No país de 200 milhões de técnicos de futebol, todo mundo vai ter uma explicação para o que aconteceu na tarde de 08 de julho na capital mineira.
E cada uma das versões terá lá sua razão, mas todas elas com certeza estarão impregnadas de paixão, pura emoção.
O ocorrido ontem se resume ao fato de que, no plano emocional, a Alemanha foi Alemanha e o Brasil, Brasil. Simples assim.
Esperávamos fazer um gol logo no início da partida, tal como fora contra a Colômbia.
Aconteceu o contrário. E nossa seleção, assim como a colombiana, dias antes, sucumbiu às emoções, enquanto o escrete alemão parecia um bando de soldados avançando ordenadamente contra a URSS em 1942.
Como já publicado neste blog, foi a vitória do trabalho duro em equipe contra a “esperteza” e o marketing.
Venceu a organização do futebol alemão. Sem dúvida!
Perdeu a bagunça do futebol brasileiro, administrado por cartolas sem nenhum compromisso com os campos e com a bola. Cartolas, aliás, chefiados pelo integralista José Maria Marin, um dos responsáveis pela manutenção da ditadura militar no Estado de São Paulo.
Vimos ontem o resultado concreto do neoliberalismo nos campos.
Muitos comemoraram, no governo do tucano Fernando Henrique Cardoso, o fim da lei do passe. Diziam que ela escravizava os atletas aos clubes. Com o fim dela os atletas viraram "mercadorias livres" escravizadas pelos interesses econômicos e comerciais de empresários espertinhos e gananciosos que armam esquemas com técnicos e dirigentes de futebol do mesmo quilate para manter seus pupilos em campo e lucrar horrores em cima deles.
Sob a manto da "profissionalização" do esporte implantou-se o neoliberalismo no futebol, onde o que vale é o lucro privado e não o espetáculo coletivo.
Os empresários de futebol, só querem saber de uma coisa: qual lucro terão com esta ou aquela transação dos escravos-celebridades.
Temo que ontem se tenha enterrado de vez o futebol arte.
Muitos farão elogios ao futebol de resultados alemão.
Outros farão críticas ao esquema tático aberto armado por Felipão
Pois, vejam vocês. Felipão se consagrou como técnico retranqueiro e que mandava seus jogadores pegar pesado dentro de campo, bater mesmo. Ontem, ele armou um time aberto, como o Brasil sempre jogou nos tempos aureos, e tomou uma goleada daquelas. Será natural para os espertinhos que só pensam no lucro concluir que, o Brasil deva enterrar de vez o futebol arte e jogar o futebol de resultados, que não dá show, mas ganha troféus...
Mas como fazê-lo, sem matéria-prima de qualidade?
Sem que nossos clubes sejam organizados e tenham condição de criar craques e mantê-los em nossos gramados?
Resta agora torcer para que a vexaminosa derrota no Mineirão:
a) sirva de motivo para a renovação do futebol brasileiro no plano organizacional e administrativo, o que necessariamente passa pela completa renovação dos dirigentes futebolísticos.
b) não sirva de motivo para a total burocratização do futebol, mas sim para a recuperação do futebol arte, o futebol moleque que nos fez apaixonados pelo esporte bretão.
E como disse o Parreira em uma entrevista ao Valor Economico antes da partida com a Alemanha: "do limão fazer uma limonada. Transformar a dificuldade em uma coisa boa."
Não conseguimos isso no gramado do Minierão, mas certamente já fazemos isso todos os dias, quando enfrentamos as dificuldades cotidianas e não perdemos nosso jeito alegre e festivo de ser.
Avante, Brasil! Pois o futuro nos pertence!
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