envelopes. Em outras palavras, leitora, ela nada tem a ver com a linguagem que eu e você usamos.
Ora, por que os legisladores, nos dois casos, reduziram tanto o âmbito de aplicação de suas normas? Por que não tornaram a obrigação extensiva a todos os brasileiros? É simples: porque teriam assinado um atestado de burrice e seriam objetos de chacota eterna, aqui e fora de nossas fronteiras. Há muito tempo o Ocidente aprendeu que é o consenso dos falantes que regula o uso de uma língua, e que não há poder instituído que possa controlá-lo, como ilustra o conhecido episódio que ocorreu com Sigismundo, imperador do Sacro Império Romano-Germânico: durante o Concílio de Constança, em 1414, ele empregou como feminina a palavra cisma (que era neutra, no Latim, como é masculina, hoje, no Português). Ao ser advertido do erro, respondeu que, como imperador, ele podia muito bem decidir que cisma tinha trocado de gênero — ao que se levantou um arcebispo e lançou-lhe nas barbas a famosa frase "Caesar non supra grammaticos" (literalmente, "César não está acima dos gramáticos"), que deve ser lido como "O Estado não tem poder sobre as palavras".
Globo supera a CBS ou como um país de terceiro mundo sustentou uma emissora de primeiro (ou seria o contrário)?
22 de Maio de 2012, 21:00 - sem comentários ainda A notícia foi: Rede Globo é a segunda maior emissora do mundo. O texto explica que uma nova avaliação levou a Globo do terceiro para o segundo lugar no ranking mundial, na frente da CBS:SÃO PAULO – A rede Globo de Televisão tornou-se a segunda maior emissora do mundo em renda comercial.
Segundo o site “Comunique-se”, a empresa de Roberto Marinho ultrapassou a CBS em uma análise feita neste ano. Agora, a emissora só está atrás da ABC, dos Estados Unidos.
No Brasil, a rede Globo possui cinco emissoras próprias, nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Olinda, além das empresas afiliadas espalhadas por todo o País.
O único outro canal brasileiro que faz parte do ranking internacional é a rede Record. Porém, ela ocupa apenas a 28ª posição.
Além da ABC, Globo e CBS, estão também entre as oito maiores redes do mundo a NBC, na quarta colocação, a Televisa, na quinta, a CNN, na sexta, a BBC, na sétima, e a chinesa CCT no fim da lista.
A ótima avaliação da Rede Globo infelizmente não inclui dados políticos e históricos que permitiram à emissora estar em posição tão privilegiada. O Brasil é um país riquíssimo: fato. Ainda vivemos em desigualdade social e isso também é um fato. Estes dois elementos somados aos 21 anos de uma ditadura militar que injetou milhões de dólares na emissora numa competição desigual e sem precedentes, manipulação de fatos jornalísticos, tendência inata ao golpismo, etc, fazem da Vênus Platinada um destaque mundial.
É claro que a Globo tem suas qualidades, mas vale questionar como um país de terceiro mundo conseguiu sustentar uma "emissora de primeiro mundo", ou seria o contrário? Uma emissora de televisão que apoia um franco processo de desindustrialização, ideais de uma elite financeira e retrógrada que faz de tudo para manter o país no mesmo lugar. mas com a segunda maior emissora do mundo.
Caso ainda não tenha visto, recomendo assistir ao documentário
"Beyond Citizen Kane" ou então visitar o site do falecido jornalista Daniel Herz e procurar compreender melhor o que quero dizer.
Quando nem Todos os Santos podem salvar...
22 de Maio de 2012, 21:00 - sem comentários aindaUm leitor deste blog, que preferiu manter anônima a sua identidade, enviou duas fotos de uma situação inusitada. Feitas na semana passada, no bairro de Todos os Santos, Rio de Janeiro, não há muito para falar sobre elas, pois a barbaridade e o risco de morte falam por si só, nas imagens.Veja e o robô que não era robô
22 de Maio de 2012, 21:00 - sem comentários aindaEu, robô? |
Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador
A revista “Veja”, antes da curiosa parceria com o bicheiro Cachoeira, era conhecida pela criatividade. Não deixa de ser uma boa qualidade no jornalismo: textos, títulos, ilustrações criativas são sempre benvindos. Desde que se baseiem em fatos.
Fatos não são o forte de “Veja”: dólares para o PT trazidos em caixas de whisky (que ninguém nunca viu), contas no exterior de gente ligada ao lulismo (jamais encontradas, mas noticiadas como verdadeiras), queda de Hugo Chavez em 2002 (comemorada antes da hora, com uma capa vergonhosa), grampo sem áudio (hoje, graças a outros grampos com áudio do esquema cachoeira, sabe-se porque o grampo sem áudio virou notícia na “Veja”)…
A lista é enorme, e não se restringe à política. A “Veja” é crédula. Acreditou no Boimate (o episódio, ridículo, foi estrelado por um rapaz chamado Eurípedes Alcântara, então editor de “Ciência” da revista), uma brincadeira de primeiro de Abril de uma agência internacional. Por conta de tanta credulidade, a revista noticiou como verdadeiro o cruzamento de boi com tomate. Genial. Tão genial que o rapaz depois viraria diretor de redação da revista.
A “Veja” – é bom lembrar – acredita em recomendar remédios (milagrosos) para emagrecer, na capa. De forma irresponsável. O remédio na verdade serve para diabetes, e sumiu das prateleiras. Uma história até hoje mal explicada.
A revista mais vendida do país, com pouco apego aos fatos, tornou-se também sisuda, malcriada, irascível. O fígado dos Civita e de seus rapazes deve doer demais. Eles deveriam relaxar um pouco. Na última edição até que tentaram. Para responder às críticas avassaladoras contra a estranha parceria Abril-Cachoeira - que levaram “Veja”, 4 semanas seguidas, para os “TTs” no twitter – os editores decidiram atacar. Acusaram o PT (Globo e Veja são os únicos órgaõs de comunicação do país, na companhia do Professor Hariovaldo, que acreditam piamente na existência dos “radicais do PT”) de comandar uma campanha orquestrada no twitter.
O malvado Rui Falcão (presidente do PT) teria chefiado tudo. Utilizando, vejam só, perfis falsos no twitter. Ou seja: os radicais lulopetistas utilizaram “robots” para atacar a revista dos homens bons da pátria. A “Veja” faz bem em gritar. Radicais! Mosquitos stalinistas! Formigas esquerdistas! Quem sabe esses gritos diminuam o ruído da cachoeira… Um dos “robots” lulopetistas a “Veja” decidiu nomear: tem o nome sugestivo de @Lucy_in_Sky_.
Pois bem. O twitteiro @página2 decidiu fazer o que Veja não gosta de fazer: checar informações. Descobriu que @Lucy_in_Sky_ existe sim! A entrevista da twitteira – que existe, contra a vontade da revista – pode ser lida aqui, no blog do Eduardo Guimarães.
O resumo de tudo isso é o seguinte: “Veja” dá destaque – de forma criativa – a fatos que jamais existiram. Em contrapartida, agora acusa (!?) de não existir pessoas que de fato existem!
Engraçadíssima a “Veja”. Deixou-se embalar pelo jornalismo lisérgico. Cachoeira já sabia: esses rapazes da marginal estão à frente de seu próprio tempo. Brigar com as redes sociais é, de fato, atitude muito inteligente!
Lucy in the sky with diamonds!!!
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PS: na primeira versão desse texto, o Escrevinhador cometeu uma falha gravíssima – confundiu Mario Sabino com Eurípedes Alcântara. Alertado por “robots” stalinistas que já estiveram inscrustrados na editora Abril, acabamos de fazer a correção, dando crédito pelo brilhante Boimate ao homem bom Eurípedes Alcântara.