De FHC a Dilma: a herança eterna |
Não interessa aqui se a administração em exercício realiza todas as suas promessas de campanha, se é ótima, boa ou sofrível, nem mesmo se corresponde às expectativas do eleitor. Trata-se de reconhecer que a coligação de centro-esquerda encabeçada pelo PT foi e é mais competente (alguns prefeririam “menos incompetente”) para governar o país do que a de centro-direita liderada pelo PSDB. Simples assim. Se existem critérios objetivos para refutar a conclusão, que sejam apresentados e debatidos.
Os esforços da imprensa corporativa para diluir esse contraste machucam a inteligência do público. A abrangência macroeconômica que faz de FHC uma espécie de propulsor de Lula e Dilma poderia ser estendida a Sarney, Médici, Vargas, Prudente, Floriano, Dom João VI, ao sabor do freguês. Uma das constatações mais frequentes da historiografia dos grandes períodos é a tendência evolutiva das sociedades. E sempre haverá uma rede infindável de nexos causais preparando, propiciando e condicionando eventos futuros.
A idéia de repartir o mérito de Lula e Dilma com FHC possui também um ranço antidemocrático. Primeiro porque nega a dinâmica político-eleitoral que envolve esses projetos de poder, tentando neutralizar os antagonismos que marcarão a disputa de 2014. E, principalmente, porque influi na própria essência comparativa do sufrágio. Conhecer e contrapor os resultados de experiências administrativas rivais é um direito soberano do cidadão.
O hábito de generalizar os defeitos e os méritos da classe política tem uma natureza ideológica bastante determinada. Sua conveniência à estratégia eleitoral oposicionista espelha a idoneidade dos defensores da falácia.
(Publicado por Guilherme Scalzilli)
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