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A imprensa líquida de Zygmunt Bauman
6 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaA entrevista do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, levada ao ar no domingo (3/6) pela TV Cultura de São Paulo, ajuda a interpretar certas características da imprensa contemporânea em seu esforço por manter alguma relevância diante do cenário de dissolução de velhos paradigmas que marcaram a sociedade até o fim do século passado.Evidentemente, o ponto mais instigante de suas reflexões, no que se refere ao objeto de nossas observações, é a possível interpretação sobre as mudanças que a imprensa precisa enfrentar no contexto que o pensador chama de 'modernidade líquida'. Num ambiente em que, segundo ele, tudo se torna fluido, diluem-se também antigos elementos concretos de conexão, que se tornam inconstantes e instáveis. A imprensa, como outras instituições sólidas, tende a se desmanchar.
O pensamento de Bauman oferece um interessante arcabouço conceitual para o entendimento de certas características que podem ser facilmente observadas na imprensa tradicional. Um deles é sua tendência a se apropriar do poder, que se dissociou rapidamente da política com a redução do papel do Estado, a ascensão do individualismo e a colonização do espaço público por instituições privadas.
Entidades 'líquidas'
Essa constatação permite compreender, por exemplo, por que razão a atividade jornalística, praticada sobre a plataforma de entidades privadas, se comporta como detentora de atribuições típicas do antigo poder político. Assim como, na esfera do Estado, indivíduos organizados em partidos políticos exercem na verdade o papel de defensores de interesses privados, a imprensa, instalada no ambiente privado, invade áreas que historicamente sempre pertenceram à esfera pública, para exercer um poder típico da política.
É nessa mudança de campos, aliás, que a imprensa tenta reinstalar sua antiga hegemonia sobre a sociedade, criticamente abalada pelo advento das novas tecnologias digitais, que dissolvem aquilo que antigamente se chamava mídia. Para isso, ela precisa se apropriar de valores e crenças fundamente arraigados no imaginário humano e que ainda compõem o conjunto de laços formadores de comunidades.
Embora o sentido dessa palavra tenha se corrompido ao longo do tempo, principalmente em função da colonização do espaço comum pelo jogo do consumo, o ser humano ainda depende desses vínculos de comunidade para sobreviver e se sentir seguro.
Embora pareça um truísmo por representar aquilo que para muitos é apenas uma verdade banal, a expressão 'partido da imprensa golpista', pode, então, ser analisada em termos mais complexos. Não se trata, evidentemente, de um partido formalmente constituído, mas de uma 'instituição líquida' que se solidifica conforme se evidencia o interesse comum de seus integrantes em atuar como uma forma de poder no campo político.
O exercício da política também é influenciado pelo estado "líquido" das entidades sociais, e claramente se pode perceber como muitos protagonistas desse jogo agem de maneira fluida entre os escaninhos do poder, em grupos que não têm necessariamente uma sigla em comum, na defesa de seus interesses. Foi assim na constituição do poder exercido para consolidar o projeto de flexibilização da legislação de proteção ambiental.
Vozes amplificadas
Reportagem do Estado de S. Paulo sobre o comportamento dos diversos grupos durante a votação do Código Florestal, publicada na segunda-feira (4/6), mostra, por exemplo, que os integrantes da chamada Frente Parlamentar Ambiental votaram de acordo com os propósitos da bancada ruralista. Muitos deles integram simultaneamente os dois grupos de poder, apesar do conflito evidente entre as duas propostas.
Assim, além de desfazer o tecido da organização partidária, essa fluidez também desmancha o próprio conceito tradicional de política, transformando todas as ações em jogadas isoladas conduzidas por um conjunto de interesses específicos.
Nesse cenário, a imprensa também dissimula a verdadeira motivação privada de suas ações sob o manto do "interesse público", assumindo o papel de um "partido político líquido" cujos integrantes não precisam assinar uma ficha de filiação - basta que demonstrem afinidade total com o conjunto ideológico que pode ser lido no noticiário e no opiniário dos meios controlados pelas grandes empresas de comunicação.
No campo político não partidário, esse contexto ainda é visto com olhos do século 20, o que dificulta a organização de ações mais efetivas contra o poder "liquefeito" das forças conservadoras, empenhadas em mitigar os efeitos das mudanças sociais.
As chamadas forças progressistas, que supostamente deveriam atuar em favor das mudanças, demonstram clara repulsa às tecnologias que amplificam a voz dos indivíduos e abrem os espaços para a livre manifestação política. Forma-se, dessa maneira, o quadro das complexidades que parecem escapar entre nossos dedos.
Esse texto foi originalmente publicado no Observatório da Imprensa.
Luciano Martins Costa é jornalista e escritor. Foi repórter da 'Folha de S. Paulo', da revista 'Veja'; editor-executivo e colunista político de 'O Estado de S. Paulo', além de consultor de estratégia de comunicação para reposicionamento de empresas e gestão de crise. É autor do livro 'O Mal Estar na Globalização' (Ed. A Girafa).
A casa dos mortos
6 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Bubu é um poeta com doze internações em manicômios judiciários. Ele desafia o sentido dos hospitais-presídios, instituições híbridas que sentenciam a loucura à prisão perpétua. O poema A Casa dos Mortos foi escrito durante as filmagens do documentário e desvelou as mortes esquecidas dos manicômios judiciários. São três histórias em três atos de morte. Jaime, Antônio e Almerindo são homens anônimos, considerados perigosos para a vida social, cujo castigo será a tragédia do suicídio, o ciclo interminável de internações, ou a sobrevivência em prisão perpétua nas casas dos mortos. Bubu é o narrador de sua própria vida, mas também de seu destino de morte.
Site oficial: www.acasadosmortos.org.br
Documentário: Favela Fábrica
6 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Desde 2004 tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que visa regulamentar a terceirização do trabalho no Brasil. O PL 4330, de autoria do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), é criticado por sindicatos de trabalhadores, para quem ele vai aumentar a precarização do trabalho.
Já os defensores da nova lei dizem que a terceirização é uma realidade no Brasil e deve ser regulamentada. Segundo o sindicato das empresas de prestação de serviços terceirizados (Sindeprestem), a indústria é o setor que mais contrata mão de obra terceirizada: 74% das grandes indústrias no Brasil usam esse tipo de trabalho.
A Pública foi até o Jardim Pantanal, na zona leste de São Paulo, para conhecer de perto como funciona a terceirização de produtos industriais. E conversou com os operários dessas novas fábricas improvisadas – em sua maioria, idosos, mulheres e crianças. Veja a reportagem em vídeo.
Popout
Publicado originalmente no sítio da Pública
Urgente - casa de Zezinho está cercada e ameaçam destruí-la
4 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaCaros leitores, recebi agora por e-mail uma denúncia. Segue abaixo."A todas e todos Lutadoras e lutadores do povo, militantes, ativistas, simpatizantes e amigos da luta do Quilombo Rio dos Macacos. Nesse Momento a comunidade informa que a casa de Zezinho está cercada por mais de 30 homens que ameaçam destruir sua casa e levar todos presos.Nós da Quilombo- Xis estamos nos dirigindo para a comunidade, pedimos alerta total da militância e divulgação das redes sociais até que tenhamos o controle no local.Essa mensagem carrega a simplicidade de sua urgência , as autoridades devem ser acionadas , deputados , vereadores , secretários
Quilombo Xis –Ação Cultural Comunitária Somos todos Quilombo Rio dos Macacos "Para quem quiser conhecer mais sobre o assunto, basta seguir a hashtag: #QuilomboRioDosMacacos
Leiam matéria publicada em 04/03/2012 no site do Nassif sobre o assunto: http://advivo.com.br/blog/luisnassif/a-desocupacao-do-quilombo-rio-dos-macacos
Página no Facebook sobre o caso:
http://pt-br.facebook.com/pages/Sou-Quilombo-Rio-dos-Macacos/192286024204781?sk=info
Liberdade na internet está sob ataque, diz Richard Stallman
4 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
No lançamento da 13ª edição do Fórum Internacional de Software Livre, em Porto Alegre, um dos criadores do movimento advertiu para crescentes ameaças à liberdade digital. Para Richard Stallman, coisas muito sérias estão acontecendo na sociedade digital. “A inclusão digital pode ser boa ou ruim. Depende de onde a sociedade será incluída. O que vemos hoje é que a liberdade está sendo atacada de várias maneiras. Talvez tenhamos que diminuir a nossa inclusão para preservar nossas liberdades”
Porto Alegre - O criador do movimento software livre, Richard Stallman, participou nesta segunda-feira (4), no Palácio Piratini, do lançamento da 13ª edição do Fórum Internacional Software Livre, que será realizada de 25 a 28 de julho, no Centro de Eventos da PUC-RS, em Porto Alegre. Em um ato que contou com a presença do governador Tarso Genro, Stallman falou sobre as crescentes ameaças à liberdade na sociedade digital.
Em uma rápida intervenção no início da cerimônia, o governador gaúcho disse que o movimento em defesa do software livre representa hoje “uma das lutas mais importantes para recuperar a densidade da democracia que hoje se encontra esvaziada”. Tarso agradeceu e destacou o empenho de ativistas como Marcelo Branco em defesa da liberdade digital. “Quando eu era ministro da Justiça, foi ele que me advertiu sobre a necessidade de entrarmos no debate sobre o projeto restritivo e de censura que tramitava então no Congresso Nacional. Conseguimos bloquear a votação desse projeto e ajudamos a estimular um debate nacional sobre o tema”.
A fala de Richard Stallman foi marcada por graves advertências acerca das crescentes restrições na internet. Para o criador do Projeto GNU, iniciado em 1983 nos Estados Unidos, coisas muito sérias estão acontecendo na sociedade digital. “A inclusão digital pode ser uma coisa muito boa ou muito ruim. Depende de onde a sociedade será incluída. O que vemos hoje é que a liberdade está sendo atacada de várias maneiras. Talvez tenhamos que diminuir um pouco a nossa inclusão para preservar as nossas liberdades”, sugeriu.
Após um período de euforia e liberdade, os usuários da internet devem começar a se policiar, pois tudo o que fazem está sendo gravado e classificado. A palavra “tudo”, aqui, não é força de expressão. É “tudo” mesmo. Stallman citou os casos do Facebook, do Google e do Google Analytics como exemplos de um sistema de vigilância que está sendo feito em vários níveis. O mais perigoso, defendeu, é aquele controlado pelos governos.
“Grandes empresas privadas como Amazon, Microsoft, Apple e grandes empresas de telefonia também têm seus sistemas de vigilância. Nós podemos controlar isso usando software livre, por exemplo. Mas quando se trata de governos, a situação é mais complicada. Na Inglaterra, há um sistema que diz onde está cada automóvel do país pelo controle da placa. É algo que Stálin não teve, mas que gostaria de ter”, brincou.
Durante a sua fala, Stallman anunciou, em tom de lamento, que amanhã (terça-feira) estará visitando a Argentina pela última vez em virtude de um sistema de gravação das impressões digitais de todas as pessoas que entram ou saem do país. “Será meu último voo para a Argentina. Algumas coisas não podem ser toleradas. O Estado não pode saber tudo sobre todos. A polícia secreta da União Soviética não tinha esse controle sobre a vida das pessoas”, protestou o fundador da Free Software Foundation, que acrescentou. “Numa sociedade livre, não pode ser fácil para a polícia saber tudo sobre todas as pessoas. Se for fácil, então não estaremos vivendo em uma sociedade livre”.
Stallman citou também como ameaça à liberdade a tentativa de censura na internet em vários países, mas essa luta, segundo ele, parece que está sendo vencida pela internet. “A censura existe muito antes do computador, mas parece que a internet está ganhando da censura. Muitos países têm tentado exercer a censura por meio de filtros e outros mecanismos, mas não estão conseguindo”. Outra forma de controle, apontou, é o uso de formatações sigilosas de dados para limitar o acesso. “Essa prática vem sendo usada por empresas para barrar a competição, com programas que restringem o acesso dos usuários. Vídeos estão sendo distribuídos dessa forma, com formatos secretos, para que não haja livre difusão”.
O ativista defendeu a necessidade de um maior engajamento político nesta luta contra as ameaças à liberdade no contexto da chamada sociedade digital. “Muitas pessoas não querem se envolver nos aspectos políticos dessa luta, o que é um erro. Num certo sentido, precisamos mais de ativistas do que de programadores hoje”, afirmou. Stallman defendeu, por fim, que os governos e as agências governamentais passem a usar prioritariamente softwares livres, o que não acontece hoje.
As ameaças que pairam sobre a liberdade na internet no Brasil
As ameaças sobre a liberdade na internet que pairam sobre o contexto brasileiro foram tema de uma intervenção de Marcelo Branco, logo após a fala de Stallman. Militante da causa da liberdade na internet há vários anos, Marcelo Branco apontou um conjunto de problemas e ameaças que já são reais no Brasil.
As empresas operadoras de telefonia, assinalou, representam hoje uma ameaça à liberdade na internet, pois querem quebrar a neutralidade da rede. Essa neutralidade significa que todas as informações que trafegam na rede devem ser tratadas da mesma forma, navegando a mesma velocidade. Trata-se de um princípio que garante o livre acesso a qualquer tipo de informação na rede e impede, por exemplo, que as operadoras possam “filtrar” o tráfego, definindo que tipo de dados pode andar mais ou menos rápido. Para Marcelo Branco, a neutralidade na rede não precisa de regulamentação. Ou ela existe, ou não existe. O grande risco, apontou, é que essa regulamentação seja feita pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) que seria “sensível” ao lobby das operadoras.
Em segundo lugar, Marcelo Branco apontou a indústria do copyright como outra ameaça à liberdade na internet. “As empresas que compõem essa indústria querem uma internet vigiada que criminalize o usuário. Empresas como Google e Facebook podem ser nossas aliadas neste item, mas, por outro lado, ameaçam a nossa privacidade”. Neste tema (do copyright), o ativista criticou a atual gestão do Ministério da Cultura, classificando-a como “reacionária e conservadora”.
A pressão pela criminalização na internet vem crescendo em vários níveis. Marcelo Branco considerou um absurdo querer responsabilizar um provedor por um eventual crime cometido por um usuário. “É como querer responsabilizar uma operadora de celular por um crime cometido por um bandido que utilizou o telefone durante o delito ou para praticar o mesmo”. Ele também criticou a retirada de conteúdo de páginas da internet sem mandado judicial. “Isso é inaceitável em um Estado Democrático de Direito”.
Por fim, Marcelo Branco criticou a iniciativa do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) de realizar uma consulta pública sobre patenteamento de softwares. “Foi um vacilo do governo Dilma. Uma das maiores lutas do movimento de software livre mundial, foi justamente contra a implementação de patentes de software na Europa. Em 2005, a Europa rejeitou a possibilidade do software ser patenteado. Patente de software é uma ameaça a inovação, ao software livre e a liberdade do conhecimento. O Brasil não pode seguir esse caminho", defendeu.
Fotos: Caroline Bicocchi/Palácio Piratini