Esse pequeno grupo de privilegiados soberanos, dentro da sociedade, lembra-me a aristocracia que, em tese, deveria ser a ideia oposta. A 'nobreza' que por hora nos governa, e por nobreza não entenda somente políticos, mas também investidores, ruralistas, empresários da comunicação, etc, não são nada democráticos ao exercerem a representação para a qual foram eleitos. Representação direta e eleita, no caso dos políticos, e representação indireta no caso dos empresários midiáticos, acionistas, militares, etc.
Exemplo simples disso é a eleição municipal do Rio de Janeiro. Assistir ao horário eleitoral na televisão é insuportável, exatamente por seu caráter nada democrático. Eduardo Paes, através das coligações inúmeras, é soberano na propaganda televisiva. Outros candidatos mal conseguem sorrir que o tempo acaba. Se a propaganda política deveria servir para mostrar propostas para o povo que concede sua soberania através das eleições, ela está falhando. E faço questão de deixar claro que não sou contra este ou aquele candidato carioca, mas é fato: é impossível ser democrático e fazer propostas profundas para a cidade em 30 segundos.
De modo geral, o sistema eleitoral brasileiro serve para manter os grupos soberanos que já estão no poder, com pequenas nuances partidárias através dos tempos. Latifundiários e ruralistas nunca deixaram o poder neste país. A elite financeira também não, bem como empresários midiáticos, etc. O voto, que foi uma conquista da sociedade, hoje é obrigatório e não é por acaso. É fruto de um Estado nada democrático que diz: quer votar? Então será obrigado. Não queria o direito de votar? Agora vote para todo o sempre. Amém. E se por acaso escolher não votar dentro de nossa democracia, sofrerá punições, restrições e pagamento de multa.
Na verdade, parece que o Estado brasileiro nos quer fazer entender que a participação popular na política se restringe ao voto, e o Brasil é um país tão democrático que nos obriga a participar. Digitando alguns números, de anos em anos, exercemos a nossa democracia representativa, que elege os soberanos que nos governam aristocraticamente e sustentam a quinta economia mundial como analfabeta funcional, desigual e altamente cara.
E vez em quando, muitos brasileiros ainda berram aos quatro ventos: "odeio política, pois todos são ladrões". Tenho dúvidas se todos os políticos realmente são ladrões, mas tenho certeza de que todos são criados, educados, crescidos e nutridos na mesma sociedade na qual vivemos (eu e você).
No mais, este texto não pretende encerrar o assunto, nem concluir nada com uma 'tiradinha genial'. A ideia é apenas te convidar a refletir nesta democracia na qual vivemos. Esta democracia que ainda mantém uma desigualdade social assustadora, que produz analfabetos funcionais de forma majoritária, que consegue ter os maiores custos para o povo e os maiores lucros para os empresários, que ainda elege o filho do filho do político (como se fosse um dom hereditário), que sustenta a preços absurdos hospitais públicos miseráveis, que ainda permite que 11 famílias dominem mais de 90% de toda a comunicação deste país e assim por diante. É esta 'democracia aristocrática' que devemos questionar.
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