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A mudança na vida de jornalistas que sofreram violentas represálias
17 de Agosto de 2013, 9:45 - sem comentários aindaDiante de tantos casos graves, que foram noticiados e esquecidos, o Comunique-se foi em busca de três histórias que completaram ou vão completar um ano nos próximos meses. Mauri König, da Gazeta do Povo; Leniza Krauss, da Rede Record; e Monize Taniguti, de O Jornal, em Guaíra (SP), mostram os reflexos das ameaças na vida dos profissionais.
Mauri König, Gazeta do Povo
Diretor da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e repórter do jornal Gazeta do Povo, Mauri König foi ameaçado de morte em dezembro de 2012. À época, pessoas que se identificavam como policiais ligaram para o jornalista avisando que militares estavam indo para Curitiba para matá-lo. O motivo da represália foi uma série de reportagens publicadas ao final de maio de 2012 - em conjunto com os repórteres Felippe Aníbal, Diego Ribeiro e Albari Rosa - denunciando ilegalidades e corrupções exercidas por policiais. König foi obrigado a deixar o país e viver escondido com a família.
"Ainda não consegui me recuperar totalmente", conta. O jornalista, que ainda sente os reflexos das ameaças, diz que, por muito tempo, precisou ficar fora de casa, pois existia a possibilidade da residência ser metralhada. Casado pela segunda vez e pai de uma criança de três anos - a mais nova dos três filhos do profisisonal -, ele se viu obrigado a se afastar da família, situação que acabou sendo permanente. "Perdi a minha família. Minha mulher ficou traumatizada, tem muito medo pela vida do nosso filho e, por isso, acabamos nos separando. Ela mudou de estado e é muito doloroso e penoso para o pai não poder acompanhar o crescimento do filho", lamenta.
Atualmente, König vive momento de mudança, tanto na vida profissional, quanto na pessoal. "Sempre escolhi ser repórter, mas agora não sei se é o momento. Quero mudar o meu perfil, tratar de assuntos mais amenos". Ainda na Gazeta do Povo, o jornalista deixou as ruas para se dedicar a serviços internos, como edição e fechamento de capa. "Entreguei-me demais ao trabalho e isso acabou restringindo a minha vida pessoal. Negligenciei o meu trato com a família. Tenho que rever as minhas decisões, talvez tardiamente, mas estou começando a rever".
Tudo na rotina de König mudou. Sozinho, o profissional passa parte do tempo na redação e tenta ocupar as outras horas com atividades como exercícios físicos, dança de salão e idiomas. A medida faz parte da estratégia para fugir da depressão. "Vivo, hoje, sozinho com a minha mente. Quando voltei ao Brasil, precisei tomar remédios para dormir, tive depressão aguda e sentimento de culpa por tudo o que aconteceu com a minha família e comigo. Preciso tomar cuidado para não ser engolido novamente". O jornalista afirma que, além de estar sempre ocupado, a terapia é grande aliada na aceitação das mudanças.
König está em busca de uma maneira segura para voltar à reportagem. Para quem vive da profissão, o jornalista aconselha ter cautela. "Sempre achei que o repórter precisa e deve assinar os seus textos. É uma forma de validar a informação e de construir patrimônio. Mas, em alguns casos, isso precisa ser repensado". O profissional conta que nunca publicou nada sem assinar, mas que, se fosse hoje, jamais teria colocado o nome e a identificação da equipe na reportagem. "Tem que abrir mão da vaidade. Talvez, foi isso que me prejudicou".
Leniza Krauss, Rede Record
Repórter da Rede Record, Leniza Krauss sofreu represália em junho do ano passado. A profissional investigava, junto com o produtor Lumi Zúnica, também ameaçado, o assassinato de Geralda Guabiraba, caso conhecido como “Pedra da Macumba”. Ambos receberam diversos telefonemas e foram obrigados a deixar o estado de São Paulo. Leniza contou três tentativas de invasão à sua casa. "Foram 40 dias longe daqui, os mais sofridos da minha vida. Tive que me afastar da família. A minha filha, na época com dois anos, teve febre emocional. Ela chamava pela mãe o tempo inteiro e eu não podia voltar".
Até agora, o caso que Leniza estava apurando não foi resolvido. Tampouco pouco foi descoberto os autores das ameaças. "As represálias para o produtor chegavam pelo telefone da mulher dele. Eu recebia ligações e ameaças no meu celular. Uma vez estávamos no DEIC prestando depoimento e ligaram, simultaneamente, avisando que sabiam que tínhamos buscado ajuda policial". A jornalista explica que seu computador foi invadido e todos seus passos eram seguidos. "Não era ninguém ´blefando`, eles sabiam os conteúdo dos e-mails trocados e tudo que conversávamos".
Por decisão da Record, as apurações foram congeladas. Neste momento, as ameaças cessaram. "Psicologicamente ainda me sinto muito abalada, é algo que por mais que eu queira, ou tente, não passa. A Leniza depois desse episódio é bastante diferente". Grávida de seu segundo filho, a repórter vê na atual gestação os reflexos do que aconteceu no ano passado. "Estou afastada desde os sete meses de gravidez. Tive pré-eclampsia (doença em que a gestante desenvolve hipertensão). Tenho absoluta certeza de que tudo de ruim durante a minha gestação foi por causa do impacto psicológico que sofri".
A casa própria de Leniza foi abandonada. A profissional foi obrigada a deixar a residência e, agora, paga aluguel. "Tive que trocar de casa, de bairro, de carro! Tudo para preservar a segurança da minha família". Embora tenha migrado dentro da emissora para cobrir pautas mais tranquilas, a repórter considera que grandes descobertas jornalísticas promovem reviravoltas em casos que ficariam impunes. "Mas é preciso coragem e até arriscar a própria vida para falar, mostrar e cobrar das autoridades".
Não fosse pela família, ela afirma que teria se arriscado mais. Aos profissionais que seguem em coberturas de risco, ela aconselha "o mesmo de sempre: ouvir o coração, a intuição e os cuidados. Todos os possíveis e imagináveis".
Monize Taniguti, O Jornal
Era setembro de 2012 quando a jornalista Monize Taniguti saiu de casa, como de praxe, para buscar, em uma cidade vizinha, a versão impressa da edição semanal de O Jornal. Dona do veículo de comunicação que circula em Guaíra, interior de São Paulo, ela quase não retornou para casa. "Aqui tem muito canavial na estrada. Dois carros me abordaram. Eram três homens, um deles me deu um comprimido para tomar. Em seguida, me levaram". Depois de longo caminho, os criminosos pediram para que a profissional saísse do automóvel. Ela foi agredida com chutes, socos e tapas no rosto. "Abandonaram-me lá e levaram todos os exemplares do jornal. Meus equipamentos ficaram. Ficou muito claro que eram represálias pelas reportagens que publico". Na época, ela divulgou série de reportagens com denúncias políticas. A profissional não acredita que a agressão tenha vindo de políticos, mas sim de militantes.
Como geralmente acontece, o caso de Monize também ficou sem solução. Até o momento, os autores do crime não foram descobertos. Mesmo com diversas denúncias, a jornalista, que estava muito nervosa, afirma que não consegue identificar os homens. À época, ainda muito assustada, a diretora do jornal precisou passar um tempo longe da cidade e da família. "Tinha segurança 24 horas na minha casa. Fiquei com muito medo. Nunca imaginei que isso poderia acontecer".
Passado quase um ano da agressão, a jornalista conta que se sente fortalecida. "Conheci um lado da minha personalidade que não conhecia. Sempre fui uma pessoa determinada que corria atrás de seus objetivos, mas não imaginava que poderia ser tão corajosa". Sem paralisar o trabalho no jornal, Monize segue com pautas de denúncia e conta que não ficou traumatizada pela situação. Mas há ressalvas. "Tenho medo do próximo ano eleitoral. Hoje, o que mais me preocupa é a segurança da minha filha, de cinco anos. Tenho receio que, para me atingir, possam fazer algo com ela". A rotina da jornalista não mudou, mas ganhou cautela e segurança. "Tomo certos cuidados básicos. Reforcei a segurança da minha casa com alarmes e cerca elétrica, e tenho um profissional durante a noite, que vigia a casa do lado de fora".
Sem planos para deixar a profissão, ela alerta que cuidado nunca é demais e afirma que todo jornalista investigativo "é um pouco louco". "E acho que tem que ser assim mesmo. O jornalista deve ser ousado, mas precisa ter cautela, paciência e também contar com a sorte. Quem escolhe este tipo de jornalismo sabe que fará inimigos, pois sempre ocorrem denúncias que atingem pessoas poderosas, com dinheiro e disposta a tudo para que seu ´negócio` não seja desvendado".
Dados que refletem a situação brasileira
A história de König, Leniza e Monize é resultado da pouca segurança que existe no Brasil. Em relatório divulgado e elaborado pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) no início deste ano, o país figura entre os dez mais perigosos para profissionais da imprensa. Chamado de “Ataques à Imprensa”, o documento denunciou o “aumento sem precedentes no número de jornalistas assassinados e presos no último ano" e uma "legislação restritiva e censura estatal" que colocam em risco o jornalismo independente. "Os obstáculos no Brasil são, em particular, alarmantes, dada a sua condição de líder regional e sede de uma vasta e diversa rede de meios de comunicação", afirmou a escritora Karen Phillips, no site do CPJ.
Publicado no Portal Comunique-se em 15 de agosto de 2013
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Cultura, Arte e Saúde: Registros do Ocupa Nise de 2013
14 de Agosto de 2013, 17:17 - sem comentários aindaCultura, Arte e Saúde: Registros do Ocupa Nise de 2013 |
Vale a pena assistir ao vídeo abaixo com depoimentos importantes colhidos durante o Ocupa Nise, edição de 2013, falando sobre poesia, música, cultura, política, saúde e luta antimanicomial. Veja, discuta, reflita e compartilhe!
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
É hora de mudar as estruturas “viciadas” do esporte no país, defende Raí
14 de Agosto de 2013, 14:42 - sem comentários aindaÉ hora de mudar as estruturas “viciadas” do esporte no país, defende Raí |
Para quem não conhece a região, não é fácil chegar à Fundação Gol de Letra. As vias tortuosas e as ladeiras da Vila Albertina, no bairro do Tremembé, extremo norte de São Paulo, confundem quem está acostumado às ruas largas e sinalizadas do chamado centro expandido da capital paulista. A organização fundada pelos ex-craques do São Paulo, Raí e Leonardo, em 1998, fica no alto de um morro.
Vista de fora, parece uma escola infantil bem cuidada, contrastando com as casas vizinhas, sem revestimento, e na companhia de Raí, vamos descobrindo a fundação. Entramos nas salas, ele cumprimenta as pessoas, explica as atividades realizadas ali: aulas de capoeira, futebol, teatro, música, informática. O objetivo é complementar a formação das crianças da região.
Ele é o que se pode chamar de exemplo inspirador para a molecada. Tetracampeão com a seleção brasileira em 1994, 5 vezes campeão paulista, 2 vezes campeão brasileiro, campeão da Libertadores e campeão mundial pelo São Paulo, além de uma passagem vitoriosa pelo PSG (Paris Saint Germain), da França, Raí aproveita os troféus conquistados no futebol profissional para erguer outras bandeiras: “As pessoas estão menos interessadas no esporte em si, enquanto direito das pessoas”, diz.
Ele também é diretor da ONG Atletas Pela Cidadania, presidida por Ana Moser, uma mobilização de atletas consagrados por políticas públicas para o esporte e, antes de começar a entrevista, mostra no jornal a primeira vitória da organização: o governo havia endossado a proposta dos atletas para emendar a Lei Pelé (MP 612), adotando medidas como quatro anos de mandato para dirigentes das federações que recebem recursos públicos, transparência na prestação de contas, participação dos atletas nas eleições e remuneração dos dirigentes. “Saiu hoje, o governo endossou”, repetiu, orgulhoso. Leia aqui a entrevista do craque.
Quando você iniciou sua carreira como atleta você sentiu falta de ter uma estrutura como a que você oferece para essas crianças na Fundação Gol de Letra? Faltou algum apoio nesse sentido?
Eu sentia isso de duas formas diferentes. Primeiro, no próprio clube que deveria incentivar e se preocupar mais com o jovem. Hoje em dia mais ainda porque os jogadores chegam com 12, 13 anos para morar no clube e geralmente vêm de outra cidade. Mas o que era mais forte para mim era sentir o quanto os jogadores com quem eu convivia, meus companheiros e colegas de time no juvenil, nos juniores e depois no profissional também, eram pessoas capazes, inteligentes, mas que não tiveram acesso à informação, a uma boa qualidade de educação, a experiências diferentes, como a gente tenta fazer na Fundação. Apesar de ter vindo de um meio mais pobre e tal, quando eu nasci meu pai já estava numa condição melhor, e vi que 95% dos atletas vêm de regiões pobres, de bairros pobres com escolas ruins e que acabam tendo que deixar a escola. Eu tive boa escola, boas condições e pude ver o quanto isso limitava o potencial e as oportunidades que eles tinham. Isso me marcou e me deixou muito sensível ao tema. E não só pelo projeto aqui, mas também pela minha visão ideológica, de justiça social, tudo o que eu fui desenvolvendo depois. Eu sempre digo que o que me levou a montar a Fundação não foi só a diferença de recursos, mas também de oportunidades entre as pessoas, o que é a grande injustiça.
Você poderia explicar mais sobre o papel dos clubes na formação dos atletas?
Existem bons exemplos de clubes que ainda são minoria, mas, em geral, o clube só quer formar o atleta para jogar no time dele, com uma visão muito pobre de formação cidadã, educacional. A formação é muito voltada para desenvolver um lado técnico, de fundamentos, o aspecto físico, mas essa outra parte, de desenvolvimento da pessoa, fica esquecida. Pelo fato de eles serem responsáveis por esses garotos já muito cedo, eles teriam que ter uma fiscalização mais constante, mais presente. O Conselho Tutelar já chegou a multar ou tomar outras providências em alguns clubes em que os caras não iam para escola ou não estavam em situação decente. Então acho que é uma coisa que ainda tem que melhorar bastante.
E qual é o efeito disso para o atleta?
O efeito é um jogador menos preparado, uma pessoa menos preparada para encarar as coisas. O reflexo disso fica evidente no pós-carreira, quando ele sai do universo do futebol e fica perdido, sem uma visão mais ampla. E quando você se torna um atleta, além de cidadão, você se torna uma pessoa pública, e aí a formação faz falta para participar, ser consciente.
Você teve uma breve experiência como gestor das categorias de base do São Paulo. Como foi?
Durante os três meses que fiquei, eu vi que os atletas moravam em quartos embaixo da arquibancada do estádio do Morumbi: as janelas tinham grades, os meninos tinham que se deslocar para a escola, para o treino… Então a primeira coisa que eu fiz foi provar para os dirigentes que valeria a pena ter um centro de treinamento que o São Paulo não tinha. Para tirar os garotos dali, eles alugaram um centro de treinamento que pertencia ao José Roberto Guimarães, treinador da seleção feminina de vôlei. Outra coisa que eu fiz foi trazer um educador com grande experiência, que era ligado à Escola da Vila [colégio particular de São Paulo], que também tinha trabalhado em presídios, tinha vivência em diversos ambientes, para Eu a gente desenvolver um projeto educativo [no São Paulo], como a gente faz aqui. Uma ideia de educação integral: ver como as crianças convivem, onde elas vivem, a escola, o tempo livre, ver como trabalhar isso para ter uma formação mais ampla. A minha primeira preocupação foi justamente essa questão humana. E depois que eu saí, o Cilinho, que entrou no meu lugar, manteve esse educador por mais um tempo. Não acompanhei de perto, mas tenho certeza que ele deve ter colaborado bastante.
Por que você saiu em tão pouco tempo?
Primeiro porque a estrutura do futebol e dos clubes tem muitas amarras políticas, né? Então você tem que compor com várias chapas, vários interesses diferentes, para você conseguir se eleger ou se manter onde está. E acaba ficando muito dividido. Eu entrei num momento em que a oposição tinha ganhado, então estava mudando de grupo. Achei que iria colaborar como um executivo, como um profissional que ia fazer esse tipo de plano. E eu vi que as pessoas ali dentro me respeitavam como pessoa, me tinham em boa conta, mas não queriam profissionalizar o trabalho, tinham outros interesses. E aí acabou travando. Ali eu me senti meio que como um peixe fora d’água, senti que ia acabar incomodando, arrumando briga política. E eu, por ter sido ídolo do São Paulo, vi que eu tinha muito mais a perder do que a ganhar em uma estrutura que não estava pronta para as ideias e para a maneira como eu queria atuar.
Mudando um pouco de assunto: como você avalia a superestrutura do futebol? Esse modelo de repasse de verbas da confederação para as federações?
Acho que é uma estrutura viciada há muito tempo. As federações que elegem o presidente da confederação são, na maior parte delas, [dirigidas por] pessoas que já estão há muito tempo no poder. Os clubes que elegem o presidente da federação geralmente devem favores à pessoa que está na presidência da federação. O presidente da federação é um cara que já ajudou clubes aqui e ali, até financeiramente. E o clube acaba se sentindo obrigado a votar nessa perpetuação de poder. A CBF é a mesma coisa: acaba fazendo conchavos com as federações para se manter ali e devolve esse conchavo com favores. Então acho que é uma relação viciada para permitir uma perpetuação do poder, algo completamente antidemocrático. E as pessoas que gerem o futebol acabam se sentindo donas dele e se esquecem do interesse público do esporte que elas representam. E isso não só com o futebol, mas com todas as modalidades esportivas. Esse vício começa montando um ambiente que é muito propício para falcatruas, corrupção, mau uso do dinheiro, em detrimento da modalidade e das pessoas que estão envolvidas com o futebol.
Você acha que a Copa do Mundo pode impulsionar uma discussão pública desse modelo?
Acho que é uma oportunidade. A gente viu a quantidade de exigências que a FIFA coloca para o país poder receber a Copa do Mundo. E como existem muitos interessados, o país acaba cedendo e aceitando todas essas exigências. Aí a FIFA vem com uma coisa pré-determinada que acaba dando muitos poderes para ela própria, ou para a confederação que está recebendo a Copa. Então a Copa do Mundo por si só, acho que não poderia deixar legado nesse aspecto porque os responsáveis pela organização são eles mesmos. Até o governo federal começou a perceber isso, tanto que a Dilma tem uma relação super distante tanto com o Ricardo Teixeira quanto com o Marin, não quer nem aparecer junto. Mas ao mesmo tempo é uma grande oportunidade da população se mobilizar, das pessoas organizadas reivindicarem, porque isso tem que mudar. Antes não havia propostas, apoio da opinião pública, os esportistas também não tinham uma mobilização tão grande… Agora eu acho que está acontecendo, é o que a gente está fazendo. Essa emenda que aprovamos é um exemplo. Enfim, a Copa do Mundo é uma oportunidade para que as pessoas se manifestem e aí forcem uma mudança. São mudanças que até poderiam acontecer de outra forma, mas com a Copa aqui, chamando a atenção, é uma grande oportunidade para que a gente tenha os avanços nas estruturas do futebol.
E estamos aproveitando essa oportunidade?
Por enquanto estamos aproveitando pouco. Acho que ainda tem tempo e as Olimpíadas vão estender o interesse e o ambiente de discussão sobre esporte até 2016, pelo menos. Acho que vai depender da nossa mobilização e de uma boa estratégia para poder tocar e mexer nos pontos chave. No nosso caso, o que estamos fazendo é ter discussões internas e com outros atores da sociedade que mexem com o tema para ver quais pontos podemos atacar. O que pode acontecer é a imprensa e a população também ficarem atentas a alguns abusos que aconteceram. E por que eles acontecem? Por ter muito poder centralizado, acumulado na mão de poucos. Temos que pensar tudo que não avançou e foi mal feito, mal intencionado, o quanto isso prejudica o desenvolvimento do esporte no Brasil.E precisamos ver o que poderia ser feito de diferente, se houvesse essa alternância de poder, quais seriam as vantagens, os benefícios. Precisamos mostrar, discutir, debater e reivindicar. Esse é o caminho.
Quais são as dificuldades de levantar essas bandeiras?
Acho que tem uma questão [da dificuldade de adesão] entre os esportistas por uma questão cultural. E também por uma questão de carreira do esportista, que dura de 15 a 20 anos, no máximo. Ele tende a ter uma carreira e depois ir fazer outra coisa, se interessar por outra coisa, então você não tem uma participação ativa. E já não existe uma cultura de participação entre atletas, que é o que estamos querendo mudar. Outra questão é que a sociedade não dá o valor que o esporte poderia ter em todas as suas dimensões: educacional, de saúde, enfim. Falta essa cultura da importância e do impacto que o esporte pode ter na sociedade e por isso ele é encarado como uma coisa secundária. As pessoas até estão interessadas na questão da confederação, das federações, da vida política do esporte e dos grandes eventos, mas estão menos interessadas no esporte em si enquanto política pública, enquanto direito das pessoas. Se você sair aqui fora, você não vai encontrar nada de área de lazer. No Brasil, 30% das escolas não têm aula de educação física. Se você não tem esporte na escola, no seu bairro, você fica privado de um direito e de uma ferramenta importantíssima no seu desenvolvimento físico, intelectual, cognitivo. Então a grande luta é mostrar a importância que o esporte pode ter no desenvolvimento humano, para o desenvolvimento do país de uma maneira geral. E tentar mudar essa falta de cultura esportiva que existe ainda no país.
Você vê resistência da imprensa esportiva em lidar com isso? Tanto com outras dimensões do esporte (educacional, de participação) como na questão política?
A meu ver é tudo parte de um processo. Por exemplo, no Pan-Americano de 2007 existem provas de superfaturamento absurdas e ninguém foi responsabilizado; nem o governo do Rio, nem federação, ninguém. E está lá comprovado com documentos do TCU e tudo mais. Quando o Rio estava concorrendo para as Olimpíadas, existiu até um começo de investigação no Congresso, mas ficou explícita aquela ideia: “Olha, se a gente for atrás disso, o Brasil não vai levar as Olimpíadas. Vamos esquecer esse assunto. Como a gente quer levar esse assunto se a gente prova que existiu um escândalo no Pan?” Nesses assuntos acho que a imprensa pegou muito leve e foi muito superficial, não foi atrás. E é uma coisa que está aí, ainda existe. Então acho que são coisas que deveriam ter tido mais luz e deveríamos ter ido às últimas consequências.
Em relação ao futebol a gente está vendo algumas declarações no sentido de não se preocupar com as denúncias da Copa, para ajudar na ‘festa’…
Sim, estamos vendo a mesma coisa com a Copa. Isso é ridículo. As manifestações chegaram no mês da Copa das Confederações. A competição aconteceu, com alguma tensão a mais, mas as manifestações aconteceram para cobrar, para exigir. E é isso que tem que acontecer. Espero que a Copa também sirva para chamar a atenção para outros problemas.
Tanto você como o Sócrates sempre tiveram preocupação com questões extra-campo e posicionamentos ideológicos claros. Isso trouxe problemas? Ser mais posicionado politicamente atrapalha a carreira do atleta?
Eu acho que tem muita gente que evita criar polêmicas ou externar opiniões com medo de atrapalhar a carreira. Mas existe também muita alienação no sentido de desinformação mesmo. A pessoa vê uma coisa errada, não vai atrás, não quer saber… No caso do esporte, não é um privilégio do Brasil. O esportista de uma maneira geral tem essa imagem também fora do país. Conversei com um dos líderes do movimento estudantil de maio de 1968, o Daniel Cohn-Bendit, que estava fazendo um documentário sobre a Copa. E ele entrevistou Sócrates, me entrevistou, e entrevistou outros personagens. Ele até falou que aqui no Brasil tem mais atletas interessados no extra-campo do que lá fora. No fundo, o atleta tem uma visão egoísta por ter uma carreira curta. Mas também tem muitos que se alienam porque não têm informação. Falta uma formação mais ampla.
Você já teve problema por ser envolvido, engajado?
Não muito. Acho que depende da maneira que você se coloca. Eu lembro que com 20 anos de idade, no Botafogo de Ribeirão Preto, os salários dos atletas já estavam três, quatro meses atrasados. O time estava numa situação ruim e o clube contratou outros jogadores para salvá-lo. E aí na primeira vez que sentamos com dirigentes e jogadores contratados eu disse: “Olha, acho um absurdo vocês contratarem jogadores sendo que tem jogador aqui sem receber”. E trouxe um desconforto. Em algumas outras situações também trouxe, mas nada que prejudicasse a minha carreira. Nunca deixei de colocar minhas posições.
O que você acha do Brasil receber a Copa do Mundo? Pensando em todos os impactos que ela tem, como você avalia a vinda da Copa para o Brasil?
Por alguns motivos que citamos antes, criar um ambiente para discutir o esporte, o futebol, a política…acho que isso já é um legado que a gente pode deixar. Em outros aspectos, como, por exemplo, o que aconteceu no Pan-Americano, não era um país que, pelo histórico, merecia [os megaeventos]. Mas acho que pode trazer coisas boas para o país, se pegarmos esses maus exemplos do passado, tentar fiscalizar mais, ter mais transparência. E a transparência que a gente quer instituir para a Copa, que isso se estenda para o futebol de maneira geral. Mas a gente sabe que com a falta de planejamento que teve, atrasos, com certeza vai ter muito desperdício, falta de transparência, muita coisa sem licitação, coisas que vão contra o interesse público. E só depois da Copa que a gente vai ver o balanço. Se fosse bem planejado acho que poderia ser produtivo, mas como a gente sabia que o Brasil já não teve capacidade de se planejar bem, acho que vai ter muito desperdício de recursos e de possibilidades que teriam de melhorar a estrutura de eventos ou das regiões onde a Copa vai estar presente, vai estar muito abaixo do que poderia.
E o fato de a Copa que foi vendida como a Copa da iniciativa privada ser quase inteiramente bancada com dinheiro público?
Acho um absurdo, temos que ir a fundo nisso. Nunca acreditei naquilo que se dizia no começo, que seria com dinheiro privado. O que a gente tá vendo é que tá havendo muito dinheiro público e se fala que é financiamento, que vai retornar… Acho que isso é inaceitável e tem que ir atrás pra ver também qual vai ser o retorno. No final, vamos fazer a conta, por na balança e ver se valeu ou não valeu receber a Copa.
Existe um embate entre a administração privada das Confederações e clubes e o fato de o futebol ser um bem público. Como é possível equilibrar os dois?
Acho que a questão é realmente mudar a legislação. Uma organização que tem uma gestão privada acha que não deve satisfações nem ao poder público, nem a ninguém. E no futebol o caso é mais complicado; se nos outros esportes que recebem dinheiro público, você não tem transparência, no futebol que não recebe dinheiro público, pelo menos no caso da CBF, menos ainda, né? Então Outro com a Copa do Mundo você entra e se apossa do país durante um mês, e também durante a preparação e, ao mesmo tempo, as decisões são tomadas de uma maneira privada. A maior parte delas segue o interesse das Confederações ou da FIFA. Fica um tabu até porque a FIFA ameaça que, se houver interferência do Estado numa Confederação nacional, ela tira da Copa do Mundo. Então, é um tabu que tem que ser rediscutido. Se a Confederação que usa os símbolos do país, as cores do país, se os eventos que ela organiza têm um impacto público claro, muito dessa autonomia tem que ser rediscutida.
No manifesto da Atletas vocês também colocaram a questão dos direitos humanos. Por que vocês decidiram levantar essa bandeira?
É para estar em sintonia com o momento do país, das manifestações também. A gente viu essa mensagem e nós como atletas não podemos passar fora disso. Se existe o padrão FIFA, o superfaturamento, ou a questão dos direitos humanos, da retirada das famílias para construir estádio e tudo, a melhor maneira de responder isso é através de uma investigação oficial, seja pelo Ministério Público, CPI, o que for. Todo mundo tá querendo saber. Se tem um estádio que custa 600 milhões, então vamos abrir: O que aconteceu? Houve superfaturamento? Não houve? Foi gasto muito mais do que previsto? Por quê? Na questão das remoções, houve abuso? Acho que você tem que mostrar a ferida, né? E que sejam punidos os responsáveis. Acho que é isso que a população tá querendo, tá buscando. Você tá protestando para que não aconteça mais, para que mude, mas também para que, se houve abusos, punir de uma forma exemplar. Isso é o que não aconteceu no Pan-Americano. Não basta só protestar ou querer dar voz, fazer plebiscito, mudar um monte de coisa, se você não mostrar o que aconteceu na época e o que acontece agora.
A Olimpíada é um evento voltado para esportes de rendimento e os investimentos são feitos nesse sentido. Você acha que o investimento em esportes de rendimento pode gerar uma cultura esportiva na população?
Eu acho que até contribui você ter um atleta de rendimento com sucesso, ele incentiva até certo nível, mas muito menos do que se imagina. O que é burrice, na verdade, é não pensar numa política de esporte mais global e que atinja a população em geral. Quantas pessoas praticam natação no Brasil? Quantas têm a oportunidade de ter uma piscina decente? Devem ser milhares apenas num país de milhões. Você tá jogando um monte de grana, não tá privilegiando a maioria, não tá levando isso em consideração, e desperdiçando talentos. Ter um campeão a mais ou um a menos estimula, mas se você não tiver acesso ao esporte não adianta. Se você vai lá e tem uma série de campeões ou algumas medalhas a mais, depois que passa a Olimpíada, o dinheiro não volta e o esporte continua da mesma maneira. É burrice pensar só nesse lado emergencial para tentar mostrar serviço, quando a situação do esporte no país é ridícula porque está fora dos direitos básicos de qualquer cidadão.
Falta atenção do governo para manifestações espontâneas, amadoras do esporte? Por exemplo, o futebol de várzea. Falta atenção no sentido de incentivar, oferecer um lugar melhor para a prática?
As federações e confederações monopolizam as atividades mais instituídas, organizam os campeonatos e o que está fora disso fica largado. Existe aí um potencial a ser desenvolvido não só no futebol, mas no esporte em geral. Em qualquer outro país você tem uma política paralela que amplie essas práticas amadoras. Na França, que eu conheço mais de perto, uma contrapartida que a federação tem que dar é provar que está disseminando a prática da modalidade pela qual é responsável. Tem que prestar contas daquilo. Não é só organizar o seu campeonato, você tem que democratizar a atividade da sua modalidade. Lá, o principal papel de uma federação é dar acesso ao maior número de pessoas no país àquela modalidade. Quem organiza o campeonato são as ligas de clubes; a federação só entra com seleção, essas coisas. É uma escolha política falar para a federação “Tudo bem, você cuida do futebol, mas você tem que fazer com que todas as pessoas que queiram tenham acesso ao futebol, fomentando onde não tem”. É uma opção política colocar isso como prioridade.
Na Atletas vocês tem entre as metas que todas as escolas brasileiras tenham quadras até 2022, até 2016 para as cidades-sede. Você acha que estamos caminhando para isso?
Para 2022, sim. Até 2016 vai ser mais difícil, mas os prefeitos dessas cidades se comprometeram com essas metas e a gente vai estar em cima. No Rio, que é cidade sede das Olimpíadas, em cerca de 20% das escolas, mesmo que você queira construir uma quadra, você não tem espaço. A escola foi pensada sem espaço para atividade esportiva, outras coisas foram construídas no entorno… Junto com o Instituto Ethos desenvolvemos um questionário que vai acompanhar ano a ano até as Olimpíadas qual vai ser a evolução. É nosso papel também fazer valer esse compromisso que eles assinaram e cobrá-los. Depois disso, se a coisa andar e a política de uma maneira geral melhorar, talvez até 2022 a gente consiga.
A Ana Moser disse em entrevista à Pública que o esporte é uma caixa preta: há poucos dados disponíveis para guiar uma política pública mais estruturante para o esporte. Como vocês pretendem incentivar a produção desses dados?
Para as cidades sede que assinaram o compromisso, a gente exigiu que se fizesse um diagnóstico para poder medir a evolução. E é triste quando o próprio Ministério do Esporte ou as Secretarias de Esporte das cidades, essas menos ainda, não têm diagnósticos, números para a gente ter como base. Qualquer plano começa com a avaliação da situação. Acho que essa é uma das grandes provas do descaso com a política de esporte no país. E outra questão que poderia também ser mais debatida com a imprensa: 90% das secretarias de esportes do país são barganhas políticas, indicando quem tem pouca experiência e pouco interesse no tema. E isso no governo federal, nos estádios e municípios. Geralmente o partido menos expressivo na chapa, leva a secretaria dos Esportes. Isso tem que mudar, e aí passa por essa questão da população se tocar do direito que tem.
Você vê algum caminho de como é possível promover essa mudança de concepção do esporte como uma coisa auxiliar, para fazer no tempo livre, para uma atividade com papel estruturante na educação e na política do país?
Uma das nossas linhas de atuação é a de desenvolver pesquisas e estudos e levantar o que já existe. Em Londres, por exemplo, foi provado que praticar esportes melhora o desempenho em outras disciplinas na fase escolar porque ajuda no desenvolvimento cognitivo e tudo mais. Também existem experiências e estudos que mostram que o esporte é melhor na linguagem para a integração e na mobilização de uma comunidade, e que mostram uma diminuição de violência clara com a prática do esporte. É você mostrar isso, fazendo, talvez, estudos maiores no país e constatar que onde você tem acesso a esporte e a lazer você tem menos violência, melhor desempenho na escola. Acho que se basear em estudos e depois ir atrás de buscar políticas nesse sentido, né? Pegando casos de cidades que fizeram isso, você começa a caminhar para a valorização e a conscientização da importância do esporte.
E a isso se soma uma vontade política?
Com certeza. E a vontade política também anda a empurrões. E é isso que a gente tá tentando fazer.
O deputado Vicente Candido, relator da Lei Geral da Copa, lançou o Proforte ( Programa de Fortalecimento dos Esportes Olímpicos), que propõe a anistia da dívida fiscal dos clubes de futebol, estimada em R$ 3 bilhões, em troca do investimento deles em esportes olímpicos. O que você acha dessa ideia?
Acho que o interesse que puxa isso é mais o perdão das dívidas do que o interesse no esporte olímpico. Isso não faz parte de uma política maior. Deveria estar se debatendo mais a política de esporte olímpico do que o que os clubes podem fazer. A dívida e o que esses clubes podem fazer pelo esporte tem pesos políticos desproporcionais.
Pensando nas manifestações dos últimos meses, se você pudesse passar um recado para os cidadãos, que são também torcedores, o que você diria para a população brasileira em relação à Copa?
Achei lindo o que aconteceu durante a Copa das Confederações. Vamos aproveitar, potencializar esse ambiente. Infelizmente a FIFA vai ter que conviver com essa tensão, porque ter uma Copa do Mundo chama atenção para o país ,e dá mais força às vozes que estão loucas pra se manifestar.
O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Sérgio Cabral: a crônica de um tombo anunciado
14 de Agosto de 2013, 9:20 - sem comentários ainda
'Carta Maior' começa hoje a publicar uma série de reportagens de balanço sobre o governo Sérgio Cabral, no Rio de Janeiro. Este primeiro texto discute a própria figura do governador. Entre o desenvolto Cabral que foi reconduzido ao cargo ao conquistar impressionantes 5,2 milhões de votos, no primeiro turno das eleições de 2010, e o acuado governante que vem sendo, nas últimas semanas, o principal alvo de manifestações de rua, o tempo expôs um roteiro de pecados. Por Maurício Thuswohl, do Rio de Janeiro
(Por Maurício Thuswohl)
Rio de Janeiro – Poucas vezes na história brasileira um governador de um estado tão importante, democraticamente eleito e reeleito e com bons resultados na economia e em outros setores de grande apelo como segurança pública, despencou de tão alto e em tão pouco tempo em termos de popularidade e prestígio político. Entre o desenvolto Sérgio Cabral que foi reconduzido ao governo do Rio de Janeiro ao conquistar impressionantes 5,2 milhões de votos no primeiro turno das eleições de 2010 e o acuado governante que vem sendo, nas últimas semanas, o principal alvo de manifestações de rua que já extrapolaram as fronteiras fluminenses, o tempo expôs um roteiro de pecados. Este inclui, entre outras coisas, as denúncias de envolvimento com a empreiteira Delta, os atritos provocados pelo processo de concessão do Maracanã à iniciativa privada, a ausência em momentos de tragédia que afetaram a população e o desgaste da principal bandeira do governo: a política de instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em áreas da capital antes controladas pelo tráfico de drogas.
O tamanho do tombo político de Cabral pode ser medido. Os eleitores do Rio de Janeiro, em outubro de 2010, lhe deram 5.217.972 votos no primeiro turno, o equivalente a 66,08% da preferência do eleitorado, naquela que foi a mais esmagadora vitória eleitoral da história da disputa pelo governo estadual. Menos de três anos depois, em pesquisa de opinião realizada pelo Ibope após as grandes manifestações de rua de junho, o índice de aprovação de Cabral, de apenas 12%, foi o pior entre onze governadores avaliados pelo instituto a pedido da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O governador do Rio também foi o que obteve menor índice de aprovação dos eleitores nos quesitos “confiança”, com 25%, e “maneira de governar”, com 29%. Tal resultado reflete o atual estado de fragilidade política de Cabral, simbolizado pelas manifestações diárias que se transformaram em cerco à sua residência no bairro do Leblon.
Embora tenha se acentuado após as manifestações, a queda na popularidade de Cabral não aconteceu da noite para o dia. Dois episódios ocorridos em seu segundo mandato foram considerados pela maioria da população do Rio de Janeiro como particularmente desgastantes para seu governador, segundo o assinalado por pesquisas de opinião. O primeiro deles foi a ausência de Cabral após a tragédia das chuvas que provocou a morte de 900 pessoas na Região Serrana do estado em janeiro de 2011. Em viagem de férias para o réveillon, o governador só apareceu na região dois dias após a tragédia – ele também já estivera ausente no ano anterior, em situação semelhante ocorrida em Angra dos Reis – e viu o que era apenas motivo de piada (suas constantes idas a Paris) se tornar motivo de rejeição.
A capital francesa foi também cenário de outro episódio desgastante para Cabral: a evidenciação de sua ligação com o empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta Construções que, segundo investigações da Polícia Federal e da CPMI instalada no Congresso Nacional, atuou como financiadora de empresas fantasmas criadas pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. A divulgação, em abril de 2012, de fotos, tiradas dois anos e meio antes, nas quais Cabral e alguns de seus secretários aparecem ao lado de Cavendish em um restaurante de Paris com guardanapos na cabeça, em um momento de evidente descontração, aliada à informação de que a empreiteira recebera R$ 1,5 bilhão em contratos do governo estadual durante sua gestão, deram mais um empurrãozinho ladeira abaixo na popularidade do governador do Rio.
Helicópteros
Um deslocamento em helicóptero para uma festa de aniversário de Cavendish realizada em Trancoso, na Bahia, em junho de 2011, provocou a morte de sete pessoas, incluindo a namorada do filho de Cabral. O governador, que embarcaria no voo seguinte, escapou da tragédia por pouco, mas não da exposição pública de sua relação com o empresário, justamente em meio a um momento de dor. Curiosamente, a revelação, em julho deste ano, dos detalhes da rotina de utilização dos helicópteros oficias pelo governador foram o estopim das mobilizações que cercaram sua residência no Leblon.
Agora investigada pelo Ministério Público, essa rotina teria custado R$ 3,8 milhões anuais aos cofres do Estado e era feita por idas diárias de casa até o Palácio Guanabara – em um percurso que poderia ser percorrido de carro em 15 minutos - e incluía idas e voltas nos fins de semana para a cidade litorânea de Mangaratiba, onde Cabral tem uma sofisticada casa de praia, com direito ao transporte de toda a família, amigos, babás, médicos, cabeleireiros e o cachorro de estimação Juquinha, simpático animal que já entrou para o folclore político carioca. Em 5 de agosto, o governador baixou um decreto determinando que integrantes do primeiro escalão do governo somente poderiam utilizar os helicópteros em “atividades próprias do serviço público”. Três das sete aeronaves que serviam a esse grupo foram cedidas ao Corpo de Bombeiros, à Polícia Civil e à Polícia Militar, respectivamente.
Efeito Maracanã
Em meio a esse calendário de eventos que corroeram a popularidade de Cabral, nenhum outro teve efeito tão contundente quanto o processo de concessão do Maracanã a um consórcio privado constituído pelas empresas brasileiras Odebrecht (que já havia sido responsável pela reforma do estádio) e IMX (do empresário Eike Batista) em parceria com a norte-americana AEG. Após uma demorada reconstrução, com custos que, após a última correção, são estimados em R$ 1,2 bilhão, a população recebeu de volta um belíssimo estádio, é verdade, mas com preços de ingressos e serviços muito acima da média historicamente praticada no outrora maior do mundo. Ao longo dos últimos meses, o clima de insatisfação foi reforçado ainda pela desaprovação da população à decisão, prevista originalmente no projeto de concessão do Maracanã, de demolir outras jóias do complexo esportivo, como o Estádio de Atletismo Célio de Barros e o Parque Aquático Júlio Delamare, para dar lugar a lojas e estacionamentos.
Pois justamente o Célio de Barros e o Júlio Delamare, que acabam de ter suas demolições canceladas, se tornam agora símbolos do recuo político protagonizado por Cabral, que parece em busca de pisar novamente terra firme após o persistente momento de turbulência. Reverter a pressão social e a queda na popularidade e voltar a trabalhar na imprensa uma agenda positiva de governo que inclui investimentos de R$ 211,5 bilhões até 2014 em setores nevrálgicos da economia estadual, como construção naval, siderurgia e petroquímico, entre outros, é uma prioridade do governo. Para que o governador volte a ter o prestígio e a desenvoltura política de tempos atrás, a recuperação junto à opinião pública, se possível, deverá acontecer a tempo de não atrapalhar sua provável candidatura ao Senado no ano que vem, assim como o candidato do PMDB à sua sucessão, o vice-governador Luiz Fernando Pezão.
Nas poucas entrevistas que concedeu após as manifestações de junho, um cabisbaixo Cabral pediu aos manifestantes que cercavam seu prédio que pensassem no susto que estavam causando aos seus filhos de seis e onze anos, revelou a humildade que o convívio com o Papa Francisco havia lhe incutido e disse que seu principal objetivo agora é defender o legado de seu governo e eleger Pezão em 2014. Ainda na retaguarda, evita falar sobre si próprio: “Neste momento, meu futuro político não é prioridade. Prioridade é o futuro do Rio de Janeiro”, tem dito aos interlocutores.
Fotos: EBC
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
PMs convidaram Andreia Pesseghini para roubar banco
14 de Agosto de 2013, 8:46 - sem comentários aindaCabo morta em chacina com família foi convidada por “colegas” PMs a roubar caixas eletrônicos. Até agora, polícia diz que Marcelo Pesseghini, filho da cabo, é o principal suspeito pelo crime
Segundo a polícia, o filho da cabo, Marcelo Eduardo Bovo Pesseghini, 13, é o principal suspeito de ter matado a mãe, o pai, o sargento da Rota Luís Marcelo Pesseghini, 40, a avó, de 65 anos e a tia-avó, de 55 anos, na casa da família, na Brasilândia (zona norte de SP). Para a polícia, o crime ocorreu no dia 5 e o menino se matou após ir até a escola.
De acordo com Gomes, Andreia avisou sobre o convite do roubo a seu superior, o capitão Fábio Paganotto, então comandante da 1ª Companhia do 18º batalhão. Paganotto tentou apurar o fato e acabou transferido, posteriormente, para o 9º batalhão. Gomes disse que os PMs não foram punidos.
Paganotto foi um dos policiais que se envolveram, com PMs da Rota, na ocorrência que deixou seis suspeitos mortos em uma suposta tentativa de roubo a caixas eletrônicos no supermercado Comprebem, em Parada de Taipas (zona norte de SP), em agosto de 2011.
Na última quarta-feira, o tenente-coronel Wagner Dimas, então comandante do 18º batalhão, disse em entrevista à rádio Bandeirantes que a cabo havia delatado colegas envolvidos em roubo a caixas eletrônicos e que não acreditava que o menino fosse o responsável pelas mortes. No dia seguinte, ele foi chamado para depor na Corregedoria da PM e desmentiu os fatos.
Dimas foi afastado anteontem do comando do 18º batalhão. A PM não quis se pronunciar sobre o afastamento nem sobre as declarações de Gomes.
CENA DO CRIME
A casa onde a família foi morta não teve a cena de crime totalmente preservada. A informação consta de nota divulgada ontem pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo.
“O departamento [Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa, DHPP] apenas confirmou afirmação da imprensa de que o local ‘não estava totalmente idôneo’. Isso, evidentemente, não quer dizer que houve violação proposital da cena do crime”, diz o texto.
Sebastião de Oliveira Costa, 54, parente das vítimas, disse, no último sábado, que chegou à casa às 17h45 do dia 5 e que havia ao menos 30 PMs dentro dela, antes da chegada da perícia.
A polícia pretende chamar para depor os policiais militares que entraram na casa antes da chegada da perícia.
(Por Folha Press e Pragmatismo Político)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..