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Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

População carcerária cresce seis vezes em 22 anos

10 de Janeiro de 2014, 11:14, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

De 1990 até 2012, a população prisional no Brasil cresceu seis vezes

Número de presos nas penitenciárias brasileiras saltou de 90 mil em 1990 para 550 mil em 2012, de acordo com dados do Ministério da Justiça. Para especialista, país erra com política de “superencarceramento”

As recentes ondas de violência originadas nos presídios do Maranhão e de outros estados mostram uma face do sistema carcerário brasileiro até então desconhecida da maior parte da população. Nos últimos 22 anos, enquanto o número de habitantes no país teve um crescimento de aproximadamente 30%, a quantidade de pessoas presas teve um aumento de 511% entre 1990 e 2012, segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), órgão ligado ao Ministério da Justiça.

Parte da violência dentro dos presídios se explica pela superlotação nas prisões. Atualmente, o Brasil possui uma massa carcerária de 550 mil pessoas espalhadas pelas 27 unidades da federação. Em 1990, eram 90 mil presos. O número coloca o país no quarto lugar entre as nações com a maior quantidade de encarcerados no mundo. Apenas os Estados Unidos da América (2,2 milhões), China (1,6 milhão) e Rússia (680 mil) possuem mais pessoas presas em suas penitenciárias.

Ou seja, em pouco mais de duas décadas a população carcerária brasileira aumentou seis vezes. Nesse mesmo período, a população do país passou de 147 milhões de habitantes, em 1990, para 191 milhões em 2012. Atualmente, o Brasil registra a taxa de 228 presos para cada grupo de 100 mil moradores.

Para Eduardo Backer, advogado da Justiça Global, uma das ONGs que pediram à Organização dos Estados Americanos (OEA), em setembro, para pressionar o governo brasileiro a garantir a proteção aos presos do presídio de Pedrinhas, no Maranhão, o país está pagando por ter apostado unicamente na cadeia como solução para a segurança pública e a criminalidade. “O problema de fundo é a política de superencarceramento. O Brasil não tem conseguido frear essa demanda de encarceramento capitaneada pelo Estado”, afirmou.

Sem alternativas

O advogado lembra que, nas últimas duas décadas, o Brasil endureceu a punição aos crimes hediondos – considerados aqueles que merecem maior reprovação do Estado –, ao tráfico de drogas e ao porte ilegal de armas, o que contribuiu para o aumento da população carcerária. Segundo o Ministério da Justiça, o déficit prisional é de 240 mil vagas.

Backer recorda que, a cada caso violento que cria comoção nacional, a resposta dos parlamentares é a mesma: sugerir o endurecimento das leis e até a diminuição da maioridade penal. Entretanto, para ele, mudanças na legislação não vão resolver problemas sociais. “A Lei dos Crimes Hediondos foi dada como resposta à violência urbana. De lá pra cá, não vimos esse resultado acontecendo. Há um mito de que a lei penal é capaz de transformar problemas sociais”, observou.

“O caminho não é construir presídio como se isso fosse solucionar o problema. Desde 2000, o número de presos mais que dobrou no Brasil. O número de vagas cresceu em proporção semelhante. O problema é que o país constrói mais presídio, mas continua encarcerando mais”, reforçou o representante da Justiça Global.

Backer entende que a superlotação dificulta o convívio e estimula a violência entre os internos, que estão em situação degradada, e também entre os agentes penitenciários, reforçando a cultura de violência nas prisões. “Isso passa por problemas de legislação. O Judiciário e o Ministério Público acreditam muito no encarceramento. A discussão da reforma do Código Penalno Congresso mostra que os parlamentares ainda veem a prisão como solução dos problemas”, avaliou. “É necessário que o Judiciário mude a mentalidade. Aplique mais penas alternativas”, acrescentou.

Seletividade

Na avaliação do ativista, para aprofundar o problema, as prisões no Brasil ainda são seletivas. “Há uma seletividade de classe e raça. Quem está preso é o preto e o pobre. Quem faz a prisão é o policial, que vê o jovem negro como potencial inimigo. Esse tema está ligado à superlotação”, critica. Como exemplo, ele cita o caso das prisões por tráfico de drogas. “A pessoa pega com droga está ligada ao estigma social. Se for negro e pobre, é enquadrado como traficante, independentemente da quantidade apreendida. É uma construção social que precisa ser descontruida.”

De acordo com o último relatório divulgado pelo Depen, no final de 2012, mais da metade dos presos (54%) é parda ou negra, tem entre 18 e 29 anos (55%) e pouca escolaridade (5,6% são analfabetos; 13% são apenas alfabetizados e 46% têm apenas o ensino fundamental incompleto). Somente 2 mil presos (0,4%) têm formação superior completa. Do total, 232 mil presos (42%) são provisórios, ou seja, ainda não foram julgados.

Somente o estado de São Paulo, maior do país, responde por 36% dos encarcerados. Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul completam a lista das cinco unidades com mais presos. De acordo com dados do Depen, 22% dos detentos cumprem pena por tráfico de drogas. Outros 19% por roubo qualificado, 9% por roubo simples, e 7% foram considerados culpados de furto qualificado, furto simples e homicídio qualificado.

Maranhão em chamas

Relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), divulgado no fim de dezembro, revela que as penitenciárias no Maranhão estão dominadas por diferentes facções criminosas. Somente em 2013, houve 60 mortes nas unidades prisionais do estado. Após o aumento da repressão pelo governo local, veio a ordem para uma onda de ataques pelas principais cidades maranhenses. Ônibus foram incendiados, delegacias atacadas e uma criança de seis anos, Ana Clara Santos Sousa, morreu após não resistir às queimaduras durante os incêndios.

Levantamento divulgado ontem (9) pela Folha de S. Paulo mostra que as cadeias brasileiras foram cenário de pelo menos 268 homicídios em 2013. Média de um assassinato a cada dois dias. No Maranhão, por exemplo, a chance de ser morto dentro da prisão é 60 vezes maior do que fora. Em 2012, de acordo com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), o número de mortes foi de 110 em todo o país.

Com o aumento da violência e a revelação de um vídeo com presos decapitados, a Organização das Nações Unidas (ONU) pediu que o Brasil apure as recentes violações de direitos humanos e os atos de violência que ocorreram nos presídios do Maranhão, em especial no Complexo de Pedrinhas. Ontem (9), o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, chegaram a um acordo para tratar emergencialmente da questão.

Entre as providências está a criação de um comitê integrado para unir as forças de segurança que entrarão no caso. Um perfil dos presos será elaborado e eles serão transferidos para outras unidades prisionais. De acordo com o Ministério da Justiça, as defensorias públicas do Maranhão e da União vão coordenar um grande mutirão para avaliar a situação de cada preso.

(Por Congresso em Foco)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



Pode até ter copa, mas diálogo não

7 de Janeiro de 2014, 15:58, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Ontem, dia 06 de janeiro, o assunto foi a Copa do Mundo no Brasil. Numa espécie de ação de comunicação do Governo Federal, muitos usuários das mídias, blogueiros e colunistas publicaram textos e comentários a respeito. O assunto ainda está rendendo discussões e certamente não terá fim tão cedo. Nas redes e mídias sociais, os principais "atores" partidários puxavam seus seguidores para o 'debate'.

Mesmo assim, parte da população brasileira está bradando: "não vai ter copa", referindo-se às manifestações que talvez aconteçam na Copa de 2014, seguindo o modelo já ocorrido no histórico ano de 2013. Ontem, foi o início da longa e tortuosa jornada do Governo Federal ao clamar seu criativo slogan: "vai ter copa", em resposta aos que prometem manifestações, dizendo que está será "a copa das copas".

Com criatividade abundante, o Governo Federal e seus apoiadores apostam todas as suas cartas na boa execução da Copa do Mundo e os motivos são muitos. Um deles e também o mais óbvio: estamos em ano eleitoral. O PT, para conseguir o quarto mandato consecutivo na presidência, precisa essencialmente de um povo que não exerça seu direito democrático de contestar as imposições internacionais feitas para a realização da Copa. Caso contrário, sua imagem será manchada mundo afora e a aclamada reeleição, tida como certa por muitos partidários, ficará mais distante e complexa.

Até este ponto, embora possa parecer imoral e antidemocrático, não há nada de ilegal, já que o desejo de manutenção do poder ocorre numa orquestração nos bastidores. Mas o principal problema que vejo é o tom de repressão a qualquer custo para qualquer coisa que soe diferente do tom oficial.

Exemplo disso é que o Governo Federal criou uma tropa de choque de dez mil homens para ajudar as PM's nas cidades-sede da Copa, sob o argumento de conter os protestos violentos. E tão somente os violentos (eu sei, eles dirão isso), por que o Governo Federal e os demais Estaduais são democráticos e não reprimem manifestações pacíficas, correto?

Errado. Prova disso é o que aferventou as manifestações de 2013, principalmente no Rio de Janeiro. Os primeiros protestos eram muito pacíficos e foram duramente reprimidos pela Polícia Militar carioca. Após isso, ocorreu o óbvio ululante: toda a população começou a apoiar e principalmente participar das manifestações, chegando a lotar toda a quilométrica Avenida Presidente Vargas.

Infelizmente, os homens do poder costumam insistir nos mesmos erros, sempre, e o motivo para mim é o mesmo: total incapacidade de dialogar. Nossa Presidenta Dilma, depois dos eventos do ano passado e também de olho na reeleição deste ano, 'resolveu acordar' e ressuscitou seu perfil no Twitter (depois de anos abandonado), como quem diz: eu dialogo. Prefeitos e governadores por todo o país, após serem arrasados pelo povo brasileiro em suas intenções repressoras do direito democrático de discordar do poder dominante, também juraram em todas as mídias que estavam abertos ao diálogo com a população e que a repressão dirige-se apenas aos violentos, etc. Ao menos aqui no Rio de Janeiro, a repressão aos protestos populares continua, infelizmente, e para todos: professores, moradores de rua, de favela, jornalistas e assim por diante.

Outro exemplo do tom de repressão às vozes dissidentes ocorreu comigo, quando publiquei no Twitter a seguinte mensagem:

"#CopadasCopas: “Ainda se morre de fome no Brasil” http://comunicatudo.blogspot.com/2013/10/ainda-se-morre-de-fome-no-brasil.html?spref=tw …"

Propus uma reflexão ao povo brasileiro, que assistirá a mais cara Copa do Mundo num país onde pessoas ainda morrem de fome, dentre tantas outras mazelas. Refletir (ainda) não é crime. 

O ator da Rede Globo de Televisão, José de Abreu, também conhecido e autoproclamado petista, por livre e espontânea vontade de réplica, respondeu minha mensagem com algo como: "precisamos de mais quatro anos para isso". Se for isso mesmo, que ótimo: eliminar a fome no Brasil. Aproveitei a oportunidade de conversar com alguém que conhece de perto os bastidores do PT e do Governo Federal e perguntei, ainda no diálogo:


Tempo para acabar com a fome, segundo o ator e militante petista, existe e é de 4 anos. Para cumprir o que já está na Constituição Federal do Brasil desde o ano de 1988 e negligenciado por Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula e agora Dilma: "só a prática dirá". Tem gente que pensa que democratizar as mídias no Brasil é inventar leis mirabolantes para censurar as grandes empresas jornalísticas desse país, que até hoje recebem verbas milionárias do Governo Federal em termos de publicidade governamental. Mas não. 

Bastaria que todos os presidentes acima citados cumprissem o que já está escrito na Constituição desde 1988. Entendo que a fome é algo urgente e ações como o bolsa-família visam a eliminar este mal. Que bom. Mas um governo não é eleito somente para combater a fome e fazer Copa e Olimpíadas. Falta mesmo é interesse do poder público para regulamentar o que já está previsto e fazer cumprir o que já existe em lei.

Em vez de dar sequência ao diálogo, José de Abreu preferiu simplesmente achincalhar as mensagens sequentes que postei, dentre outras coisas, chamando-me de "coxinha" e clamando aos seus mais de 80 mil seguidores que me bloqueassem no Twitter, numa espécie de eu sou o 'Brasil: ame-me ou block-o'. Depois de bloquear-me, teve o cuidado de deletar todos os posts que publicou respondendo ao meu perfil. Talvez tenha pedido também aos seus milhares de seguidores que me denunciem por SPAM, ou seja, pode ser que meu perfil no Twitter seja deletado em alguns dias. "Só a prática dirá..."

Importante frisar que nas mais de 20 mil postagens que já fiz no Twitter, nunca incitei nenhum tipo de linchamento contra o ator global. Ao contrário, ele era meu seguidor desde 2010.

Claro que não me senti ofendido pela tentativa dele levar-me ao ridículo publicamente, mas me senti alertado pelo modus operandi dos governistas e seus apoiadores em relação ao extremismo na defesa de suas posições. Não somente pela atitude do citado ator da Rede Globo, mas de tantos outros apoiadores do PT, um partido que nasceu dentro da luta pela democracia e contra a ditadura. O livre direito de expor o contraditório numa democracia ou de se manifestar contrariamente parece que será linchado publicamente. Parece-me que esta é a estratégia do partido, caso contrário, alguns partidários estão tomando com extremismo para si uma missão que não lhes foi dada.

Parece-me infantil quando os populares dizem "não vai ter copa" os governistas responderem com "vai ter copa" ou então "não vai ter carnaval" ou "por que não bradam que não vai ter BBB", numa espécie de convencimento pela psicologia da contrariedade. O partido e seus asseclas (seguidores apaixonados) baterão nesta tecla incansavelmente até o fim do mundial em uma estratégia de comunicação massiva que já foi muito eficiente em governos como os de Mussolini, Hitler, Getúlio Vargas, Reagan, Bush e outros. Mas ainda funciona na manutenção do poder.

Particularmente, penso que este não seja o melhor modelo de comunicação e democracia para um país, principalmente na era da internet, na qual dispomos do dialogismo na rede mundial de computadores. Ações deste tipo só fomentaram inúmeros protestos mundo afora, como a Primavera Árabe, o Ocupem Wall Street e tantos outros que ocorrem neste exato momento.

Quem sabe um dia, o Governo Federal, demais governos estaduais, municipais e partidários, sejam capazes de compreender que o povo não está contra o Governo. Ao contrário, o povo quer chamar a atenção dos governantes e demais adeptos exatamente porque não costumam ser respeitados em seus desejos, muito menos ser ouvidos pela total incapacidade de diálogo dos políticos e partidários do Brasil.

Está na hora, de fato, de abandonarmos toda uma cultura absolutista e acostumada a reprimir, adquirida durante a ditadura e absorvida por inúmeras instituições brasileiras, e instalarmos aqui no Brasil uma real democracia. Não adianta agora, como sugeriu ontem um colunista, fazer uma pesquisa para saber se o povo está ou não a favor da Copa do Mundo. Primeiro, porque uma pesquisa favorável ou uma estratégia massiva de comunicação, por si só, não impedirá alguns populares de se manifestarem contrariamente ao evento realizado pela Fifa. Em segundo lugar, se alguma pesquisa tinha mesmo que ser realizada, deveria ter sido feita anteriormente para consultar se o povo brasileiro queria abrigar dois eventos mundiais consecutivamente com um altíssimo custo financeiro e social para o país.

Se na Islândia reformaram a Constituição daquele país através da internet, com altíssima participação popular e mostrando que pode e deve haver diálogo frutífero entre o poder e a população, por que não poderíamos fazer algo semelhante no Brasil? Por que não criar sistemas de diálogo aberto exatamente para evitar maiores danos para a sociedade, quando a população se cansa de levar balas e bombas apenas por reivindicar seus direitos? Parece-me que o diálogo nunca foi mesmo o objetivo e nem mesmo a democracia é clara e aberta para todos. Só o tempo dirá... Ou melhor, só o povo dirá, porque o tempo não é agente político dentro da democracia. O povo sim. Que fale o povo, porque o povo dirá.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



O poeta João Cabral na visão do SNI

6 de Janeiro de 2014, 10:04, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Autor de ‘Morte e vida severina’ era classificado como “elemento simpatizante ou, no mínimo, de tendência esquerdista”

Em 1964 o diplomata João Cabral de Melo Neto estivera numa lista de onze diplomatas que deveriam ser cassados. Foi poupado. Doze anos depois o chanceler Azeredo da Silveira incluiu-o na lista de promoções para ministro de primeira classe, e o presidente Ernesto Geisel pediu ao general João Baptista Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), que lhe enviasse a ficha do poeta, lembrando que ele havia sido demitido de suas funções no Itamaraty “por questões de segurança” e que retornara “por via judicial”. Cabral havia sido posto em disponibilidade nos anos 1950, sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista. Reintegrado por decisão do Supremo Tribunal Federal, foi parar na lista de cassações em 1964. O SNI, em um Juízo Sintético de 20 de janeiro de 1976, via assim o poeta: “Autor de vários livros de poesia e da peça Morte e vida severina, na qual explora a situação psicossocial do Nordeste através de uma forte mensagem de incitamento à luta de classes. (...) Embora não existam elementos que possam caracterizá-lo como militante comunista, os registros existentes sobre sua atuação e seus trabalhos literários levam-nos a classificá-lo como ele­mento ‘simpatizante’, ou no mínimo, de tendência esquerdista”.

Geisel promoveu-o.

Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



O poeta João Cabral na visão do SNI

6 de Janeiro de 2014, 10:04, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Autor de ‘Morte e vida severina’ era classificado como “elemento simpatizante ou, no mínimo, de tendência esquerdista”

Em 1964 o diplomata João Cabral de Melo Neto estivera numa lista de onze diplomatas que deveriam ser cassados. Foi poupado. Doze anos depois o chanceler Azeredo da Silveira incluiu-o na lista de promoções para ministro de primeira classe, e o presidente Ernesto Geisel pediu ao general João Baptista Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), que lhe enviasse a ficha do poeta, lembrando que ele havia sido demitido de suas funções no Itamaraty “por questões de segurança” e que retornara “por via judicial”. Cabral havia sido posto em disponibilidade nos anos 1950, sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista. Reintegrado por decisão do Supremo Tribunal Federal, foi parar na lista de cassações em 1964. O SNI, em um Juízo Sintético de 20 de janeiro de 1976, via assim o poeta: “Autor de vários livros de poesia e da peça Morte e vida severina, na qual explora a situação psicossocial do Nordeste através de uma forte mensagem de incitamento à luta de classes. (...) Embora não existam elementos que possam caracterizá-lo como militante comunista, os registros existentes sobre sua atuação e seus trabalhos literários levam-nos a classificá-lo como ele­mento ‘simpatizante’, ou no mínimo, de tendência esquerdista”.

Geisel promoveu-o.

Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



A ousadia de Mujica

6 de Janeiro de 2014, 6:59, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Em um episódio de 1995 do desenho animado Os Simpsons, Homer, o patriarca da família e símbolo da classe média americana, localiza, em um globo terrestre, o pequeno Uruguai, ao sul da América do Sul, e erra a pronúncia do país: “You Are Gay”. Quase duas décadas mais tarde e após três anos de um governo de esquerda, o ex-guerrilheiro tupamaro José “Pepe” Mujica deu a nosso vizinho de 3,4 milhões de habitantes tanto destaque no mapa que até Homer, sinônimo no Brasil do telespectador médio do Jornal Nacional da Rede Globo, seria hoje capaz de reconhecê-lo.

Mujica é, segundo definições mundo afora, “o político mais incrível”, “o líder que faz sonhar”, “o presidente mais pobre do planeta”, que abriu mão de 90% do salário e preferiu morar em sua chácara em vez de na residência oficial. A revista americana Foreign Policy o listou entre os cem pensadores mais importantes de 2013, por redefinir o papel da esquerda no mundo.

“Quando o presidente venezuelano Hugo Chávez morreu, em março, muitos acharam que o crescente movimento de esquerda latino-americana morreria com esse populismo de camisas vermelhas. Poucos meses depois, entretanto, o movimento encontrou um novo e pouco provável guia em José Mujica, presidente do Uruguai”, anota a publicação. “A controversa agenda de Mujica, que o fez ganhar tanto amigos quanto detratores, gerou um novo debate sobre o futuro da esquerda latino-americana. Ao estabelecer uma ruptura entre o claro antiamericanismo de Chávez e também com o profundo conservadorismo social da América Latina, Mujica aponta para um possível caminho futuro para seus camaradas.”

Pepe despertou uma verdadeira Mujicamania até mesmo entre quem tenta esquecer seu passado de guerrilheiro que sequestrou e assaltou bancos durante a ditadura uruguaia e que passou 10 de seus 14 anos de prisão na solitária, edulcoração semelhante à produzida pela mídia mundial em relação a Nelson Mandela (a propósito, ler a análise de Antonio Luiz Coelho da Costa a partir da página 54).

Mujica não dá, porém, sinais de pretender interromper os seus projetos “revolucionários”, em nome da conciliação ou da governabilidade. Na campanha presidencial, nunca amenizou o discurso para conquistar ou acalmar o eleitorado conservador. “Se chego a segurar o manche, vou expor minhas ideias. Vou propô-las e, se não aceitarem, que me apresentem outro projeto”, disse, em longa entrevista ao veterano jornalista uruguaio Samuel Blixen no livro El Sueño de Pepe. “Nós, os esquerdistas, vivemos tempo demais prisioneiros de um marxismo mecanicista, que não é culpa do velho Marx, mas do que veio depois.”

Postas em prática, as ideias surpreendem o mundo pelo viés progressista. Enquanto, no Brasil, religiosos chantageiam e encurralam o governo, na terra de Mujica, só neste ano, foram legalizados o aborto até o terceiro mês e o casamento gay. Para culminar, a legalização da maconha, aprovada pelo Senado por 16 votos a favor e 13 contra na terça-feira 10 e que agora vai à sanção do presidente, é uma experiência única. O Estado controlará a produção e a comercialização em farmácias a 1 dólar o grama. Os usuários poderão cultivar até três pés da planta em suas próprias casas e organizar cooperativas de consumo.

O objetivo é acabar com o tráfico da erva no Uruguai e reduzir a criminalidade. Segundo o presidente, a maconha não será legalizada, mas regulada, em substituição a um mercado à margem das regras. A oposição criticou a transformação do país em um “laboratório” e ameaçava recorrer a um referendo para derrubar o projeto. Rival de Mujica em 2009, o ex-presidente Luis Alberto Lacalle ironizou e sugeriu a criação de uma “Petrobras da erva”.

A Junta Internacional de Fiscalização de Estupefacientes, órgão das Nações Unidas responsável por supervisionar o cumprimento de convenções sobre drogas, condenou a decisão e afirmou que a lei viola os tratados internacionais assinados pelo Uruguai. Em nota, Raymond Yans, presidente da entidade, declarou “surpresa” com a aprovação e se reportou a uma convenção de 52 anos atrás. “O objetivo principal da Convenção Única de 1961 é proteger a saúde e o bem-estar da humanidade. A Cannabis está submetida a controle por esta convenção, que exige dos Estados signatários limitar seu uso a fins médicos e científicos, devido a seu potencial para causar dependência.”

Um documento interno da ONU, divulgado pelo jornal britânico The Guardian no começo de dezembro, revela, porém, uma insatisfação crescente dos países que assinaram a convenção. A Noruega e o México criticam os maus resultados da guerra às drogas e da proibição. Para a Suíça, a repressão tende a afastar os consumidores dos serviços de saúde pública que previnem as doenças transmissíveis pelo sangue. O Equador solicitou “esforços especiais” no sentido de reduzir a demanda.

Diante das críticas, Mujica ressaltou o caráter inovador da legislação e manteve-se firme. “Vamos ter dificuldades? Certamente, mas a quantidade de mortos por ajustes de contas por causas vinculadas ao narcotráfico representa uma dificuldade muito maior”, disse, em entrevista ao uruguaio La República. “Iniciamos um caminho para combater o vício por meio da educação e identificando os que consomem e tendem a se desviar do caminho. Einstein dizia que não há maior absurdo que pretender mudar os resultados repetindo sempre a mesma fórmula. Por isso queremos experimentar outros métodos.”

Tanto o líder uruguaio quanto sua mulher, a também ex-tupamara e senadora pela Frente Ampla Lucía Topolansky, confessaram ter pouco ou zero conhecimento sobre a maconha até assumirem o projeto pela legalização. “Nós dois, como temos certa idade (ela, 69, ele, 78), éramos perfeitos ignorantes no assunto. Éramos. Agora não”, disse Topolansky, cotada para o posto de vice na chapa do provável candidato à sucessão de Mujica, o ex-presidente Tabaré Vázquez.

Quando a notícia sobre a legalização apareceu nas agências internacionais, surgiram as primeiras reações contrárias na vizinhança. No Peru, especialistas temiam que a liberação aumentasse a produção de drogas no país de Ollanta Humala. Segundo levantamentos de especialistas, a maconha a ser produzida pelo sistema estatal uruguaio não daria para cobrir nem a metade da demanda de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. “O Uruguai, minúsculo em população, pode funcionar como um ‘país-laboratório’ perfeito. O potencial impacto negativo para os países vizinhos, se vier a acontecer, deverá ter proporções muito pequenas”, opina o psiquiatra Luís Fernando Tófoli, professor da Unicamp. “Ao se colocar em perspectiva o tamanho do passo dado na direção de poupar as vidas perdidas na guerra contra o tráfico, é um risco que vale a pena ser corrido.”

Houve quem recebesse a brisa vinda do Sul com franco entusiasmo. O ministro das Relações Exteriores, Luis Almagro, contou que as embaixadas uruguaias têm recebido consultas de estrangeiros interessados em fixar residência no país onde a maconha é livre, mas esclareceu: não será permitido o “turismo da Cannabis” nos moldes da Holanda. E o potencial econômico da produção e comercialização começa a atrair as atenções de centenas de produtores agrícolas e investidores estrangeiros, segundo o jornal uruguaio El Observador.

Para o ex-presidente mexicano Vicente Fox, hoje um ativista e futuro investidor da maconha liberada, a legalização foi um “dia de festa”. “Parece-me que o Uruguai vai ganhar uma grande reputação. A medida é correta, vai evitar ser um território com violência e narcotráfico como no México. É uma decisão muito vanguardista.” Em maio, o ex-presidente se associou ao ex-executivo da Microsoft Jamen Shively, que registrou a primeira marca de maconha, a Diego Pellicer, em homenagem a um antepassado de Shively.
Até o momento, a dupla conseguiu reunir os 10 milhões de dólares necessários para investir em uma casa de distribuição de Cannabis no estado de Washington, um dos dois estados americanos onde é permitida a venda de maconha para uso recreativo. O outro é o Colorado. Em 18 estados, o uso medicinal é permitido. Presume-se que apenas nos EUA o negócio da maconha poderá movimentar 20 bilhões de dólares anuais.

Obviamente, a ideia do socialista Mujica, ao chamar para o Estado a produção e comercialização da maconha, não é transformar o vício em negócio. Ao contrário. O presidente do Uruguai conquistou fãs ao redor do mundo por sua posição anticonsumo, como ficou explícito no célebre discurso na Assembleia das Nações Unidas, em setembro. “A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou limitada à economia e ao mercado”, criticou. Não seria com a maconha, uma planta, que Mujica iria agir diferente, em busca de divisas para sua nação.

A principal dúvida recai sobre o modelo estatal de produção e comercialização. “Acho excessivamente regulamentado, diante de uma planta tão ‘anárquica’. Pode incentivar a desobediência civil a alguns pontos, como a necessidade de cadastro ou o limite de cultivo. Mas ainda é cedo para julgar”, pondera Tófoli. “O plano está posto. Vamos vê-lo em funcionamento na sociedade uruguaia para podermos criticar, sugerir melhoras e, principalmente, pensar como proceder no Brasil.”

Em um subcontinente dividido entre a névoa do socialismo do século XXI e uma esquerda desenvolvimentista à moda dos anos 60 do século passado, Mujica mostra-se uma liderança sintonizada às demandas da modernidade. Logo ele, mais parecido a um personagem saído de algum romance latino-americano do século XIX.

(Por Cynara)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..