(Por Enderson Araújo)
O que faz uma jornalista estrangeira vir ao Brasil, e preparar uma matéria para a Reuters, um site reconhecido mundialmente, e propagar imagens sensacionalistas das comunidades de periferia em Salvador? Não estamos aqui dizendo que não existe o tráfico, as mortes e tudo mais que nós de comunidades sabemos que existe, e sabemos também o porquê ela existe, por ausência de política públicas e assistência do GOVERNO dentro das comunidades.
A copa ocorrerá em 2014, e com isso, os empresários que a organizam só pensam em fazer a segurança dos turistas, e, por consequência colocam mais policia nas ruas e em especial nas comunidades periféricas. Mas porque não se pensa em estudar projetos de turismo comunitários, projetos de jovens que estão produzindo conteúdo onde mostram as belezas das suas comunidades, o empreendedorismo local? Outro questionamento é: por que estas iniciativas não são fortalecidas? Para além do que foi mostrado pela jornalista, existem jovens que estão propagando as suas comunidades, emergindo culturas e artistas locais.
Contudo, nota-se que o grande culpado de tudo isso é o governo, que não investe no sistema público de educação, saúde, transporte dentre outros direitos que nos são privados. Em contrapartida o Estado brasileiro investe mais no aparelhamento da policia. Acreditamos que a mídia local também deveria exercer seu poder de influência e dialogar mais com as comunidades de maneira em que não sustentar um discurso sensacionalista sobre as mesmas, tratando-as como apenas como meros necessitados. Sim, são necessitados, mas de direitos básicos que outrora foi supracitado, e que o governo deveria garantir.
Segue exemplos de jovens que estão usando celulares, câmeras digitais, gravadores como "armas" para "traficar" informações sobre as comunidades.
Jovens do Nordeste de Amaralina que criaram um portal de noticias, o "Nordeste Eu Sou", para noticiar o dia-a-dia de sua comunidade para o mundo. O complexo de bairros do Nordeste de Amaralina, foi o primeiro local de Salvador a receber implementação de uma Base Comunitária de Segurança (semelhantes a UPP's). Além do site Nordeste Eu Sou, outro grupo de jovens criou a "Tv Interativa DKebrada"- que elaboram vídeos para divulgar artista da própria comunidade.
Contudo, ainda há experiências como o do "Coletivo Boom Clap" e "Colé de Mermo", formado por jovens produtores de comunidade, e, que através da Cultura Hip Hop estão ocupando espaços públicos no centro da cidade de Salvador com"Batalhas de Rimas", eventos ligados ao Hip Hop e a Cultura Urbana Negra, fazendo festas acontecerem de maneira que as pessoas possam resignificar essas manifestações culturais dando visibilidade a estas e aos atuantes da cena.
Nas imagens a seguir, jovens de comunidades que se organizam no centro da cidade para fazer batalha de rimas improvisadas, que por sua vez tem como grande vencedor o "Big", jovem oriundo da periferia e que agora irá representar a Bahia noDuelo Nacional de MC´s em Belo Horizonte - MG, sendo que em 2012 quem representou o estado foi a MiraPotira.
Os jovens de comunidades são produtores de tudo isso, e sem dúvidas trazem novas perspectivas de vida para outros amigos que já não encontram ou sabem o que seria ter expectativa, pois a policia, o aparelho que é usado pelo governo para oprimir.
Todo esse descaso e sensacionalismo é fruto dum ciclo de interesses e valores entre os poderosos. Marginalizar os jovens de comunidade é bem, mas fácil do quê escutar, ver e acima de tudo compreender as diversas potencialidades artísticas em cada beco que totaliza as periferias. Pois, é mais rentável pra mídia privada trabalhar com as contradições sociais geradas pelo modelo de sociedade vigente.
Para os sensacionalistas que utilizam da atividade jornalística para difundir mentiras, aqui segue um recado: os jovens de periferia estão verdadeiramente " armados", mas com celulares, iphones, câmeras digitais e outras ferramentas que certamente auxiliarão na produção comunicação, afim de "traficar" informações sobre a realidade das periferias soteropolitanas, mostrando o lado bacana, não somente para que tenham bons olhares sobre a comunidade, mas também como um local em potencial para receber investimentos e incentivo.
É importante que a correspondente Lunaé Parracho, da agência de notícias Reuters, aborde um outro olhar sobre as periferias de Salvador, e não apenas o olhar generalizador e preconceituoso que mostra a juventude negra apenas em atividades que põem a sua vida em risco, sobretudo no atual momento em que no Brasil o debate sobre a redução da maioridade penal ganha força dentro dum Senado burguês.
Contudo, os mesmos jovens marginalizados nas fotos da jornalista, agora apontam para a necessidade de estimular debates no campo do Direito á Cidade, Criminalização da Pobreza, Democratização da Comunicação, para que assim fortaleça a organização da juventude negra.
São inúmeros o jovens que por meios alternativos, criaram um canal possível de diálogo entre diversas comunidades existentes em Salvador, e, em outras regiões do Brasil. Prova disso é a jovem comunicadora Itamara Silva, moradora periferia de Sussuarana, uma das formadoras do "Mídia Periférica".
Os jovens de comunidades de periferia não podem servir de atores do teatro do sensacionalismo criado por jornalistas desiformados. Não é somente criminalizando as periferias que vamos conseguir resolver diversos problemas, que vão para além do crime organizado, deve se criar uma via de diálogo entre governo, mídia e a juventude que produz cultura dentro das periferias, pois pode ser criada e traçada estrategias para que materias como estas não venham a existir novamente
http://blogs.reuters.com/photographers-blog/2013/05/02/a-world-with....
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