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Chomsky: “Estou com os manifestantes do Brasil”
17 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaCercado de jornalistas e curiosos de pelo menos 30 países, na noite desta segunda-feira (17/6), o linguista e crítico político de renome mundial Avram Noam Chomsky, de 84 anos, caminhava lentamente para se retirar da plenária após sua palestra no Forum Global de Midia, em Bonn (Alemanha). Estava acompanhado de seguranças e assessores que tentavam manter todos afastados e não parecia disposto a responder mais indagações. Em uma fileira formada ao lado dele, consegui gritar uma pergunta. Ao ouvir as palavras “Turquia” e “Brasil”, Chomsky virou-se para mim, respondendo-a:
- Embora sejam protestos diferentes e com suas peculiaridades, as manifestações nos dois países são tentativas de o povo recuperar a participação nas decisões. É uma forma de ir contra o domínio dos interesses de grupos econômicos. Acho ambos muito importantes e posso dizer que estou com os manifestantes – disse o linguista, entusiasta do movimento “Occuppy”, declarando apoio ao movimento que toma as ruas de cidades brasileiras e também aos manifestantes turcos.
Ele tem razão ao tentar separar os dois movimentos. Embora semelhanças pareçam gritar neste momento, devido ao cunho popular de ambos os protestos, são países de contextos socioeconômicos e culturais muito diferentes. Qualquer tentativa de relacioná-los pode ser leviana, se nao forem tomadas as devidas ressalvas.
Mas, há, no entanto, uma característica que une brasileiros e turcos neste momento: a tentativa de recuperar diferentes formas de liberdade e mostrar que a sociedade civil está acordada. Durante seu discurso para cerca de duas mil pessoas, entre jornalistas, autoridades europeias e pesquisadores do mundo inteiro reunidos para o fórum que ocorre até esta quarta-feira, na pequena cidade de Bonn, Chomsky afirmou que a ocupação da praca Taksim é um microcosmo da defesa dos bens comuns.
- Trata-se de um movimento global contra a violêcia que ameaça a liberdade em diferentes países. As pessoas estão indo as ruas para defender bens comuns, aqueles que são compartilhados dentro das sociedades. O capitalismo baseado na massificação de privatizações não compreende a gestão coletiva, aí esta o problema. Os movimentos que ocorrem neste momento são legítimos, na tentativa de recuperar a participação popular na gestão destes bens.
Para além da dominação econômica
Chomsky discursa para mais de duas mil pessoas. Foto: Camila Nobrega |
- Para muitas sociedades, a propriedade privada se tornou aparentemente a única possibilidade de divisão de territórios e recursos. Isso está acabando com essa noção do que é comum – disse, ampliando a análise para a participação social: – Existe um pensamento muito difundido em sistemas politicos e econômicos pautados em ideais liberais que defende a manutenção do poder de decisão nas mãos de poucas pessoas, que seriam o grupo mais “bem preparado” da sociedade. Os demais seriam apenas espectadores. É contra isso que alguns grupos estão lutando.
A base desse pensamento parte de um dado bastante claro que Chomsky trouxe à tona: segundo ele, 70% da população norte-americana, por exemplo, não tem qualquer influência sobre a política nacional. Ou seja, a maioria da população não tem poder, por exemplo, sobre políticas públicas que afetam suas vidas diariamente.
Autor de mais de 70 livros e considerado um dos principais intelectuais vivos atualmente (a quantidade de vezes que ele aparece em citacoes bibliograficas nos dias de hoje se assemelha a de grandes filósofos, como Platão), Noam Chomsky é, na verdade, um grande defensor da capacidade humana de criar e de se libertar de estruturas de dominação. Seus pensamentos vieram a público no início da decada de 1960, quando ele fez uma crítica aberta a outros linguistas, atacando a noção de behaviorismo, segundo a qual o ser humano aprende apenas por imitação. Chomsky defendia, já àquela época, a existência de uma capacidade inata do ser humano de se expressar, de diferentes formas.
Ao longo dos anos, ele foi adaptando este pensamento a um contexto político e se tornou um dos mais vorazes criticos do sistema politico-econômico e também cultural dos Estados Unidos. Nascido na Filadélfia, ele se tornou uma voz dissonante dentro do território norte-americano.
Frente a uma plateia composta de pessoas vindas de todo o mundo para a conferência em Bonn, mas majoritariamente de europeus, o discurso de Chomsky pareceu soar um pouco anacrônico. Foi o que se ouviu nos corredores. Não foi essa a interpretação, porém, de participantes vindos de países africanos em desenvolvimento. Não houve também anacronismo para os representantes turcos que estão por aqui, ou de outras pessoas vindas da região que vive hoje a Primavera Árabe. Para estes grupos, nos quais o Brasil parece se incluir, uma fala de Chomsky ecoou:
- O termo democracia pode parecer óbvio para alguns, e aí está a ameaça. Há vários tipos de democracia, várias formas de aplicação deste conceito. O que podemos pensar é: este tipo de democracia onde a esmagadora maioria da população não tem participação alguma é a que queremos?
Não é preciso muito mais para explicar o porquê de os representantes brasileiros, após o discurso de Chomsky, terem se sentado à mesa com turcos, sulafricanos e outros representantes de países cujos projetos de democracia e desenvolvimento estão sendo contestados neste momento. Observando de outro continente as manifestações que estão parando cidades brasileiras nos últimos dias, o discurso do linguista não parece nem um pouco anacrônico.
(Camila Nobrega Do Canal Ibase Enviada a Bonn-Alemanha)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
O estado mais antiindígena do Brasil
17 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaO estado mais antiindígena do Brasil (foto desfocada) |
A polícia federal se apressa em ir ao local para esclarecer (ou não) mais essa morte de indígena no Mato Grosso do Sul. E para evitar animosidade, já vai adiantando que provavelmente a morte não tenha nada a ver com o conflito de terras indígenas na região.
Enquanto Celso Figueiredo vai sendo velado com prantos indignados em Dourados, cinco Kaiowá Guarani são presos, incluída a professora Efigenia, grávida.
As lideranças são da Terra Indígena Panambi-Lagoa Rica, aldeia Ytaí, município de Douradina.
Nada disso é novidade no estado mais antiindígena do país.
Enquanto, o Guarani Celso, assassinado por pistoleiros, está sendo velado, na Terra Indígena Paraguasu, no município de Paranhos, fronteira com o Paraguai, uma delegação Kaiowá Guarani e Terena se encontra com vários ministros e parlamentares.
Eles vão repetir mais uma vez o que foi denunciado milhares de vezes nas últimas décadas: demarquem nossas terras, parem de nos matar, punam os assassinos confessos e reconhecidos.
Porém o Mato Grosso do Sul faz a leitura ao avesso: mata e prende os índios.
Isso tem seu preço.
O Brasil e o mundo não aguentam mais esse genocídio. Os povos indígenas não podem continuar sendo sacrificados no altar do progresso.
Enquanto isso roncam os tratores e as vozes estridentes de Katia Abreu e outros lideres do agronegócio em todo o país.
Talvez estejam temerosos de que o Relatório Figueiredo e as CPIs de 1953 e 1963 façam vir à luz as maracutaias que se faziam, com as elites do então estado do Mato Grosso apossando-se das terras indígenas.
Não é por nada que não se realiza um levantamento sério e aprofundado das cadeias dominiais e da estrutura fundiária.
Nos gabinetes e corredores vai sendo costurado um novo modelo de identificação e regularização das terras indígenas, com mais interlocutores na mesa.
Vão sendo constituídas novas rodadas de negociação e esclarecimentos entre vários ministérios e lideranças indígenas Kaiowá Guarani e Terena.
Também a Comissão Especial formada pelo Conselho Nacional de Justiça voltou a se reunir, para ajudar a encontrar saídas para a situação das terras indígenas no MS, que tem ocasionado um gravíssimo cenário de assassinatos, feridos, prisões e ameaças.
Apesar de os indígenas não terem nenhuma ilusão de que seja fácil ou rápida a solução do reconhecimento e demarcação das terras no Mato Grosso do Sul, eles acreditam que é importante manter os espaços de diálogo e a visita das autoridades à região para ver e sentir no local as dramáticas realidades das comunidades e povos locais.
Para o mês que vem várias visitas das comissões e ministérios estão previstas. Quem sabe em alguma coisa se avance.
De 1988 a 2012 mais de mil suicídios aconteceram entre os Kaiowá e Guarani, o que evidencia o grau de desespero e descrença na solução dos problemas, principalmente da terra. E mais de 300 indígenas da etnia foram assassinados.
No Mato Grosso do Sul, existe propagação permanente de racismo, discriminação e ódio contra os indígenas tanto pela mídia local quanto pelos fazendeiros antiindígenas e autoridades locais.
Os assassinos das lideranças indígenas não são punidos no MS, e a impunidade alimenta as violências contras os indígenas do MS.
Mais uma semana de muita conversa, reuniões e manifestações dos povos indígenas em Brasília. Foram acionadas as válvulas de escape da panela de pressão.
Os povos indígenas do Xingu, Tapajós e Teles Pires retornaram a suas aldeias, depois de mais de uma semana aguentando o frio do planalto central.
Deram o recado.
Voltaram de cabeça erguida, certos de que a luta apenas começou.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Manifestantes "não querem derrubar o governante, mas serem ouvidos"
17 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaManifestantes "não querem derrubar o governante, mas serem ouvidos"
A onda de protestos realizada em inúmeras cidades brasileiras na semana passada é motivada por uma sensação de "mal-estar coletivo", compartilhada em especial pela juventude das grandes cidades.
A reportagem é de Luís Guilherme Barrucho e publicada pela BBC Brasil, 17-06-2013.
Na opinião da maioria dos especialistas ouvidos pela BBC Brasil, o fenômeno é mais social do que político e concentra-se nas regiões metropolitanas, onde as sucessivas políticas públicas executadas por governantes locais teriam deixado de atender aos principais anseios da população, sobretudo os mais jovens.
Eles, no entanto, refutaram uma comparação com a chamada Primavera Árabe, a onda de protestos ocorrida no Oriente Médio, que resultou na derrubada de regimes autoritários. Na semana passada, manifestantes tomaram as ruas de pelo menos seis cidades brasileiras para protestar contra o aumento das tarifas do transporte público. Em São Paulo, na quinta-feira, a polícia reprimiu uma passeata e acabou ferindo várias pessoas, incluindo jornalistas.
No sábado e domingo, novos protestos voltaram a ocupar o noticiário nacional, dessa vez nas imediações dos estádios de Brasília (Mané Garrincha) e Rio de Janeiro (Maracanã) onde foram realizados os primeiros jogos da Copa das Confederações.
Novas manifestações foram marcadas para esta segunda-feira.
Motivações
Em suas interpretações sobre as causas dos protestos, sociólogos e cientistas políticos destacam a insatisfação dos jovens com a administração pública e com as condições de vida nas grandes cidades. "Existe uma espécie de mal-estar difuso, sem um foco claro. Há uma espécie de ressentimento e frustração de ordem social, alimentados por um estilo de gestão que não oferece diálogo à população", afirmou à BBC Brasil o sociólogo Gabriel Cohn, ex-diretor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP).
Cohn, porém, acredita que esse mal-estar também reflete "uma insegurança dos jovens em relação a seu futuro. Nos últimos anos, o Brasil passou por profundas transformações, o que gerou fortes expectativas dessa camada social, e há uma ansiedade justificada por parte deles se isso vai se sustentar ou avançar nos próximos anos", acrescentou.
Para o sociólogo Aldo Fornazieri, diretor acadêmico da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), os protestos são uma crítica à mobilidade urbana, sobretudo por parte dos jovens, que se ressentem da falta de representatividade nas diferentes esferas de administração pública.
"As manifestações refletem uma insatisfação sobre o modo sufocante de viver nas grandes cidades, cada vez mais hostis à população em geral. Isso cria uma espécie de uma anomalia social, uma sensação de não pertencimento. Para piorar, o poder público não está conseguindo garantir qualidade de vida aos moradores dos grandes centros urbanos", disse Fornazieri, que diz conhecer alguns dos líderes do MPL, aos quais deu aulas.
"A principal bandeira é o transporte público porque o jovem ─ especialmente o de classe média baixa ─ que muitas vezes precisa trabalhar e estudar, é o mais afetado por tudo isso. Essa situação gera uma angústia na juventude, que não se vê representada nem nos sindicatos nem nas associações estudantis, pois estes estão relativamente acomodados em suas conquistas", acrescentou.
A socióloga Angela Maria Araújo, da Unicamp, concorda em parte. Ela vê as manifestação como um protesto dos jovens contra a gestão da cidade e à falta de perspectivas geradas por uma educação deficiente. Para ela, o movimento está principalmente relacionado "a um descontentamento dessa parcela da população mais jovem com as condições em que vivem nos grandes centros urbanos. O transporte é de péssima qualidade e o trânsito, caótico", disse. "Além disso, as escolas não dão resposta às expectativas desses jovens", acrescentou.
Já o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-Rio, define o protesto como "um movimento social urbano vinculado à qualidade do transporte público". "É um fenômeno restrito às regiões metropolitanas que revela uma insatisfação em relação aos governantes, que deixaram de lado as políticas públicas para a melhoria desse setor."
Na avaliação do sociólogo Bolívar Lamounier, os protestos foram incentivados, em parte, por uma "impaciência com a corrupção e com a inflação".
Reação da polícia
De acordo com os analistas, a reação da polícia às manifestações, especialmente em São Paulo, acabou por dar musculatura à mobilização popular, atraindo novos adeptos e também novas causas.
"Inicialmente, os manifestantes protestaram contra o aumento da tarifa dos transportes públicos. Naquela ocasião, nem todos apoiavam a causa. Mas, por causa da truculência da polícia, o movimento ganhou simpatizantes, que se solidarizaram às suas causas e também passaram a reivindicar outras propostas", afirmou Ismael, da PUC-Rio.
"Há um sentimento de reivindicação legítima, e a maneira como o governo vem tratando a questão não é a mais adequada no ambiente democrático", acrescentou. "Apesar de não vivermos em um regime autoritário, vemos o avanço real de forças truculentamente conservadoras na sociedade", afirmou Cohn, da USP.
Primavera Árabe?
Embora admitam que a convocação dos protestos por meio das redes sociais é similar ao da Primavera Árabe, os especialistas descartaram uma semelhança mais profunda com a onda de protestos que varreu o Oriente Médio e, mais recentemente, a Turquia.
"Diferentemente da Primavera Árabe, as manifestações aqui não são contra o governo instalado", disse Araújo, da Unicamp. "Eles não querem derrubar o governante, mas serem ouvidos, ou seja, que a política pública exista através do diálogo", defende Ismael, da PUC-Rio. Entretanto, os analistas ouvidos pela BBC Brasil têm visões diferentes sobre a vocação política das manifestações.
Falando sobre os protestos ocorridos em São Paulo, Cohn diz que não vê insatisfação política pois, em sua opinião, os manifestantes não advogam "grandes causas". "Quem é o objeto das manifestações?", questiona. "O movimento é fraco politicamente porque é muito reativo, pois não propõe ou defende questões reais. Trata-se apenas de um estímulo para reagir e correr para a rua. Uma ação propositiva faria mais sentido", afirmou.
Ismael, da PUC-Rio, discorda. Para ele, existe um descontentamento "político" pela crítica aos governantes. "Não é porque as manifestações não pediram a renúncia de um determinado governante que não existe vocação política por trás dessas mobilizações popularares", afirmou. "Eu diria até que foi esse apartidarismo que vem unindo mais e mais manifestantes. Caso contrário, se fizesse escolhas políticas, o movimento certamente perderia força", avaliou.
Já Bolívar Lamounier diz acreditar que, em São Paulo, o protesto foi insuflado por "grupos trotskistas" e que tem como alvo o governador do Estado, Geraldo Alckmin.
(Publicado por Unisinos)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
O que levou os Estados Unidos a um declínio tão dramático
17 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaO que levou os Estados Unidos a um declínio tão dramático |
Morris Berman, 67 anos, é um acadêmico americano que vale a pena conhecer
(Por Paulo Nogueira)
Acabo de ler “Por Que os Estados Unidos Fracassaram”, dele. A primeira coisa que me ocorre é: tomara que alguma editora brasileira se interesse por este pequeno – 196 páginas — grande livro.
A questão do título é respondida amplamente. Você fecha o livro com uma compreensão clara sobre o que levou os americanos a um declínio tão dramático.
O argumento inicial de Berman diz tudo. Uma sociedade em que os fundamentos são a busca de status e a aquisição de objetos não pode funcionar.
Berman cita um episódio que viu na televisão. Uma mulher desabou com o rosto no chão em um hospital em Nova York. Ela ficou tal como caiu por uma hora inteira, sob indiferença geral, até que finalmente alguém se movimentou. A mulher já estava morta.
“O psicoterapeuta Douglas LaBier, de Washington, tem um nome para esse tipo de comportamento, que ele afirma ser comuníssimo nos Estados Unidos: síndrome da falta de solidariedade”, diz Berman. “Basicamente, é um termo elegante para designar quem não dá a mínima para ninguém senão para si próprio. LaBier sustenta que solidariedade é uma emoção natural, mas logo cedo perdida pelos americanos porque nossa sociedade dá foco nas coisas materiais e evita reflexão interior.”
Berman afirma que você sente no ar um “autismo hostil” nas relações entre as pessoas nos Estados Unidos. “Isso se manifesta numa espécie de ausência de alma, algo de que a capital Washington é um exemplo perfeito. Se você quer ter um amigo na cidade, como Harry Truman disse, então compre um cachorro.”
Berman |
“Estamos assistindo ao suicídio de uma nação”, diz Berman. “Um país cujo propósito é encorajar seus cidadãos a acumular mercadorias no maior volume possível, ou exportar ‘democracia’ à base de bombas, é um navio prestes a afundar. Nossa política externa gerou o 11 de Setembro, obra de pessoas que detestavam o que os Estados Unidos estavam fazendo com os países delas. A nossa política (econômica) interna criou a crise mundial de 2008.”
A soberba americana é sublinhada por Berman em várias situações. Ele cita, por exemplo, uma declaração de George W Bush de 1988: “Nunca peço desculpas por algo que os Estados Unidos tenham feito. Não me importam os fatos.” Essa fala foi feita pouco depois que um navio de guerra americano derrubou por alegado engano um avião iraniano com 290 pessoas a bordo, 66 delas crianças. Não houve sobreviventes.
Berman evoca também a Guerra do Vietnã. “Como entender que, depois de termos matado 3 milhões de camponeses vietnamitas e torturado dezenas de milhares, o povo americano ficasse mais incomodado com os protestos antiguerra do que com aquilo que nosso exército estava fazendo? É uma ironia que, depois de tudo, os reais selvagens sejamos – nós.”
Você pode perguntar: como alguém que tem uma visão tão crítica – e tão justificada – de seu país pode viver nele?
A resposta é que Berman desistiu dos Estados Unidos. Ele vive hoje no México, que segundo ele é visceralmente diferente do paraíso do narcotráfico pintado pela mídia americana — pela qual ele não tem a menor admiração. “Mudei para o México porque acreditava que ainda encontraria lá elementos de uma cultura tradicional, e acertei”, diz ele. “Só lamento não ter feito isso há vinte anos. Há uma decência humana no México que não existe nos Estados Unidos.”
Clap, clap, clap.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Manifestantes do Passe Livre criam site para denunciar abusos
16 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaManifestantes criam site para denunciar abusos em protestos em SP. Qualquer pessoa pode publicar textos, imagens, vídeo, links, citações e áudio dos protestos contra o aumento das tarifas de ônibus
Com a continuação dos confrontos durante os protestos contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo, um novo tumblr – site que permite aos usuários publicarem textos, imagens, vídeo, links, citações e áudio – foi criado por manifestantes com o objetivo de abrir espaço para relatos de abusos e agressões cometidas durante os atos na capital paulista. Por meio do site chamado de Feridos no protesto em SP, qualquer pessoa pode falar sobre as manifestações que terá o texto original no ar.
Em um dos relatos, uma estudante conta que estava observando a manifestação com um grupo de amigos na porta da universidade onde estuda quando foram atingidos pela polícia. “Eis que a cavalaria passa (lembrando que tudo isso se passou na porta da faculdade) e param cerca de 10 carros da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) há uns 10 metros da esquina da Piauí com a Consolação. Ali começou o caos. Comentei com as pessoas que eles iriam arremessar bombas na nossa direção e todos discordaram, dizendo que não tinha motivo pra isso. E não tinha. Eram menos de 30 estudantes na esquina só tirando foto, mas em questão de segundos, “booooom”!”, disse. Junto com o texto, ela postou uma foto onde mostra os ferimentos sofridos no braço por estilhaços de uma das bombas. “Na hora senti a dor, mas não parei de correr”, afirmou.
Em outro post, o texto intitulado de “Notícias de uma guerra muito suspeita” de Elcio Fonseca conta a dificuldade encontrada pelo autor ao tentar pegar o trem para voltar para casa após o trabalho. “Para minha surpresa, a estação estava fechada. Guardas me avisaram “volte até a estação Trianon/Masp, se quiser embarcar”. Achei um exagero, protestei, quando me volto para o lado esquerdo da Paulista e vejo pessoas vindo de mãos levantadas, fotógrafos com as câmeras suspensas, e, antes mesmo que pudesse me dar conta desse exagero, cerca de seis motocicletas irrompem pela nossa calçada, em velocidade e impetuosidade, atropelando pessoas, seguida de dezenas de cavalos, ao que todos, assustados e, alguns de nós, já em estado de pânico e estupor, encostam-se nas marquises. Quando fui protestar, os soldados da Policia Militar, com cassetetes batendo em seus escudos, foram nos empurrando, e, particularmente em mim, bateu com um cassetete nas costas, sem que eu pudesse pelo menos perguntar onde poderia tomar o Metrô. Uma truculência e humilhação a que não tinha presenciado nem nos momentos mais duros do regime militar”, comparou Fonseca.
(Por Pragmatismo Político)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..