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Campanha divulga Guia de Mobilização da Lei da Mídia Democrática
28 de Outubro de 2013, 15:35 - sem comentários aindaCampanha divulga Guia de Mobilização da Lei da Mídia Democrática. Leia, baixe e compartilhe a publicação que se propõe a auxiliar o debate sobre o direito à comunicação e a coleta de assinaturas
A Campanha Para Expressar a Liberdade, com o objetivo de colaborar com a coleta de assinaturas nos estados, lançou o Guia de Mobilização da Lei da Mídia Democrática, a lei que propõe a regulamentação dos setores de rádio e TV no Brasil.
Além de explicar o que é o projeto e seus objetivos, o guia procura dar dicas sobre como incentivar o debate junto às comunidades, individualmente ou por meio de coletivos, entidades e outros.
Baixe o guia, leia e compartilhe também o arquivo em seu blog, site e redes sociais!
Arquivo PDF colorido
Arquivo PDF preto e branco
(Publicado por FNDC)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Coisa de profissional: Bom Senso FC
28 de Outubro de 2013, 14:13 - sem comentários ainda
O zero a zero no empate entre Coritiba e Internacional, no Couto Pereira, foi muito mais importante para o futebol nacional do que o resultado sugere. Ao fim daquele jogo, no dia 1o de setembro passado, Alex, o craque do Coxa, na troca de camisas com Juan, zagueiro do Inter, seu colega de longa data, teve com ele uma conversa que deu origem a uma movimentação entre os jogadores brasileiros que não se via há muito tempo.
Os astros tinham uma reclamação em comum: a sequência extenuante de jogos imposta pelo calendário de jogos, que chamava a atenção de ambos, que estavam de volta ao Brasil há cerca de um ano depois de um longo período fora do país. Juan, por exemplo, considerava absurdo o seu time fazer quatro jogos em quatro cidades diferentes em 10 dias, estressante para qualquer atleta, pior ainda para um veterano como ele.
A partir dessa conversa, outros atletas se mostraram interessados em discutir o calendário do futebol brasileiro, como o zagueiro Paulo André, do Corinthians, que procurou Alex para falar do tema dias depois. Os boleiros formaram um grupo no Whatsapp, aplicativo de mensagens instantâneas no celular, e abriram o debate com o objetivo de organizar as ideias antes de discuti-las com o que consideram o comando do futebol brasileiro: a CBF, que organiza os jogos profissionais no Brasil, e a TV Globo, que financia os campeonatos com o pagamento do direito de transmissão.
Foi nesse momento de articulação inicial entre os atletas que Alfredo Sampaio, vice-presidente da Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol), sindicato de jogadores profissionais de futebol, ligou para Alex com uma proposta que havia negociado com a CBF: a de reduzir as férias de 30 dias ao fim da temporada de 2013 para 17 dias no fim do ano e tirar os 13 restantes durante a Copa do Mundo do ano que vem. Alex recusou de pronto, falando por si, e disse que queria consultar o seu recém-formado grupo de atletas. Três dias depois, a CBF divulgou o calendário de 2014 e, em seguida, a Fenapaf declarou encerradas as negociações sobre férias.
Foi quando o “sindicato paralelo” decidiu pela dissidência e ganhou nome: Bom Senso Futebol Clube, que hoje já tem 870 adesões de jogadores profissionais. Também construiu um dossiêcomparando os calendários dos jogos entre o Brasil e outros países, levantando os prejuízos físicos que o excesso de jogos trazia para os atletas e lembrando a legislação que protege os trabalhadores. Baseados nesses argumentos, os atletas apresentaram cinco reivindicações: três referentes ao calendário – 30 dias corridos e irrevogáveis de férias, um período de quatro a seis semanas para pré-temporada, e um limite máximo de sete jogos por mês; e duas mais políticas, exigindo a transparência e o controle das finanças dos clubes e a inclusão de atletas, treinadores e executivos de futebol no conselho técnico das competições e entidades.
Entregue à Globo e à CBF no último dia 7 de outubro, que pediram tempo para analisá-lo, o documento será foco de uma nova reunião na sede da CBF no Rio de Janeiro, hoje, às 14h, reunindo a Globo, a CBF, o conselho de clubes, os sindicatos, árbitros e o Bom Senso FC. Confira o papo que a Pública bateu com uma das lideranças do movimento, o craque Alex (ex Palmeiras, Cruzeiro, Seleção Brasileira), atualmente no Coritiba.
Apesar de alta taxa de adesões ao Bom Senso FC, são os jogadores veteranos que estão à frente do movimento. É difícil engajar os jogadores mais jovens?
Na verdade, não. Os mais velhos, que têm uma experiência maior, eles se colocam. Mas tem muitos jogadores de 25, 26 anos, que estão no meio das suas carreiras [no movimento]. Mas a ideia com certeza é essa: passar para os mais jovens que eles têm condição de se fazer ouvir.
Existe algum tipo de recomendação dos clubes para jogadores não se posicionarem politicamente?
Não, muito pelo contrário. Inclusive, na segunda-feira vai ter reunião com a CBF e eu vou com o presidente do meu clube [o Coritiba Foot Ball Club] que, por coincidência, é o presidente da associação dos clubes. Outros diretores e presidentes de clubes se colocaram à disposição para o que fosse necessário. Eu acredito que, até o momento, a aceitação está sendo boa. Até porque nossa ideia não é confrontar ninguém, é agregar valor, e criar uma situação para que nós sejamos ouvidos. Nós vamos para dentro do campo para fazer o momento final desse produto todo que é o futebol e, em momento algum, a gente foi ouvido. Então a nossa intenção, quando nos reunimos, é agregar valor.
Muitas reivindicações do Bom Senso FC são trabalhistas. Você acha que os jogadores devem ser vistos como profissionais, e não como “celebridades”?
Eu vou falar por mim. Eu não me sinto celebridade em momento algum. Nunca me senti, nem quando fui campeão da Libertadores com o Palmeiras. Eu sempre fui pra treinamento e pra jogo encarando aquilo como a minha profissão. Sabendo que é diferente, que tem uma exposição grande na mídia, que todo mundo está comentando, que você é julgado diariamente… Mas nunca me senti celebridade em momento algum. Fora isso, existe uma realidade que é bem maior do que essa, que é a dos jogadores que jogam em equipes menores, sem essa situação de ser toda hora noticiado na mídia. E o pessoal muitas vezes chega ao fim de suas carreiras com muitas dificuldades. Então essa situação trabalhista é e tem que ser sempre [pensada] porque o futebol não é diferente de outras profissões. Tem a sua regulamentação. E o que a gente busca é o que toda classe, independente de qual seja, sempre buscou.
No dossiê do Bom Senso vocês denunciam o atraso ou a falta de pagamentos de salários, até mesmo o desemprego de jogadores de clubes de menor porte. Por que se preocupar com a saúde financeira desses times?
Porque, na verdade, o futebol gira muito, mas a gente só olha para os grandes centros. E o Brasil é enorme, tem várias equipes, vários níveis de jogadores de futebol. E isso varia muito. Tem jogadores que assinam contrato de 2, 3 anos e eles têm a garantia de estar 2, 3 anos em um clube que tem uma situação melhor no sentido geral. Agora, tem jogadores que assinam contrato por três meses. E muitas vezes ele acaba nem recebendo esses três meses. Então, quando a gente começou a discutir, a gente tinha várias preocupações, mas a maior delas sempre foi que essas equipes menores tenham um calendário melhor. Se isso acontecer, os seus empregados, não só os jogadores, vão ter emprego por mais tempo. E aí vai ter uma tranquilidade, maior para tocar o seu dia a dia com a família. Então nesse sentido, também é importante que a gente olhe com melhores olhos para quem não tem essa exposição tão grande quanto os membros de outras equipes que a gente conhece.
Em entrevista à ESPN, você falou que o Bom Senso FC não quer choques desnecessários entre os jogadores e os responsáveis pela organização do futebol brasileiro. É possível mudar o futebol só costurando acordos? Não seria necessária uma dose maior de enfrentamento por parte de vocês?
Depende. Porque, na verdade, a repercussão foi boa, a gente tem sido bem recebido, a CBF e a Rede Globo nos receberam. Na próxima semana [hoje] vai ter uma reunião grande com as duas e com outros setores do futebol. Então nesse momento não existe situação nenhuma para criar um confronto. Realmente não passa isso pela nossa cabeça porque até o momento a recepção tem sido positiva.
O advogado do Bom Senso, João Chiminazzo, disse em uma entrevista que, caso as reivindicações dos atletas não sejam ouvidas, “eles irão ao extremo se for necessário”. O que vocês pensam em fazer? Vocês cogitam, por exemplo, fazer uma greve nos campeonatos estaduais?
Não, a gente não chegou nesse ponto de discutir ainda porque a repercussão tem sido boa. Então as nossas conversas giram todas em cima das situações que estão acontecendo. Nós nos encontramos, tivemos várias ideias, depois disso a Globo e a CBF nos atenderam. A gente vai passo a passo, agindo em cima daquilo que eles colocam na mesa. A única coisa que temos em mente é o seguinte: abrimos uma porta na qual nós temos que entrar. Não podemos ficar titubeando, esperando pra ver o que vai acontecer. Mas o princípio do que a gente pensou está acontecendo, que é o comando maior do futebol brasileiro nos receber e poder conversar na boa.
Qual a sua expectativa acerca dessa nova reunião (de hoje)?
Nenhuma. Vou para lá ouvir, ver o que vai acontecer, mas eu não crio expectativa positiva nem negativa. Sei lá o que a CBF vai dizer, o que a Globo vai falar, como os clubes vão se posicionar. Eu não fico pensando muito nessas coisas. Eles já receberam o dossiê no nosso último encontro. Vamos lá ouvir, discutir se for necessário, colocar o nossos pontos. Um encontro saudável em torno do bem do futebol brasileiro.
Na nota mais recente do Bom Senso FC, está escrito que “os integrantes do Bom Senso FC não reconhecem a legitimidade da Fenapaf [sindicato que representa os atletas profissionais de futebol], ou de qualquer outro sindicato convocado para a reunião, para representá-los nesse âmbito”. Por quê?
Porque em setembro eles lavaram as mãos de todas as negociações. Então a partir do momento que eles lavaram as mãos, não tem porque a gente reconhecer, né? Foram eles que abriram mão de estar nas negociações, não fomos nós.
O que você acha do vice-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero ter se reunido com os sindicatos e uma comissão de clubes para discutir o calendário na semana passada, uma das reivindicações centrais do Bom Senso FC? Você vê nisso algum sinal de que a CBF quer deixar o movimento de escanteio?
Não, eu não acredito que tenham nos deixado de lado. Tanto que na segunda-feira (hoje) vai acontecer a reunião e nós fomos convidados. Não me senti deixado de lado em momento algum. Eles têm o direito de se encontrar com quem eles quiserem, com quem acharem que têm que se encontrar.
Além do calendário, quais são, na sua opinião, os grandes problemas estruturais do futebol brasileiro?
As pessoas falam muito no calendário, mas não é só isso. A gente tem discutido o fair-play financeiro, temos preocupação com os jogadores e com os profissionais que trabalham em equipes menores, que não têm o ano todo para ser trabalhado. Os focos principais são esses, para que comece a haver uma reestruturação e fique bom para todo mundo. Quando a gente fala em calendário não é só questão de jogar quarta e domingo, mas é uma questão mais complexa que está sendo discutida.
Em entrevista ao Lance, você afirmou que a Globo manda no futebol brasileiro. Por que?
A Globo comanda porque a Globo paga a conta. As cotas televisivas são todas da Globo, a emissora detém os direitos do Campeonato Brasileiro e a CBF administra isso. Esse é um fato que todos nós conhecemos. As pessoas levaram como crítica, mas em nenhum momento eu critiquei. A dona dos direitos é a Globo e a CBF é a coordenadora de tudo isso. Uma coordena e a outra paga o valor que sempre pagou. E comanda o futebol brasileiro nesse sentido do pagamento das cotas já há muito tempo. Mas eu não vejo problema nenhum.
Nem a questão dos horários dos jogos?
Aí é uma questão da grade da televisão. Eu particularmente não gosto, mas eu não posso interferir nisso.
E o Bom Senso pretende criticar isso também?
Não, em momento algum nós colocamos isso em discussão.
Você acha que o futebol brasileiro é pouco profissional?
Eu acho o futebol brasileiro um produto mal aproveitado que pode ainda melhorar bastante. É o que todo mundo quer, é o que a Globo quer, o que os jogadores e treinadores querem, o torcedor quer e o que vocês da imprensa querem também. Essa discussão toda é salutar nesse sentido.
Mas dá um exemplo desse anti-profissionalismo.
Vamos dar um exemplo. Vamos supor que eu assine um contrato com você, você vai trabalhar para mim e eu não te pago. Isso é profissional? Esse é um fato que acontece no futebol brasileiro. Você assina um contrato, joga e não recebe. Isso já acontecendo, já não é futebol profissional.
Em uma entrevista recente, você disse que o futebol brasileiro na sua volta, em 2013, estava tecnicamente muito abaixo do que quando você saiu, em 2004. E do ponto de vista de organização, como você avalia?
Acho que evoluímos um pouco. Não dá para generalizarmos, mas evoluímos sim. Ainda podemos evoluir muito mais. Mas comparando com aquela época, acredito que tenhamos evoluído sim. Vejo, por exemplo, o que o Corinthians está conseguindo fazer. O Corinthians com o retorno do Ronaldo teve um ganho absurdo, coisa que a gente não conseguia ter lá atrás. O próprio Coritiba também passava por dificuldades absurdas e foi evoluindo, melhorando. É um contexto que, no geral, mostra uma evolução.
E a questão do fair-play financeiro que vocês defendem entra nesse sentido…
Sim, entra nesse sentido. Porque todo trabalhador contratado tem direito a receber. E se o empregador por alguma razão não está fazendo, temos que buscar para que ele faça, né? E isso não é um pedido nosso, é um pedido dos próprios clubes. Conversando com o presidente da associação dos clubes ele me disse que o pedido dos clubes foi algo parecido com relação a isso. Eles também querem o fair-play financeiro.
E como envolver o torcedor nas reivindicações do Bom Senso FC?
O torcedor tem o papel mais importante porque ele está super envolvido no negócio. Aliás, essa discussão toda começou a surgir porque a gente achava que o produto do futebol a ser oferecido para o torcedor poderia ser melhor. Estamos fazendo isso principalmente para ele, o torcedor. O que eu costumo dizer sempre é que, por exemplo, a minha carreira está chegando ao fim. A única coisa que eu tenho certeza agora é que eu vou continuar sendo um espectador e um torcedor de futebol. Então eu acredito muito que o que a gente vê hoje pode ser melhor. O torcedor também tem que acreditar que esse movimento de hoje é um movimento para que as coisas melhorem, principalmente naquilo que ele gosta, que é ver o time dele sempre bem em campo.
O dossiê do Bom Senso FC também aborda a questão do esvaziamento dos estádios. Você acha que a questão é a baixa atratividade dos jogos?
Não. É um contexto bem amplo. Tem a qualidade das equipes, tem o valor dos ingressos, tem a dificuldade de se chegar aos locais dos jogos, pois nós sabemos das dificuldades que os torcedores enfrentam com o transporte público principalmente para se voltar dos estádios. Existe também o problema social da violência. É um fator mais amplo, não acho que seja por conta de um fator apenas, mas um conjunto de situações que faz com que o número de torcedores nos estádios seja menor. Quando a gente começou a levantar as nossas reivindicações, muita gente achou que a gente só estivesse focado no fator calendário. “Ah, os jogadores estão reclamando porque estão jogando quarta e domingo”. E não é isso. Lembra aquela história que existia nas passeatas, de que não era só por vinte centavos? Nós também temos outras propostas de calendário. Por exemplo, para ajudar o pessoal das equipes menores, para que eles tenham um calendário melhor também e possam jogar o ano todo, ao invés de três meses. Melhorando esse produto, você pode também fazer com que mais pessoas venham aos estádios. Então é um contexto grande que a discussão está aberta e eu só espero que o futebol brasileiro ganhe.
Você acha que os estádios que estão sendo construídos para Copa em Cuiabá, Manaus e Brasília, por exemplo, pode ajudar a desenvolver o futebol nesses lugares?
Eu acredito que sim, mas não só construindo estádios. É preciso também que se organize as federações, os campeonatos estaduais. Agora, a questão da Copa do Mundo ter ido para locais onde praticamente não há futebol é uma questão mais do país em si. Ela já sai um pouco do futebol. Ela entra em outras áreas e aí a discussão tem que ser longa. Agora, eu acredito que ter um estádio num lugar sem uma boa atuação da federação o futebol não se fortalece em nada. Agora, ter um estádio onde tem uma federação tentando se organizar melhor já é um ponto a favor.
E em relação à Copa ser quase que inteiramente bancada com dinheiro público. Qual a sua opinião a respeito?
Quando eu penso na Copa do Mundo, penso o seguinte: a Copa do Mundo tem que deixar algo para depois. É claro que nós poderíamos entrar aqui numa discussão e dizer que o dinheiro que foi posto na Copa poderia ter sido colocado em saúde, em educação, em segurança pública, em outras vertentes e necessidades da sociedade. E não adianta que nós vamos ficar dando murro em ponta de faca. A Copa é aqui, o dinheiro já foi colocado, agora a gente tem que ter a expectativa de que as coisas corram bem e que, com a Copa do Mundo, as coisas possam ficar mais interessantes, com um legado que a própria sociedade possa usar. Agora, é inegável que o nosso país tem problemas sociais enormes e esse dinheiro todo que foi posto na Copa do Mundo poderia ter sido utilizado em outras áreas.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Agressões a jornalistas ameaçam a democracia
24 de Outubro de 2013, 19:06 - sem comentários aindaDesde o mês de junho, a FENAJ está recorrentemente vindo a público manifestar sua preocupação com a crescente onda de violência contra jornalistas, nascida no bojo das manifestações populares que estão ocorrendo em todo o país. A Federação Nacional dos Jornalistas tem reafirmado que esta violência contra profissionais da informação é um desrespeito às liberdades de imprensa e de expressão, visto que o Jornalismo e o trabalho dos jornalistas são imprescindíveis para que a sociedade exerça seu direito à informação e assim possa exercer todos os demais direitos da cidadania.
Reafirmamos que as agressões aos jornalistas revelam um grau elevado de desconhecimento do trabalho dos jornalistas e da importância do Jornalismo para o aperfeiçoamento da democracia brasileira. Revelam, ainda, a permanência de resquícios do autoritarismo do Estado (no caso da violência policial) e de uma inaceitável intolerância, por parte de alguns setores da sociedade, frente à diversidade e ao contraditório, o que, em última análise, expressa a defesa de interesses privados, e até mesmo individuais, em desfavor dos interesses públicos.
A FENAJ solicita das autoridades brasileiras, em nível nacional e estaduais, medidas urgentes de proteção aos jornalistas, com orientação expressa aos policiais, para que cumpram seu papel de garantir a ordem pública, sem violência, e que ajam no sentido de proteger os jornalistas no seu exercício profissional.
Diretoria da Federação Nacional dos Jornalistas.
Brasília, 21 de outubro de 2013.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Jornalismo online não é atualização, é transformação
22 de Outubro de 2013, 10:54 - sem comentários aindaNum discurso recente, Katharine Viner, subeditora do [diário britânico] The Guardian, descreveu como acredita que as redes sociais e a prática do “jornalismo aberto” alteram fundamentalmente a relação que os jornalistas têm com sua audiência. Na era digital e social, uma das coisas difíceis sobre fazer jornalismo, ou qualquer outro tipo de mídia, é parecer tão simples – em outras palavras, parece muito com o que costumava ser feito: você escreve coisas e as publica, só que em vez de imprimi-las, você as posta na internet. E, se você se estiver se sentindo ambicioso, talvez inclua uns links. Simples, não?
Só que olhar a coisa dessa maneira ignora as formas fundamentais pelas quais a prática do jornalismo foi completamente alterada pela internet, como destaca Katharine em seu excelente discurso [em 9/10]. Em sua apresentação, Katharine – que também é editora-chefe da nova edição australiana do Guardian – falou sobre uma entrevista que teve com um candidato a emprego. Quando ela perguntou a esse profissional de jornalismo impresso como ele se adaptaria ao papel digital, ele disse: “Há anos que eu uso computadores.” Como ela diz, este tipo de resposta sugere que a internet é apenas uma mudança tecnológica, como um novo tipo de editor de texto. “Na realidade, o digital representa uma enorme mudança conceitual, uma mudança sociológica, uma bomba de fragmentação explodindo quem somos, como é organizado o nosso mundo, como nos vemos, como vivemos. Nós estamos bem no meio dessa mudança e, às vezes, tão perto que fica difícil enxergarmos. Mas é muito profundo e vem acontecendo a uma velocidade quase inacreditável.”
Mudança fundamental
Katharine Viner continua, falando sobre as oportunidades que se apresentam aos jornalistas quando eles abordam seu ofício de uma maneira mais aberta e como a resistência de “muitos jornalistas a essa mudança prejudica seus próprios interesses, assim como os interesses do bom jornalismo”. Caso você goste de teoria da mídia, ela também fala sobre a crença de algumas pessoas de que a predominância do jornalismo impresso – e não apenas os meios de comunicação de massa, como os jornais, mas toda a revolução de Gutenberg – foi um período temporário e agora voltamos a processar a informação de uma maneira mais verbal e conectada.
Essa ideia não é muito popular em alguns círculos, mas como alguns observadores como Tom Standage, do Economist, destacaram, quando você avalia a maneira pela qual ferramentas sociais, como o Twitter, o Facebook e os blogs, mudaram o panorama da mídia, parece bastante com o jeito que o mundo costumava funcionar antes do surgimento dos jornais – quando os cafés e as redes sociais do mundo real eram a principal maneira pela qual a informação era transmitida e checada de um lugar para outro. Há pessoas que alegam que a era dos meios de comunicação de massa foi uma anomalia histórica.
Mas o fundamental no discurso de Katharine é seu argumento sobre como tudo isso modifica (ou pelo menos deveria modificar) a natureza da relação de um jornalista com o que Jay Rosen e Dan Gillmorchamaram de “as pessoas que antigamente eram conhecidas como audiência”. “O jornalismo digital não trata de colocar uma matéria na internet. Trata de uma redefinição fundamental da relação do jornalista com sua audiência, de como pensamos sobre nossos leitores, da percepção que temos de nosso papel na sociedade, de nosso status. Deixamos de ser os jornalistas que tudo veem e tudo sabem, produzindo palavras a serem aceitas passivamente pelos leitores.”
Os benefícios do jornalismo aberto
Os benefícios de ser mais aberto às pessoas que costumavam ser a audiência, segundo Katharine, vão além das coisas meramente sentimentais, como estar mais conectado com os leitores ou fazer com que eles retuítem ou distribuam o seu conteúdo (função que, aparentemente, muitos veículos e jornalistas julgam ser a da rede social).
Essa abertura pode melhorar o seu jornalismo de várias maneiras:
** Muitas vezes, o leitor sabe mais do que você
A subeditora do Guardian dá como exemplo uma matéria sobre prospecção em águas profundas e como um Google Doc aberto permitiu que especialistas de vários campos contribuíssem com seu conhecimento sobre esse tema, uma abordagem que o jornal britânico faz melhor do que praticamente todo mundo.
**Com a abertura, vem a responsabilidade
Ao invés de tentar esconder os erros, o que muitos veículos tradicionais fazem, Katharine fala sobre uma matéria em que o jornal cometeu um erro e depois, além de corrigi-lo, publicou uma mensagem num blog discutindo-o. Os leitores disseram que isso realmente aumentou sua confiança no jornal.
**Ser aberto pode produzir furos
Pedir aos leitores que o ajudem torna mais provável que eles tragam informações que mudam uma matéria de maneira dramática, diz Katharine – como foi o caso da matéria que o Guardian fez em 2009 sobre a morte de um vendedor de jornais durante os protestos em Londres por ocasião da reunião do G20.
**Os paywalls são antiéticos para a rede aberta
Uma coisa que provavelmente não será uma surpresa é a opinião da subeditora do Guardian sobrepaywalls, uma vez que o jornal britânico é um dos que mais resistem quando se trata de cobrar dos leitores pelas notícias. Alguns críticos de mídia destacados, como David Carr, do New York Times, argumentaram que o jornal deveria desistir e juntar-se à brigada pró-paywall, mas Katharine coloca a questão dos paywalls no contexto do “jornalismo aberto”, do qual seu editor-chefe, Alan Rusbridger, fez a pedra angular da abordagem do jornal à internet: “Um paywall é uma resposta típica da ‘mentalidade de jornal’ – antes, os leitores pagavam pelo conteúdo; vamos fazê-los pagarem outra vez. Mas, do ponto de vista jornalístico, os paywalls são completamente antiéticos em relação à rede aberta. Um website compaywall não passa de um jornal impresso com outro formato, tornando muito mais difícil a colaboração com as pessoas que antes eram chamadas de audiência. Você não tem como usufruir dos benefícios da rede aberta se está escondido.”
Katharine prossegue, falando dos benefícios dos links, mesmo em relação aos concorrentes – algo que muitos veículos jornalísticos ainda não dominam –, assim como os desafios de transportar uma observação sobre uma matéria para a seção de comentários de um jornal, e como são poucos os jornalistas que o fazem bem. Foi um discurso fantástico e se você se preocupa com mídia, eu o incentivaria a lê-lo inteiro.
***
Por Mathew Ingram: escreve sobre mídia no site GigaOM.
Tradução de Jô Amado, edição de Leticia Nunes. Informações de Mathew Ingram [“Going digital isn’t just an upgrade – it’s a complete transformation in the way journalism is done, GigaOM, 10/10/2013]
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Mal-estar no Globo – as manifestações chegam à redação
22 de Outubro de 2013, 7:40 - sem comentários ainda “Quem escreve para jornal é desocupado ou psicopata.”A frase acima marcou o ponto mais baixo (alguém pode achar mais alto, não eu) do mal-estar interno na redação do Globo causado pela primeira abaixo, da edição de quinta, dia 17.
(Por Ivson)
Tecla de retrocesso
No meio da tarde daquele dia, o email interno geral do Globo começou a receber centenas de e-mails revoltados com a capa “retrato de bandido” acima (sim, sei qual é o endereço). A imensa maioria – talvez uns 80% – era composta de um texto padrão, educado, que dizia algo como ser inaceitável O Globo fazer uma capa daquela, e 20% eram textos próprios, muitos com impropérios (as minhas fontes não quiseram me passar nenhum, argumentando, com razão, que a vigilância interna deve estar em níveis de alerta vermelho-sangue). No mesmo dia, o cancelamento diário de assinaturas, que normalmente já não é desprezível (em torno de 10), subiu algo entre 10 e 20 vezes, segundo as fontes. A torrente de e-mails continuou até mais ou menos as 9h30min de sexta, quando o sempre competente setor de tecnologia do Globo conseguiu uma forma de bloqueá-la.
Aí o problema real começou
Em política, há uma frase – “vaca está estranhando bezerro” – que se encaixa perfeitamente no que aconteceu na redação do Globo após o bloqueio dos emails de protesto. A parte mais nova dos repórteres respondeu o email da tecnologia, avisando do bloqueio das mensagens, protestando contra a censura, sob o argumento geral – comportando variações – de que não se poderia ignorar a insatisfação dos leitores, no mínimo porque eles são os clientes.
O “aquário” não gostou, claro, considerando a manifestação como uma espécie de motim, mas isso faz parte da tradição autoritária do Globo. O que não faz – ou fazia – parte dessa tradição é que jornalistas mais velhos apoiassem o bloqueio – ou seja, o cerceamento do direito dos leitores de opinar sobre o jornal que compram – e, mais, se manifestassem contra a discussão do tema no email geral da redação.
Nesse contexto é que Ilimar Franco, titular do Panorama Político, enviou a frase que iniciou esse post e define bem o abismo que separa os estamentos mais altos da redação do Globo – incluídos aí não apenas os que habitam o “aquário” – e a “jovem guarda” da redação, que, até por dever de ofício, está mais ligada ao que ocorre nas ruas (e agora está meio em pânico com as consequências da capa “retrato de bandido” para o seu dia a dia, já suficientemente perigoso ultimamente).
Num mundo menos imperfeito, a manifestação das moças e rapazes geraria não esse tipo de resposta de Ilimar, mas uma meditação dos “aquarianos” e seus aliados quanto aos caminhos que estão sendo seguidos pelo jornal. Talvez, nessa meditação, se chegasse à conclusão que as recentes manifestações no país – tirando os casos de violência gratuita, que são espetaculosos, geram medo, e, com isso, tendem a distorcer o raciocínio, mas não mudam o curso da História – apontam para uma mudança de patamar na democracia brasileira, que, como sabemos, não chega a ter nem 30 anos, como uma grande parte dos manifestantes.
Essa mudança de patamar é causada pela passagem da consciência do nível de subsistência de parte significativa da população – aquele no qual o importante é contar com energia elétrica e ter dinheiro, a fim de comprar a geladeira que permitirá guardar os alimentos por mais tempo, liberando uma parte dele, antes usado de obtê-los – para aquele em que o tal tempo ganho pela existência da geladeira fica à disposição para outras tarefas, como refletir sobre o futuro da família, especialmente a educação dos filhos, e sobre por que raios ele/ela precisa deslocar-se 100 quilômetros para a consulta com um médico que nem sempre está lá, levando um tempo enorme no trajeto devido ao péssimo transporte público.
A adaptação a esse novo tipo de racionalidade é um problema que afeta, em primeiro (e em segundo e terceiro) lugar os políticos e as diversas instâncias governamentais e suas burocracias. Outras instituições da sociedade, porém, terão que passar por esse processo e seria de bom alvitre para elas irem pensando nisso. Entre essas instituições, até pelo seu papel central na sociedade, estão os meios de comunicação.
No caso específico do Globo, a reflexão deveria partir de sua direção de redação, já que, por sua posição no processo de produção, tem acesso privilegiado aos dados reais do problema, entre eles aqueles trazidos pela “jovem guarda”, que anda pelas ruas e enfrenta-os diretamente. Levar essas reflexões aos Marinho é dever dos “aquarianos”. Se não o cumprirem, serão cobrados lá na frente.
E quanto à “jovem guarda”? Bem, se eu tivesse menos 20 anos e fosse tão bem preparado como eles são hoje em dia, e diante desse literal mundo de oportunidades que a mídia e as indústrias criativas e de serviço oferecem, eu estaria pensando seriamente em pular fora desse barco, pois já dá para ouvir as chapas de aço rangendo e uns barulhos estranhos vindo lá da casa de máquinas, enquanto os oficiais se esbaldam no salão de baile.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..