Em tempos de crítica ao politicamente incorreto, certos grupos de pessoas têm tentado emplacar o termo “feminazi” para se referir aos movimentos de mulheres. O intuito é dizer que nós, feministas, somos intolerantes e autoritárias demais ao não aceitarmos piadas sobre estupro ou não engolirmos propagandas de cerveja que nos vendem como objeto.
Até agora, esse apelido não tinha colado muito.
Com todo o debate envolvendo a prisão das três ativistas do Femen BR, finalmente a tal alcunha parece ter conseguido uma brecha. Não pelo que caminho que gostaria, ou seja, de desqualificar os argumentos das feministas, mas pelo que supostamente seria o passado da porta-voz do Femen BR, Sara Winter.
Segundo especulações na internet, baseadas principalmente no blog de Winter e em seu perfil no Facebook, a moça já teria sido simpatizante da Ação Integralista Brasileira, de inspiração fascista, e de seu líder, Plinio Salgado. E seu pseudônimo seria, na verdade, uma homenagem a uma britância nazista que atuou na Segunda Guerra Mundial.
Pronto, era só o que precisavam para o termo “feminazi” ganhar força. Ou, pelo menos, para poderem fazer graça de novo com ele. “Viu só como tínhamos razão? Elas são mesmo, literalmente nazistas!”, li por aí.
Eu não vou tentar aqui defender a Sara. Não a conheço, mas não acredito que o passado seja o único instrumento para julgar alguém. Afinal, se eu não acreditasse em mudanças possíveis, minha vida e esse blog não fariam o menor sentido. Muito menos a ideia de correção da Justiça burguesa.
Agora, independentemente de seu histórico, suas declarações realmente não têm contribuído muito com a luta feministas, para dizer o mínimo. Alguns breves exemplos: 1) Ela defende as ucranianas loiras como ideal de beleza, o que soa altamente racista; 2) Ela acha que os “os seios de homem não têm utilidade nenhuma”, demonstrando um grande preconceito sexista; 3) Ela afirma que lésbicas e bissexuais são mulheres que tiveram experiências ruins com os homens e desistiram de ser heteros, algo terrível e absolutamente inaceitável, que passa por cima de qualquer respeito à orientação sexual.
E como não lembrar que os pronunciamentos do grupo aqui mencionam o Brasil com “z”, “Brazil”? E que dizem que o movimento é “apolítico”? (Não, não é “apartidário”, é “apolítico” mesmo) E que a iniciação coberta pela mídia mais parece um trote universitário cruel?
Mas, todavia, porém, não podemos jogar a criança fora com a água do banho.
O tal neofemismo que Sara clama para si – e que para mim é simplesmente o feminismo no século XXI e não precisaria de, com o perdão do trocadilho, neologismos para se definir – é uma luta política empolgante, viva e com milhares de representantes em todo o mundo.
Da Marcha das Vadias às francesas que colocam bigodes e ocupam espaços onde apenas homens heterossexuais tomam as decisões, utilizar o corpo – seja lá qual for ele – como instrumento de protesto tem sido uma arma e tanto! O bravíssimo Femen ucraniano que o diga!
( Texto publicado, originalmente, no blog Território de Maíra.)
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