Esta dificuldade na compreensão de um mundo social, político e econômico que, embora tenha fortes e sólidas raízes, tornou-se tendencioso ao infinito, nos faz perder o chão, diante da antiga dialética que sustentava o mundo. Quero dizer, diante das dualidades simplistas que tornavam fáceis o posicionamento de qualquer pessoa no mundo.
Hoje, posicionar-se exige muito mais empenho e esforço do que tempos passados. Exige estudos, análises e debates muito mais intensos e descentralizados. Por isso mesmo, há os que prefiram apenas invalidar a quase tudo e todos, por não serem capazes de entender a transcomplexa teia na qual as sociedades se transformaram. Os antigos discursos dualistas pouco podem ajudar no plano real de quem quer e precisa agir.
A todo instante somos surpreendidos por pessoas que considerávamos inteligentes tendo reações contraditórias e imbecis, bem como pessoas que pensávamos chafurdar na ignorância, mostrando-se sábias, muitas vezes, com seus poucos recursos argumentativos. Alguns podem dizer que isto é natural do ser humano, mas penso que esta é a marca principal que define o nosso tempo, nosso zeitgeist: descontinuidade, não-linearidade, caos, transcomplexidade, capilaridade, liquidez e um sempre presente ar blasé, daqueles que não estão entendendo nada, mas desejam estar nos palcos do espetáculo egóico e efêmero.
Não se pode mais fazer ativismo político dentro de uma lógica dualista, simplista, puramente racional ou tão somente emocional. Há que se misturar tudo, sair a campo, vivenciar, ler e estudar para formular as bases de suas novas ações. Caso contrário, a descontinuidade, a não-linearidade, o caos, a transcomplexidade, a capilaridade e a liquidez irão engolir você, seus sonhos e seu projeto de mundo. Claro que os discursos repletos de platitudes e dualidades infantis continuarão existindo, mas serão incapazes de atender às necessidades reais do mundo no qual vivemos, serão incapazes de gerar mudança. Nenhuma mudança.
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