Todos os
partidos políticos são variantes do absolutismo, já dizia Proudhon no século
XIX. Pensamento com o qual concordo. Mas para entender o significado profundo é
preciso compreender melhor o que é absolutismo. Segundo o dicionário Priberam Online:
absolutismo
1. Sistema
de governo em que o poder do chefe é absoluto.
2. Despotismo,
tirania, autocracia.
3. Poder
absoluto e ilimitado.
Entenda-se que o partido político, ao vencer uma eleição,
ganha para si o poder de administração, não somente dos bens públicos, mas
também da regulamentação dos bens privados. Podem assim dizer que os políticos
governam para o povo e em nome da democracia, ou melhor, dentro de um sistema
democrático. Será?
Fosse assim, na história brasileira, não teríamos visto
escravidão, ou será que alguém deseja ser escravo? Fossemos democráticos, no
Rio de Janeiro, e não veríamos pacientes internados serem transferidos do Iaserj
(Instituto de Assistência aos Servidores do Estado do Rio de
Janeiro), na calada da noite. Ou será que alguém o desejaria? Fossemos “do povo
e para o povo” e não assistiríamos o Núcleo para Idosos do Hospital Estadual Albert Schweitzer
– RJ - sendo fechado e deixando 1.600
senhores e senhoras sem atendimento.
Chegam a nos dizer que o Estado deve administrar a coisa
pública com mão forte, porque nem sempre o povo sabe o que é melhor pra si. E
mais, que o Estado gere e escolhe o que é melhor para todos ou pelo menos, para
a maioria. Será?
Onde está a maioria da população que decidiu deixar impune os
militares da ditadura brasileira que torturaram, mataram, estupraram, ocultaram
cadáveres, prenderam sem acusações ou processos legais? Onde está a maioria do
povo brasileiro que escolheu sucatear a saúde, a educação, a industrialização
nacional, a tecnologia tupiniquim, o saneamento e muito mais, em nome de uma
oligarquia e uma elite financeira que há séculos domina este país?
Existem ainda outras questões que me povoam a mente quando
pensamos na tal democracia brasileira. Principalmente quando chegamos numa
campanha eleitoral. Minha caixa de e-mail começa a ser povoada por textos
partidários ofendendo e denegrindo outros partidos. Qual o motivo? Desejam,
todos, governar as diferenças, em nome da democracia? Bem, se não sabem
administrar as diferenças nem em campanhas eleitorais, sem recorrer a joguetes
ridículos para competir numa eleição democrática, quão melhor se sairão para
resolver as diferenças de milhões de cidadãos, cujas vidas, direta ou
indiretamente, dependem de ações políticas?
Claro está para todo mundo que a disputa eleitoral entre
partidos é uma disputa entre modelos diferentes de governança. Está? Programa de
governo não parece ser algo claro para a maioria da população; ao menos, esta
ignorância parece ser verdadeiramente democrática. Direitos e deveres dos
cargos políticos e públicos também não parece ser algo esclarecido para a maior
parte do povo. Mais uma vez, parece que temos na ignorância de algo o nosso
elemento unificador e democrático.
A minoria do povo brasileiro, provavelmente, pode ser
chamada de militante ou ativista político ou algo que o valha. A maioria ainda
diz que futebol, política e religião não se discutem, ou seja, a omissão me
parece eminentemente democrática no Brasil.
Enquanto escrevo este texto, nossos partidos políticos
continuam bradando em nome da democracia. E para vencer na gestão de milhões de
diferentes cidadãos, estes partidos agem no sentido de arruinar seus
adversários, bombardeando as diferentes posturas de si de modo enfático. Mais uma
vez pergunto: como lidarão com as diferentes posturas quando assumirem o poder?
Bombardearão e destruirão mais uma vez? Parece-me que a aniquilação das
diferenças é algo extremamente democrático no Brasil.
Um dia, penso eu, nosso país irá amadurecer. A partir deste
momento, o povo brasileiro compreenderá que partidos políticos são variantes do
absolutismo e que desejam o poder em suas mãos.
Pedro Cardoso, numa entrevista concedida em 2009, fez uma
afirmação muito feliz, em minha opinião. O PT, no governo federal, foi o melhor
governo que já tivemos, principalmente se o compararmos aos anteriores. Mesmo
assim, o partido dos trabalhadores continua governando em nome da mesma máquina
que mantém o Brasil como exportador de matéria-prima, em franco processo de
desindustrialização, com uma educação pífia, uma saúde deficiente, um
saneamento básico muito abaixo do básico e assim por diante. Há tempos mantemos
nosso país governando para bancos e empresas transnacionais, com um governo que
financia, em grande parte, a mesma mídia oligárquica que luta contra a evolução
da nação.
Se somos a quinta economia mundial, também somos o único
país da América Latina a não punir seus ditadores que cometeram inúmeros crimes
e continuamos atrás até mesmo de países da África, neste quesito. Se seremos a
sede de uma Copa do Mundo e de uma Olimpíada logo em seguida, ainda temos
índices de homicídios assustadores, maiores que muitas guerras que já
aconteceram ou ainda acontecem. Por isso evoco você, cidadão, a pensar qual
democracia o partidarismo brasileiro tem sustentado e mantido?
Insisto em pensar e sonhar e lutar o quanto posso em nosso amadurecimento político e social.
Penso que um dia compreenderemos que quem faz política é o cidadão (eu e você)
e tomaremos para nós as rédeas da nossa história, seja como indivíduo, seja
como nação. É por isto que sonho e vivo. Talvez seja esta a minha utopia.
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