Mesmo assim, parte da população brasileira está bradando: "não vai ter copa", referindo-se às manifestações que talvez aconteçam na Copa de 2014, seguindo o modelo já ocorrido no histórico ano de 2013. Ontem, foi o início da longa e tortuosa jornada do Governo Federal ao clamar seu criativo slogan: "vai ter copa", em resposta aos que prometem manifestações, dizendo que está será "a copa das copas".
Com criatividade abundante, o Governo Federal e seus apoiadores apostam todas as suas cartas na boa execução da Copa do Mundo e os motivos são muitos. Um deles e também o mais óbvio: estamos em ano eleitoral. O PT, para conseguir o quarto mandato consecutivo na presidência, precisa essencialmente de um povo que não exerça seu direito democrático de contestar as imposições internacionais feitas para a realização da Copa. Caso contrário, sua imagem será manchada mundo afora e a aclamada reeleição, tida como certa por muitos partidários, ficará mais distante e complexa.
Até este ponto, embora possa parecer imoral e antidemocrático, não há nada de ilegal, já que o desejo de manutenção do poder ocorre numa orquestração nos bastidores. Mas o principal problema que vejo é o tom de repressão a qualquer custo para qualquer coisa que soe diferente do tom oficial.
Exemplo disso é que o Governo Federal criou uma tropa de choque de dez mil homens para ajudar as PM's nas cidades-sede da Copa, sob o argumento de conter os protestos violentos. E tão somente os violentos (eu sei, eles dirão isso), por que o Governo Federal e os demais Estaduais são democráticos e não reprimem manifestações pacíficas, correto?
Errado. Prova disso é o que aferventou as manifestações de 2013, principalmente no Rio de Janeiro. Os primeiros protestos eram muito pacíficos e foram duramente reprimidos pela Polícia Militar carioca. Após isso, ocorreu o óbvio ululante: toda a população começou a apoiar e principalmente participar das manifestações, chegando a lotar toda a quilométrica Avenida Presidente Vargas.
Infelizmente, os homens do poder costumam insistir nos mesmos erros, sempre, e o motivo para mim é o mesmo: total incapacidade de dialogar. Nossa Presidenta Dilma, depois dos eventos do ano passado e também de olho na reeleição deste ano, 'resolveu acordar' e ressuscitou seu perfil no Twitter (depois de anos abandonado), como quem diz: eu dialogo. Prefeitos e governadores por todo o país, após serem arrasados pelo povo brasileiro em suas intenções repressoras do direito democrático de discordar do poder dominante, também juraram em todas as mídias que estavam abertos ao diálogo com a população e que a repressão dirige-se apenas aos violentos, etc. Ao menos aqui no Rio de Janeiro, a repressão aos protestos populares continua, infelizmente, e para todos: professores, moradores de rua, de favela, jornalistas e assim por diante.
Outro exemplo do tom de repressão às vozes dissidentes ocorreu comigo, quando publiquei no Twitter a seguinte mensagem:
"#CopadasCopas: “Ainda se morre de fome no Brasil” http://comunicatudo.blogspot.com/2013/10/ainda-se-morre-de-fome-no-brasil.html?spref=tw …"
Propus uma reflexão ao povo brasileiro, que assistirá a mais cara Copa do Mundo num país onde pessoas ainda morrem de fome, dentre tantas outras mazelas. Refletir (ainda) não é crime.
O ator da Rede Globo de Televisão, José de Abreu, também conhecido e autoproclamado petista, por livre e espontânea vontade de réplica, respondeu minha mensagem com algo como: "precisamos de mais quatro anos para isso". Se for isso mesmo, que ótimo: eliminar a fome no Brasil. Aproveitei a oportunidade de conversar com alguém que conhece de perto os bastidores do PT e do Governo Federal e perguntei, ainda no diálogo:
Tempo para acabar com a fome, segundo o ator e militante petista, existe e é de 4 anos. Para cumprir o que já está na Constituição Federal do Brasil desde o ano de 1988 e negligenciado por Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e agora Dilma: "só a prática dirá". Tem gente que pensa que democratizar as mídias no Brasil é inventar leis mirabolantes para censurar as grandes empresas jornalísticas desse país, que até hoje recebem verbas milionárias do Governo Federal em termos de publicidade governamental. Mas não.
Bastaria que todos os presidentes acima citados cumprissem o que já está escrito na Constituição desde 1988. Entendo que a fome é algo urgente e ações como o bolsa-família visam a eliminar este mal. Que bom. Mas um governo não é eleito somente para combater a fome e fazer Copa e Olimpíadas. Falta mesmo é interesse do poder público para regulamentar o que já está previsto e fazer cumprir o que já existe em lei.
Em vez de dar sequência ao diálogo, José de Abreu preferiu simplesmente achincalhar as mensagens sequentes que postei, dentre outras coisas, chamando-me de "coxinha" e clamando aos seus mais de 80 mil seguidores que me bloqueassem no Twitter, numa espécie de eu sou o 'Brasil: ame-me ou block-o'. Depois de bloquear-me, teve o cuidado de deletar todos os posts que publicou respondendo ao meu perfil. Talvez tenha pedido também aos seus milhares de seguidores que me denunciem por SPAM, ou seja, pode ser que meu perfil no Twitter seja deletado em alguns dias. "Só a prática dirá..."
Importante frisar que nas mais de 20 mil postagens que já fiz no Twitter, nunca incitei nenhum tipo de linchamento contra o ator global. Ao contrário, ele era meu seguidor desde 2010.
Claro que não me senti ofendido pela tentativa dele levar-me ao ridículo publicamente, mas me senti alertado pelo modus operandi dos governistas e seus apoiadores em relação ao extremismo na defesa de suas posições. Não somente pela atitude do citado ator da Rede Globo, mas de tantos outros apoiadores do PT, um partido que nasceu dentro da luta pela democracia e contra a ditadura. O livre direito de expor o contraditório numa democracia ou de se manifestar contrariamente parece que será linchado publicamente. Parece-me que esta é a estratégia do partido, caso contrário, alguns partidários estão tomando com extremismo para si uma missão que não lhes foi dada.
Parece-me infantil quando os populares dizem "não vai ter copa" os governistas responderem com "vai ter copa" ou então "não vai ter carnaval" ou "por que não bradam que não vai ter BBB", numa espécie de convencimento pela psicologia da contrariedade. O partido e seus asseclas (seguidores apaixonados) baterão nesta tecla incansavelmente até o fim do mundial em uma estratégia de comunicação massiva que já foi muito eficiente em governos como os de Mussolini, Hitler, Getúlio Vargas, Reagan, Bush e outros. Mas ainda funciona na manutenção do poder.
Particularmente, penso que este não seja o melhor modelo de comunicação e democracia para um país, principalmente na era da internet, na qual dispomos do dialogismo na rede mundial de computadores. Ações deste tipo só fomentaram inúmeros protestos mundo afora, como a Primavera Árabe, o Ocupem Wall Street e tantos outros que ocorrem neste exato momento.
Quem sabe um dia, o Governo Federal, demais governos estaduais, municipais e partidários, sejam capazes de compreender que o povo não está contra o Governo. Ao contrário, o povo quer chamar a atenção dos governantes e demais adeptos exatamente porque não costumam ser respeitados em seus desejos, muito menos ser ouvidos pela total incapacidade de diálogo dos políticos e partidários do Brasil.
Está na hora, de fato, de abandonarmos toda uma cultura absolutista e acostumada a reprimir, adquirida durante a ditadura e absorvida por inúmeras instituições brasileiras, e instalarmos aqui no Brasil uma real democracia. Não adianta agora, como sugeriu ontem um colunista, fazer uma pesquisa para saber se o povo está ou não a favor da Copa do Mundo. Primeiro, porque uma pesquisa favorável ou uma estratégia massiva de comunicação, por si só, não impedirá alguns populares de se manifestarem contrariamente ao evento realizado pela Fifa. Em segundo lugar, se alguma pesquisa tinha mesmo que ser realizada, deveria ter sido feita anteriormente para consultar se o povo brasileiro queria abrigar dois eventos mundiais consecutivamente com um altíssimo custo financeiro e social para o país.
Se na Islândia reformaram a Constituição daquele país através da internet, com altíssima participação popular e mostrando que pode e deve haver diálogo frutífero entre o poder e a população, por que não poderíamos fazer algo semelhante no Brasil? Por que não criar sistemas de diálogo aberto exatamente para evitar maiores danos para a sociedade, quando a população se cansa de levar balas e bombas apenas por reivindicar seus direitos? Parece-me que o diálogo nunca foi mesmo o objetivo e nem mesmo a democracia é clara e aberta para todos. Só o tempo dirá... Ou melhor, só o povo dirá, porque o tempo não é agente político dentro da democracia. O povo sim. Que fale o povo, porque o povo dirá.
Particularmente, penso que este não seja o melhor modelo de comunicação e democracia para um país, principalmente na era da internet, na qual dispomos do dialogismo na rede mundial de computadores. Ações deste tipo só fomentaram inúmeros protestos mundo afora, como a Primavera Árabe, o Ocupem Wall Street e tantos outros que ocorrem neste exato momento.
Quem sabe um dia, o Governo Federal, demais governos estaduais, municipais e partidários, sejam capazes de compreender que o povo não está contra o Governo. Ao contrário, o povo quer chamar a atenção dos governantes e demais adeptos exatamente porque não costumam ser respeitados em seus desejos, muito menos ser ouvidos pela total incapacidade de diálogo dos políticos e partidários do Brasil.
Está na hora, de fato, de abandonarmos toda uma cultura absolutista e acostumada a reprimir, adquirida durante a ditadura e absorvida por inúmeras instituições brasileiras, e instalarmos aqui no Brasil uma real democracia. Não adianta agora, como sugeriu ontem um colunista, fazer uma pesquisa para saber se o povo está ou não a favor da Copa do Mundo. Primeiro, porque uma pesquisa favorável ou uma estratégia massiva de comunicação, por si só, não impedirá alguns populares de se manifestarem contrariamente ao evento realizado pela Fifa. Em segundo lugar, se alguma pesquisa tinha mesmo que ser realizada, deveria ter sido feita anteriormente para consultar se o povo brasileiro queria abrigar dois eventos mundiais consecutivamente com um altíssimo custo financeiro e social para o país.
Se na Islândia reformaram a Constituição daquele país através da internet, com altíssima participação popular e mostrando que pode e deve haver diálogo frutífero entre o poder e a população, por que não poderíamos fazer algo semelhante no Brasil? Por que não criar sistemas de diálogo aberto exatamente para evitar maiores danos para a sociedade, quando a população se cansa de levar balas e bombas apenas por reivindicar seus direitos? Parece-me que o diálogo nunca foi mesmo o objetivo e nem mesmo a democracia é clara e aberta para todos. Só o tempo dirá... Ou melhor, só o povo dirá, porque o tempo não é agente político dentro da democracia. O povo sim. Que fale o povo, porque o povo dirá.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
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