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Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Mensalão é o retrato do país, segundo Mino Carta

30 de Agosto de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda
Daniel Dantas, esquecido pela mídia
Por Mino Carta, na CartaCapital

Não fosse enredo da vida real, o processo do chamado “mensalão” seria espetáculo ímpar na capacidade de trafegar entre tragédia e comédia com toques exemplares de drama e de farsa. Não cabe desmerecê-lo, contudo, nesta versão próxima do terceiro ato, o do epílogo, ao menos teoricamente, e que me arrisco a encarar como crítico teatral disposto a registrar de saída seu mérito inegável: o mensalão, em todos os seus aspectos, retrata à perfeição os males do Brasil. A inesgotável mazela, a hipocrisia inata dos senhores, o patrimonialismo do sistema. Um conjunto excepcional de prepotência e parvoíce.


Padecemos um longo prólogo, longo demais, a partir da denúncia do inconfiável Roberto Jefferson, e ainda assim rico em eventos que se fundem no entrecho central mesmo quando parecem desligados do contexto. Por exemplo, a presença do banqueiro Daniel Dantas. Vibra claramente na própria origem do mensalão como vibrou nos pregressos de marca tucana. E desaguou na Operação Satiagraha, enfim adernada miseravelmente porque DD está por trás de tudo, e muito além do que se imagine.

Marcos Valério serviu a Dantas e dele José Dirceu é bom amigo. Bela figura a ­ocupar a ribalta sete anos atrás, começo do prólogo, foi o ministro Luiz Gushiken, o samurai, como então o batizei, um inocente que pagou caro por sua inocência. Cavaleiro sem mancha, cometeu o pecado de enxergar em Dantas o grande vilão de todas as situações. Pecado imperdoável, tudo indica. A respeito, recomendo nesta edição o texto assinado pelo redator-­chefe Sergio Lirio, a retratar uma personagem de insólita dignidade, sacrificada injustamente ao ser forçada a deixar o governo.

O início do primeiro ato propõe Roberto Gurgel, o procurador-geral, Gogol se deliciaria com ele, fâmulo da treva e da reação, escalado para definir o mensalão como “o mais atrevido e escandaloso esquema de corrupção e de desvio de dinheiro público flagrado no Brasil”. Não lhe são inferiores, talvez mais daninhos, a bem da verdade factual, os anteriores urdidos pelo tucanato, a partir da compra de votos no Congresso para permitir a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Decerto mais imponente, o maior de todos, o episódio das privatizações, promovidas pelo mesmo FHC e protagonizado, entre outros, olhem só, por Daniel Dantas.

Não é que nossos juristas façam jus ao respeito unânime da audiência, sobretudo aquela que se apinha no balcão. Alguns produzem argumentações destinadas a suscitar pena em uma plateia mais atilada e menos comprometida do que a da ­casa-grande, esta escorada pelos barões da mídia e seus sabujos, unidos na ameaça aos próprios ministros do Supremo inclinados a um julgamento imparcial. O ministro Luiz Fux, no seu realismo exasperado, pretendeu condenar por peculato um réu chamado a responder por outros crimes, conforme teve de ser bondosamente avisado ao cabo de sua diatribe. Enquanto isso, Ricardo Lewandowski se abala a telefonar para um crítico global, Merval Pereira, que contestava duramente seus argumentos a favor de João Paulo Cunha. Contribuição inefável à imortalidade de um jornalista acadêmico, a seguir as pegadas culturais do seu falecido patrão. Donde, largo à cultura. Leiam, a propósito, Mauricio Dias na sua Rosa dos Ventos.

O primeiro ato do espetáculo presta-se a demonstrar a inadequação do título “mensalão”. Como sempre sustentou Carta­Capital. Provas certamente haverá de outros delitos, igualmente condenáveis, peculato, corrupção, lavagem de dinheiro. Quanto ao uso de caixa 2, a lei brasileira prontifica-se a uma lamentável leniência na punição do crime eleitoral. O segundo ato inaugura-se em proveito de outra constatação, caso não tivesse já dado o ar da sua desgraça: um grupo de petistas, que não seria o caso de chamar de aloprados, decidiu imitar a estratégia tucana desenhada e comandada por Serjão Motta a partir de 1994 com o propósito de manter no poder ad aeternitatem o pássaro incapaz de voar.

Não deu, José Serra lá estava para atrapalhar desde 2002, a despeito do maciço apoio midiático. A diferença entre uns e outros está no fato de que o Partido dos Trabalhadores nasceu em odor de subversão e de nada lhe adiantou abjurar pelo caminho a fé primeva. Além disso, no caso do ex-metalúrgico Lula pesa, em primeiro lugar, o ódio de classe, sentimento tão natural na casa-grande. Em contrapartida, a trajetória da esquerda nativa, oportuno é sublinhar, é tão deplorável quanto tudo o mais, e cabe neste enredo de traições aos ideais propalados em vão, de promessas bombásticas e falsos propósitos inexoravelmente descumpridos em nome do oportunismo aconselhado pelo momento fugidio.

Estamos na iminência do terceiro ato, mas o que se viu até agora estimula depressões monumentais. E aonde quer que o espectador se volte não encontrará razões de alívio.




Chauí: Mídia condena sumariamente

30 de Agosto de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda
Num evento em defesa da liberdade de expressão e por uma Ley de Medios, realizado no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, nessa segunda feira, a professora Marilena Chauí fez uma palestra antológica.

I. Democracia e autoritarismo social

Estamos acostumados a aceitar a definição liberal da democracia como regime da lei e da ordem para a garantia das liberdades individuais. Visto que o pensamento e a prática liberais identificam a liberdade com a ausência de obstáculos à competição, essa definição da democracia significa, em primeiro lugar, que a liberdade se reduz à competição econômica da chamada “livre iniciativa” e à competição política entre partidos que disputam eleições; em segundo, que embora a democracia apareça justificada como “valor” ou como “bem”, é encarada, de fato, pelo critério da eficácia, medida no plano do poder executivo pela atividade de uma elite de técnicos competentes aos quais cabe a direção do Estado. A democracia é, assim, reduzida a um regime político eficaz, baseado na idéia de cidadania organizada em partidos políticos, e se manifesta no processo eleitoral de escolha dos representantes, na rotatividade dos governantes e nas soluções técnicas para os problemas econômicos e sociais.

Ora, há, na prática democrática e nas idéias democráticas, uma profundidade e uma verdade muito maiores e superiores ao que liberalismo percebe e deixa perceber.

Podemos, em traços breves e gerais, caracterizar a democracia ultrapassando a simples idéia de um regime político identificado à forma do governo, tomando-a como forma geral de uma sociedade e, assim, considerá-la:

1. forma sócio-política definida pelo princípio da isonomia ( igualdade dos cidadãos perante a lei) e da isegoria (direito de todos para expor em público suas opiniões, vê-las discutidas, aceitas ou recusadas em público), tendo como base a afirmação de que todos são iguais porque livres, isto é, ninguém está sob o poder de um outro porque todos obedecem às mesmas leis das quais todos são autores (autores diretamente, numa democracia participativa; indiretamente, numa democracia representativa). Donde o maior problema da democracia numa sociedade de classes ser o da manutenção de seus princípios – igualdade e liberdade – sob os efeitos da desigualdade real;

2. forma política na qual, ao contrário de todas as outras, o conflito é considerado legítimo e necessário, buscando mediações institucionais para que possa exprimir-se. A democracia não é o regime do consenso, mas do trabalho dos e sobre os conflitos. Donde uma outra dificuldade democrática nas sociedades de classes: como operar com os conflitos quando estes possuem a forma da contradição e não a da mera oposição?

3. forma sócio-política que busca enfrentar as dificuldades acima apontadas conciliando o princípio da igualdade e da liberdade e a existência real das desigualdades, bem como o princípio da legitimidade do conflito e a existência de contradições materiais introduzindo, para isso, a idéia dos direitos ( econômicos, sociais, políticos e culturais). Graças aos direitos, os desiguais conquistam a igualdade, entrando no espaço político para reivindicar a participação nos direitos existentes e sobretudo para criar novos direitos. Estes são novos não simplesmente porque não existiam anteriormente, mas porque são diferentes daqueles que existem, uma vez que fazem surgir, como cidadãos, novos sujeitos políticos que os afirmaram e os fizeram ser reconhecidos por toda a sociedade.

4. graças à idéia e à prática da criação de direitos, a democracia não define a liberdade apenas pela ausência de obstáculos externos à ação, mas a define pela autonomia, isto é, pela capacidade dos sujeitos sociais e políticos darem a si mesmos suas próprias normas e regras de ação. Passa-se, portanto, de uma definição negativa da liberdade – o não obstáculo ou o não-constrangimento externo – a uma definição positiva – dar a si mesmo suas regras e normas de ação. A liberdade possibilita aos cidadãos instituir contra-poderes sociais por meio dos quais interferem diretamente no poder por meio de reivindicações e controle das ações estatais.

5. pela criação dos direitos, a democracia surge como o único regime político realmente aberto às mudanças temporais, uma vez que faz surgir o novo como parte de sua existência e, conseqüentemente, a temporalidade é constitutiva de seu modo de ser, de maneira que a democracia é a sociedade verdadeiramente histórica, isto é, aberta ao tempo, ao possível, às transformações e ao novo. Com efeito, pela criação de novos direitos e pela existência dos contra-poderes sociais, a sociedade democrática não está fixada numa forma para sempre determinada, pois não cessa de trabalhar suas divisões e diferenças internas, de orientar-se pela possibilidade objetiva de alterar-se pela própria práxis;

6. única forma sócio-política na qual o caráter popular do poder e das lutas tende a evidenciar-se nas sociedades de classes, na medida em que os direitos só ampliam seu alcance ou só surgem como novos pela ação das classes populares contra a cristalização jurídico-política que favorece a classe dominante. Em outras palavras, a marca da democracia moderna, permitindo sua passagem de democracia liberal á democracia social, encontra-se no fato de que somente as classes populares e os excluídos (as “minorias”) reivindicam direitos e criam novos direitos;

7. forma política na qual a distinção entre o poder e o governante é garantida não só pela presença de leis e pela divisão de várias esferas de autoridade, mas também pela existência das eleições, pois estas ( contrariamente do que afirma a ciência política) não significam mera “alternância no poder”, mas assinalam que o poder está sempre vazio, que seu detentor é a sociedade e que o governante apenas o ocupa por haver recebido um mandato temporário para isto. Em outras palavras, os sujeitos políticos não são simples votantes, mas eleitores. Eleger significa não só exercer o poder, mas manifestar a origem do poder, repondo o princípio afirmado pelos romanos quando inventaram a política: eleger é “dar a alguém aquilo que se possui, porque ninguém pode dar o que não tem”, isto é, eleger é afirmar-se soberano para escolher ocupantes temporários do governo.

Dizemos, então, que uma sociedade — e não um simples regime de governo — é democrática quando, além de eleições, partidos políticos, divisão dos três poderes da república, respeito à vontade da maioria e da minoria, institui algo mais profundo, que é condição do próprio regime político, ou seja, quando institui direitos e que essa instituição é uma criação social, de tal maneira que a atividade democrática social realiza-se como uma contra-poder social que determina, dirige, controla e modifica a ação estatal e o poder dos governantes.

Se esses são os principais traços da sociedade democrática, podemos avaliar as enormes dificuldades para instituir a democracia no Brasil. De fato, a sociedade brasileira é estruturalmente violenta, hierárquica, vertical, autoritária e oligárquica e o Estado é patrimonialista e cartorial, organizado segundo a lógica clientelista e burocrática. O clientelismo bloqueia a prática democrática da representação — o representante não é visto como portador de um mandato dos representados, mas como provedor de favores aos eleitores. A burocracia bloqueia a democratização do Estado porque não é uma organização do trabalho e sim uma forma de poder fundada em três princípios opostos aos democráticos: a hierarquia, oposta à igualdade; o segredo, oposto ao direito à informação; e a rotina de procedimentos, oposta à abertura temporal da ação política.

Além disso, social e economicamente nossa sociedade está polarizada entre a carência absoluta das camadas populares e o privilégio absoluto das camadas dominantes e dirigentes, bloqueando a instituição e a consolidação da democracia. Um privilégio é, por definição, algo particular que não pode generalizar-se nem universalizar-se sem deixar de ser privilégio. Uma carência é uma falta também particular ou específica que se exprime numa demanda também particular ou específica, não conseguindo generalizar-se nem universalizar-se. Um direito, ao contrário de carências e privilégios, não é particular e específico, mas geral e universal, seja porque é o mesmo e válido para todos os indivíduos, grupos e classes sociais, seja porque embora diferenciado é reconhecido por todos (como é caso dos chamados direitos das minorias). Assim, a polarização econômico-social entre a carência e o privilégio ergue-se como obstáculo à instituição de direitos, definidora da democracia.

A esses obstáculos, podemos acrescentar ainda aquele decorrente do neoliberalismo, qual seja o encolhimento do espaço público e o alargamento do espaço privado. Economicamente, trata-se da eliminação de direitos econômicos, sociais e políticos garantidos pelo poder público, em proveito dos interesses privados da classe dominante, isto é, em proveito do capital; a economia e a política neoliberais são a decisão de destinar os fundos públicos aos investimentos do capital e de cortar os investimentos públicos destinados aos direitos sociais, transformando-os em serviços definidos pela lógica do mercado, isto é, a privatização dos direitos transformados em serviços, privatização que aumenta a cisão social entre a carência e o privilégio, aumentando todas formas de exclusão. Politicamente o encolhimento do público e o alargamento do privado colocam em evidência o bloqueio a um direito democrático fundamental sem o qual a cidadania, entendida como participação social, política e cultural é impossível, qual seja, o direito à informação. 


II. Os meios de comunicação como exercício de poder

Podemos focalizar o exercício do poder pelos meios de comunicação de massa sob dois aspectos principais: o econômico e o ideológico.

Do ponto de vista econômico, os meios de comunicação fazem parte da indústria cultural. Indústria porque são empresas privadas operando no mercado e que, hoje, sob a ação da chamada globalização, passa por profundas mudanças estruturais, “num processo nunca visto de fusões e aquisições, companhias globais ganharam posições de domínio na mídia.”, como diz o jornalista Caio Túlio Costa. Além da forte concentração (os oligopólios beiram o monopólio), também é significativa a presença, no setor das comunicações, de empresas que não tinham vínculos com ele nem tradição nessa área. O porte dos investimentos e a perspectiva de lucros jamais vistos levaram grupos proprietários de bancos, indústria metalúrgica, indústria elétrica e eletrônica, fabricantes de armamentos e aviões de combate, indústria de telecomunicações a adquirir, mundo afora, jornais, revistas, serviços de telefonia, rádios e televisões, portais de internet, satélites, etc..

No caso do Brasil, o poderio econômico dos meios é inseparável da forma oligárquica do poder do Estado, produzindo um dos fenômenos mais contrários à democracia, qual seja, o que Alberto Dines chamou de “coronelismo eletrônico”, isto é, a forma privatizada das concessões públicas de canais de rádio e televisão, concedidos a parlamentares e lobbies privados, de tal maneira que aqueles que deveriam fiscalizar as concessões públicas se tornam concessionários privados, apropriando-se de um bem público para manter privilégios, monopolizando a comunicação e a informação. Esse privilégio é um poder político que se ergue contra dois direitos democráticos essenciais: a isonomia (a igualdade perante a lei) e a isegoria (o direito à palavra ou o igual direito de todos de expressar-se em público e ter suas opiniões publicamente discutidas e avaliadas). Numa palavra, a cidadania democrática exige que os cidadãos estejam informados para que possam opinar e intervir politicamente e isso lhes é roubado pelo poder econômico dos meios de comunicação.

A isonomia e a isegoria são também ameaçadas e destruídas pelo poder ideológico dos meios de comunicação. De fato, do ponto de vista ideológico, a mídia exerce o poder sob a forma do denominamos a ideologia da competência, cuja peculiaridade está em seu modo de aparecer sob a forma anônima e impessoal do discurso do conhecimento, e cuja eficácia social, política e cultural está fundada na crença na racionalidade técnico-científica.

A ideologia da competência pode ser resumida da seguinte maneira: não é qualquer um que pode em qualquer lugar e em qualquer ocasião dizer qualquer coisa a qualquer outro. O discurso competente determina de antemão quem tem o direito de falar e quem deve ouvir, assim como pré-determina os lugares e as circunstâncias em que é permitido falar e ouvir, e define previamente a forma e o conteúdo do que deve ser dito e precisa ser ouvido. Essas distinções têm como fundamento uma distinção principal, aquela que divide socialmente os detentores de um saber ou de um conhecimento (científico, técnico, religioso, político, artístico), que podem falar e têm o direito de mandar e comandar, e os desprovidos de saber, que devem ouvir e obedecer. Numa palavra, a ideologia da competência institui a divisão social entre os competentes, que sabem e por isso mandam, e os incompetentes, que não sabem e por isso obedecem.

Enquanto discurso do conhecimento, essa ideologia opera com a figura do especialista. Os meios de comunicação não só se alimentam dessa figura, mas não cessam de institui-la como sujeito da comunicação. O especialista competente é aquele que, no rádio, na TV, na revista, no jornal ou no multimídia, divulga saberes, falando das últimas descobertas da ciência ou nos ensinando a agir, pensar, sentir e viver. O especialista competente nos ensina a bem fazer sexo, jardinagem, culinária, educação das crianças, decoração da casa, boas maneiras, uso de roupas apropriadas em horas e locais apropriados, como amar Jesus e ganhar o céu, meditação espiritual, como ter um corpo juvenil e saudável, como ganhar dinheiro e subir na vida. O principal especialista, porém, não se confunde com nenhum dos anteriores, mas é uma espécie de síntese, construída a partir das figuras precedentes: é aquele que explica e interpreta as notícias e os acontecimentos econômicos, sociais, políticos, culturais, religiosos e esportivos, aquele que devassa, eleva e rebaixa entrevistados, zomba, premia e pune calouros — em suma, o chamado “formador de opinião” e o “comunicador”.

Ideologicamente, o poder da comunicação de massa não é um simples inculcação de valores e idéias, pois, dizendo-nos o que devemos pensar, sentir, falar e fazer, o especialista, o formador de opinião e o comunicados nos dizem que nada sabemos e por isso seu poder se realiza como manipulação e intimidação social e cultural.

Um dos aspectos mais terríveis desse duplo poder dos meios de comunicação se manifesta nos procedimentos midiáticos de produção da culpa e condenação sumária dos indivíduos, por meio de um instrumento psicológico profundo: a suspeição, que pressupõe a presunção de culpa. Ao se referir ao período do Terror, durante a Revolução Francesa, Hegel considerou que uma de suas marcas essenciais é afirmar que, por princípio, todos são suspeitos e que os suspeitos são culpados antes de qualquer prova. Ao praticar o terror, a mídia fere dois direitos constitucionais democráticos, instituídos pela Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789 (Revolução Francesa) e pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, quais sejam: a presunção de inocência (ninguém pode ser considerado culpado antes da prova da culpa) e a retratação pública dos atingidos por danos físicos, psíquicos e morais, isto é, atingidos pela infâmia, pela injúria e pela calúnia. É para assegurar esses dois direitos que as sociedades democráticas exigem leis para regulação dos meios de comunicação, pois essa regulação é condição da liberdade e da igualdade que definem a sociedade democrática.


III.
Faz parte da vida da grande maioria da população brasileira ser espectadora de um tipo de programa de televisão no qual a intimidade das pessoas é o objeto central do espetáculo: programas de auditório, de entrevistas e de debates com adultos, jovens e crianças contando suas preferências pessoais desde o sexo até o brinquedo, da culinária ao vestuário, da leitura à religiosidade, do ato de escrever ou encenar uma peça teatral, de compor uma música ou um balé até os hábitos de lazer e cuidados corporais.

As ondas sonoras do rádio e as transmissões televisivas tornam-se cada vez mais consultórios sentimental, sexual, gastronômico, geriátrico, ginecológico, culinário, de cuidados com o corpo (ginástica, cosméticos, vestuário, medicamentos), de jardinagem, carpintaria, bastidores da criação artística, literária e da vida doméstica. Há programas de entrevista no rádio e na televisão que ou simulam uma cena doméstica – um almoço, um jantar – ou se realizam nas casas dos entrevistados durante o café da manhã, o almoço ou o jantar, nos quais a casa é exibida, os hábitos cotidianos são descritos e comentados, álbuns de família ou a própria são mostrados ao vivo e em cores. Os entrevistados e debatedores, os competidores dos torneios de auditório, os que aparecem nos noticiários, todos são convidados e mesmo instados com vigor a que falem de suas preferências, indo desde sabores de sorvete até partidos políticos, desde livros e filmes até hábitos sociais. Não é casual que os noticiários, no rádio e na televisão, ao promoverem entrevistas em que a notícia é intercalada com a fala dos direta ou indiretamente envolvidos no fato, tenham sempre repórteres indagando a alguém: “o que você sentiu/sente com isso?” ou “o que você achou/acha disso?” ou “você gosta? não gosta disso?”. Não se pergunta aos entrevistados o que pensam ou o que julgam dos acontecimentos, mas o que sentem, o que acham, se lhes agrada ou desagrada.

Também tornou-se um hábito nacional jornais e revistas especializarem-se cada vez mais em telefonemas a “personalidades” indagando-lhes sobre o que estão lendo no momento, que filme foram ver na última semana, que roupa usam para dormir, qual a lembrança infantil mais querida que guardam na memória, que música preferiam aos 15 anos de idade, o que sentiram diante de uma catástrofe nuclear ou ecológica, ou diante de um genocídio ou de um resultado eleitoral, qual o sabor do sorvete preferido, qual o restaurante predileto, qual o perfume desejado. Os assuntos se equivalem, todos são questão de gosto ou preferência, todos se reduzem à igual banalidade do “gosto” ou “não gosto”, do “achei ótimo” ou “achei horrível”.


Todos esses fatos nos conduzem a uma conclusão: a mídia está imersa na cultura do narcisismo.

Como observa Christopher Lash, em A Cultura do Narcisismo, os mass media tornaram irrelevantes as categorias da verdade e da falsidade substituindo-as pelas noções de credibilidade ou plausibilidade e confiabilidade – para que algo seja aceito como real basta que apareça como crível ou plausível, ou como oferecido por alguém confiável Os fatos cedem lugar a declarações de “personalidades autorizadas”, que não transmitem informações, mas preferências e estas se convertem imediatamente em propaganda. Como escreve Lash, “sabendo que um público cultivado é ávido por fatos e cultiva a ilusão de estar bem informado, o propagandista moderno evita slogans grandiloqüentes e se atém a ‘fatos’, dando a ilusão de que a propaganda é informação”.

Qual a base de apoio da credibilidade e da confiabilidade? A resposta encontra-se num outro ponto comum aos programas de auditório, às entrevistas, aos debates, às indagações telefônicas de rádios, revistas e jornais, aos comerciais de propaganda. Trata-se do apelo à intimidade, à personalidade, à vida privada como suporte e garantia da ordem pública. Em outras palavras, os códigos da vida pública passam a ser determinados e definidos pelos códigos da vida privada, abolindo-se a diferença entre espaço público e espaço privado. Assim, as relações interpessoais, as relações intersubjetivas e as relações grupais aparecem com a função de ocultar ou de dissimular as relações sociais enquanto sociais e as relações políticas enquanto políticas, uma vez que a marca das relações sociais e políticas é serem determinadas pelas instituições sociais e políticas, ou seja, são relações mediatas, diferentemente das relações pessoais, que são imediatas, isto é, definidas pelo relacionamento direto entre pessoas e por isso mesmo nelas os sentimentos, as emoções, as preferências e os gostos têm um papel decisivo. As relações sociais e políticas, que são mediações referentes a interesses e a direitos regulados pelas instituições, pela divisão social das classes e pela separação entre o social e o poder político, perdem sua especificidade e passam a operar sob a aparência da vida privada, portanto, referidas a preferências, sentimentos, emoções, gostos, agrado e aversão.

Não é casual, mas uma conseqüência necessária dessa privatização do social e do político, a destruição de uma categoria essencial das democracias, qual seja a da opinião pública. Esta, em seus inícios (desde a Revolução Francesa de 1789), era definida como a expressão, no espaço público, de uma reflexão individual ou coletiva sobre uma questão controvertida e concernente ao interesse ou ao direito de uma classe social, de um grupo ou mesmo da maioria. A opinião pública era um juízo emitido em público sobre uma questão relativa à vida política, era uma reflexão feita em público e por isso definia-se como uso público da razão e como direito à liberdade de pensamento e de expressão.

É sintomático que, hoje, se fale em “sondagem de opinião”. Com efeito, a palavra sondagem indica que não se procura a expressão pública racional de interesses ou direitos e sim que se vai buscar um fundo silencioso, um fundo não formulado e não refletido, isto é, que se procura fazer vir à tona o não-pensado, que existe sob a forma de sentimentos e emoções, de preferências, gostos, aversões e predileções, como se os fatos e os acontecimentos da vida social e política pudessem vir a se exprimir pelos sentimentos pessoais. Em lugar de opinião pública, tem-se a manifestação pública de sentimentos.

Nada mais constrangedor e, ao mesmo tempo, nada mais esclarecedor do que os instantes em que o noticiário coloca nas ondas sonoras ou na tela os participantes de um acontecimento falando de seus sentimentos, enquanto locutores explicam e interpretam o que se passa, como se os participantes fossem incapazes de pensar e de emitir juízo sobre aquilo de que foram testemunhas diretas e partes envolvidas. Constrangedor, porque o rádio e a televisão declaram tacitamente a incompetência dos participantes e envolvidos para compreender e explicar fatos e acontecimentos de que são protagonistas. Esclarecedor, porque esse procedimento permite, no instante mesmo em que se dão, criar a versão do fato e do acontecimento como se fossem o próprio fato e o próprio acontecimento. Assim, uma partilha é claramente estabelecida: os participantes “sentem”, portanto, não sabem nem compreendem (não pensam); em contrapartida, o locutor pensa, portanto, sabe e, graças ao seu saber, explica o acontecimento. 


É possível perceber três deslocamentos sofridos pela idéia e prática da opinião pública: o primeiro, como salientamos, é a substituição da idéia de uso público da razão para exprimir interesses e direitos de um indivíduo, um grupo ou uma classe social pela idéia de expressão em público de sentimentos, emoções, gostos e preferências individuais; o segundo, como também observamos, é a substituição do direito de cada um e de todos de opinar em público pelo poder de alguns para exercer esse direito, surgindo, assim, a curiosa expressão “formador de opinião”, aplicada a intelectuais, artistas e jornalistas; o terceiro, que ainda não havíamos mencionado, decorre de uma mudança na relação entre s vários meios de comunicação sob os efeitos das tecnologias eletrônica e digital e da formação de oligopólios midiáticos globalizados (alguns autores afirmam que o século XXI começou com a existência de 10 ou 12 conglomerados de mass media de alcance global). Esse terceiro deslocamento se refere à forma de ocupação do espaço da opinião pública pelos profissionais dos meios de comunicação. Esses deslocamentos explicam algo curioso, ocorrido durante as sondagens de intenção de voto nas eleições presidenciais de 2006: diante dos resultados, uma jornalista do jornal O Globo escreveu que o povo estava contra a opinião pública!

O caso mais interessante é, sem dúvida, o do jornalismo impresso. Em tempos passados, cabia aos jornais a tarefa noticiosa e um jornal era fundamentalmente um órgão de notícias. Sem dúvida, um jornal possuía opiniões e as exprimia: isso era feito, de um lado, pelos editorais e por artigos de não-jornalistas, e, de outro, pelo modo de apresentação da notícia (escolha das manchetes e do “olho”, determinação da página em que deveria aparecer e na vizinhança de quais outras, do tamanho do texto, da presença ou ausência de fotos, etc.). Ora, com os meios eletrônicos e digitais e a televisão, os fatos tendem a ser noticiados enquanto estão ocorrendo, de maneira que a função noticiosa do jornal é prejudicada, pois a notícia impressa é posterior à sua transmissão pelos meios eletrônicos e pela televisão. Ou na linguagem mais costumeira dos meios de comunicação: no mercado de notícias, o jornalismo impresso vem perdendo competitividade (alguns chamam a isso de progresso; outros, de racionalidade inexorável do mercado!).

O resultado dessa situação foi duplo: de um lado, a notícia é apresentada de forma mínima, rápida e, freqüentemente, inexata – o modelo conhecido como News Letter – e, de outro, deu-se a passagem gradual do jornal como órgão de notícias a órgão de opinião, ou seja, os jornalistas comentam e interpretam as notícias, opinando sobre elas. Gradualmente desaparece uma figura essencial do jornalismo: o jornalismo investigativo, que cede lugar ao jornalismo assertivo ou opinativo. Os jornalista passam, assim, o ocupar o lugar que, tradicionalmente, cabia a grupos e classes sociais e a partidos políticos e, além disso, sua opinião não fica restrita ao meio impresso, mas passa a servir como material para os noticiários de rádio e televisão, ou seja, nesses noticiários, a notícia é interpretada e avaliada graças à referência às colunas dos jornais.

Os deslocamentos mencionados e, particularmente, este último, têm conseqüências graves sob dois aspectos principais:

1) uma vez que o jornalista concentra poderes e forma a opinião pública, pode sentir-se tentado a ir além disso e criar a própria realidade, isto é, sua opinião passa a ter o valor de um fato e a ser tomada como um acontecimento real ;

2) os efeitos da concentração do poder econômico midiático. Os meios de comunicação tradicionais (jornal, rádio, cinema, televisão) sempre foram propriedade privada de indivíduos e grupos, não podendo deixar de exprimir seus interesses particulares ou privados, ainda que isso sempre tenha imposto problemas e limitações à liberdade de expressão, que fundamenta a idéia de opinião pública. Hoje, porém, os conglomerados de alcance global controlam não só os meios tradicionais, mas também os novos meios eletrônicos e digitais, e avaliam em termos de custo-benefício as vantagens e desvantagens do jornalismo escrito ou da imprensa, podendo liquidá-la, se não acompanhar os ares do tempo.

Esses dois aspectos incidem diretamente sobre a transformação da verdade e da falsidade em questão de credibilidade e plausibilidade. Rápido, barato, inexato, partidarista, mescla de informações aleatoriamente obtidas e pouco confiáveis, não investigativo, opinativo ou assertivo, detentor da credibilidade e da plausibilidade, o jornalismo se tornou protagonista da destruição da opinião pública.

De fato, a desinformação é o principal resultado da maioria dos noticiários nos jornais, no rádio e na televisão, pois, de modo geral, as notícias são apresentadas de maneira a impedir que se possa localizá-la no espaço e no tempo.

Ausência de referência espacial ou atopia: as diferenças próprias do espaço percebido (perto, longe, alto, baixo, grande, pequeno) são apagadas; o aparelho de rádio e a tela da televisão tornam-se o único espaço real. As distâncias e proximidades, as diferenças geográficas e territoriais são ignoradas, de tal modo que algo acontecido na China, na Índia, nos Estados Unidos ou em Campina Grande apareça igualmente próximo e igualmente distante.

Ausência de referência temporal ou acronia: os acontecimentos são relatados como se não tivessem causas passadas nem efeitos futuros; surgem como pontos puramente atuais ou presentes, sem continuidade no tempo, sem origem e sem conseqüências; existem enquanto forem objetos de transmissão e deixam de existir se não forem transmitidos. Têm a existência de um espetáculo e só permanecem na consciência dos ouvintes e espectadores enquanto permanecer o espetáculo de sua transmissão.

Como operam efetivamente os noticiários?

Em primeiro lugar, estabelecem diferenças no conteúdo e na forma das notícias de acordo com o horário da transmissão e o público, rumando para o sensacionalismo e o popularesco nos noticiários diurnos e do início da noite e buscando sofisticação e aumento de fatos nos noticiários de fim de noite. Em segundo, por seleção das notícias, omitindo aquelas que possam desagradar o patrocinador ou os poderes estabelecidos. Em terceiro, pela construção deliberada e sistemática de uma ordem apaziguadora: em seqüência, apresentam, no início, notícias locais, com ênfase nas ocorrências policiais, sinalizando o sentimento de perigo; a seguir, entram as notícias regionais, com ênfase em crises e conflitos políticos e sociais, sinalizando novamente o perigo; passam às notícias internacionais, com ênfase em guerras e cataclismos (maremoto, terremoto, enchentes, furacões), ainda uma vez sinalizando perigo; mas concluem com as notícias nacionais, enfatizando as idéias de ordem e segurança, encarregadas de desfazer o medo produzido pelas demais notícias. E, nos finais de semana, terminam com notícias de eventos artísticos ou sobre animais (nascimento de um ursinho, fuga e retorno de um animal em cativeiro, proteção a espécies ameaçadas de extinção), de maneira a produzir o sentimento de bem-estar no espectador pacificado, sabedor de que, apesar dos pesares, o mundo vai bem, obrigado.

Paradoxalmente, rádio e televisão podem oferecer-nos o mundo inteiro num instante, mas o fazem de tal maneira que o mundo real desaparece, restando apenas retalhos fragmentados de uma realidade desprovida de raiz no espaço e no tempo. Como desconhecemos as determinações econômico-territoriais (geográficas, geopolíticas, etc.) e como ignoramos os antecedentes temporais e as conseqüências dos fatos noticiados, não podemos compreender seu verdadeiro significado. Essa situação se agrava com a TV a cabo, com emissoras dedicadas exclusivamente a notícias, durante 24 horas, colocando num mesmo espaço e num mesmo tempo (ou seja, na tela) informações de procedência, conteúdo e significado completamente diferentes, mas que se tornam homogêneas pelo modo de sua transmissão. O paradoxo está em que há uma verdadeira saturação de informação, mas, ao fim, nada sabemos, depois de termos tido a ilusão de que fomos informados sobre tudo.

Se não dispomos de recursos que nos permitam avaliar a realidade e a veracidade das imagens transmitidas, somos persuadidos de que efetivamente vemos o mundo quando vemos a TV ou quando navegamos pela internet. Entretanto, como o que vemos são as imagens escolhidas, selecionadas, editadas, comentadas e interpretadas pelo transmissor das notícias, então é preciso reconhecer que a TV é o mundo ou que a internet é o mundo.

A multimídia potencializa o fenômeno da indistinção entre as mensagens e entre os conteúdos. Como todas as mensagens estão integradas num mesmo padrão cognitivo e sensorial, uma vez que educação, notícias e espetáculos são fornecidos pelo mesmo meio, os conteúdos se misturam e se tornam indiscerníveis. No sistema de comunicação multimídia a própria realidade fica totalmente imersa em uma composição de imagens virtuais num mundo irreal, no qual as aparências não apenas se encontram na tela comunicadora da experiência, mas se transformam em experiência. Todas as mensagens de todos os tipos são incluídas no meio por que fica tão abrangente, tão diversificado, tão maleável, que absorve no mesmo texto ou no mesmo espaço/tempo toda a experiência humana, passada, presente e futura, como num ponto único do universo.

Se, portanto, levarmos em consideração o monopólio da informação pelas empresas de comunicação de massa, podemos considerar, do ponto de vista da ação política, as redes sociais como ação democratizadora tanto por quebrar esse monopólio, assegurando a produção e a circulação livres da informação, como também por promover acontecimentos políticos de afirmação do direito democrático à participação. No entanto, os usuários das redes sociais não possuem autonomia em sua ação e isto sob dois aspectos: em primeiro lugar, não possuem o domínio tecnológico da ferramenta que empregam e, em segundo, não detêm qualquer poder sobre a ferramenta empregada, pois este poder é uma estrutura altamente concentrada, a Internet Protocol, com dez servidores nos Estados Unidos e dois no Japão, nos quais estão alojados todos os endereços eletrônicos mundiais, de maneira que, se tais servidores decidirem se desligar, desaparece toda a internet; além disso, a gerência da internet é feita por uma empresa norte-americana em articulação com o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, isto é, gere o cadastro da internet mundial. Assim, sob o aspecto maravilhosamente criativo e anárquico das redes sociais em ação política ocultam-se o controle e a vigilância sobre seus usuários em escala planetária, isto é, sobre toda a massa de informação do planeta.

Na perspectiva da democracia, a questão que se coloca, portanto, é saber quem detêm o controle dessa massa cósmica de informações. Ou seja, o problema é saber quem tem a gestão de toda a massa de informações que controla a sociedade, quem utiliza essas informações, como e para que as utiliza, sobretudo quando se leva em consideração um fato técnico, que define a operação da informática, qual seja, a concentração e centralização da informação, pois tecnicamente, os sistemas informáticos operam em rede, isto é, com a centralização dos dados e a produção de novos dados pela combinação dos já coletados.

Do blog Conversa Afiada




As rapidinhas do Sr Comunica - voluntariado, vontade e mérito

27 de Agosto de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

1 - Hoje é o Dia Nacional do Voluntariado e por coincidência participei de um programa de voluntários neste dia. Tive oportunidade de conhecer uma escola pública estadual do Rio de Janeiro fabulosa, que honra a educação em todos os seus aspectos.


2 - O governador Sérgio Cabral tem premiado escolas públicas do Estado fluminense usando como elemento avaliador a meritocracia e a produtividade. Esses prêmios vão desde verbas para as instituições de ensino até gratificações salariais para os funcionários. A escola que conheci hoje nunca recebe estes prêmios, porque privilegia a qualidade de ensino e a educação. Por isso ela é fabulosa mais uma vez.

3 - A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro também tem seu programa de voluntariado chamado Voluntários por natureza. Para participar, basta acessar o site, ler a descrição do programa e se inscrever online ou fazer contato telefônico. O interessante é que hoje, por acaso, conversei com um amigo que já se inscreveu neste programa, entrou em contato por telefone, mas ainda aguarda resposta. Há DOIS anos. E nunca deram qualquer tipo de satisfação para ele.





“Trabalhadores do mundo precisam se unir"

26 de Agosto de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda POR RUDOLFO LAGO no congresso em foco

“Trabalhadores do mundo, uni-vos!”. Durante anos, esta frase provocou arrepios nos cidadãos norte-americanos por ser um dos mais conhecidos lemas do comunismo internacional. Adotada pela extinta União Soviética, a frase faz parte doManifesto Comunista, de Karl Marx e Friederich Engels.
Noventa e seis anos depois da Revolução Socialista que fez nascer a União Soviética,  22 anos depois do seu fim, 24 anos após a queda do Muro de Berlim, o lema renasce na voz e nas ações de um cidadão norte-americano. Agora, quem conclama a união dos trabalhadores do mundo inteiro é Bob King, presidente da United Auto Workers (UAW), um dos maiores e mais antigos sindicatos dos Estados Unidos. O UAW nasceu nos anos de 1930 e inicialmente congregava os trabalhadores da montadora Ford. Da luta por melhorias nas condições dos trabalhadores durante a Grande Depressão, o UAW viu crescer a organização sindical nos Estados Unidos. E agora, preocupada, assiste ao seu declínio.
Nos anos de 1950, cerca de 35% dos trabalhadores norte-americanos eram sindicalizados. Agora, esse percentual reduziu-se para apenas 7%. Para Bob King, não se trata de um problema localizado, mas de um fenônemo mundial. A nova realidade da economia globalizada e da possibilidade de colaboração virtual pela rede de computadores em alguns setores precariza as relações de trabalho. As empresas buscam países e regiões do mundo onde possam produzir com menor custo de mão-de-obra. Aos poucos, começam a inviabilizar a produção nos lugares onde a situação é melhor, e pressionam pela piora dessas condições. Para King, é uma disputa predatória, onde todos perdem.
Além do número cada vez menor de trabalhadores sindicalizados, os Estados Unidos sentem outros efeitos da precarização. Empresas se movimentam mesmo dentro do país de regiões onde os trabalhadores têm mais direitos para outras. Ou as empresas se mudam do país para outros nos quais são menores os direitos do trabalhador. “Segmentos inteiros da indústria de transformação saíram do país”, revela ele. “Quase não existem mais confecções no país”.
Tal situação se repete pelo mundo. Para o presidente da UAW, somente um processo de conscientização e união global dos trabalhadores pode fazer frente a isso. Um sistema pelo qual os sindicatos mais fortes e organizados ajudassem no fortalecimento das organizações de trabalho mais fracas, estabelecendo limites mundiais para as condições de trabalho que não seriam ultrapassados.
“Para aumentar seus lucros, um grande número de empresas transnacionais tem conseguido transferir sua produção para lugares onde podem se aproveitar de legislação trabalhista fraca para pagar salários mais baixos, oferecer menos benefícios e solapar a capacidade dos trabalhadores de formar sindicatos fortes”, critica Bob King. “As empresas de grande porte operam globalmente há algum tempo; é chegada a hora dos sindicatos e movimentos sociais operarem globalmente também”, conclama ele.
No quarto mandato à frente do UAW, King esteve no Brasil em julho, para conversas dentro desse esforço de organização mundial dos trabalhadores. Na ocasião, conversou com o ex-presidente Lula, com representantes dos sindicatos e dos governos. Na sua rápida passagem por Brasília, foi negociada esta entrevista exclusiva, por e-mail.
A entrevista de Bob King foi respondida por e-mail. Veja a íntegra abaixo:
Congresso em Foco – De que forma a nova realidade mundial, com a economia globalizada e a intensificação das relações entre os países, precariza as relações de trabalho?
Para aumentar seus lucros, um grande número de empresas transnacionais tem conseguido transferir sua produção para lugares onde podem se aproveitar de legislação trabalhista fraca para pagar salários mais baixos, oferecer menos benefícios e solapar a capacidade dos trabalhadores de formar sindicatos fortes. Elas têm conseguido também jogar os trabalhadores de um país contra os trabalhadores de outro. E em alguns países, como os Estados Unidos, elas têm se deslocado para regiões com médias salariais mais baixas e uma cultura política anti-trabalhador e anti-sindical. Em alguns lugares, tais empresas têm usado sua influência política para enfraquecer a legislação trabalhista e ambiental. Nos Estados Unidos, se aproveitando da legislação trabalhista fraca, elas têm conseguido amedrontar os trabalhadores e as comunidades, ameaçando-os com o fechamento e deslocamento de fábricas. Estas táticas de medo têm enfraquecido o poder dos trabalhadores e derrubado o padrão de vida não apenas dos trabalhadores sindicalizados, mas também de comunidades inteiras. É por isso que acreditamos firmemente que precisamos de um movimento global de solidariedade. As empresas de grande porte operam globalmente há algum tempo; é chegada a hora dos sindicatos e movimentos sociais operarem globalmente também. Se uma empresa está violando os direitos humanos em um país, e o direito à livre associação se caracteriza como direito humano, ela deve ser confrontada em todos os países. Assim poderemos ter economias mais justas em todos os países.
Há alguns casos de trabalhos que já se tornam exemplares no que diz respeito à contratação de mão-de-obra em outros países para atuação mundial, como, por exemplo, os call-centers em inglês, concentrados em países como a Índia. Há outros exemplos parecidos?
Nos Estados Unidos, segmentos inteiros da indústria de transformação saíram do país. Por exemplo, quase não existem mais confecções no país. Todas se mudaram para outros países — frequentemente para baixar custos de pessoal e evitar a sindicalização. O mais comum é que nos novos países as empresas não paguem salários dignos ou permitam o fortalecimento ou mesmo a existência de sindicatos.
Como o problema se dá no caso de produtos manufaturados, como os automóveis?
Empresas estadunidenses fecharam muitas unidades fabris nos Estados Unidos e levaram-nas para países com salários mais baixos como México e China. Quando empresas transnacionais do Japão, Coréia e Alemanha abriram fábricas nos Estados Unidos, elas foram para partes do país com baixos níveis salariais e de benefícios, e com histórico fraco de sindicalização. E quando os trabalhadores tentaram formar sindicatos, estas empresas se valeram da legislação trabalhista fraca dos Estados Unidos, combatendo e derrotando os esforços de sindicalização dos trabalhadores. Isso a despeito dessas mesmas empresas serem sindicalizadas em suas sedes e frequentemente trabalharem bem com os sindicatos em seus países, o que é no mínimo paradoxal. Então no caso dos Estados Unidos, a indústria automotiva que era 100% sindicalizada, hoje tem taxa de sindicalização de 55% nas montadoras e 15% nos fornecedores. Por causa disto, as empresas não-sindicalizadas têm conseguido achatar os salários de todos os trabalhadores industriais e contribuir para a crescente desigualdade nos Estados Unidos. É por isso que um dos objetivos principais do UAW é ajudar os trabalhadores não-sindicalizados empregados por empresas transnacionais nos Estados Unidos que queiram se juntar para ter um sindicato e, assim, uma voz coletiva mais forte em seus locais de trabalho. Devido ao fato de que estas empresas operam em âmbito global, nós temos que construir uma rede global de trabalhadores e aliados para pressionar as empresas a respeitar o direito humano básico dos trabalhadores de se juntarem e formar um sindicato. O UAW está trabalhando em parceria com sindicatos mundo afora para construir essa rede, e em países como o México onde há sindicatos corruptos, pelegos, estamos ajudando os trabalhadores construir seus sindicatos autênticos. Temos o compromisso de apoiar outros sindicatos e trabalhadores que estejam tentando se organizar onde quer que possamos. Também buscamos o apoio de outros sindicatos para a luta dos trabalhadores não-sindicalizadas nos Estados Unidos pela conquista do direito a ter um sindicato.
Que impacto tal realidade está tendo na economia norte-americana?
Nas décadas de 1960 e 1970, cerca de 35% dos trabalhadores nos Estados Unidos eram sindicalizados. Os benefícios obtidos por meio da negociação coletiva estabeleciam o padrão para todos os trabalhadores e ajudavam a fortalecer a economia, com uma numerosa classe média. Como resultado da globalização e de uma estratégia consciente das transnacionais e seus aliados políticos para destruir os sindicatos, hoje somente 7% dos trabalhadores do setor privado estadunidense são sindicalizados. O declínio da representação sindical levou a uma queda da renda e, consequentemente, do padrão de vida de quase todos os trabalhadores do nosso país. Desde a década de 1920 que a desigualdade não é tão pronunciada quanto é hoje nos Estados Unidos. A classe média está desaparecendo rapidamente. Há também uma deterioração na educação e serviços públicos em geral, e na infraestrutura. Este problema é tão sério que nós achamos que a única maneira de impedi-lo e começar a construir uma sociedade mais justa é trabalhando em solidariedade com gente de todo o mundo. Como as empresas transnacionais são globais, a nossa luta por justiça também precisa ser global. A globalização dos interesses do capital, deve ser contraposta a globalização dos interesses dos trabalhadores.
Como impacta em outros países do mundo, como o Brasil?
Não sou especialista em Brasil, mas vejo que o país adotou um modelo diferente para lidar com a crise econômica. Sob a liderança do Presidente Lula e continuando nos dias de hoje, o Brasil vem demonstrando que se pode fazer uma economia crescer em função do aumento do padrão de vida de milhões de pessoas, protegendo os direitos dos trabalhadores de se organizar e negociar coletivamente. As políticas econômicas e sociais do Brasil têm contrastado nitidamente com o modelo de austeridade adotado na Europa e nos Estados Unidos, e a população e economia brasileiras têm prosperado — isto é fato. Mas eu temo que se as empresas tiverem êxito em destruir os sindicatos e enfraquecer o poder político do povo trabalhador nos Estados Unidos, elas quererão exportar este modelo pelo mundo afora. Eu já vejo sinais no Brasil de transnacionais reclamando que os trabalhadores ganham demais e que os sindicatos são um problema. Foi assim que começou nos Estados Unidos há trinta anos. Então eu fico ainda mais convencido de que o resto do mundo tem algo a aprender com o modelo de desenvolvimento econômico do Brasil. A única maneira dos trabalhadores de todo o mundo compartilharem do sucesso das empresas que os empregam é se tivermos um movimento de solidariedade internacional forte, que luta pelo direito dos trabalhadores à sindicalização e à negociação coletiva, que luta por igualdade e justiça para todos. Temos observado que é muito difícil lutar contra empresas transnacionais em um só país de cada vez.
No caso brasileiro, setores muito afetados têm sido os de vestimentas e calçados. Há, de fato, uma concorrência desleal entre países com precarização das relações de trabalho e outros com sindicatos mais fortes e trabalhadores com mais direitos?
Novamente, não sou especialista em Brasil, e não sei grande coisa sobre estas indústrias, mas em termos gerais creio que é possível as empresas crescerem e prosperarem sem tentar constantemente achatar salários e benefícios para os níveis mais baixos possíveis. Isto é uma receita para uma economia fraca e uma sociedade desigual. A nossa tarefa, como movimento sindical global, é ajudar a elevar o padrão de vida dos trabalhadores em todos os países e indústrias, e não permitir que os trabalhadores de um país sejam jogados contra os trabalhadores de outro país, enquanto as empresas realizam lucros enormes. Eu sei bem — a partir de nossas experiências na indústria automotiva dos Estados Unidos — que trabalhadores e sindicatos trabalhando em conjunto com empresas têm como enfrentar tempos economicamente difíceis. Os trabalhadores membros do UAW fizeram grandes sacrifícios para preservar as empresas automotivas estadunidenses — mas eles se dispuseram a isso porque as empresas compartilharam o sacrifício. E quando os tempos melhorarem, nossos membros também compartilharão os benefícios. Este é um modelo que pode funcionar em todo e qualquer lugar — trabalhadores e gestores trabalhando juntos pelo êxito da empresa.
Talvez, porém, os interesses de países desenvolvidos como os Estados Unidos e países em desenvolvimento como o Brasil não sejam idênticos. Nesse sentido, pode prosperar a sua iniciativa de estabelecer uma “globalização do sindicalismo”? Afinal, não foram poucos os momentos em que os próprios trabalhadores norte-americanos pressionaram por atitudes protecionistas do governo para proteger as empresas e os empregos locais na competição com outros países…
As empresas transnacionais têm sido muito eficazes em jogar os trabalhadores de um país contra os trabalhadores de outro país de modo a aumentar seus lucros. É por isso que elas têm conseguido arrochar o padrão de vida dos trabalhadores estadunidenses. É um modelo que não funciona para as pessoas. O UAW formou parcerias globais com sindicatos que representam trabalhadores das mesmas empresas em vários países do mundo. Desta maneira, os trabalhadores de cada país em que a empresa opera se juntam para tratar de uma agenda comum com a empresa. Ao mesmo tempo, podemos defender posições na condição de rede global em nome de trabalhadores que ainda não têm sindicatos em seus países. Os sindicatos brasileiros têm liderado campanhas por redes sindicais mundiais e por acordos globais com as empresas transnacionais. Temos testemunhado isso funcionando na prática, e acreditamos ser essa a única maneira para os trabalhadores alcançarem um senso de justiça ao confrontar empresas globais.
Paralelo a tudo isso, há a crise econômica mundial, que afeta mais os países desenvolvidos e parece dar margem ao crescimento de novas economias, como a chinesa e também a brasileira. Não haverá aí uma janela de oportunidade para esses novos países crescerem? Ou a crise mundial afeta todo mundo?
O Brasil tem se saído melhor que outros países com relação à crise econômica mundial porque não adotou medidas de austeridade e continua a retirar as pessoas da pobreza e a proteger os direitos trabalhistas. Se mais países adotassem tais políticas, creio que a economia mundial estaria em melhor forma do que está agora. Entretanto, como a economia é global, ninguém pode escapar totalmente da desaceleração. O Brasil tem navegado nesses mares revoltos melhor que quase qualquer outro país, mas imagino que se a economia mundial continuar a estagnar o Brasil se verá diante de grandes desafios. E o meu medo é que algumas empresas tentem se valer dessa crise para forçar o Brasil a adotar mudanças que venham a significar uma erosão dos direitos trabalhistas, a causar danos à economia e à prosperidade de longo prazo. Essa é uma das razões pelas quais queremos trabalhar intimamente com sindicatos e movimentos sociais no Brasil e em outros países, continuando a construir o nosso movimento global por justiça. Não queremos que os avanços do Brasil e de outros países se percam por causa da crise econômica.
Em alguns setores – caso, por exemplo, da informática –, os tempos modernos têm possibilitado uma cooperação entre pessoas de vários lugares do mundo ao mesmo tempo. Esse desenvolvimento conjunto de estudos e projetos parece acelerar conclusões e baratear produtos. O senhor considera tal aspecto positivo? Como avalia?
O crescimento da tecnologia, as mudanças na produção e a criação de indústrias completamente novas é fato consumado. A questão é saber se conseguiremos nos ajustar às mudanças e tirar proveito das coisas boas que elas trazem, sem sacrificar a justiça econômica e social. O desafio é como mudamos nossa indústria de transformação e outros setores, ao mesmo tempo nos certificando de que não estamos destruindo as vidas de milhões de pessoas por meio da eliminação de postos de trabalho ou do rebaixamento dos padrões de vida. Trata-se de um desafio de grandes proporções e creio que um fator chave no empreendimento de uma mudança seja que os trabalhadores tenham uma voz, de forma a fazê-la funcionar para todos. O nosso sindicato já se viu obrigado a se ajustar a muitas mudanças tecnológicas em nossa indústria, e com estes processos nós aprendemos muito. Mas também temos visto que quando os trabalhadores não fizeram parte do processo, a mudança tecnológica devastou comunidades e destruiu vidas. Então, ao nos adaptarmos a mudanças, devemos sempre enfocar o impacto sobre os seres humanos, sobre as comunidades e sobre a justiça social — e não apenas a tecnologia.
No Brasil, há um grande debate sobre as relações de trabalho e previdenciárias. Empresários costumam argumentar que a legislação é muito rígida e encarece demais cada posto de trabalho, desestimulando a criação de novos empregos. Sobre a previdência, argumenta-se muito que é necessária uma reformulação em face do aumento da expectativa de vida das pessoas. Como o senhor avalia tais argumentos?
Uma vez mais, não sou especialista em Brasil e não conheço as especificidades do debate. Mas de um modo geral, e com demasiada frequência, as lideranças empresariais reclamam que os empregos custam caro e que as regras são injustas porque querem lucrar mais. Os lucros das grandes empresas nunca foram tão altos e assim mesmo eu ouço as lideranças empresariais reclamando sobre isso. A tendência é que tais argumentos sejam usados para corroer o padrão de vida dos trabalhadores e enfraquecer os sindicatos. A experiência brasileira mostra que quando o setor empresarial, os sindicatos e o governo trabalham conjuntamente, todos podem prosperar. Eu encararia com muito ceticismo qualquer argumento que buscasse debilitar esse princípio.




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25 de Agosto de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

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Praia Seca, Araruama/RJ