Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir.
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Um orgulho raro e o futuro da Amazônia
1 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaNa matéria, lê-se que o agraciado fora Victor Cunha, 18 anos, prata na ocupação “Eletrônica Industrial” da Olimpíada do Conhecimento do Senai, competição bienal de educação profissional.
O blogueiro Roberto Cunha provavelmente reproduziu a reportagem não apenas porque é professor: ele é pai do medalhista. Noscomentários ao post em seu próprio blog, o professor não escondeu o orgulho: “Parabéns filho, para você e todos da delegação. O Pará agradece”.
Naquela competição, o quadro de medalhas foi liderado por São Paulo, seguido por Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Paraná. O Pará ficou entre os últimos. O representante da região Norte mais bem colocado foi o Acre: 21º lugar.
Diz-se no jornalismo que u cachorro morder um homem não é notícia, mas um homem morder um cachorro, sim. Daí o feito do jovem Victor merecer destaque no Diário do Pará: é fato raro um estudante da região Norte do Brasil estar entre os vencedores em competições desse tipo.
Compilados pelo movimento Todos pela Educação, dados do Saeb (Sistema Nacional da Educação Básica, programa do Governo Federal) indicam que os estudantes da Região Amazônica estão bem abaixo da média nacional quando o assunto é desempenho.
Números de 2007 (ver quadro) demonstram que a maioria dos meninos e meninas da região Norte apresentou desempenho abaixo do esperado para a sua série, tanto em Português como em Matemática. E a situação piora após alguns anos na escola: no último ano do Ensino Fundamental, o desempenho é sofrível.
Em Matemática, por exemplo: de cada 100 estudantes na 8ª série (9º ano) na Região Norte, menos de 10 têm desempenho adequado. Péssima notícia para um país que sofre com a falta de mão-de-obra técnica qualificada, especialmente em Engenharia, que depende da formação em Matemática.
Não parece tão difícil identificar as causas deste baixo desempenho dos meninos da Amazônia: corrupção e problemas de gestão aparecem associados ao sistema público de ensino na região Amazônica, ao menos no âmbito municipal, como veremos na segunda reportagem desta série.
Uma situação que contrasta com o vertiginoso crescimento econômico da região – afinal, Rondônia e Roraima estão entre os estados que mais crescem no país.
O resultado de políticas públicas ineficientes aparece nos dados desta reportagem: em pelo século 21, em plena “Era da Informação”, ainda há muitos analfabetos na região Norte.
Além disso, todos os Estados da região estão abaixo da nota média do Brasil no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da primeira etapa do Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries). O mesmo cenário, com exceção do Acre, se repete na segunda parte do antigo 1º grau.
E os problemas não se restringem ao Ensino Fundamental. As taxas de abandono no Ensino Médio são bastante altas na região, bem maiores do que a média nacional, atingindo quase 18% dos estudantes no Pará, por exemplo.
Uma parcela das gerações mais vividas da Amazônia não teve oportunidade de obter educação formal (veja dados sobre a proporção de pessoas que nunca freqüentaram a escola). A geração adulta atual comemora os raros feitos dos amazônicos na área do conhecimento.
E as futuras gerações de líderes da região? Quase 100% deles está atualmente na escola, mas o retrato do desempenho dos alunos indica que o acesso não resolve a questão. Uma vez na escola, ainda há muito a ser feito para que os meninos da Amazônia recebam tanta atenção e investimento quanto a sua floresta.
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Censo 2010 confirma racismo no Brasil
1 de Julho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaAo contrário de Ali Kamel e seu livro, Censo confirma racismo no Brasil |
Por Leonardo Sakamoto, em seu blog
De tempos em tempos, sai alguma nova pesquisa apontando que negros ganham menos que brancos no Brasil. Quando toco nesse assunto no blog, sempre aparece um gênio que diz algo como “Meu Deus, você não entende nada de política corporativa! Ou acha que seria permitido em uma grande empresa uma pessoa branca ganhar mais que uma negra pela mesma função?”.
O comentário demonstra uma certa incapacidade do leitor de extrapolar o pensamento para além do visível (como uma pessoa que cita o sobrenatural não consegue trabalhar com abstrações? Curioso…) e imaginar que estamos falando de uma média da sociedade.
Somos bombardeados com o mito da democracia racial brasileira, construído para servir a propósitos. Mito que se prova verdadeiro em novelas, minisséries ou alguns programas de TV, normalmente concebidos por brancos, mas que na vida real são tão concretos quanto a curupira, o boto e a mulher de branco.
“Ah, mas o preconceito no Brasil é contra pobre, não contra negro!” A despeito do fato de haver, proporcionalmente, mais negros entre os pobres do que brancos, por conta de uma herança maldita deixada por uma abolição que nunca ocorreu totalmente, a discriminação pelos não-brancos vive saudável por aqui.
Nesta sexta (29), o IBGE divulgou dados demográficos do Censo 2010, mostrando que brancos recebem salários mais altos e têm mais acesso ao estudo do que negros, divididos pelo estudo em pretos e pardos,conforme matéria trazida pelo UOL Notícias. Na região Sudeste, os rendimentos dos brancos é o dobro do que é pago aos pretos. Há mais empregadores entre os brancos (3%) do que entre pretos (0,6%) e pardos (0,9%). Por fim, do total da população, 9,6% são analfabetos. Já, entre os brancos, 5,9%. E entre pardos e pretos, 13% e 14,4% respectivamente. Vale ressaltar que, de acordo com o Censo 2010, os brancos totalizam 47,7% da população, enquanto pretos e pardos correspondem a 50,7%.
Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que os homens brancos apresentaram as menores taxas de desemprego em 2005 (6,3%) – número que subia para 8,1% entre os homens negros e para 14,1% entre as mulheres negras. A diferença entre o rendimento médio dos homens brancos e negros havia caído 32,6% entre 1995 e 2005. A causa não foi tanto a melhoria do salário dos negros, que existiu, mas uma piora nos ganhos dos brancos – proporcionalmente, mais acentuada.
Não há uma pesquisa honesta que comprove relação entre capacidade intelectual e cor de pele. Ou alguma razão biológica bisonha que faça alguns preferirem ganhar mais do que outros. A resposta para esse quadro está nas oportunidades a que cada um teve acesso e as barreiras impostas a elas pela cor de pele.
Pretos, pardos e brancos deveriam ser tratados como iguais uma vez que são iguais. Mas, historicamente, a eles não foi dado o mesmo tratamento. Encarar, portanto, pessoas com níveis de direitos diferentes como iguais é manter o nosso bizarro status quo. Não basta cotas em universidades. Temos que avançar para reservas de vagas em cargos da administração pública, no sistema judiciário e em outras instâncias. Não eternamente, mas até conseguirmos corrigir o imenso fosso que separa brancos e negros.
Como gosto sempre de lembrar, o quase ex-senador Demóstenes Torres praticamente afirmou que escravas negras não foram violentadas pelos patrões brancos. Afinal de contas, segundo ele ao criticar as cotas para negros em universidades públicas federais em 2010, “isso se deu de forma muito mais consensual” e “levou o Brasil a ter hoje essa magnífica configuração social”. E que, no dia seguinte à sua libertação, os escravos “eram cidadãos como outro qualquer, com todos os direitos políticos e o mesmo grau de elegibilidade”. Pô, em que mundo ele vive?
O Brasil ainda não foi capaz de garantir que os filhos dos libertos fossem tratados com o respeito que seres humanos e cidadãos mereciam. Herança maldita presente na sociedade que quase equivale, na prática, a um sistema de castas. Alguns até conseguem escapar, mas a maioria das famílias permanece girando em círculos ao longo de gerações. O pior é que a discriminação é sempre do outro, nunca de nós mesmos.
No avião, dia desses: “Não sou preconceituosa, longe disso. Mas não gostaria que minha filha casasse com aquele ‘moreninho’, namorado dela. Não é por mim, sabe, mas os filhos vão sofrer um preconceito muito grande, a família do meu marido não vai entender direito. É complicado…”
Ô se é.
O comentário demonstra uma certa incapacidade do leitor de extrapolar o pensamento para além do visível (como uma pessoa que cita o sobrenatural não consegue trabalhar com abstrações? Curioso…) e imaginar que estamos falando de uma média da sociedade.
Somos bombardeados com o mito da democracia racial brasileira, construído para servir a propósitos. Mito que se prova verdadeiro em novelas, minisséries ou alguns programas de TV, normalmente concebidos por brancos, mas que na vida real são tão concretos quanto a curupira, o boto e a mulher de branco.
“Ah, mas o preconceito no Brasil é contra pobre, não contra negro!” A despeito do fato de haver, proporcionalmente, mais negros entre os pobres do que brancos, por conta de uma herança maldita deixada por uma abolição que nunca ocorreu totalmente, a discriminação pelos não-brancos vive saudável por aqui.
Nesta sexta (29), o IBGE divulgou dados demográficos do Censo 2010, mostrando que brancos recebem salários mais altos e têm mais acesso ao estudo do que negros, divididos pelo estudo em pretos e pardos,conforme matéria trazida pelo UOL Notícias. Na região Sudeste, os rendimentos dos brancos é o dobro do que é pago aos pretos. Há mais empregadores entre os brancos (3%) do que entre pretos (0,6%) e pardos (0,9%). Por fim, do total da população, 9,6% são analfabetos. Já, entre os brancos, 5,9%. E entre pardos e pretos, 13% e 14,4% respectivamente. Vale ressaltar que, de acordo com o Censo 2010, os brancos totalizam 47,7% da população, enquanto pretos e pardos correspondem a 50,7%.
Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que os homens brancos apresentaram as menores taxas de desemprego em 2005 (6,3%) – número que subia para 8,1% entre os homens negros e para 14,1% entre as mulheres negras. A diferença entre o rendimento médio dos homens brancos e negros havia caído 32,6% entre 1995 e 2005. A causa não foi tanto a melhoria do salário dos negros, que existiu, mas uma piora nos ganhos dos brancos – proporcionalmente, mais acentuada.
Não há uma pesquisa honesta que comprove relação entre capacidade intelectual e cor de pele. Ou alguma razão biológica bisonha que faça alguns preferirem ganhar mais do que outros. A resposta para esse quadro está nas oportunidades a que cada um teve acesso e as barreiras impostas a elas pela cor de pele.
Pretos, pardos e brancos deveriam ser tratados como iguais uma vez que são iguais. Mas, historicamente, a eles não foi dado o mesmo tratamento. Encarar, portanto, pessoas com níveis de direitos diferentes como iguais é manter o nosso bizarro status quo. Não basta cotas em universidades. Temos que avançar para reservas de vagas em cargos da administração pública, no sistema judiciário e em outras instâncias. Não eternamente, mas até conseguirmos corrigir o imenso fosso que separa brancos e negros.
Como gosto sempre de lembrar, o quase ex-senador Demóstenes Torres praticamente afirmou que escravas negras não foram violentadas pelos patrões brancos. Afinal de contas, segundo ele ao criticar as cotas para negros em universidades públicas federais em 2010, “isso se deu de forma muito mais consensual” e “levou o Brasil a ter hoje essa magnífica configuração social”. E que, no dia seguinte à sua libertação, os escravos “eram cidadãos como outro qualquer, com todos os direitos políticos e o mesmo grau de elegibilidade”. Pô, em que mundo ele vive?
O Brasil ainda não foi capaz de garantir que os filhos dos libertos fossem tratados com o respeito que seres humanos e cidadãos mereciam. Herança maldita presente na sociedade que quase equivale, na prática, a um sistema de castas. Alguns até conseguem escapar, mas a maioria das famílias permanece girando em círculos ao longo de gerações. O pior é que a discriminação é sempre do outro, nunca de nós mesmos.
No avião, dia desses: “Não sou preconceituosa, longe disso. Mas não gostaria que minha filha casasse com aquele ‘moreninho’, namorado dela. Não é por mim, sabe, mas os filhos vão sofrer um preconceito muito grande, a família do meu marido não vai entender direito. É complicado…”
Ô se é.