Professora negra da USP é humilhada e sofre ofensa racial em restaurante de São Paulo |
Tudo corria bem, até que ela o seus amigos foram para frente do restaurante, na calçada, para fumar e conversar. O dono do estabelecimento, um holandês de nome Peter, que nunca havia falado com ela, juntou-se ao grupo com a intenção de se aproximar da professora. “Ele começou perguntando se meus dentes eram verdadeiros, por serem muito brancos, eu dei uma risada e respondi que sim. Tentamos mudar o assunto da conversa, quando ele me perguntou se eu gostaria de tomar café da manhã com ele no dia seguinte”, descreve a professora. Ela tentou desconversar novamente, questionando o que a esposa dele acharia da proposta, e ele respondeu “que ela não tinha nada com aquilo”.
Para ver ser Peter desistia das investidas, Adriana foi ao banheiro e ao voltar, se posicionou bem entre seus amigos. O holandês deu a volta para se aproximar dela novamente e perguntou se ela se depilava. Brava e em tom agressivo a professora respondeu que não tinha pelos, quando ele retrucou: “Aposto que tem e os de lá de baixo devem ser duros como os da sua cabeça”. Os amigos não reagiram, um deles era chileno e não falava português. Adriana resolver deixar o local, contra a vontade de Peter que perguntou ainda “qual era a última vez que ela tinha gozado gostoso”.
“Cheguei em casa e desatei a chorar. Pensei, sim, que a motivação dele foi racial. Há várias reclamações no site do restaurante, mas todas por grosseria. Então ele se achou no direito de falar daquela forma comigo, é porque sou negra e sabemos muito bem como a mulher negra figura no imaginário brasileiro”, afirma Adriana. Ela conta ainda que quando relatou o ocorrido aos amigos negros, todos de pronto entenderam o “viés racial” da situação. Já as amigas brancas, disseram que isso é normal e acontece “com qualquer mulher”.
Inquérito foi instaurado
Em agosto, logo após o ocorrido, Adriana Alves se dirigiu à Delegacia de Defesa da Mulher para instaurar inquérito. No entanto, a delegada presente entendeu que crimes de racismo deveriam ser investigados numa delegacia comum. No dia 14 de novembro, assessorada pelo advogado do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), Daniel Oliveira, a professora foi orientada a retornar à 3ª Delegacia de Defesa da Mulher para fazer o boletim de ocorrência, e nesta segunda tentativa não houve objeção.
“Trata-se de com caso de racismo, porque o dono do restaurante não apenas a assediou, mas fez uma associação relativa ao cabelo dela, que tem obviamente uma conotação preconceituosa”, explica Oliveira do CEERT.
(Por Silvia Nascimento – Mundo Negro)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo