Ir para o conteúdo
ou

Thin logo

 Voltar a Blog Comunica Tudo
Tela cheia

Copa do Mundo 2014... sigo siendo contra!

26 de Abril de 2014, 16:39 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | No one following this article yet.
Visualizado 20 vezes

Coerência? Pé fincado? Raiz?

Neste caso, nenhum deles.

(Por Diego Pignones)

Quando escrevi (lá pelos idos de outubro de 2011) o texto Copa do Mundo 2014... Soy Contra, introduzia a cultura do ‘Contra o Futebol Moderno’ que é bastante difundida na Europa, Argentina, Uruguay, Chile e, no Brasil, foi introduzida pelas barras Setor 2 (da Juventus da Mooca) e Geral do Grêmio. O texto tinha por finalidade introduzir a série de textos O Futebol e a Política. Porém, a Copa do Mundo 2014 no Brasil fomentou, fomenta e fomentará debates acalorados.


Para o torcedor comum (aquele que está sendo sumariamente exterminado com a elitização do futebol brasileiro), que paga(va) seu ingresso, vai(ia) até a geral, xinga(va) o juiz e o adversário e perde(ia) a voz quando rasga(va) a garganta ao gritar pelo gol da virada heroica do seu time, o futebol não dá nada de retorno financeiro. O único retorno que o torcedor comum tem é a paixão. A paixão que o faz(ia) entrar em um estádio às 22h, sair às 02h da manhã, voltar à pé para casa e acordar às 06h para trabalhar, apesar de ser um crime o horário imposto pela rede detentora dos direitos de transmissão do futebol no Brasil. Plim-plim!

Parafraseando Paul Stanley, guitarrista do Kiss, se o futebol não te dá lucro, alguém está lucrando com ele. E muito.

A violência começa onde o lucro está e acaba em um paraíso fiscal.

E eu tenho que aceitar/defender isto?

O ‘protocolo FIFA’ é lesivo a qualquer país, leis federais, estaduais e municipais que vão contra o lucro de todas as corporações envolvidas, serão ‘temporariamente revogadas’ ou ‘flexibilizadas’ (eu achava que esses eram termos de tucaninhos... vamos p’adelante!)

Por exemplo, antes do começo de quaisquer eventos públicos, deve ser executado o hino nacional brasileiro (no RS também deve ser executado o Hino Rio-Grandense), o ‘Protocolo FIFA’ será reformulado para contemplar nossos hinos?

Não. Não dá grana e a FIFA está cagando e andando para nossos hinos e leis.

A Copa do Mundo possui diversas cotas de patrocínio em vários níveis, sendo uma cota âncora destinada à cerveja. E a nossa lei que proíbe a venda de bebidas alcoólicas nos estádios e no entorno?

- Ela vai pro saco. Porque dá muuuuuita grana.

Se o torcedor se sentir lesado pela FIFA, poderá recorrer de algum modo? E o Código de Defesa do Consumidor (CDC)?

- Hmmmmm, embaçado. O CDC não dá grana, né?

O Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto do Idoso, o Estatuto do Torcedor vão contra o lucro da FIFA. Por isso, a FIFA simplesmente ignorou o Código do Consumidor quando estipulou as multas para cancelamento da compra do ingresso para a Copa.

- Não entendeu a relação com o CDC? Simples.

O artigo 49 do CDC prevê que o consumidor possa cancelar compras feitas fora de estabelecimento comercial até sete dias corridos após o recebimento do produto ou assinatura do contrato e receber o dinheiro pago corrigido, como ocorre no comércio eletrônico. No entanto, ao reservar ingressos para o torneio, automaticamente o torcedor está sujeito ao pagamento de taxa de cancelamento caso seja sorteado e desista do bilhete. A tarifa pode chegar a 20% do preço da entrada. E a multa pode variar de R$ 3 a R$ 396, dependendo do valor do ingresso.

E nessa história tem outro agravante.

O pulo do gato tá no fato de o torcedor não receber esta informação no ato da inscrição para compra. (Ráááááááá!). Para acessá-la é preciso entrar no site oficial da Copa, clicar no link “Ingressos” e depois em “Legal”. A informação integra o sétimo dos 19 capítulos do “Regulamento de Venda de Ingressos para o Público em Geral”. (Ráááááááá!). Há ainda a possibilidade de rescisão do contrato de venda até o limite de 48 horas antes do jogo. Nesse caso, no entanto, a multa é de 30%.

A Lei Geral da Copa concedeu algumas liberdades irrestritas para a FIFA. Inclusive, a liberdade para decidir o preço dos ingressos e de passar por cima do CDC.

Vamos mais fundo na questão da Copa do Mundo 2014?

O principal argumento para trazer a Copa do Mundo 2014 (e as Olimpíadas para o Rio de Janeiro) era o tal Legado. Escrevo com letra maiúscula, porque o Legado virou uma entidade. Tudo deveria ser pensado a partir do Legado. Uma das máximas do marketing é pensar em médio e longo prazo. Investir agora pra colher muito mais depois.

Áreas degradadas seriam revitalizadas, mobilidade urbana, melhores ruas, estradas, malha ferroviária, e uma porrada de argumentos utilizando-se, inclusive, da experiência de Barcelona com os Jogos Olímpicos de 1992. Porém (sempre tem um porém), a realidade e o cenário de Barcelona e da Espanha em 1992 eram outros.

No Brasil, temos desocupações violentas com a utilização de ferramentas do Estado. Em Porto Alegre chegou-se ao cúmulo de utilizar a Brigada Militar (PM gaúcha) para proteger de manifestantes, um boneco inflável do mascote da Copa vestindo uma camisa com a marca do refrigerante patrocinador do torneio. Detalhe: o tatu inflável estava colocado em espaço público. O privado sobre o público. Os aparatos do Estado investem contra pessoas que não tem outro lugar para morar (a não ser a ocupação). Ocupações que eram defendidas em outros tempos por certas bandeiras vermelhas de outrora.

Muitas obras do Legado ficarão prontas após a Copa do Mundo. E na boa, pelo andar da carroça que sempre arruma as abóboras em seu lugar, mesmo depois do fim da Copa, acho que as obras vão demorar a ficar prontas. E alguns dirão que é coisa da oposição.

Infelizmente, ainda muita gente vai dormir na rua, apanhar e ter seus direitos individuais, e humanos, vilipendiados pelo Estado para que a FIFA, nosso suserano visite o vassalo sem sujar os pés de barro e sem que a nossa realidade cotidiana agrida os seus olhos.

O #NãoVaiTerCopa já perdeu o sentido imediato e literal do termo e foi colocado fora de timming. Poderia ter rolado enquanto o Brasil ainda estava cogitando se candidatar para sediar o torneio da FIFA. Mas, naquela época, o Gigante estava na Disney e o Guy Fawkes ainda era um personagem criado por um comunista e não tinha hackers recrutados pelos Estados Unidos. Como não houve articulação social, leia-se, a mídia não deu uma força porque estava todo mundo acomodado, #VaiTerCopa. E custe o que custar. Mesmo que tenham novos protestos, infiltrados ou não. Ou protestos de uma classe média que, apoiada pela alta inflamabilidade provocada pela imprensa e pelos Estados Unidos, que sempre acaba com o trabalhador sendo vitimado com o incêndio de ônibus, bancos públicos sendo vandalizados ou tendo seu carro incendiado. O #NãoVaiTerCopa ainda tem um sentido figurado forte e marcante. Não vai ter copa na Aldeia Maracanã, não vai ter copa nas comunidades pacificadas com UPP’s, não vai ter copa para quem foi arrancado de sua casa.

Por sua vez, o #VaiTerCopa revela uma divisão dentro da esquerda, uma esquerda rebelde sem causa que se alinha com a direita, pra fazer birra para a esquerda de centro que a originou. E tem ainda uma esquerda, que de tão rebelde, não dialoga claramente com a sociedade. Se o estabilishment é o inimigo, usem a linguagem do inimigo para se fazer entender. Isso é histórico e uma estratégia. Usem-na.

E na prática, temos uma masturbação mental cibernético-digital de quem é contra mas vai pagar ingresso, assistir aos jogos e, pra dizer que é rebelde, vai vaiar a Dilma, e, de quem é a favor e nem vai na porra da copa porque não tem grana.

É uma inversão de valores e realidade surreal.

Mais surreal que isto será a aplicação da Lei de Gerson no custo de vida, preços e greves de diversas categorias que irão se aproveitar do momento para pressionar governos e patrões sobre suas reivindicações. Só que a Copa é do estádio para dentro. As externas, como são chamadas as inserções em vias públicas, serão feitas em locais já controlados pela segurança do evento. Gringo não quer ver ninguém apanhando, engasgando com gás lacrimogêneo ou levando bala de borracha na cara... tá, ele até pode querer ver isto, mas a FIFA não vai deixar isto aparecer. Porque a Copa é um produto/marca da FIFA e não do Brasil.

Os defensores da Copa vão dizer que não tem grana pública envolvida e que a Copa das Confederações já pagou a Copa do Mundo, mas será que valeu a pena sacrificar seres humanos para lucrar pouco, já que o lucro maior vai ser dividido entre algumas empresas e a maior fatia deste bolo vai para a Suíça? Se alguém de esquerda falar que valeu a pena, desculpa, mas você não é humanista e não é de esquerda. É tão capitalista quanto o FMI que você queria fora do Brasil durante os governos de FHC.

E falando francamente, como um evento mundial organizado com corrupção, o jeitinho brasileiro e em cima de ameaças, matérias jornalísticas nefastas e rabos presos, poderá dar certo?

Há muito o futebol deixou de ser um esporte de massa, porque foi roubado por ladrões violentos e fortemente armados que vieram do exterior e levarão nossas riquezas para a lavanderia de um paraíso fiscal.

É isto que eu tenho que aceitar/defender?

Acho que não. Respeito minha ideologia e formação.

Copa do Mundo 2014... soy e sigo siendo contra.

Sempre Contra o Futebol Moderno.

E a favor do futebol sem numeradas.

Anotação na Margem:

- Texto escrito ao som do álbum Siglo XXI da banda basca Gatillazo;

- O Contra o Futebol Moderno é um movimento espontâneo surgido nas arquibancadas da Europa. E é mais um exemplo da mescla entre futebol e política em território europeu ;

- Faça um favor a si mesmo, não assista a Copa com Galvão (e nem com ninguém);

- Ainda acredito que o Brasil será ‘compensado’ com o caneco em virtude de ter perdido a Copa de 1950. Por isso, soy celeste!;

- Se você é contra a copa, protestou, pichou, quebrou vidraças e arregaçou coisas nas ruas, você não pode comprar o álbum de figurinhas da copa. Estamos de olho;

- Quero ver quem defende o trabalhador e defende a copa, defender a copa do Qatar 2022 que já matou milhares de operários em situação de semiescravidão. É a mesma FIFA;

- Peço pra quem defende a copa e carrega uma bandeira vermelha, que aprenda a gritar gol com o Jornal Nacional, ou que seja coerente com o símbolo que carrega;

- Uns dizem: “Quero ver na Copa”, eu quero ver é depois da Copa.

INFORME: Independente, o Comunica Tudo é mantido por um único autor/editor, com colaborações eventuais de outros autores. Dê o seu apoio a esta iniciativa: clique nas publicidades ou contribua.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..

Fonte: http://feedproxy.google.com/~r/blogspot/UkDc/~3/LdAOJh-COZY/copa-do-mundo-2014-sigo-siendo-contra.html

0sem comentários ainda

    Enviar um comentário

    Os campos realçados são obrigatórios.

    Se você é um usuário registrado, pode se identificar e ser reconhecido automaticamente.