Cartão vermelho de Deus - As rapidinhas do Sr Comunica |
Em 1995 ingressei na PUC de Campinas, no curso de Psicologia. Por considerar o reajuste de uma mensalidade ilegal, um grupo de alunos, incluindo eu, entrou com um processo na justiça. Em 1996, com dificuldades financeiras pessoais, entrei na fila dos devedores para renegociar meus débitos com a Instituição Filantrópica de Ensino Superior, a Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP).
Não me esqueço desse dia: na minha frente, duas garotas parcelaram seus débitos em 10 vezes, sem mais problemas além dos burocráticos. Eu, que havia entrado com um processo contra a Instituição, tive meu pedido de parcelamento negado.
Não havia debate lógico ou argumento coerente que resolvesse o caso. Certamente, a ordem "veio de cima" (não de Deus, acredito eu), para não negociar minha dívida. O próximo passo foi tentar falar com o coordenador financeiro (ou semelhante cargo), para tentar resolver o caso.
Seu nome também não esqueço: N.... (prefiro manter seu nome em sigilo). Eu, acompanhado de minha mãe, fomos até a sala dele para fazer a negociação. Havia uma mensalidade paga em juízo, no valor considerado correto e causa do processo. Durante a negociação, o Sr. N...., cujo sorriso me parecia sarcástico e desafiador, fez uma única proposta de renegociação da dívida. Minha mãe estava quase aceitando, mas eu disse em alto e bom som: "não".
O funcionário da instituição católica e filantrópica de ensino superior, ao recalcular o parcelamento da minha dívida, embutiu o valor do reajuste que estávamos contestando na justiça. Quando apontei o "engano" no cálculo, que obviamente era má-fé, ele me disse uma frase que também não esqueço, alternando o olhar e falando vagarosamente: "mas este moleque é um filho da... (pausa), senhora" - finalizou olhando para minha mãe.
Para resumir, ele foi inflexível. Não queria refazer o cálculo e eu me neguei a pagar injustamente um valor que estava sendo contestado judicialmente. Na época, eu e os outros alunos assinamos uma procuração, dando plenos poderes ao advogado para nos representar na ação. Nunca mais ouvi falar do advogado, do processo ou de créditos ou débitos que possam existir (aliás, se algum advogado se habilitar em ajudar, gostaria de saber o que aconteceu, se é que aconteceu). Aliás, creio eu, que não houve nenhum débito, caso contrário, certamente eu seria encontrado e notificado.
Na época, estava passando por um momento pessoal muito delicado, repleto de complicações, e por toda a circunstância envolvida, decidi abandonar a faculdade. Perdi tudo o que já havia cursado e somente cerca de dez anos depois, consegui reingressar em outra Instituição de Ensino Superior, desta vez, no Rio de Janeiro, onde me formei em Jornalismo no ano passado.
Este assunto pessoal só voltou a povoar minha mente por conta de uma notícia que li no Congresso em Foco: Justiça manda cobrar quase R$ 1 bi de filantrópicas. A matéria pode ser lida ao clicar no link. O fato é que a Justiça mandou cobrar de várias instituições filantrópicas cerca de R$ 1 Bilhão. Dentre elas, a Pontifícia Universidade Católica de Campinas, a Puccamp, que deve cerca de R$ 240 milhões em impostos não pagos para a União. Além disso, estas entidades são suspeitas de irregularidades ou mesmo fraudes detectadas pela Polícia Federal.
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