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Fórmula do MEC pra acabar com greve nas universidades: pelegos, pressão e reitores amigos
9 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaO comunicado oficial emitido pelo MEC mostra que a aposta do Governo é sufocar de todas as formas os professores para que acabem com a greve nas universidades federais.
A estratégia é clara:
- Assinar um acordo com os pelegos do Proifes para justificar politicamente o acordo
- Pressionar psicologicamente os professores, avisando que a partir de agora não terá mais negociação
- Articular reitores petistas amigos de grandes universidades para acabarem com a greve
- Se isso não funcionar, parte-se para o próximo passo: corte de salários
Apenas rememorando o que aconteceu.
Após levarem um cano em um acordo em março, os professores decretaram greve a partir de 17 de maio. Depois disso, por várias vezes o Governo desmarcou reuniões.
Depois de praticamente 60 dias, o MEC de Mercadante e Amaro Lins (foto), apresentou uma proposta que apenas repõe a inflação desde 2010. Isso dividido em 3 vezes, até 2015.
A ideia era clara: fazer um acordo de 3 anos, porque isso evita greves posteriores.
Os professores não aceitaram o acordo, pois alguns “bodes” haviam sido colocados, como o aumento das horas-aula em troca de nada.
O Governo pega a mesma proposta e a apresenta com cara de nova. Tirou os “bodes” e deu R$ 90,00 a mais apenas para os mestres, em 2015.
Isso mesmo, a diferença de uma proposta para a outra é um acréscimo de R$ 90,00 para os que possuem apenas o título de mestre. Para os doutores, nada mais.
Logo após o fim da reunião, os pelegos do Proifes saíram acenando para a “conquista” da categoria.
Novamente rechaçada a proposta pelas assembleias docentes, o Governo resolveu dizer que encerrava a negociação e ponto final.
Passamos agora para o segundo ponto da estratégia de Mercadante e Amaro: pressionar psicologicamente os docentes, tentando criar um racha com parte dos professores, já que alguns desejam a saída da greve.
Antes que alguém pense em culpar estes professores, é bom que saibam que grande parte não gosta de greve, já que é uma desmotivação muito grande para quem gosta da Universidade. Esta parte aderiu à greve porque os salários estão muito baixos.
O terceiro ponto da estratégia do MEC começa a dar sinais visíveis.
Nas assembleias realizadas na UFPE e na UFRJ, grupos razoavelmente númerosos para assembleias docentes (em torno de 30 professores), resolveram aparecer para “encaminhar pedidos” de inclusão na pauta de próximas assembleias a “saída da greve”.
A coincidência (não acredito nelas), é que estas duas universidades tem como reitores, petistas ligados justamente a Amaro Lins e Aloisio Mercadante.
No caso da UFPE, que conheço bem pois sou professor de lá e fui o candidato da oposição à atual gestão, o atual reitor não dá um passo sequer sem perguntar a Amaro (ex-Reitor da UFPE) o que fazer, já que ainda deve o mandato ao amigo do MEC.
Em um caso sui generis, reúne-se com os professores em Recife e diz que a greve é justa. Pega um avião, vai a Brasília e dá entrevista dizendo que está na hora da greve acabar pois a proposta é boa. Para o Correio Braziliense, disse: “A afirmação do mérito, melhoria do salário inicial da carreira, tornando-a mais atrativa, bem como a antecipação dos reajustes salariais para março do próximo ano, possibilitam enfrentarmos os desafios seguintes de forma concreta”
O mesmo acontece com a UFRJ, cujo Reitor é próximo de Mercadante.
E esse movimento para acabar com a greve nas assembleias via articulação das reitorias pode crescer nas próximas assembleias, já que as administrações possuem centenas de cargos comissionados, além de uma capilaridade impressionante junto aos docentes.
Neste momento a greve fica em um impasse difícil de ser solucionado: por um lado o Governo resolve fechar as portas, por outro sabe-se que a proposta do Andes nem mesmo tem apoio intenso de toda a categoria, já que parte dos professores com doutorado gostaria de uma proposta com ênfase mais meritocrática. Acabou conseguindo a adesão da grande maioria porque o salário está muito baixo. Mas exigir uma proposta unânime neste momento seria pedir demais.
Independente disso, voltar ao trabalho depois dessa estratégia truculenta e indecente do Governo seria o reconhecimento de uma derrota acachapante. Seria aceitar o papel de submisso em uma luta por melhores salários e condições de trabalho, já que profissionais de categorias semelhantes, como pesquisadores do IPEA e MCT conseguiram carreiras muito melhores no Governo Lula.
Por incrível que pareça, hoje ganhamos menos que em 1998, no meio do Governo FHC.
Isso sem falar de universidades cujas salas de aula estão instaladas provisoriamente em galpões ou containers.
No próximo post sobre a greve irei falar sobre a previsão para o próximo semestre, que é assunto de interesse de todos.
(Publicado no Acerto de Contas)
Manuel Castells: 'Quando a internet, como espaço livre de comunicação, combinou-se com a ocupação dos espaços públicos, o jogo começou a mudar'
8 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaManuel Castells: 'Quando a internet, como espaço livre de comunicação, combinou-se com a ocupação dos espaços públicos, o jogo começou a mudar' |
Francisco Guaita - Você costuma dizer que o poder não está na Casa Branca, nem nos mercados financeiros, mas em nosso próprio cérebro. Por que este é um segredo das elites?
Manuel Castells - Bem, é porque se eles nos contarem isso, perdem o poder. O poder real não é o poder da polícia ou do exército: estes só são utilizados em último caso, quando as coisas estão muito mal para o interesse dos poderosos. O mais importante, se você quiser ter poder sobre mim, é conseguir que eu pense de uma forma que favoreça o que você quer, ou que me resigne. Aí está o poder! Portanto, o essencial é o poder que está na mente, e a mente se organiza em função de redes de comunicação e neurológicas no nosso cérebro que estão em contato com as redes de comunicação em nosso entorno. Quem controla a comunicação controla o cérebro e, dessa forma, controla o poder.
Francisco Guaita - Movimentos como o Occupy tentam se apoderar das praças e das ruas para dizer que isso não funciona, querem que o poder venha das pessoas. Essa é uma demanda que, para muitos, não terá nenhum resultado na política ou na economia. O que você acha sobre isso?
Manuel Castells - Depende do que você entende como resultado. Se você quer dizer que disso sai um partido político que ganhe as eleições nos próximos dois anos, não é possível ter certeza. Todos esses movimentos colhem frutos em longo prazo. O slogan mais difundido dos indignados e das indignadas é 'Vamos devagar, porque vamos longe'. Vamos longe para onde? Uma mudança na mente dos cidadãos, depois de algum tempo, se converterá em mudança social.
Os dados mostram que na Espanha aproximadamente 70% dos cidadãos concordam com as críticas dos indignados. A maioria dos cidadãos também pensa que não poderá mudar as coisas em curto prazo. As duas coisas são compatíveis. As pessoas pensam que o movimento tem razão, mas não tem os instrumentos.
Francisco Guaita - Se é uma grande maioria, por que não houve transformações?
Manuel Castells - Não, por que não há em quem votar. O próprio movimento não quis criar um partido para não reproduzir a velha política. Existe um abismo tão grande entre o que seus integrantes pensam e o sistema político real que não há uma expressão política capaz de representá-los. Por exemplo, se o Partido Socialista tivesse sido capaz de prever que um movimento assim poderia revitalizá-lo, haveria um caminho. Mas os socialistas envolveram-se totalmente com a especulação financeira. Eles geriram o Banco de España e foram totalmente incapazes de supervisionar o sistema financeiro, porque isso não lhes interessava. Há uma grande lista de motivos pelos quais os indignados desaprovam os socialistas e os socialistas nunca fizeram nada para mudar.
As elites políticas de todos os países optaram por este rumo. Pensaram que não havia problema e seguem com seus negócios, pois o que conta são os votos a cada quatro anos, com uma lei eleitoral que os grandes partidos fizeram para que só eles mesmos pudessem ganhar. Nos Estados Unidos, se você não é democrata ou republicano não tem nenhuma chance. Além disso, se você não tem dinheiro, simplesmente não pode ganhar. Não se consegue voto se não se compra a campanha com dinheiro. As críticas, em todo o mundo sugerem que este tipo de democracia não é suficiente. Em consequência, sob essas regras do jogo, gastar toda a energia para fazer a política formal é uma operação sem sentido. Reproduz os velhos esquemas dos grupos de esquerda trotskistas, marxista-leninistas, de todos os tipos, que sempre estiveram nas instituições, mas nunca chegaram a nada. Ou que tentaram a revolução armada - o que ninguém quer, porque é um movimento claramente não-violento. Então, têm que fazer outra coisa. Eles vão por esse longo caminho da transformação das consciências para que em algum momento os cidadãos possam tomar outras decisões, e daí possam surgir novas forças políticas.
Francisco Guaita - Não é preciso mudar as regras?
Manuel Castells - Um dos grupos do movimento espanhol - porque não é o movimento, mas uma galáxia - pediu que eu fizesse uma proposta de reforma da lei eleitoral. Eu fiz com um amigo especialista nesse tema. É uma proposta de voto proporcional, de limitar o poder dos grandes partidos e fazer com que no parlamento as pessoas que não votam estejam presentes - inclusive visualmente, não como representantes, mas com espaços vazios. Se 30% dos cidadãos não votam, esses 30% devem estar marcados, e as maiorias de decisões de governo devem se constituir sobre o conjunto de cidadãos, não apenas sobre os que votaram.
Há uma série de coisas que poderíamos conseguir, mas há nas instituições políticas e nos partidos uma enorme resistência em ser realmente democráticos. Entre outros motivos, porque é um modo de vida, são profissionais da política. Em todos os países, a profissão que está nas posições mais baixas na lista de reputação é a da classe política. Na Itália, incluíram também prostitutas e mafiosos numa sondagem e eles ficaram em uma posição melhor que os políticos. As pessoas alegavam: "Pelo menos, estes dizem o que fazem".
Existe uma crise de confiança em todo o mundo em relação à classe política. Se isso continuar, em algum momento irão se romper as relações na sociedade, e isso seria muito grave. Na Espanha, há uma situação relativamente calma e pacífica. É sorte que com 22% de desemprego, 48% entre os jovens, não haja muitos problemas nas ruas. Este movimento canaliza os debates e protestos, oferece uma esperança, principalmente aos jovens, de que podem começar a se organizar e vamos ver o que acontece. Mas se a situação continuar assim, esse movimento necessariamente vai se radicalizar.
Francisco Guaita - Por que as instituições se separaram tanto das pessoas? Por que o abismo foi se expandindo?
Manuel Castells - Primeiro, porque as elites financeiras detêm o poder econômico e montaram um sistema no qual, em vez de emprestar para produzir, o que fazem é vender dinheiro para criar dinheiro artificial e montar uma pirâmide em que tudo é fictício, em nível global. Aumentaram artificialmente os preços dos imóveis e das ações e concederam empréstimos às pessoas, mesmo que não quisessem, porque o negócio era vender dinheiro e empréstimos em qualquer condição. Isso foi feito de forma totalmente irresponsável do ponto de vista da economia, mas de maneira muito interessante para os grandes executivos que agora estão deixando os bancos com indenizações milionárias. Para eles, tudo funcionou muito bem.
Francisco Guaita - Quando a justiça vai ganhar nestas regras do jogo que você propõe reconstruir?
Manuel Castells - Quando os cidadãos tiverem capacidade de mudar os políticos. Sim, as pessoas podem votar. Mas primeiro, podem fazê-lo apenas a cada quatro anos. Segundo, estão sob regras muito desiguais e por isso é muito complicado mudar algo através do voto.
A maior parte dos políticos é gente mais ou menos honesta. Não é verdade que sejam todos corruptos. Mas qual o objetivo central de um político? Conservar o posto. Esse é o aspecto mais importante. Para a maioria, é uma profissão. Se não fizerem isso, terão que trabalhar como todo mundo. Se mantiverem o poder terão melhores cargos, até porque a maioria não tem nível profissional muito alto.
Então a classe política se reproduz. Para entrar em um partido, você tem que começar aderindo a um dos grupos internos. É todo um mundo fechado em si mesmo, e esse mundo não tem ar. A novidade é que com a internet abriram-se janelas. Os políticos e banqueiros, juntos, controlam os meios de comunicação - mas não controlam os jornalistas que, por sorte, são a linha de resistência - mas orientam os proprietários dos meios de comunicação e, portanto, suas linhas editorias. Por consequência, temos o controle dos meios, das finanças (e, portanto, da economia) e o controle do Estado através de uma classe política que se reproduz.
Fora disso, só há a internet. E foi justamente a partir da internet que se construíram redes de debates, de organização, de ação. Mas para agir sobre a sociedade, as pessoas têm que sair de casa, ir às ruas. Foi quando a internet, como espaço livre de comunicação, combinou-se com a ocupação dos espaços públicos, transformados em ágoras, o jogo começou a mudar. Mas o movimento ainda não se traduziu em grandes mudanças na política, porque o sistema está fechado.
Francisco Guaita - Quão distante está o cidadão da realidade retratada nos meios de comunicação?
Manuel Castells - Depende do aspecto. Na Espanha, os meios de comunicação repetiram milhares de vezes, durante dois anos, as afirmações do presidente do Banco Central. Disseram que os bancos nacionais eram os mais seguros do mundo e não havia nenhum problema com os bancos espanhóis. Nenhum meio contestou isso. Ou são tontos e não têm capacidade de análise ou a cada vez que alguém sério tentava dizer algo havia um problema com a linha editorial.
O resultado é que os bancos espanhóis já devem 250 bilhões de euros ao Banco Central Europeu e agora dizem que vão pegar mais dezenas de bilhões. A dívida, portanto, é impagável, pois os bancos espanhóis estão quebrados. Significaria dizer aos cidadãos que seu dinheiro está em perigo e não sabem o que fazer. Há o risco de que o euro, no mínimo, se desvalorize ou até mesmo acabe. O governo não pode aconselhar os cidadãos a se desfazerem da moeda, mas deve tornar disponível a informação sobre o que está acontecendo, e os meios de comunicação também devem fazer isso.
Francisco Guaita - A internet abriu a janela, mas os meios de comunicação tradicionais ainda têm muitos leitores da rede. Os cidadãos podem se comunicar, mas não são figuras de referência, comparáveis às que aparecem na mídia. Como podemos aprender nos autoinformar?
Manuel Castells - Você tem razão. Mas começam a surgir saídas. Primeiro, as pessoas montam seu próprio jornal ou meio de comunicação on-line. Não lemos 'El Paí's ou 'El Mundo' ou 'La Vanguardia' inteiramente. Lemos um artigo aqui e outro lá, comparamos com outras fontes da imprensa estrangeira, ouvimos o que nossos amigos nos dizem. Fazemos um mosaico de informações. Não somos prisioneiros de um meio.
Francisco Guaita - Mas costuma-se dizer que o leitor procura reforçar o que pensa e não se informar por outras vias.
Manuel Castells - Você está certo. O que sabemos é que as pessoas buscam principalmente o reforço para suas opiniões, mas isso porque têm pouquíssima possibilidade de serem cidadãs, ativas. Reduzem-se a consumidores passivos. Não estão acostumadas a abrir suas próprias janelas. Se sua opção é entre os meios de comunicação que já existem, a atitude provável é: "Vou ver ou ler aquilo de que gosto mais".
Outra lógica se abre quando as pessoas entram em um espírito mais crítico, desconfiam dos meios. Aí começa outra atitude, que é a wiki-informação: eu informo meus amigos, meus amigos me informam, vamos discutindo e assim se organiza um grande debate na internet do qual saem coisas. Em função desse espírito crítico em rede, examina-se o que os diferentes meios estão dizendo. E esse espírito crítico reconstrói todos os mecanismos de informação, que passam a seguir um novo fluxo - de muitos para muitos - ao invés de todos receberem uma mensagem com muito poucos emissores.
Francisco Guaita - Você diz que vivemos na sociedade da informação, mas estamos desinformados, com uma educação muito pobre e, além disso, temos medo - uma ferramenta fundamental em todo esse mecanismo. Como funciona o medo, para que as regras do jogo não mudem e para que as mesmas pessoas sigam comandando as estruturas de poder?
Manuel Castells - Em primeiro lugar, a educação é pobre, mas comparando historicamente, estamos mais bem formados do que antes. Se há uma variável que se repete em todos os novos movimentos do mundo é o fato de serem constituídos por gente educada. Isso não quer dizer que ganham mais dinheiro. O ativista típico é o profissional recém-graduado, ou de uns 30 anos, com um trabalho muito precário ou desempregado. Essas pessoas podem passar a ter uma atitude mais crítica, apostando em uma mudança de mentalidade.
Por exemplo, os direitos da mulher. Há quarenta anos, nenhum partido majoritário falava sobre eles como tema principal. Hoje, se não falam disso, têm um problema. Há trinta anos a ideia de desenvolvimento sustentável, de que é preciso defender um modelo ecológico, de que é preciso integrar a natureza à cultura e ao consumo, era coisa de radicais, nenhum partido sério colocava isso no programa. Hoje, precisaram se pintar de verde, pelo menos um pouco, porque se não o fazem, são rechaçados.
Muitas ideias não são de um partido ou de um líder. São formas de conceber nossa vida em sociedade. Essas grandes mudanças na mentalidade demoram. Precisam de tempo, de debates, de ir além dos líderes.
Francisco Guaita - Dentro desses direitos, entra o tema da internet livre. Está se tornando um ponto essencial como foi o desenvolvimento sustentável e os direitos da mulher.
Manuel Castells - Você tem muita razão. Nesse momento, defender a liberdade na internet é a base para defender a liberdade em todos os sentidos. Como os poderes estabelecidos cada vez mais desconfiam da internet, odeiam-na. Se pudessem acabar com ela fariam como os chineses que permitem a conexão para os negócios e educação e nada mais. Mas não é tão fácil.
Existem tantas ameaças à liberdade na internet que os jovens estão criando uma série de partidos e de movimentos que vão criar muitos problemas aos que tentarem restringir a liberdade. Pouco a pouco, o velho sistema está se consolidando em partidos de direita ou de esquerda que estão de acordo em um ponto essencial: resistir a novas formas de representação democrática. Daí, duas coisas podem acontecer: ou eles realmente se abrem e aceitam redefinir o jogo democrático ou não se abrem, e essa é uma perspectiva muito pessimista. Não acredito nas revoluções violentas, mas em situações de tensão que vão se multiplicar e em uma situação de catástrofe econômica e de não-representatividade política, com as pessoas conscientes e críticas e um sistema cada vez mais pressionado, que começa a se defender.
Francisco Guaita - Você tem esperança?
Manuel Castells - Sempre. Mas porque os movimentos têm esperança. Meu novo livro, que será publicado em breve, chama-se 'Redes de indignação e esperança', dois sentimentos que existem no movimento. A indignação foi fundamental para superar o medo, porque o medo é a emoção que todas as sociedades impõem para não mudar nada. As pessoas têm medo de que, se fizerem algo que não está dentro das normas do sistema, no mínimo perdem o emprego. Como se supera o medo? As próprias experiências neurocientíficas mostram que é com a indignação. Quando se sente muito indignado, você não se importa com o que pode acontecer. Isso acontece.
Mas se não se transforma em um sentimento positivo, se a indignação é pura raiva, isso leva a um enfrentamento. Qual é o sentimento positivo? A esperança. A esperança de que algo irá mudar. Como se constrói a esperança? Quando as pessoas se reúnem. Por isso, o lema na Espanha é: 'Juntos, podemos'. É a ideia de que eu não posso sozinho, e que você não pode sozinho, mas muitos juntos, sim, podemos.
E juntas, não apenas as pessoas que estão na Puerta del Sol, em Madri, mas em outros países também. A vitalidade desse movimento não é apenas em função da internet, a vitalidade é necessária para poder seguir fazendo algo aparentemente impossível, que é reconstruir a democracia a partir dos cidadãos.
Esse texto foi anteriormente publicado em Outras Palavras.
Transcrição e tradução: Daniela Frabasile
"Feminismo é um pecado mortal", diz acusação no caso da banda Pussy Riot
7 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários aindaJulgamento da banda punk expôs sistema jurídico parcial e grupos da sociedade conservadores e religiososDa Agência Efe. Lido no Opera Mundi
Integrantes da banda punk durante julgamento |
Com frases como “o feminismo é um pecado mortal”, o julgamento da banda punk feminina Pussy Riot completou seu sexto dia e reabriu questionamentos sobre a imparcialidade da justiça, bem como do lado religioso e conservador da sociedade russa.
A Promotoria russa exigiu nesta terça-feira (07/08) uma pena de três anos de prisão para as integrantes da banda, sustentando que representam uma ameaça para a sociedade pela possibilidade de realizarem outros protestos no país. No último dia para as falas da acusação, as artistas foram denunciadas pelo crime de desrespeito à religião.
Os promotores e advogados de acusação sustentam que a apresentação da banda em uma Igreja Ortodoxa, em fevereiro desse ano, não constituiu uma ação política, mas sim de ódio religioso. Prova disso, afirmam eles, é que nenhum político foi citado na canção de nome “Virgem Maria, expulse Putin”. “Elas debocharam e humilharam as pessoas na Igreja”, disse o promotor Alexei Nikiforov. “Usar palavrões numa igreja é um abuso contra Deus”, completou ele.
Os promotores e advogados de acusação sustentam que a apresentação da banda em uma Igreja Ortodoxa, em fevereiro desse ano, não constituiu uma ação política, mas sim de ódio religioso. Prova disso, afirmam eles, é que nenhum político foi citado na canção de nome “Virgem Maria, expulse Putin”. “Elas debocharam e humilharam as pessoas na Igreja”, disse o promotor Alexei Nikiforov. “Usar palavrões numa igreja é um abuso contra Deus”, completou ele.
Perguntas como “O que a religião ortodoxa significa para você?”, “As roupas delas eram apertadas?” e “O que te ofendeu com as máscaras que usavam?” foram feitas para as testemunhas da acusação, que estavam na Igreja no momento da intervenção artística. Uma delas se contradisse ao afirmar que escutou uma música na catedral, sendo que a banda acrescentou depois os instrumentos no vídeo divulgado no YouTube.
Baseando-se nas impressões de fiéis ofendidos com a performance das Pussy Riot, uma das advogadas da acusação chegou a afirmar que o feminismo é um crime. “Todas as rés declararam ser feministas e disseram que isso é permitido na Igreja Cristã-Ortodoxa”, disse Yelena Pavlova. “Isso não corresponde com a realidade. O feminismo é um pecado mortal”, completou.
“Elas tem de ser isoladas da sociedade”, afirmou Alexei Nikiforov que pediu três anos de prisão para todas as integrantes da banda pela apresentação. O promotor poderia ter exigido a condenação máxima de sete anos, mas parece ter seguido os conselhos do presidente russo. Vladimir Putin na semana passada (02/08) disse que as mulheres não “fizeram nada de bom”, mas não devem ser julgadas tão duramente.
Resistência
O presidente russo parece ter seguido o conselho do advogado de defesa, Mark Feigin, das Pussy Riot que alertou que uma condenação “romperia definitivamente as relações entre a sociedade e o governo russo”. O julgamento, assim com a marcha contra as eleições que reelegeram Putin, uniram grupos de oposição que sustentam que o governo russo persegue seus críticos.
Resistência
O presidente russo parece ter seguido o conselho do advogado de defesa, Mark Feigin, das Pussy Riot que alertou que uma condenação “romperia definitivamente as relações entre a sociedade e o governo russo”. O julgamento, assim com a marcha contra as eleições que reelegeram Putin, uniram grupos de oposição que sustentam que o governo russo persegue seus críticos.
Agência Efe
Manifestante russo é preso pela polícia em protesto pela libertação da banda
Segundo eles, as denúncias contra a banda punk fazem parte de um esforço de Putin para intimidar a sociedade e russa. “Eles declaram guerra contra nós!”, alertou o líder esquerdista Sergei Udalstov em protesto no final de julho pela libertação das músicas que reuniu milhares de pessoas. “Para a sua rejeição da lei, existe uma resposta da rua", disse Feigin.
Na sexta-feira (03/08), três homens escalaram as paredes do tribunal, utilizando gorros em suas caras como o das mulheres, e gritaram “Liberdade às Pussy Riot!” das janelas, informou o jornal britânicoThe Guardian. Segundo a correspondente do jornal em Moscou, outros atos semelhantes aconteceram em outras cidades do país.
Figuras importantes da arte na Rússia protestaram a favor das acusadas, como Petr Pavlesnky que costurou sua boca em solidariedade à banda punk. A luta das artistas atravessou os oceanos e mobilizou diversos famosos, como Sting e Red Hot Chili Peppers e até Madonna que realiza shows no país nesta semana.
Segundo eles, as denúncias contra a banda punk fazem parte de um esforço de Putin para intimidar a sociedade e russa. “Eles declaram guerra contra nós!”, alertou o líder esquerdista Sergei Udalstov em protesto no final de julho pela libertação das músicas que reuniu milhares de pessoas. “Para a sua rejeição da lei, existe uma resposta da rua", disse Feigin.
Na sexta-feira (03/08), três homens escalaram as paredes do tribunal, utilizando gorros em suas caras como o das mulheres, e gritaram “Liberdade às Pussy Riot!” das janelas, informou o jornal britânicoThe Guardian. Segundo a correspondente do jornal em Moscou, outros atos semelhantes aconteceram em outras cidades do país.
Figuras importantes da arte na Rússia protestaram a favor das acusadas, como Petr Pavlesnky que costurou sua boca em solidariedade à banda punk. A luta das artistas atravessou os oceanos e mobilizou diversos famosos, como Sting e Red Hot Chili Peppers e até Madonna que realiza shows no país nesta semana.
“Em um primeiro momento, depois dos protestos contra Putin em dezembro, as autoridades se assustaram”, explicou o advogado de defesa Nikolai Polozov. “Agora, eles se recuperaram e começaram a reagir – o julgamento da Pussy Riot é claramente o primeiro passo”, acrescentou de acordo com o Guardian.
Imparcialidade da justiça
Grupos russos e internacionais que apoiam a luta das artistas estão cada vez mais indignados com as atitudes da justiça na condução do processo. Enquanto todas as testemunhas de acusação foram autorizadas pela juíza Marina Syrova, apenas 3 das 13 testemunhas nomeadas pela defesa puderam ser interrogadas no julgamento. Syrova também foi responsável por permitir uma série de perguntas da acusação às testemunhas, mas vetou que a defesa realizasse as mesmas questões.
A justiça russa já recusou diversos pedidos judiciais da defesa, incluindo uma apelação para enviar o processo de volta à Promotoria já que não existem provas suficientes. Os advogados de defesa da Pussy Riot impetraram pedido no tribunal para chamar o representante da instituição religiosa a testemunhar no processo que foi negado, informou a rede Interfax.
“Mesmo nos tempos soviéticos, nos tempo de Stalin, os julgamentos eram mais honestos do que esse”, afirmou Polozov durante o tribunal.
Todos falam do diploma de jornalismo
7 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Parece ser o assunto do dia: senado aprova a obrigatoriedade do diploma de jornalismo. Na verdade, o texto agora segue para a Câmara dos Deputados, onde já existe proposta semelhante. Muitos comemoram porque desejam a obrigatoriedade. Outros reclamam por achar que a obrigação é um atraso para a sociedade.
Minha opinião? Em outros países, sou contra a obrigatoriedade, exatamente pelo papel social que o jornalismo exerce, entre outras questões. No Brasil? Tanto faz, por um motivo bem simples e já publicado neste blogue em 2009:
"Quem sabe o Brasil comece a diferenciar jornalista de assessor de imprensa (como no resto do mundo) ou siga o exemplo da Europa, onde jornalista econômico não pode fazer investimentos na Bolsa (por motivos óbvios). Nos EUA o diploma não é obrigatório, mas 80% dos jornalistas contratados são formados. No Brasil tomamos o caminho contrário: entre 2001 e junho/2009, quando o diploma ainda era obrigatório, nada menos que 14 mil cidadãos conseguiram registros jornalísticos sem precisar de diploma. Estima-se que mais da metade dos jornalistas em exercício não são formados, e esta estimativa é anterior à queda do diploma. Vamos repensar o Brasil (e o mundo)."
Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/2009/10/jornalismo-do-brasil-e-do-mundo.html
Mensalão - a campanha no STF
6 de Agosto de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Ninguém mais acredita que o julgamento do tal “mensalão” terá qualquer resquício de imparcialidade. O clima turbulento do STF, similar ao dos plenários legislativos, evidencia pendores emocionais incompatíveis com a tecnicidade das questões em pauta.
A coisa toda ganha ares kafkianos quando lembramos que há cerca de 46 mil processos aguardando decisão final do STF. E que o multimilionário “mensalão tucano” foi desmembrado para restar apenas Eduardo Azeredo como réu (outros dez puderam voltar à Justiça mineira, enquanto esse direito foi negado a trinta acusados no processo atual), sendo que mesmo o caso do ex-governador do PSDB não tem previsão de agendamento.
O que se passa no STF é um ritual político, organizado às pressas para coincidir com as eleições municipais. E o que se passa fora da corte é um circo de propaganda montado pela mídia corporativa, cujos comentaristas adicionam vernizes de imparcialidade “técnica” ao subtexto manipulador que a legislação eleitoral proíbe escancarar.
(Publicado por GUILHERME SCALZILLI)