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A crônica da morte anunciada de Furreco

4 de Novembro de 2012, 22:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
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Tudo começou com o cercamento de espaços públicos de Porto Alegre por parte da Prefeitura Municipal

Por Diego Pignones

O início da morte anunciada de Furreco começou com a privatização (processo ao qual foi dado o nome de ‘Parceria Público Privada) e cercamento do Auditório Araújo Vianna. Os motivos do cercamento do Araújo Vianna não são claros. Setores responsáveis pelas áreas da cultura e patrimônio de Porto Alegre afirmam que a cerca foi aprovada por eles, uma vez que o local foi tombado como patrimônio histórico e por conta do novo projeto arquitetônico do auditório que exporia a segurança de artistas e equipamentos.


O arquiteto responsável Moacyr Moojen afirma que a cerca foi uma exigência do edital lançado pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre e que, inclusive, a medida compromete visualmente seu projeto para o auditório. Mas a polêmica maior envolve os taludes que margeiam o Araújo Vianna. Os taludes serviam de espaço de convivência social para os transeuntes do Parque Farroupilha e Redenção. Ali era comum ver a gauchada de todas as idades tomar um sol e um mate. Os taludes eram ponto de encontro e em dias de shows no Auditório Araújo Vianna, o pessoal que não ia entrar no auditório sentava-se para ouvir o som.


Agora os taludes são ‘protegidos’ por um gradil verde, que o torna inacessível ao público e para os não-pagantes em dia de apresentações.

O projeto inicial era mais nefasto, se podemos dizer assim. Consistia no uso de chapas para tapar completamente a visão do local histórico.

(Fim do 1º ato)

Era noite. O Auditório Araújo Vianna estava lotado. O show de Tom Zé encerrava uma série de apresentações culturais do 19º Porto Alegre Em Cena. Os postos de vendas de ingressos esgotaram os ingressos.

Durante a apresentação de Tom Zé, manifestantes seguravam cartazes e protestavam contra as grades colocadas no espaço, reaberto no dia 20 de setembro (feriado estadual Dia da Revolução Farroupilha).


Provocador, no final de sua apresentação, mais precisamente no bis, Tom Zé segurou um cartaz dos manifestantes onde se lia em letras maiúsculas “PRAÇAS VENDIDAS”. O tumulto estava se formando. Acabado o show, alguns dos manifestantes sentaram nos taludes ao lado do prédio e foram retirados por seguranças.

A segurança da detentora dos direitos de exploração do auditório tentava dispersar o público utilizando aparelhos de choques, truculência e xingamentos. Os homens eram chamados de “maconheiros” e as mulheres de “puta” ou “vagabunda”.

A truculência da equipe de segurança foi a senha para um grupo de jovens arrastar um inflável da Coca-Cola para a rua, que fora patrocinadora da reforma do auditório.

O protesto ganhou repercussão e força nas redes sociais onde era divulgada a imagem da lata de Coca-Cola inflável incendiada na Rua Osvaldo Aranha.

O 9º Batalhão de Polícia Militar, que atende à região do Auditório, afirmou que não registrou nenhuma ocorrência sobre o protesto ou a queima do inflável em via pública.

(Fim do 2º ato)

Já era aberta a contagem regressiva para a morte de Furreco.

Nas redes sociais se articulava um protesto pacífico em defesa da alegria. Os manifestantes passaram o final da tarde e da noite na Praça Montevidéu, a uns 50 metros do mascote patrocinado pela Coca-Cola colocado no largo Glênio Peres.

Os manifestantes avançaram para onde estava o boneco inflável.

Armou-se o conflito.

As versões para a confusão são contraditórias. Policiais asseguram que os manifestantes avançaram sobre o boneco e que o destacamento que vigiava o quadrante agiu para evitar a depredação. Participantes do ato afirmam que iriam fazer uma ciranda em volta do mascote quando teriam sido atacados pelos soldados que defendiam um plástico com ar com uma logomarca.


De súbito, o mascote da Copa do Mundo de 2014 tombou.



A informação era de que o inflável tinha sido cortado com faca, lâmina, ou facão e perfurado por paus e pedras arremessadas contra ele.

Ao final do conflito, o saldo de vários feridos e 6 manifestantes presos, a abertura de inquérito pela Polícia Civil, informações desencontradas e vídeos do confronto no You Tube.

Furreco morreu. E fora assassinado.


A pergunta não respondida: Como pode uma publicidade inflável ser considerada patrimônio público e gozar de proteção policial?

(Fim do 3º ato)

Durante a semana, as informações vinham de todos os lados.

A imprensa repercutia o triste fim de Furreco. Esfaqueado, apedrejado e morto à pauladas.

Até que o impensado aconteceu.

Furreco poderia ser ressucitado.

A empresa detentora dos direitos de do boneco, a Opus Promoções (a mesma que detém os direitos de exploração do Auditório Araújo Vianna) entregou o boneco para ser periciado e não foi encontrada nenhuma ruptura no plástico ou perfuração.

Durante o conflito, alguém desligou da tomada o injetor de ar e só esvaziou Furreco.

Cogitava-se pedir outro boneco. Agora o prefeito de Porto Alegre cogitava reutilizar o Furreco esvaziado.

Mas, foi batido o martelo: Porto Alegre não teria mais Furreco nenhum.

(Fim do 4º ato)

O Furreco colocado irregularmente na Esplanada dos Ministérios em Brasília era morto à facadas durante a noite.

A FIFA anuncia restrições à venda de acarajés em Salvador.

O Governo do Estado do Rio Grande do Sul e a Brigada Militar (PM do Rio Grande do Sul) reconheceram que houveram excessos por parte dos policiais e, inclusive, o governador Tarso Genro emitiu uma nota oficial na qual reconhece os excessos, explica qual é a postura que o governo espera de sua força policia e ressalta que determinou ao secretário da Segurança Pública convidar os "cidadãos e cidadãs" que se sentiram vitimas para que façam suas denúncias à Ouvidoria da Segurança Pública.

(Fim do 5º ato)

O Furreco é atacado em São Paulo. O ataque aconteceu por volta das 17horas em um evento do grupo “A Cidade é Nossa”. O grupo, deixou a favela do Moinho (que pegou fogo em setembro) rumo ao centro de São Paulo, onde, segundo a organização, promoveria uma "roda de conversa sobre direito à cidade, especulação imobiliária e poder popular", além de atrações culturais.

A Fifa volta atrás na questão da venda do acarajé em Salvador.

(Fim do 6º ato)

A questão fundamental dos casos de homicídio contra o Furreco é a invasão dos espaços públicos com infláveis da iniciativa privada que gozam de segurança proporcionada pelos aparatos de segurança pública. Além disso, a Copa do Mundo 2014 não é nossa. Ela é da FIFA e de seus contratos corporativos de exploração comercial.

Nossas leis são ignoradas para que a Budweiser possa vender cerveja no entorno e dentro dos estádios. Nossas conquistas sociais são abolidas para que o consumidor que sinta-se lesado não possa recorrer ao Código de Defesa do Consumidor.

E a lei em que exige que na abertura de eventos públicos seja tocado o hino nacional? Será abolida. Ignorada.

A Copa é um evento privado. Em que uma pretensa entidade escolhe um país para fazer sua festa, leva os convidados VIPs, bebe até vomitar nas ruas, emporcalham o local e vão embora sem pagar a conta. Para agradar ao público, o refrigerante lança um mascote. Cujo nome deverá ser uma das três horrendas opções. A “maior festa do futebol” é a festa com o chapéu dos outros e o orgasmo com a genitália alheia.


Soy contra el fútbol moderno.

Anotação na Margem:
- Já escrevi antes sobre a Copa aqui mesmo no Comunica Tudo, Copa do Mundo 2014... Soy Contra http://comunicatudo.blogspot.com.br/2011/10/copa-do-mundo-2014-soy-contra.html

- Segue a previsão de que o Brasil será compensado com o caneco em virtude de ter perdido a Copa de 1950. Por isso, soy celeste!

- Entre Amijubi, Fuleco e Zuzeco, o melhor ainda é o Furreco.

- Ignore o slogan e não beba Coca-Cola.

- Post escrito ao som de Butoki Paradize Orchestra

Diego Pignones
Publicitário e pesquisador em Comunicação Social.
Twitter: @diegopignones 



Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/blogspot/UkDc/~3/7awuyPfaFzc/a-cronica-da-morte-anunciada-de-furreco.html

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