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Pará entra no mercado de chocolate de origem

7 de Outubro de 2016, 18:09 , por SINDICACAU - | No one following this article yet.
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Depois de anos atrás da Bahia, pela primeira vez o Pará assume a dianteira de maior produtor de cacau do País. E nem tudo vai para fora: há marcas locais fazendo chocolate e ganhando espaço entre os tabletes de origem


05 outubro 2016 | 19:31 por Ana Paula Boni
De Belém e Tomé-açu
A Bahia dominou por tantos séculos o cenário nacional do cacau que pouca gente sabe que a primeira muda plantada em território baiano com fins de cultivo, no século 18, veio do Pará. Ainda assim, o Pará passou décadas engatinhando na produção nacional – menos de cinco anos atrás, ainda respondia por apenas 26% do total. Neste ano, porém, por causa da seca que detonou a safra na Bahia, o úmido Pará deve assumir a dianteira pela primeira vez. Pode ser que no ano que vem a Bahia volte ao topo, mas não dá mais para ignorar a produção paraense.
Pois cacau não é tudo a mesma coisa; chocolate muito menos. O terroir – que pode ser notado em chocolates de origem, sem misturas com amêndoas de outras terras – qualifica cada região e até microrregiões dentro dos Estados. De modo geral e simplificado, o Pará produz cacau com mais gordura e notas frutadas, enquanto a Bahia, um fruto de toques mais cítricos, explica o empresário Marco Lessa, organizador do Festival do Chocolate e Cacau, que chegou à quarta edição em Belém há duas semanas e é realizado em Ilhéus, na Bahia, desde 2009.
O Pará dispara e passa na frente da Bahia como maior produtor de cacau do País
O Pará dispara e passa na frente da Bahia como maior produtor de cacau do País Foto: Felipe Rau|Estadão
Ainda é muito pequena a parte da produção processada no País como chocolate de origem – cerca de 2% no Pará e 6% na Bahia. Mas é esse o novo grito do ramo, mesmo com o cacau custando quase quatro vezes o valor do cacau comum. O movimento se iniciou em fazendas da Bahia há alguns anos, com produtores dedicados a fermentações mais longas e controladas – como João Tavares, que já ganhou prêmios no Salão do Chocolate em Paris.
No Pará, onde produtores também passaram a dar atenção a isso, marcas como De Mendes, Nayah, Amazônia Cacau e CacauWay fazem chocolate de origem. E ainda tem dona Nena (conheça a sua história e o processo de produção do seu chocolate), que vende seu chocolate para restaurantes como D.O.M. e Remanso do Bosque e é uma verdadeira chocolateira bean-to-bar: controla todas as etapas desde o plantio do cacau no seu quintal até a barra de chocolate.
Em São Paulo, é possível comprar barras como essas que chegam da Bahia, como Amma e Mendoá, e do Pará, como De Mendes, mas também tem gente daqui que traz amêndoas desses Estados para processar o chocolate em terras paulistanas, como Luisa Abram e Chocolat du Jour. A qualidade do cacau nacional melhorou tanto que até a indústria passou a investir em chocolate de origem, caso da belga Barry Callebaut, que lançou em 2015 a linha Brasil com cacau da Bahia. Cerca de cinco anos atrás, a brasileira Harald já havia lançado a linha Unique com duas barras da Bahia (de produtores identificados no rótulo, como João Tavares) e uma do Pará.

Como nasce um chocolate

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  • Plantação
    Plantação de cacau na fazenda de Michinori Konagano, presidente de cooperativa na cidade paraense de Tomé-Açu que vende amêndoas de cacau inclusive para o Japão. As árvores podem dar frutos o ano inteiro, e a planta pode ter cacau verde misturado a maduros (alaranjados) numa mesma época.
  • Cacau
    O fruto do cacau, que na década de 1980 na Bahia foi alvo de uma praga chamada vassoura-de-bruxa, que destruiu plantações e fez produtores irem à falência. No Norte, plantações são praticamente imunes à vassoura-de-bruxa e não registram a doença.
  • Polpa
    Dentro do cacau, as amêndoas são revestidas de uma polpa branca da qual também se faz suco. Quando o cacau é de qualidade superior, em geral as amêndoas são destinadas à indústria do chocolate, cuja fermentação é feita com a polpa, e não à indústria de sucos e doces.
  • Fermentação
    Depois de retiradas da casca do cacau, as amêndoas com polpa vão para cochos de fermentação, que podem ser retangulares ou redondos (de qualidade superior). Lá, passam por fermentação alcoólica, lática e acética durante uma média de 5 a 7 dias, sendo as amêndoas revolvidas todos os dias. Na fazenda do baiano João Tavares, que já ganhou prêmios no Salão do Chocolate em Paris, elas são fermentadas por 7 dias. No Pará, Cesar De Mendes fermenta por até 12 dias.
  • Secagem
    Depois da fermentação, as amêndoas são dispostas em barcaças ao sol (como a da foto) ou em estufas protegidas por tecido ou plástico, para não receber luz direta do sol, como faz João Tavares em sua fazenda no sul da Bahia. Em barcaças, as amêndoas podem secar por até uma semana, sendo protegidas do sereno à noite.
  • Torra
    Depois de secarem, as amêndoas devem ser torradas em fornos antes de serem moídas para virar chocolate. Na foto, as amêndoas torradas inteiras (à dir.), suas cascas (no meio) e elas trituradas em nibs já sem cascas (à esq.), quando estão prontas para serem moídas até virarem pasta.
  • Primo botânico
    Amêndoas inteiras e moídas de cupuaçu, ou Theobroma grandiflorum, primo botânico do Theobroma cacao, mais conhecido como cacau. E, assim como se faz chocolate do cacau, marcas também fazem a partir do cupuaçu, como a paraense Nayah e a baiana Amma.
  • Moagem
    Os nibs (amêndoas trituradas e sem casca) vão, então, para o moinho de granito (como o da foto, da paulistana Luisa Abram, que produz em pequena escala) ou seu equivalente na escala industrial. Ali, os nibs serão esmagados sem parar até virar uma pasta que é chamada de líquor.
  • Conchagem
    O líquor é a união de manteiga de cacau (a gordura do próprio fruto) com o pó 100% cacau, dois produtos que são separados na indústria para serem adicionados a outros chocolates em maior ou menor quantidade. Na produção artesanal, chocolateiros não separam pó de manteiga e apenas acrescentam açúcar e/ou leite em pó para alcançar variedades diferentes de tabletes. 
  • Grânulos
    Com a conchagem, ou temperagem, o chocolate é esmagado e esmagado no moinho (ou na concha) até alcançar textura aveludada. Chocolateiros de pequeno e grande porte medem a granulação do chocolate com um equipamento: quanto mais fina a textura, melhor.
  • Montagem
    Depois de alcançadas a textura e a receita desejadas (com ou sem leite, com pouco ou muito açúcar), o chocolate é então despejado em formas, pesado e segue para a geladeira. As formas são batidas ou sacudidas para eliminar qualquer bolha de ar que tenha ficado dentro da barra.
  • Embalagem
    Depois de resfriadas, as barras (na foto, Amma) estão prontas para serem desenformadas e ganharem embalagem. Para armazenar, o local deve ser fresco e ventilado, já que o chocolate é suscetível a clima ruim: calor demais deforma o tablete; e depois de derretidos e resfriados novamente, eles ficam opacos e esbranquiçados (o brilho é uma qualidade). Além disso, chocolate fica facilmente impregnado com odores fortes, como café.
Nesses tabletes, que evidenciam a diferença do terroir, os perfis sensoriais são bem distintos. Num dos chocolates da Bahia, predominam notas cítricas de frutas vermelhas; no do Pará, notas adocicadas e florais, que lembram jasmim, conta Sheila Mattos, da Harald.
Com a evolução do setor, não dá mais para falar em chocolate “brasileiro”. Assim como no caso do café, em que origem, produtor e torrefador são identificados, também o chocolate tem uma história para contar. E hoje no Pará, diz o baiano Lessa, não é só a produção que chama a atenção. “O cacau de lá só cresce: mais produtividade, mais qualidade.”

CONFIRA CINCO MARCAS DE CHOCOLATE DO PARÁ

É o terroir paraense em barra
 
  Foto: Felipe Rau|Estadão

De mendes

Cesar De Mendes já foi apelidado pelo Paladar de Indiana Jones do chocolate, em capa de setembro do ano passado, quando ele descobriu uma variedade de cacau no Pará e, com a ajuda do ambientalista Roberto Smeraldi, batizou-a como Jari Picante, no Paladar Cozinha do Brasil. Ela está em dois dos quatro tabletes De Mendes, que trazem a latitude e a longitude das plantações nos rótulos e são vendidos também em São Paulo.
As barras são: 47% cacau (variedade Jari), que leva leite de búfala e manteiga de cupuaçu, 63% cacau (variedade Maranhão), 65% (Jari) e 72% (Maranhão). São varietais, como no vinho, sem misturas. A variedade Jari ele compra da Cooperflora, que coleta cacau à beira do rio Jari; e a Maranhão vem de comunidades de várzea em Barcarena.
Apesar de não plantar cacau e só fazer o chocolate, cerca de 300 kg por mês, De Mendes ensinou extrativistas da floresta a fermentar as amêndoas de cacau por cerca de 12 dias (acima da média, que é de 5 a 7 dias). Isso resulta em chocolates de sabores complexos – a barra 65% (Jari) traz frutas como manga e kiwi à boca; já a 63% (Maranhão) tem bom defumado e gordura que lembram bacon.
No ramo desde 2005, o engenheiro químico De Mendes lançou sua marca em 2013. Como não é dono de toda a produção de cacau, até estimula colegas a comprarem parte dela, para que os extrativistas continuem estimulados a fermentar o cacau com essa qualidade – e não se voltem só ao açaí e à castanha-do-pará, por exemplo.
Uma das chocolateiras que andou recentemente por suas terras foi a paulistana Luisa Abram, que faz barras em São Paulo e também compra do Acre as amêndoas de cacau de várzea, de plantios selvagens em terras alagadiças.
Serviço
Box Amazônia do Mercado de Pinheiros por R$ 23 (50g)
R. Pedro Cristi, 89, Pinheiros
Tel.: 3032-0875
Casa Santa Luzia por R$ 23,80 (50g)
Al. Lorena, 1.471, Cerqueira César
Tel.: 3897-5000)

 
  Foto: Felipe Rau|Estadão

Nayah

Há exatamente um ano, a Nayah lançou sua primeira linha de chocolates depois de montar uma pequena fábrica com dinheiro de um prêmio de empreendedorismo. A empresa é fruto de projeto acadêmico da engenheira de alimentos Luciana Ferreira Centeno, que já estagiou na Barry Callebaut, na Bahia, e fez curso de chocolate no exterior.
A linha inclui oito barras, sendo cinco de chocolate e três de “cupulate” (com amêndoas de cupuaçu, primo botânico do cacau e feito também por marcas como a baiana Amma). Entre as cinco barras, tem ao leite 30%, 35% e 45% cacau, além de sem leite 56% e 70%.
Em várias barras, a marca, que produz 300 kg de chocolate por mês, inclui o emulsificante lecitina de soja, que melhora a textura e geralmente é usado pela indústria. No caso da Nayah, Luciana justifica que o produto é natural e seu uso é comum – apesar de concorrentes do mesmo porte conseguirem boa textura sem o emulsificante.
Além de barras saborizadas (com jambu, açaí, café e outros ingredientes), a Nayah acabou de lançar a linha 70% de cacau de origem, em que as regiões, todas paraenses, são identificadas no rótulo: Barcarena, Tucumã, Ilha do Combu, Medicilândia e Tomé-Açu. O terroir é sentido à boca – o chocolate de Barcarena, por exemplo, é denso e adocicado, já o de Medicilândia traz mais tostado ao paladar, no retrogosto.
Serviço
R$ 22 (80g) na fábrica em Belém.
www.nayahamazon.com

 
  Foto: Felipe Rau|Estadão

Amazônia Cacau

A Amazônia Cacau nasceu mais de dez anos atrás por iniciativa de Cesar De Mendes e um sócio. Em 2013, quando De Mendes resolveu se voltar ao chocolate de várzea, “selvagem”, a empresa foi vendida para Alexandre Távora, ganhou cara nova e incluiu produtos no catálogo.
Só no ano passado passou a comercializar os novos itens, que incluem barras puras de chocolate branco, 35% e 43% ao leite (esses com lecitina de soja), 55%, 70% e 93%, entre outros mais de 20 produtos como bombons, licores, geleias e tabletes saborizados (com doce de cupuaçu, açaí etc.). A marca, que faz cerca de 250 kg por mês com cacau cultivado em Medicilândia, abrirá no próximo mês a loja de fábrica, em Santa Bárbara, rota turística no Estado.  Também vende em lojas no Rio e em Belém.
Serviço
R$ 5,50 (30g) na fábrica

 
  Foto: Felipe Rau|Estadão

Cacauway

Há produtor de cacau na região de Medicilândia pelo menos desde a década de 1970, quando o governo estimulou o plantio com o fluxo de migrantes na região para a construção da Transamazônica. “Mas as amêndoas sempre saíram daqui e fizeram fama na Bahia. A gente queria mudar isso”, conta a engenheira agrônoma Hélia Félix, da Coopatrans (Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica), que montou uma fábrica para começar a processar chocolate na cidade em 2010.
Na linha principal da CacauWay, são cinco barras: 30% e 50% cacau, ambas ao leite, 52% (com manteiga de cupuaçu), 65% e 70% (esta última a única sem lecitina de soja).
A marca usa apenas de 10% a 15% das amêndoas que os cooperados produzem – o resto é exportado ou vendido para fábricas, como a pequena Java, em Belo Horizonte (javachocolates.com.br). Ainda assim, a CacauWay produz cerca de uma tonelada de chocolate por mês, vendido em lojas da marca em algumas cidades paraenses.
No Rio, o chocolate 70% chega ao restaurante Aprazível e é usado em receitas como o bolo cremoso de chocolate com castanha-de-caju. Para a casa de açaí ASA, aberta há pouco mais de um mês pelo mesmo grupo, a fábrica da CacauWay desenvolveu uma barra 72% cacau exclusiva, que é vendida sob o nome ASA – em breve, também no Aprazível (aprazivel.com.br).
Serviço
R$ 2,75 (20g) em lojas no Pará
www.cacauway.com.br

Chocolate Filha do Combu, de dona Nena
Chocolate Filha do Combu, de dona Nena Foto: Felipe Rau|Estadão

Filha do Combu 

Dona Nena vende seu chocolate para restaurantes como D.O.M. e Remanso do Bosque e é uma verdadeira chocolateira bean-to-bar: controla todas as etapas desde o plantio do cacau no seu quintal até a barra de chocolate. Saiba mais aqui.
fonte>mercado do cacau

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/blogspot/OvWHh/~3/CPhqxWrkel0/para-entra-no-mercado-de-chocolate-de.html