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Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Jovem baiano, criador do Mídia Periférica, ganha prêmio de empreendedorismo

5 de Dezembro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Redação Correio Nagô* - Aos 22 anos, o jovem baiano Enderson Araújo de Jesus Santos, um dos criadores do blog Mídia Periférica, foi um dos 10 jovens empreendedores sociais selecionados para a edição 2012 do Prêmio Laureate Brasil.

Na última sexta-feira (30), em São Paulo, Enderson recebeu o troféu do prêmio que tem por objetivo “reconhecer jovens empreendedores sociais que promovam mudanças significativas nas comunidades em que atuam”.


“Para mim foi um reconhecimento que simbolizou muito pelo que eu já passei na vida. Eu não tinha perspectiva de futuro. Depois da oficina do Instituto Mídia Étnica, pude visualizar algo não só para mim como também para minha comunidade”, comemora Enderson que ainda é blogueiro do Ibahia.

O projeto premiado foi criado em 2010, após o estudante que pretende ser jornalista e já atua como correspondente do Portal Correio Nagô em Salvador, ter participado do curso de Direito a comunicação e produção de vídeo ministrado pelo Instituto Mídia Étnica (IME) na comunidade de Sussuarana, na capital baiana, e fundaram o Grupo de Comunicadores Jovens Mídia Periférica.

O objetivo, segundo os criadores, era contrapor o que costuma ser exibido em “programas sensacionalistas de maior audiência da Mídia Convencional, que excluem a cultura das periferias e muitas vezes usam as comunidades como cenário para suas matérias sensacionalistas, utilizando imagens de miséria e desgraças”, descreve o grupo no blog.

“O Mídia Periférica quer empoderar a comunidade através da comunicação. A gente tem várias articulações”, complementa o jovem premiado, que faz questão ainda de lembrar das dificuldades que enfrentou na trajetória de dois anos do blog. “Não tinha nem computador. Eu fazia as coisas em uma lan house, tentando montar o blog e depois alimentando”, ressalta.

Para ele, a importância do prêmio se estende aos jovens de todas as comunidades. “O prêmio revigora não só o Mídia Periférica como dá outro olhar aos jovens da comunidade para se ver como atores e dá alternativas que não as drogas e o crime”, diz.


Recentemente, com objetivo de expandir a visibilidade das periferias de Salvador, o grupo criou uma campanha no Facebook que teve grande repercussão. Na página do grupo foram compartilhadas fotos de várias comunidades da capital baiana com o intuito de transformá-las em cartões postais.

Empreendedorismo – Ainda como parte da premiação, os jovens participaram de um curso sobre empreendedorismo e que terá duração de seis meses. “O curso é uma parte presencial e outra a distância. O objetivo é entender como tornar esse projeto sustentável”, disse o jovem que soube da premiação há duas semanas enquanto participava de uma reunião com a comunidade.

Os participantes foram selecionados, de acordo com informações da premiação, após a análise de inúmeros projetos e a realização de diversas entrevistas com candidatos que foram classificados para a segunda fase do processo. A escolha foi feita pelo Comitê de Seleção – formado por pessoas de organizações governamentais, não governamentais e áreas acadêmicas.

Os jovens passarão a integrar também uma rede global de líderes mundiais, que têm atuação em diversos países e ganharão um prêmio em dinheiro para ajudar nos projetos.

Conheça os 10 jovens selecionados nesta edição, em ordem alfabética:



Assista o vídeo com o discurso de Enderson no evento


*Por Anderson Sotero



A era dos monólogos desenfreados

4 de Dezembro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Tenho por hábito não me exceder em meus atos, em eventos cotidianos. Não quero chamar isso de humildade (não deve ser) e essa questão nem me interessa. O problema é outro.

Em meus relacionamentos diários, alguns obrigatórios e outros por livre escolha, quase sempre me deparo com situações que poderia classificar como extremas. Digo extremas porque as pessoas parecem muito empenhadas em ultrapassar os limites. Parecem viver já no limiar de todas as coisas.


Quem dirige um veículo motorizado, por exemplo, não somente se locomove através de uma máquina, mas corre no limite da pressa, passando por cima das pessoas (sem desejar a morte) e desrespeitando as leis (sem desejar ser multado). Nas relações empregatícias, o bem-estar pessoal fica por cima de tudo, ainda que isso lhe traga dor e desconforto.

Aqueles que costumam discutir política, futebol e religião, não compartilham pensamentos, ideias e sentimentos. Suas palavras ultrapassam seus lábios como quem defende a própria vida, como se estivesse no limiar da morte. Reconhecer-se errado? Jamais. Construir algo junto? Nunca. Somos egoístas.

Não há dúvida: cometo erros com certa frequência. Mas viver no limite extremado de todas as coisas parece-me um excesso para lá de estúpido. Muitas vezes me pergunto: onde aprendemos a viver assim? Por que não entendemos que o meu bem-estar depende obrigatoriamente do bem-estar daqueles que vivem ao meu redor. E quando digo "ao meu redor", refiro-me também ao motorista insano que por nada quase atropela alguém, ao chefe que brada e mente para impor sua vontade (mesmo na posição de chefe), ao enfermeiro que cuida de um idoso e o espanca na solidão de uma casa.

Queria mesmo compreender que limiar é este que nos leva a infringir os bons costumes, as gentilezas, os sorrisos e as caridades. Queria entender por que depositamos tanta energia em dissimulações, mentiras e encenações e abraçamos nossos colegas sem nenhum aperto ou emoção?

Temos tantos discursos de 'bom-mocismo' preparados em nossa língua, tantos conselhos e opiniões. Até mesmo um falso "você precisa de ajuda" disparamos para completar nosso mise en scène, mesmo que em nosso íntimo estejamos gritando "não peça nada, por favor". Vivemos no limiar da morte, cansados demais para viver, empenhados em defender nosso ego e repletos de platitudes para o bem-estar alheio.

Quem sabe se tivéssemos a efêmera oportunidade de conversar com "aquele idiota" que atravessou correndo na frente do meu carro possante, poderíamos entender, de repente, que sua corrida á para salvar alguém. E uma leve pisada no freio de seu poderoso carro também não atrapalharia sua rápida e atribulada ida ao cartório. Quero dizer que você pode ir correndo ao banco sem precisar odiar e atropelar um ser humano que tenha labirintite, por exemplo. Você pode presidir uma instituição ou uma empresa sem sacanear e humilhar ninguém.

Você não sabe de tudo. Ninguém sabe. Mas para cada coisa que não sabemos sempre haverá a fabulosa oportunidade de perguntar. Tente. Converse com seu semelhante, este ser humano de carne e osso que seus olhos miram. Afinal, estamos na era da comunicação e parece que somos incapazes de dialogar. Perdão. Talvez estejamos na era dos monólogos desenfreados de mim, para mim e sobre mim. Perdão.

*Foto publicada no Portal Terra. Cidade de Dresden, Alemanha, na Segunda Guerra Mundial.



A língua e as línguas do Brasil

4 de Dezembro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Continuando a série Tupi Guarani Nheengatu*, iniciada com a postagem intitulada O Tupi, o guarani, o nheengatu e o português, segue matéria publicada em 1998 na revista Super Interessante.

No auge de sua loucura, o ultranacionalista personagem de Triste Fim de Policarpo Quaresma, livro clássico de Lima Barreto (1881-1922), conclamava seus contemporâneos a abandonar a língua portuguesa em favor do tupi. Hoje, 83 anos depois da publicação da obra, o sonho da ficção surge na realidade. O novo Policarpo é um respeitado professor e pesquisador de Letras Clássicas da Universidade de São Paulo (USP), Eduardo Navarro. Há dois meses, ele fundou a Tupi Aqui, uma organização não-governamental (ONG) que tem por objetivo lutar pela inclusão do idioma como matéria optativa no currículo das escolas paulistas. “Queremos montar vinte cursos de tupi em São Paulo no ano que vem”, disse à SUPER. O primeiro passo já está dado: em maio, Navarro lançou o seu Método Moderno de Tupi Antigo e, em setembro, colocou nas livrarias Poemas – Lírica Portuguesa e Tupi de José de Anchieta (ambos pela Editora Vozes), edição bilíngüe de obras do primeiro escritor em língua tupi (veja na página 83).


À primeira vista o projeto parece birutice. Só que há precedentes. Em 1994, o Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro aprovou uma recomendação para que o tupi fosse ensinado no segundo grau. A decisão nunca chegou a ser posta em prática por pura falta de professores. Hoje, só uma universidade brasileira, a USP, ensina a língua, considerada morta, mas ainda não completamente enterrada.

Em sua forma original, o tupi, que até meados do século XVII foi o idioma mais usado no território brasileiro, não existe mais. Mas há uma variante moderna, o nheengatu (fala boa, em tupi), que continua na boca de cerca de 30 000 índios e caboclos no Amazonas. Sem falar da grande influência que teve no desenvolvimento do português e da cultura do Brasil. “Ele vive subterraneamente na fala dos nossos caboclos e no imaginário de autores fundamentais das nossas letras, como Mário de Andrade e José de Alencar”, disse à SUPER Alfredo Bosi, um dos maiores estudiosos da Literatura do país. “É o nosso inconsciente selvagem e primitivo.”

Todo dia, sem perceber, você fala algumas das 10 000 palavras que o tupi nos legou. Do nome de animais, como jacaré e jaguar, a termos cotidianos como cutucão, mingau e pipoca. É o que sobrou da língua do Brasil.

Índio: "Você conhece a minha língua?"
Bandeirante: "Sim. conheço! Sou um grande falador dela!"


Do Ceará a São Paulo, mudavam só os dialetos

Quando ouvir dizer que o Brasil é um país tupiniquim, não se irrite. Nos primeiros dois séculos após a chegada de Cabral, o que se falava por estas bandas era o tupi mesmo. O idioma dos colonizadores só conseguiu se impor no litoral no século XVII e, no interior, no XVIII. Em São Paulo, até o começo do século passado, era possível escutar alguns caipiras contando casos em língua indígena. No Pará, os caboclos conversavam em nheengatu até os anos 40.

Mesmo assim, o tupi foi quase esquecido pela História do Brasil. Ninguém sabe quantos o falavam durante o período colonial. Era o idioma do povo, enquanto o português ficava para os governantes e para os negócios com a metrópole. “Aos poucos estamos conhecendo sua real extensão”, disse à SUPER Aryon Dall’Igna Rodrigues, da Universidade de Brasília, o maior pesquisador de línguas indígenas do país. Os principais documentos, como as gramáticas e dicionários dos jesuítas, só começaram a ser recuperados a partir de 1930. A própria origem do tupi ainda é um mistério. Calcula-se que tenha nascido há cerca de 2 500 anos, na Amazônia, e se instalado no litoral no ano 200 d.C. “Mas isso ainda é uma hipótese”, avisa o arqueólogo Eduardo Neves, da USP.

Três letras fatais

Quando Cabral desembarcou na Bahia, a língua se estendia por cerca de 4 000 quilômetros de costa, do norte do Ceará a Iguape, ao sul de São Paulo. Só variavam os dialetos. O que predominava era o tupinambá, o jeito de falar do maior entre os cinco grandes grupos tupis (tupinambás, tupiniquins, caetés, potiguaras e tamoios). Daí ter sido usado como sinônimo de tupi. As brechas nesse imenso território idiomático eram os chamados tapuias (escravo, em tupi), pertencentes a outros troncos lingüísticos, que guerreavam o tempo todo com os tupis. Ambos costumavam aprisionar os inimigos para devorá-los em rituais antropofágicos. A guerra era uma atividade social constante de todas as tribos indígenas com os vizinhos, até com os da mesma unidade lingüística.

Um dos viajantes que escreveram sobre o Brasil, Pero Magalhães Gândavo, atribuiu, delirantemente, a belicosidade dos tupinambás à língua. “Não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, pois assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei e, desta maneira, vivem sem justiça e desordenadamente”, escreveu em 1570. Para os portugueses, portanto, era preciso converter os selvagens à fé católica, o que só aconteceu quando os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil, em 1553. Esses missionários se esmeraram no estudo do tupi e a eles se deve quase tudo o que hoje é conhecido sobre o idioma.

Também, não havia outro jeito. Quando Portugal começou a produzir açúcar em larga escala em São Vicente (SP), em 1532, a língua brasílica, como era chamada, já tinha sido adotada por portugueses que haviam se casado com índias e por seus filhos. “No século XVII, os mestiços de São Paulo só aprendiam o português na escola, com os jesuítas”, diz Aryon Rodrigues. Pela mesma época, no entanto, os faladores de tupi do resto do país estavam sendo dizimados por doenças e guerras. No começo daquele mesmo século, a língua já tinha sido varrida do Rio de Janeiro, de Olinda e de Salvador, as cidades mais importantes da costa. Hoje, os únicos remanescentes dos tupis são 1 500 tupiniquins do Espírito Santo e 4 000 potiguaras da Paraíba. Todos desconhecem a própria língua. Só falam português.

Haja parente!

O tupi e outras línguas de sua família.

É comum ver políticos do hemisfério norte confundindo o Brasil com a Argentina e o espanhol com o português. Pois a mesma confusão é feita, aqui no Brasil, com as línguas dos índios. Poucos sabem, mas é errado dizer que os índios falavam tupi-guarani. “Tupi-guarani é uma família lingüística, não um idioma”, explica o lingüista Aryon Rodrigues. Ele a compara à família neolatina, à qual pertencem o português, o espanhol e o francês. Os três têm uma origem comum, o latim, mas diferem uns dos outros. O extinto tupi antigo, o ainda usadíssimo guarani moderno – falado por quase

5 milhões de pessoas no Paraguai e 30 000 no Brasil – e outros 28 idiomas derivam de uma mesma fala, o proto-tupi. Os guaranis e os tupis até que se entendiam. Mas, dentro da família, eles são apenas parentes próximos, não irmãos. Para perguntar “qual é o seu nome”, um guarani diria Mba’eicha nde r’era?, e um tupiniquim, Mamõ-pe nde r’era?. Não dá para confundir, dá?

O primeiro gramático

Joseph de Anxieta, mais tarde José de Anchieta (1534-1595), sempre foi poliglota. Nascido nas Ilhas Canárias, era filho de pai basco e aprendeu, ao mesmo tempo, o castelhano e o complicado idioma paterno. Adolescente, mudou-se para Portugal, onde estudou o português, o latim e o grego.

Por tudo isso, não é de espantar que Anchieta tenha aprendido o tupi tão depressa. Seus companheiros diziam que ele tinha facilidade porque a língua era igualzinha ao basco que assimilara quando pequeno. Bobagem. Tão logo pôs os pés no Brasil, em 1553, aos 19 anos, começou a desenvolver a primeira gramática da língua da terra. Em 1560, sua Arte de Grammatica da Lingoa Mais Vsada na Costa do Brasil já era um best-seller entre os jesuítas. O livro, que só seria impresso em 1595, virou leitura de cabeceira dos jovens padres encarregados da catequese. Com ele, nascia o tupi escrito, que Anchieta usou para compor mais de oitenta poemas sacros e peças de teatro, inaugurando a literatura brasileira.

O português foi imposto por decreto

Há 300 anos, morar na vila de São Paulo de Piratininga (peixe seco, em tupi) era quase sinônimo de falar língua de índio. Em cada cinco habitantes da cidade, só dois conheciam o português. Por isso, em 1698, o governador da província, Artur de Sá e Meneses, implorou a Portugal que só mandasse padres que soubessem “a língua geral dos índios”, pois “aquela gente não se explica em outro idioma”.

Derivado do dialeto de São Vicente, o tupi de São Paulo se desenvolveu e se espalhou no século XVII, graças ao isolamento geográfico da cidade e à atividade pouco cristã dos mamelucos paulistas: as bandeiras, expedições ao sertão em busca de escravos índios. Muitos bandeirantes nem sequer falavam o português ou se expressavam mal. Domingos Jorge Velho, o paulista que destruiu o Quilombo de Palmares em 1694, foi descrito pelo bispo de Pernambuco como “um bárbaro que nem falar sabe”. Em suas andanças, essa gente batizou lugares como Avanhandava (lugar onde o índio corre), Pindamonhangaba (lugar de fazer anzol) e Itu (cachoeira). E acabou inventando uma nova língua.

“Os escravos dos bandeirantes vinham de mais de 100 tribos diferentes”, conta o historiador e antropólogo John Monteiro, da Universidade Estadual de Campinas. “Isso mudou o tupi paulista, que, além da influência do português, ainda recebia palavras de outros idiomas.” O resultado da mistura ficou conhecido como língua geral do sul, uma espécie de tupi facilitado.

No Maranhão e no Pará também surgiu uma língua geral, o nheengatu, cruzamento do dialeto tupinambá com idiomas indígenas da Amazônia. O nheengatu imperou em Belém e São Luís até os idos de 1750 e chegou a ser ensinado pelos jesuítas, junto com o português. Foi adotado até por índios de línguas dos troncos jê, aruak e karib, que acabaram esquecendo seu modo de expressão original.

Coisa do diabo

Irritado com o uso generalizado das línguas nativas, o Marquês de Pombal (1699-1782), que então governava Portugal e suas colônias, resolveu impor o português na marra, por decreto, em 1758. Num documento maluco, o Alvará do Diretório dos Índios, proibiu o uso de todas as línguas indígenas e o ensino do nheengatu, “invenção diabólica” dos jesuítas. No ano seguinte, vilas de toda a Amazônia foram rebatizadas com topônimos portugueses. Surgiram, assim, Santarém e Óbidos no Pará, Barcelos e Moura no Amazonas.

A briga culminaria com a expulsão dos jesuítas, em 1759. “Mas a língua geral não sumiu de imediato”, observa o etno-historiador José de Ribamar Bessa Freire, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. “O português só veio se firmar no final do século passado, quando os nordestinos migraram em massa para a Amazônia, atrás da borracha.” Hoje, o uso daquela língua geral se restringe à região do alto Rio Negro e a um pedaço da Venezuela.

Como os índios, o tupi chegou ao final do século XX. Modificado, reduzido, mas ainda respirando. Da próxima vez que alguém chamar o Brasil de tupiniquim na sua frente, orgulhe-se. O país deve muito aos tupis. E até fala um pouquinho da língua deles.

Oui, francês fala tupi

Além de influenciar o português brasileiro, o tupi transbordou para outras línguas. Os índios bororos, do Mato Grosso, até hoje chamam anta de tapira e tesoura de piraia (piranha), palavras de origem tupi introduzidas pelos bandeirantes. Mas a língua também chegou à Europa. Os franceses, que ocuparam o Rio de Janeiro por vinte anos (de 1555 a 1575), carregaram um monte de palavras nativas. Foram tantas que um padre francês, Constantin Tastevin, elaborou no século XVI um dicionário dos tupinismos franceses. Veja alguns dos que ainda sobrevivem:

acajou (caju) - de acaîú
ananas (abacaxi) - de na’na
boucan (carne defumada) - de moka’em
jaguar (onça) - de jagûara
manioc (mandioca) - de mandi’oka
petun (tabaco) - petyma
tapir (anta) - tapi’ira

Para saber mais: 
Línguas Brasileiras – Para o Conhecimento das Línguas Indígenas, de Aryon Dall’Igna Rodrigues. Edições Loyola, São Paulo, 1994.
Negros da Terra – Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo, de John Manuel Monteiro. Companhia das Letras, São Paulo, 1994.
O começo do fim



Ascensão e queda de um idioma
Século XVI

O tupi, principalmente o dialeto tupinambá, que ficou conhecido como tupi antigo, é falado da foz do Amazonas até Iguape, em São Paulo. Em vermelho, você vê os grupos tapuias, como os goitacás do Rio de Janeiro, os aimorés da Bahia e os tremembés do Ceará, que viviam em guerra com os tupis. De Cananéia à Lagoa dos Patos fala-se o guarani.

Séculos XVII/XVIII

O extermínio dos tupinambás, a partir de 1550, a imigração portuguesa maciça e a introdução de escravos africanos praticamente varre o tupi da costa entre Pernambuco e Rio de Janeiro. Em São Paulo e no Pará, no entanto, ele permanece como língua geral e se espalha pelo interior, levado por bandeirantes e jesuítas.

Século XX

O português se consolida a partir da metade do século XVIII. O tupi antigo desaparece completamente, junto com outras línguas indígenas (das 340 faladas em 1500, sobrevivem, hoje, apenas 170). A língua geral da Amazônia, o nheengatu, continua sendo falada no alto Rio Negro e na Venezuela por cerca de 30 000 pessoas.

O mundo em palavras

Uma língua que só expressa o concreto.

Em tupi, todos os verbos no infinitivo são substantivos.
Assim, nhe’enga é “a fala”, e não “falar”. O verbo só vai existir se estiver ligado a uma pessoa. Como em ere-nhe’eng, ou “tu falas”.

A realidade ajuda a criar conceitos abstratos.
“Silêncio”, por exemplo, é kirir˜i, inspirado no cri-cri dos insetos na mata, à noite.

Elementos da natureza nunca são ligados à idéia de posse.
Você diz xe py (meu pé) ou xe u’uba (minha flecha), mas nunca faz o mesmo para elementos da natureza. Em tupi, não se diz nde ybyrá (tua árvore), mas somente ybyrá (árvore).

Não existe tempo verbal. Todos os verbos estão no passado.
Para dizer “eu saio” e “eu saí” a expressão é a mesma: a-sem.

O dia de hoje não é um período de tempo, mas um lugar iluminado pelo sol.
Para se falar hoje, diz-se Kó ‘ara pupé (dentro desta claridade), expressão que poderia ser desenhada como abaixo.

Sobre a série Tupi Guarani Nheengatu* - reunião de textos e informações sobre nossas línguas ancestrais, o tupi, o guarani e o nheengatu. Participe, colabore e envie material.



A moral de velhas prostitutas

4 de Dezembro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Onde foi parar o rigor jornalístico brasileiro?

Por Leandro Fortes, publicado no Facebook

Aos poucos, sem nenhum respeito ou rigor jornalístico, boa parte da mídia passou a tratar Rosemary Noronha como amante do ex-presidente Lula. A “namorada” de Lula, a acompanhante de suas viagens internacionais, a versão tupiniquim de Ana Bolena, quiçá a reencarnação de Giselle, a espiã nua que abalou Paris.

Como a versão das conversas grampeadas entre ela e Lula foi desmentida pelo Ministério Público Federal, e é pouco provável que o submundo midiático volte a apelar para grampos sem áudio, restou essa nova sanha: acabar com o casamento de Lula e Marisa.

Já que a torcida pelo câncer não vingou e a tentativa de incluí-lo no processo do mensalão está, por ora, restrita a umas poucas colunas diárias do golpismo nacional, o jeito foi apelar para a vida privada.

Lula pode continuar sendo popular, pode continuar como referência internacional de grande estadista que foi, pode até eleger o prefeito de São Paulo e se anunciar possível candidato ao governo paulista, para desespero das senhoras de Santana. Mas não pode ser feliz. Como não é possível vencê-lo nas urnas, urge, ao menos, atingi-lo na vida pessoal.

Isso vem da mesma mídia que, por oito anos, escondeu uma notícia, essa sim, relevante, sobre uma amante de um presidente da República.

Por dois mandatos, Fernando Henrique Cardoso foi refém da Rede Globo, uma empresa beneficiária de uma concessão pública que exilou uma repórter, Míriam Dutra, alegadamente grávida do presidente. Miriam foi ter o filho na Europa e, enquanto FHC foi presidente, virou uma espécie de prisioneira da torre do castelo, a maior parte do tempo na Espanha.

Não há um único tucano que não saiba a dimensão da dor que essa velhacaria causou no coração de Ruth Cardoso, a discreta e brilhante primeira-dama que o Brasil aprendeu desde muito cedo a admirar e respeitar. Dona Ruth morreu com essa mágoa, antes de saber que o incauto marido, além de tudo, havia sido vítima do famoso “golpe da barriga”. O filho, a quem ele reconheceu quando o garoto fez 18 anos, não é dele, segundo exame de DNA exigido pelos filhos de Ruth Cardoso. Uma tragicomédia varrida para debaixo do tapete, portanto.

O assunto, salvo uma reportagem da revista Caros Amigos, jamais foi sequer aventado por essa mesma mídia que, agora, destila fel sobre a “namorada” de Lula. Assim, sem nenhum respeito ao constrangimento que isso deve estar causando ao ex-presidente, a Dona Marisa e aos filhos do casal.

Liberados pela falta de caráter, bom senso e humanidade, a baixa assessoria de tucanos, entre os quais alguns jornalistas, tem usado as redes sociais para fazer piadas sobre o tema, palhaços da tristeza absorvidos pela vilania de quem lhes confere o soldo.

Esse tipo de abordagem, hipócrita sob qualquer prisma, era o fruto que faltava ser parido desse ventre recheado de ódio e ressentimento transformado em doutrina pela fracassada oposição política e por jornalistas que, sob a justificativa da sobrevivência e do emprego, se prestam ao emporcalhamento do jornalismo.



Israel confisca impostos da Palestina

3 de Dezembro de 2012, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

O ministro das Finanças de Israel, Yuval Steinitz, anunciou domingo (2) que não irá transferir mais de 93 milhões de euros das receitas fiscais da Palestina. Todos os impostos e taxas dos produtos que entram em território palestino, bem como sobre o rendimento dos palestinos que trabalham em Israel, são retidos mensalmente por Tel Aviv e representam mais de metade do orçamento da ANP. Confisco dos impostos e anúncio de novas colônias são represália de Israel contra ingresso da Palestina na ONU como Estado observador.

Publicado na Carta Maior

Em represália ao reconhecimento da Palestina como Estado observador pela ONU, Israel já tinha anunciado a expansão de suas colônias nos territórios ocupados na Cirjordânia. Neste domingo, o ministro das Finanças israelense anunciou que não irá transferir mais de 93 milhões de euros das receitas fiscais da Palestina.

"Não penso transferir o dinheiro este mês, vamos utilizá-lo para pagar as dívidas da Autoridade Nacional Palestina (ANP) contraídas junto da empresa de eletricidade (de Israel)", disse Yuval Steinitz à Radio Israel. Todos os impostos e taxas dos produtos que entram em território palestino, bem como sobre o rendimento dos palestinos que trabalham em Israel, são retidos mensalmente por Telaviv e representam mais de metade do orçamento da ANP.

Esta não é a primeira vez que Israel congela os pagamentos das receitas fiscais à Palestina, provocando a falta de liquidez e salários em atraso para os funcionários públicos na Cisjordânia e em Gaza. Há um ano, quando a UNESCO acolheu a Palestina, os pagamentos foram congelados. Desta vez, o estrangulamento financeiro da frágil economia palestina surge como mais uma represália por ter avançado com o pedido de reconhecimento por parte das Nações Unidas, votado na quinta-feira com apenas nove países a votarem contra.

Na sexta-feira, Israel tinha anunciado a expansão das colônias ilegais em Jerusalém Leste e na Cisjordânia, com planos para construir mais três mil casas. "Deixámos bastante claro aos americanos que se os palestinos forem para as Nações Unidas, esta será a nossa resposta", afirmou o ministro Steinitz. Pela voz de Hillary Clinton, os Estados Unidos não condenaram abertamente o plano, apelidando-o de contraprodutivo. De Londres, o ministro dos Negócios Estrangeiros William Hague fez saber que "o Reino Unido aconselha fortemente o Governo de Israel a reverter esta decisão".

O confisco dos impostos e o impulso à ocupação ilegal da Palestina são apenas duas das medidas da lista de sanções que Israel usou como ameaça à ANP nas últimas semanas. Tel Aviv teme que com o novo estatuto nas Nações Unidas, a Palestina possa recorrer de pleno direito ao Tribunal Penal Internacional e levar finalmente ao banco dos réus os crimes de guerra e as violações dos direitos humanos cometidas por Israel. Mas as sanções podem também vir de Washington, que ameaçou com o corte de mais de 150 milhões de euros em ajudas à Palestina.

"Vocês são mais fortes que esta ocupação"
O presidente palestino Mahmoud Abbas teve um regresso em glória a Ramallah, três dias após esta vitória no campo da diplomacia. "Agora temos um Estado. A Palestina obteve um sucesso histórico nas Nações Unidas", afirmou Abbas, dedicando o feito ao líder histórico Yasser Arafat.

"O mundo gritou bem alto: sim ao Estado da Palestina, sim à liberdade da Palestina, sim à independência da Palestina. Não à agressão, não às colônias, não à ocupação", exclamou Mahmoud Abbas à multidão que o aguardava em Ramallah. "Levantem a cabeça porque vocês são palestinos. São mais fortes que esta ocupação, mais fortes que esta agressão, mais fortes que os colonos israelenses porque vocês são palestinos", acrescentou o presidente do novo Estado observador nas Nações Unidas.