Sexta-feira (06/07) o
senador Álvaro Dias visitou o ‘presidente’ golpista Federico Franco em
Assunção. Aproveitando a oportunidade, o senador afirmou que o PSDB planeja
entrar com uma ADIn (Ação Direta de Inconstitucionalidade) no STF (Supremo
Tribunal Federal) contra a decisão do governo federal do Brasil de apoiar a
entrada da Venezuela no MERCOSUL e suspender os Paraguay do bloco continental. “Se
os advogados do PSDB considerarem que é possível, vamos ao Supremo, pois o
nosso partido repudia o fato de alguns países não reconhecerem a posição
majoritária do parlamento paraguaio, referendada pela Suprema Corte, e também
as sanções que representam uma afronta à soberania do país", comentou
Dias.
A agenda do senador em
Assunção contou com uma reunião com membros da Câmara dos Senadores do Paraguay.
Nesta ocasião, Dias reiterou o apoio ao processo de ‘impeachment’ que destituiu
Fernando Lugo da presidência e criticou a decisão do MERCOSUL que suspendeu os
paraguaios do bloco econômico. Além de reduzir o debate ao destacar que o Paraguay
era o único país do bloco que era contra a entrada da Venezuela e que, devido à
suspensão, não participou da decisão que aprovou a inclusão dos venezuelanos. Em
nota publicada em seu site, o senador Alvaro Dias analisa que o processo de ‘impeachment’
de Lugo transcorreu de “forma transparente, legal, constitucional” e, por esse
motivo, não há nenhuma razão para que os “outros países do continente se
insurjam contra uma decisão de uma nação independente e soberana”.
Mas, porém, contudo,
no entanto, entretanto...
Um
despacho secreto da embaixada ianque em Assunção, destinado ao Departamento de
Estado, em Washington, traz a informação em 28 de março de 2009, que a direita
paraguaia organizaria um ‘golpe democrático’ no Legislativo para derrubar
Fernando Lugo. O teatro da mentira, reproduzida exaustivamente pela mídia como
impeachment, foi encampado em 22 de junho.
O
documento da representação diplomática americana, divulgado pelo WikiLeaks
em 30-08-2011 (clique aqui para acessar o
documento) demonstra o
passo-a-passo do plano para destituir Lugo e colocar o vice-presidente,
Federico Franco. O texto enviado aos Estados Unidos além de informar, faz
alguns alertas. Argumenta que a conjuntura política ainda não era propícia para
um Golpe de Estado. Além de explicitar quem são as lideranças do atentado
contra a democracia paraguaia: o general Lino Oviedo e o ex-presidente
Nicanor Duarte Frutos.
Lino
Oviedo é defensor do agronegócio brasileiro no Paraguai e é agente de pressão
sobre a Presidenta Dilma pelo reconhecimento público da legitimidade do governo
de Federico Franco, que é igualmente simpatizante do setor. Oviedo é
militar com fetichismo pelo golpismo. Nos anos 2000, após fracassar na
tentativa de golpe contra o então presidente Juan Wasmosy, fugiu para o Brasil
onde ingressou ilegalmente pela fronteira, e depois teve sua extradição negada e pedido de asilo político aceito pelo
STF.
Nicanor Duarte Frutos foi o presidente que em seu
governo (2003-2008) permitiu a entrada de tropas norte-americanas em solo
paraguaio para exercícios militares em conjunto com as forças locais. Frutos,
também deu permissão aos EUA para construir uma base militar na zona da
Tríplice Fronteira (Paraguai, Brasil e Argentina), com uma enorme pista de
pouso, supostamente para combater narcotráfico e as atividades do terrorismo
islâmico que o governo Bush afirmava que ocorriam nesta região. Na época, estas
decisões de Frutos foram duramente criticadas pelos países sul-americanos.
Naquela sexta-feira fatídica, os EUA foram o primeiro país a reconhecer o
governo golpista. Então, cai por terra o discurso de país que divulga e defende
a democracia a todo custo no mundo, pois, seu governo estava informado
sobre a conspiração há três anos e nada fez pela defesa da democracia
paraguaia. Ainda naquela sexta, a secretária Hillary Clinton recuou na
posição oficial. Esse movimento pode ser interpretado como um recuo estratégico
para não se opor à condenação imediata do “Golpe de Estado democrático” feita
pela maioria da América Latina e blocos como a Unasul e MERCOSUL.
A importância dos documentos vazados pelo Wikileaks
se dá ao explicitar as lideranças por trás da conspiração, demonstra a posição
de Washington e defende os países do MERCOSUL em sua decisão de suspender o
Paraguai como membro do bloco. Suspensão que deverá se estender na Unasul.
Além de demonstrarem que Washington e Obama não são,
e jamais serão favoráveis à democracia e que a imprensa tupiniquim está
alinhada com o governo dos EUA.
Diante de tudo isso: participação de golpistas, o
processo de Golpe de Estado rolando desde 2009, a participação de Lino Oviedo,
ainda querem dizer que foi um processo legal e constitucional?
Imprensa informe o povo e seja transparente.
Golpe é golpe.
Em Assunção foi um golpe. E um partido brasileiro
não pode contrariar uma decisão tomada por um bloco continental.
Vada a bordo, cazzo!
Vaffanculo!
Anotação na Margem:
- Segundo informações do Opera Mundi representantes do Pentágono visitaram o Paraguai dias após a destituição de Fernando Lugo e Deputado paraguaio negocia instalação de base militar norte-americana.
- Se for possível entrar com a Ação Direta de Inconstitucionalidade, arriscando, minha intuição
indica Gilmar Mendes para o julgamento da ADIn, não sei por que (pronto,
explodi mais um detector de ironia).
Escrito por Diego
Pignones
Publicitário
e pesquisador em Comunicação Social.
Twitter: @diegopignones
Tumblr: http://lavalanga.tumblr.com/
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