Massa crítica acumulada durante décadas de pragmatismo, sem dúvida. Mas também uma visão estratégica imensamente superior à dos demais grupos de comunicação.
Quando homogeneíza-se o produto leva vantagem quem dispõe de maior poder de distribuição.
Nos anos 80, o grande salto da Folha de S. Paulo foi ter se tornado o contraponto à Globo. A visão empresarial – jamais ideológica – de Otávio Frias percebeu o novo público que se formava, adepto das eleições diretas, adversário da burocracia, simpático aos novos costumes sociais, e apostou no novo.
Com essa estratégia, a Folha tirou uma geração de leitores do Estadão e se tornou o maior jornal brasileiro.
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Hoje em dia, as comunicações globais estão submetidas ao mais violento processo de mudanças da história. De um lado, enfrentam o avanço inexorável das grandes redes sociais – Facebook e Google – avançando sobre os classificados e a publicidade nacional. De outro, o aparecimento de novos produtos midiáticos online.
Havia duas estratégias de sobrevivência a serem seguidas pelos grupos midiáticos nacionais.
Uma delas, seria o da diferenciação em relação ao líder – a Globo. A segunda, seria a de seguir o líder.
Os três grupos nacionais – Folha, Estadão e Abril – optaram por seguir o líder. Quando homogeneíza-se o produto leva vantagem quem dispõe de maior poder de distribuição. No caso, as Organizações Globo.
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O pacto midiático teve como modelo Rupert Murdoch e sua Fox News.
Murdoch entendeu o avanço inexorável das redes sociais e resolveu levar a batalha para o campo político, ainda sob domínio dos grandes grupos de mídia.
Valeu-se, para tanto, de ferramentas tão antigas quanto o jornalismo: a exploração do medo supersticioso do “inimigo externo”, um enredo em que se cobre os adversários políticos com a mesma vestimenta que a dramaturgia utiliza para personagens ancestrais, como o vampiro, o lobisomem, as forças do mal.
O pacto matou a competição e, sem ela, nenhum veículo pode se aproveitar da enorme massa de leitores que se sentiram órfãos de mídia.
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Os grandes grupos aliados tinham dois adversários pela frente: as grandes redes sociais e as emissoras de televisão, em decadência, mas ainda assim abocanhando a maior parte do bolo publicitário.
Mas a frente escolheu como adversários ora dois velhinhos em final de vida (Fidel e Raul Castro), ora o presidente de uma nação irrelevante (Hugo Chávez, da Venezuela). E, no campo da mídia, blogs independentes e mídia regional, com acesso a fatias ínfimas do bolo publicitário federal.
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Um dia os livros de marketing irão narrar a jogada mais esperta de um meio de comunicação em muitas décadas, levando todos os concorrentes no bico..
As enormes pressões feitas sobre a Secretaria de Comunicação (Secom) da presidência da República, para que não ampliasse os canais de mídia, tiveram como resultado a estratificação de todo o mercado publicitário. Mesmo com a queda de audiência das TVs e com o avanço exponencial do uso da Internet, as verbas mantiveram-se pesadamente concentradas no meio televisão, especialmente na TV Globo – que hoje em dia controla 60% das verbas publicitárias do país.
Agora, a realidade econômica se impõe. Jornais e revistas pulam, então, para a piscina da Internet. Mas ela está semi-vazia, porque, devido à sua própria pressão, a publicidade tradicional não rumou para a Internet – como em todas as demais economias desenvolvidas do planeta.
Em três ou quatro anos, a queda de audiência das emissoras de tevê irá se refletir nas verbas publicitárias. Mas os demais grupos midiáticos serão irrelevantes. Continuarão guerreando contra os velhinhos de Cuba, enquanto a Globo já terá completado a transição.
(Publicado na Carta Capital)
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