Nem todo mundo que decide humilhar uma mulher por causa de um vídeo com cenas de sexo compreende que está sendo machista. Poderia chamar também de bullying virtual, mas nem todos concordariam que, de modo intencional e repetido, estão violentando ou agredindo uma mulher ou uma menina. Certamente muitos diriam que é só uma "brincadeira", uma "piada".
Uma simples "piada" foi o que fez Danilo Gentili com uma pernambucana que era a maior doadora de leite materno do país. Foi condenado pelo mau gosto do pretenso humor e pelos danos causados.
No último dia 10 de novembro, uma adolescente de 17 anos foi encontrada morta, dentro de seu quarto, enrolada num fio desses aparelhos de fazer "chapinha" no cabelo. Julia Rebeca chegou a anunciar o suicídio pelo Instagram.
Primeiro porque não me recordo de que algo semelhante tenha causado a morte de algum homem que tenha transado com mulheres belíssimas. Sendo assim, penso que o simples vazamento de um vídeo sexual não é capaz de matar ninguém, principalmente homens. O que mata, difama, humilha e agride são os comentários e "piadas" feitas em relação ao conteúdo do audiovisual. Importante frisar: quase sempre são "brincadeiras" e "piadas" com alto teor sexista e machista.
Qual é o real problema de se ver divulgado em um vídeo com cenas de sexo? Depende: se você é homem, provavelmente, nenhum. Ao contrário, isso ainda será usado como um troféu para seu "falo". Mas se você é mulher é quase certo que será vítima de bullying, de machismo, de "piadas e brincadeiras" que vão acabar com sua vida social, no mínimo. Em casos mais extremos, o mal-estar e a falta de elementos para se lidar com a situação podem levar ao suicídio.
O "Caso Fran" foi semelhante. Vídeo divulgado pelo WhatsApp, as "piadas" circulando pelas redes sociais, um homem que compartilha seu troféu (um vídeo sexual) e uma mulher sem condições de sair de casa para trabalhar, comprar pão, etc. Pessoas chegaram a parar em frente da loja onde a jovem trabalha (ou trabalhava) para tirar fotos fazendo sinal de "OK", a "piada" que virou meme e se espalhou por todo o país.
Qualquer pesquisa rápida pela internet será capaz de mostrar o quão recorrente estes casos se tornaram. Na verdade, isso sempre aconteceu em nossas sociedades. A grande diferença é que hoje se faz em minutos o que antigamente se fazia em meses ou anos. O objeto de difamação ainda é o mesmo: a mulher e/ou os homoafetivos. Os argumentos usados pouco mudaram: ainda são machistas e sexistas.
Atualmente, grupos reivindicam seu espaço justo e igualitário na sociedade. São feministas e apoiadores de causas homoafetivas e assim por diante. Mas o conservadorismo político, religioso, social e sexual logo respondeu a essas lutas, dizendo que hoje vivemos uma "ditadura gayzista", um "patrulhamento excessivo" do politicamente correto, que "não se pode dizer mais nada", etc. Mas até onde tenho conhecimento, somente o machismo continua matando, bem como os conservadorismos todos. O "politicamente correto" ainda não vitimou nenhum humorista de mau gosto. Não que eu saiba...
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
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