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Bora, constuir coletivamente o novo?

18 de Abril de 2016, 11:05 , por Bertoni - 66 comentários | 3 people following this article.
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O resultado da votação do processo de impedimento de Dilma Rousseff na Câmara Federal neste domingo, 17/04/2016, gerou toda uma série de avaliações, críticas e acusações.Todas elas são importantes, mas o calor da emoção pode nos fazer exagerar.

O processo que levou a derrota de ontem não teve início em 2014, nem em 2013, nem 2010 e muito menos em 2002.

Por paradoxal que possa parecer, este processo teve início em meados de 1980, quando o movimento sindical e o PT viviam um momento de crescimento. Naquela época acontecem alguns movimentos importantes que podem indicar porque chegamos ao que chegamos:

  • O trabalho como conceito moral, como valor social, é sistematicamente desqualificado, criando a ideia de quem trabalha é otário;
  • A Igreja Católica da Teologia da Libertação é dizimada pelo anti-comunista papa polonês (Józef Wojtyła) e seu buldog alemão (Natzinger);
  • A Teologia da Prosperidade (dos neopentecostais) cresce e leva os católicos a pregar a renovação carismática e uma guinada à direita;
  • O movimento sindical tira o pé do acelerador e começa a deixar o trabalho de base de lado em nome de uma possível eleição de Lula;
  • O neoliberalismo ganha força no mundo todo (inclusive na URSS), cuja derrubada do Muro de Berlim foi o símbolo maior;
  • A esquerda mundial entra numa crise de criatividade sem precedentes;
  • A socialdemocracia europeia rende-se ao neoliberalismo;
  • A esquerda que sempre teve um papel importante no imaginário das pessoas e forte influência na área cultural, perde o espaço para a direita;
  • Direitos Humanos e o Humanismo são ridicularizados. O deus mercado e o lucro fácil tomam contam de corações e mentes das mais distintas classes sociais;
  • A utopia cede espaço para o pragmatismo, que na prática se traduz em vantagens de curto prazo colocadas acima dos objetivos históricos de longo prazo;
  • Passa-se a acreditar que não há alternativas ao capitalismo e que, portanto, basta melhorar a situação econômica dos mais pobres. E isso garantiria seu apoio aos programas de governos;
  • Passa-se a tolir todo e qualquer debate que possa levar a um crítica ao capitalismo e desqualifica-se àqueles que lembram que a Luta de Classes não terminou com o fim da URSS.

Por outro lado, os problemas e as mazelas no Brasil eram e são tão profundos que até mesmo pequenas reformas e alguns programas sociais teriam um efeito enorme sobre toda a sociedade, conforme pudemos notar nos últimos anos. Isso também gerou a atual onda de fúria e ódio da CasaGrande que culminou na votação de ontem.

Lembro-me que em 1984, ainda na ditadura civil-militar, durante a campanha das Diretas Já, era um comício maior que o outro e havia uma disputa saudável para ver qual cidade colocava mais gente nas ruas. Colocamos mais de 2 milhões no Anhangabaú depois do Rio de Janeiro ter colocado mais de 1 milhão na Cinelândia.  E perdemos. Fomos derrotados pela mesma turma que nos derrotou ontem em plenário. Os nomes podem ser outros, mas os interesses e os esquemas são os mesmos. Nem por isso deixamos de lutar. Nos reorganizamos e seguimos em frente.

Também é claro que não se reconstrói em 13 anos toda uma estrutura cuidadosamente montada em 502 anos. Ainda mais quando deixamos de fazer trabalho de conscientização e organização de base, coisas, aliás, que fizemos muito bem no final dos anos 1970, começo dos anos 1980.

Enfim, muitos foram os erros. Muitos foram os acertos. E é claro que não listei acima nem 1% deles. Resta-nos saber se teremos capacidade para avaliar todo este processo, fazer autocrítica, aprender com os próprios erros, reconquistar o imaginário das pessoas e avançar.

Bora, junt@s, construir o novo, a Democracia Direta, a horizontalidade, a pluralidade?

Leia também: Ciberguerra potencializa guerra informacional


66 comentários

  • Perfil minorHemerson Baptista
    18 de Abril de 2016, 12:28

    Excelente artigo

    Extraordinária análise! Creio que a perda desta batalha na Câmara possa ter reacendido a necessidade da retomada do trabalho de base pela esquerda.


    • Liberte se minorBertoni
      18 de Abril de 2016, 12:31

      Obrigado, camarada!

      Espero que sim, que finalmente despertem para esta necessidade!


  • 371c26e83394fd7c040905f4aab6f751?only path=false&size=50&d=wavatarjoão carlos balsan dos anjos
    22 de Abril de 2016, 10:44

    Boa Serginho!

    Temos que voltar as bases e entender porque o poder e as barganhas desviam nossos verdadeiros rumos, sabemos que em uma democracia temos que negociar com quem não queremos, mas não ao ponto que chegamos, não podemos negar nossos erros, mas não deixaremos ninguém duvidar que a esquerda é a única saída.


    • Liberte se minorBertoni
      25 de Abril de 2016, 9:59

      Só quem faz erra

      A sabedoria popular diz que só quem faz, erra.
      Claro que erros aconteceram, mas jamais poderíamos ter confundido o tático com o estratégico.


  • A266db7b1b3b89186e4f5d314baac73d?only path=false&size=50&d=wavatarJuliano José da Silva
    24 de Abril de 2016, 21:40

    Muito bom!

    Muito boa a análise, eu resumiria da seguinte forma: a esquerda quis jogar o jogo da direita com as regras da direita e tomou uma sova. E podem pesquisar que isso aconteceu em todos os países e lugares. Ou voltamos a discutir mudanças no sistema ou seremos sempre tragados pela força financeira da direita.


    • Liberte se minorBertoni
      25 de Abril de 2016, 10:07

      E por isso é julgada

      Por paradoxal que possa parecer, o PT está sendo julgado neste circo midiático-judicial-parlamentar exatamente por ter usado os métodos da Casagrande para construir alianças e arrecadar dinheiro para campanha. A CasaGrande não aceita tamanha petulância. Ainda mais se depois de ganhar as eleições se usa a máquina do estado para fazer alguns programas sociais que melhorem a vida dos mais pobres.
      Claro que a saída é pela esquerda, mas, principalmente, com o povo!


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