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Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

'Love Me Do' é novidade para jovens brasileiros, cinco décadas depois de seu lançamento

6 de Outubro de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Há 50 anos, o mundo ouvia pela primeira vez uma banda que mudaria a história da música. 'Love me Do', do Beatles, virou sucesso absoluto entre os jovens dos anos 60.

Mas o que os jovens de hoje pensam sobre o primeiro single da banda?
Inspirada em uma reportagem da BBC inglesa, que visitou uma escola no sudoeste de Londres, a BBC Brasil foi conversar com alunos da escola Guaracy Silveira, no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo.
Ao ouvir os primeiros acordes de 'Love me Do', muitos se mostraram intrigados, ergueram as sobrancelhas, balançaram a cabeça. A maioria disse não fazer ideia de que música era.
A grande exceção foi a aluna Catarina, de 16 anos, que não só adivinhou na hora que se tratava de 'Love Me Do', como contou que aprendeu - no YouTube - a tocar a música na gaita. E, claro, deu uma palhinha.
Assista ao vídeo da BBC em Londres Cliqueaqui.
Com reportagem de Jéssica Fiorelli e Mariana Della Barba.




Vidas paralelas: Murdoch e Marinho

4 de Outubro de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Rupert Murdoch e Roberto Marinho têm muito mais que as iniciais em comum. Ambos perderam o pai cedo, uma tragédia pessoal que, paradoxalmente, acabou por empurrá-los vigorosamente na indústria da mídia.

Por Paulo Nogueira, no blog Diário do Centro do Mundo

Os dois herdaram, jovens ainda, um jornal, Murdoch em sua Sidney, na Austrália, Marinho no Rio de Janeiro. Isso foi determinante para estabelecer nos dois um amor invencível pelos jornais. Mesmo quando já tinham construído, cada qual do seu jeito, um império de mídia diversificado, o jornal continuaria no centro da atenção dos dois.

A língua foi determinante para estabelecer a maior diferença. O inglês facilitou a Murdoch montar um grupo mundial: da Austrália foi para a Inglaterra, nos anos 1960, e acabaria depois incluindo espetacularmente os Estados Unidos no mapa de seus negócios. Sua News Corp, baseada em Nova York, onde Murdoch mora, é dona de marcas como a Fox e o Wall Street Journal. Roberto Marinho, até por não falar inglês, ficou essencialmente restrito ao Brasil até morrer, em 2003, aos 98 anos. Por isso a influência de Murdoch – ainda vivo e ativo, aos 81 anos — é global, e a de Marinho foi nacional.

Como típicos barões da imprensa, deixaram sempre evidente que a voz de seus jornais e demais mídias era a deles e de mais ninguém. “Se alguém quer saber minhas opiniões, basta ler os editoriais do Sun”, diz Murdoch. Sun é seu tablóide londrino, um campeão de vendas e de controvérsias. Marinho não disse isso, mas nem precisava: estava patente.

Cercaram-se de jornalistas que sabiam que jamais deveriam brilhar tanto a ponto de ofuscar o dono. Quando Murdoch comprou o lendário Times na década de 1960, um passo essencial no seu ganho de poder na Inglaterra, sabia-se que os dias do grande editor Harold Evans no jornal estavam contados. O editor Evandro Carlos de Andrade, que dirigiu o Globo por longos anos e depois o telejornalismo do grupo, fez questão desde o início de deixar claro a Roberto Marinho que era “papista”. Fazia o que o Papa mandava. Muito mais que o talento, foi esse traço de pragmática servilidade que explicou a duração da carreira de Evandro nas Organizações Globo.

Murdoch e Marinho sempre disseram ter em vista, acima de tudo, o interesse público. Mas jamais deixaram de ser objeto de suspeita de que, fora da retórica, colocaram invariavelmente seu interesse pessoal acima de quaisquer outros. Por isso acabaram sendo amplamente detestados pela opinião pública que eles, paradoxalmente, tentaram moldar com sua mídia.

Em torno deles se construiu a imagem – exagerada — de homens capazes de fazer ou destruir governos. Ninguém acreditou mais nisso que os politicos no Brasil e na Inglaterra, e por isso adularam Murdoch e Marinho para além da abjeção. Buscavam sempre apoio, o que às vezes receberam – acompanhado, quase sempre, de uma merecida dose de desprezo. No código de etiqueta e de poder de Murdoch e Marinho, competiu sempre aos políticos ir atrás deles, e não o inverso.

Lutaram, como todos os barões da imprensa, por estabelecer uma dinastia. As chances de êxito de Murdoch, nisso, são pequenas. Três filhos seus – uma mulher e dois homens – já estiveram na condição de herdeiros aparentes. O último deles, James, 39 anos, renunciou a seu posto depois que sua reputação foi destruída no escândalo das escutas ilegais telefônica de um tablóide do grupo, o News of the World. Murdoch tem dois filhos pequenos de Wendi, sua bonita mulher chinesa, mas é difícil imaginar que Murdoch vá estar vivo quando os dois estiverem em condições de tocar uma empresa.

Roberto Marinho teve mais sorte aí. Seus três filhos, Roberto Irineu, João Roberto e José Roberto, conseguiram até aqui manter o vigor – econômico, pelo menos — da Globo. São discretos, têm noção de suas limitações e, juntos, estabeleceram uma maneira de trabalhar em conjunto com a qual a Globo se manteve competitiva sem Roberto Marinho. Diferentemente do pai, parecem menos interessados em influenciar presidentes e mais focados no negócio em si. Não inovaram, mas já mostraram entender que o futuro é digital e saber que, se a Globo não transferir sua potência para a internet, o declínio é inevitável. Todos os três estão na faixa dos 50 anos, o que significa que a Globo não enfrentará tão cedo um novo teste de troca de geração. O que os três irmãos não conseguiram foi desfazer a imagem negativa da Globo perante a opinião pública qualificada. A Globo é vista — menos que antes, é certo –, mas está longe de ser admirada pelos formadores de opinião.

Pessoalmente, Murdoch e Marinho compartilharam uma vaidade que os fez claramente ficar incomodados com algumas características físicas. Murdoch durante boa parte da vida tentou esconder a calvície com um penteado em que fios longos eram estrategicamente dispostos de um lado ao outro da cabeça. Apenas recentemente desistiu do expediente. Roberto Marinho não se orgulhava de sua estatura, ampliada por saltos, e de sua tez mulata, na qual passava pó de arroz.

Em suas vidas paralelas, Murdoch e Marinho dividiram, acima de tudo, o amor pelo poder, pela influência, pela manipulação – por todas aquelas coisas, enfim, advindas da propriedade de um império de mídia.




É o neoliberalismo, estúpido!

3 de Outubro de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda
Por Cynara Menezes
Desde o ano passado, com o agravamento da crise europeia, começaram a pipocar na rede produções independentes esclarecendo as barbeiragens dos governantes que levaram à crise na Europa.

A animação “Espanistán”, de Aleix Saló, foi a pioneira ao explicar como a bolha imobiliária levou a Espanha à bancarrota (e está cada dia pior, como as últimas manifestações no país evidenciam).




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Na Grécia, os jornalistas Katerina Kitidi e Aris Hatzistefanou rodaram Debtocracy – Χρεοκρατία – Dividocracia com dinheiro próprio e com donativos de alguns amigos. Em menos de dez dias, foi visto por 600 mil pessoas.

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Agora, a mesma equipe que fez Dividocracia produziu Castastroika, um relato avassalador sobre o impacte da privatização e do neoliberalismo na Rússia, no Chile, na Inglaterra, na França, nos Estados Unidos e na Grécia.

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O ímã do jornalismo

2 de Outubro de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda
Por Carlos Alberto Di FrancoGay Talese, um dos fundadores do New Journalism (Novo Jornalismo) - uma maneira de descrever a realidade com o cuidado, o talento e a beleza literária de quem escreve um romance -, é um crítico do jornalismo sem alma e sem graça. Seu desapontamento com a qualidade de certa mídia pode parecer radical e ultrapassada. Mas não é. Na verdade, Talese é um enamorado do jornalismo de qualidade. E a boa informação, independentemente da plataforma de veiculação, reclama competência, rigor e paixão.


Segundo Talese, a crise do jornalismo está intimamente relacionada com o declínio da reportagem clássica. "Acho que o jornalismo, e não o Times, está sendo ameaçado pela internet", pondera. "E o principal motivo é que a internet faz o trabalho de um jornalista parecer fácil. Quando você liga o laptop na sua cozinha, ou em qualquer lugar, tem a sensação de que está conectado com o mundo. Em Pequim, Barcelona ou Nova York... Todos estão olhando para uma tela de alguns centímetros. Pensam que são jornalistas, mas estão ali sentados, e não na rua. O mundo deles está dentro de uma sala, a cabeça está numa pequena tela, e esse é o seu universo. Quando querem saber algo, perguntam ao Google. Estão comprometidos apenas com as perguntas que fazem. Não se chocam acidentalmente com nada que estimule a pensar ou a imaginar. Às vezes, em nossa profissão, você não precisa fazer perguntas. Basta ir às ruas e olhar as pessoas. É aí que você descobre a vida como ela realmente é vivida."

A crítica de Gay Talese é um diagnóstico certeiro da crise do jornalismo. Os jornais perdem leitores em todo o mundo. Multiplicam-se as tentativas de interpretação do fenômeno. Seminários, encontros e relatórios, no exterior e aqui, procuram, incessantemente, bodes expiatórios. Televisão e internet são, de longe, os principais vilões apontados. Será?

É evidente que a juventude de hoje lê muito menos. No entanto, como explicar o estrondoso sucesso editorial do épico O Senhor dos Anéis e das aventuras de Harry Potter? Os jovens não consomem jornais, mas não se privam da leitura de obras alentadas. O recado é muito claro: a juventude não se entusiasma com o produto que estamos oferecendo. O problema, portanto, está em nós, na nossa incapacidade de dialogar com o jovem real.

Mas não é somente a juventude que foge dos jornais. A chamada elite - as classes A e B - também tem aumentado a fileira dos desencantados. Será inviável conquistar toda essa gente para o mágico mundo do jornalismo? Creio que não. O que falta, estou certo, é ousadia e qualidade.

Os jornais, equivocadamente, pensam que são meios de comunicação de massa. E não são. Daí derivam erros fatais: a inútil imitação da televisão, a incapacidade de dialogar com a geração dos blogs e dos videogames e o alinhamento acrítico com os modismos politicamente corretos. Esqueceram-se de que os diários de sucesso são aqueles que sabem que o seu público, independentemente da faixa etária, é constituído por uma elite numerosa, mas cada vez mais órfã de produtos de qualidade.

Num momento de ênfase no didatismo e na prestação de serviços - estratégias úteis e necessárias -, defendo a urgente necessidade de complicar as pautas. O leitor que precisamos conquistar não quer o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer qualidade informativa: o texto elegante, a matéria aprofundada, a análise que o ajude, efetivamente, a tomar decisões. Quer também mais rigor e menos alinhamento com unanimidades ideológicas.

A fórmula de Talese demanda forte qualificação profissional. "A minha concepção de jornalismo sempre foi a mesma. É descobrir as histórias que valem a pena ser contadas. O que é fora dos padrões e, portanto, desconhecido. E apresentar essa história de uma forma que nenhum blogueiro faz. A notícia tem de ser escrita como ficção, algo para ser lido com prazer. Jornalistas têm de escrever tão bem quanto romancistas." Eis um magnífico roteiro e um formidável desafio para a conquista de novos leitores: garra, elegância, rigor, relevância.

O nosso problema, ao menos no Brasil, não é de falta de mercado, mas de capacidade de conquistar uma multidão de novos leitores. Ninguém resiste à matéria inteligente e criativa. Em minhas experiências de consultoria, aqui e lá fora, tenho visto uma florada de novos leitores em terreno aparentemente árido e pedregoso.

O problema não está na concorrência dos outros meios, embora ela exista e não deva ser subestimada, mas na nossa incapacidade de surpreender e emocionar o leitor. Os jornais, prisioneiros das regras ditadas pelo marketing, estão parecidos, previsíveis e, consequentemente, chatos.

A revalorização da reportagem e o revigoramento do jornalismo analítico devem estar entre as prioridades estratégicas. É preciso encantar o leitor com matérias que rompam com a monotonia do jornalismo declaratório. Menos Brasil oficial e mais vida. Menos aspas e mais apuração. Menos frivolidade e mais consistência.

Além disso, os leitores estão cansados do baixo-astral da imprensa brasileira. A ótica jornalística é e deve ser fiscalizadora. Mas é preciso reservar espaço para a boa notícia. Ela também existe. E vende jornal. O leitor que aplaude a denúncia verdadeira é o mesmo que se irrita com o catastrofismo que domina muitas de nossas pautas.

Perdemos a capacidade de sonhar e a coragem de investir em pautas criativas. É hora de proceder às oportunas retificações de rumo. Há espaço, e muito, para o jornalismo de qualidade. Basta cuidar do conteúdo. E redescobrir uma verdade constantemente negligenciada: o bom jornalismo é sempre um trabalho de garimpagem.

* DOUTOR EM COMUNICAÇÃO PELA UNIVERSIDADE DA NAVARRA. É DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO DO INSTITUTO NACIONAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS (IICS)
E-MAIL: DIFRANCO@IICS.ORG.BR




O legado de Hobsbawm e a lição de método de Marx

1 de Outubro de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Paul Valéry, no início de sua “Introdução ao Método de Leonardo da Vinci”, disse que “o que fica de um homem é o que nos leva a pensar seu nome e as obras que fazem desse nome um signo de admiração, de ódio ou de indiferença”. A obra de Eric Hobsbawm é um signo de admiração e de lições para o século XXI. Em um de seus últimos trabalhos, reafirmou sua confiança política e metodológica na obra de Marx: “o liberalismo econômico e o liberalismo político, sozinhos ou combinados, não conseguem oferecer uma solução para os problemas do século XX. Mais uma vez chegou a hora de levar Marx a sério”.

Por Marco Aurélio Weissheimer

Em um de seus últimos trabalhos publicados no Brasil (Como Mudar o Mundo – Marx e o Marxismo. Companhia das Letras, 2011), Eric Hobsbawm conta a seguinte história para falar da força e da atualidade do pensamento de Marx:

“No Cemitério Highgate estão sepultados dois pensadores do século XIX – Karl Marx e Herbert Spencer – e, curiosamente, da tumba de um se avista o outro. Quando ambos eram vivos, Herbert era considerado o Aristóteles da época, enquanto Karl era um sujeito que morava nas ladeiras mais baixas de Hampstead à custa do dinheiro do amigo [Engels]. Hoje ninguém sabe que Spencer está sepultado ali, enquanto peregrinos idosos, vindos do Japão e da Índia, visitam o túmulo de Karl Marx, e comunistas exilados iranianos e iraquianos fazem questão de ser enterrados à sua sombra” (Como Mudar o Mundo – Marx e o Marxismo, p. 14).

Marx foi um autor que acompanhou a vida e a obra do historiador inglês, que morreu na manhã desta segunda-feira (1º), aos 95 anos. O livro citado acima é uma coletânea de textos que Hobsbawm escreveu sobre o assunto entre 1956 e 2009, “um estudo sobre a evolução e o impacto póstumo do pensamento de Karl Marx (e de seu amigo inseparável Friedrich Engels)”, como ele próprio define. Nesta obra, o historiador defende uma tese central: “Marx é hoje, mais uma vez, e com toda justiça, um pensador para o século XXI”. Como uma das melhores formas de homenagear alguém que partiu é manter acesa a memória das obras de uma vida, cabe falar um pouco sobre essa tese que sintetiza uma parte importante das preocupações e compromissos desse historiador extraordinário.

Paradoxalmente, observou Hobsbawm, quem “redescobriu” Marx foram os capitalistas e não os socialistas. O ano de 1998 foi emblemático neste processo. Neste ano, comemorou-se o sesquicentenário do Manifesto Comunista. A data coincidiu, ironicamente, com o início de uma forte turbulência na economia internacional. Hobsbawm relata que ficou espantado quando, num almoço mais ou menos na virada do século, George Soros perguntou o que ele achava de Marx: “Por saber o quanto nossas ideias eram divergentes, preferi evitar uma discussão e dei uma resposta ambígua. Esse homem, disse Soros, descobriu uma coisa com relação ao capitalismo, há 150 anos, em que devemos prestar atenção”.

Alguns depois, em 2008, o jornal londrino Financial Times estampou em sua manchete: “Capitalismo em convulsão”. “Não podia mais haver dúvida de que Marx estava de volta aos refletores. Enquanto o capitalismo mundial estiver passando por sua mais grave crise desde o começo da década de 1930, será improvável que Marx saia de cena. Por outro lado, o Marx do século XXI será, com certeza, bem diferente do Marx do século XX”, advertiu Hobsbwam. Quais seriam essas diferenças?

O Marx do século XXI
A resposta a essa pergunta está intimamente ligada ao diagnóstico sobre quais aspectos da análise de Marx continuam válidos e relevantes. O historiador inglês destaca dois deles: (i) a análise da dinâmica global do desenvolvimento econômico capitalista e de sua capacidade de destruir tudo o que se antepuser a ele; (ii) a análise do mecanismo de crescimento capitalista, por meio da geração de contradições internas, levando a crises sucessivas e a uma crescente concentração econômica numa economia cada vez mais globalizada.

E a força dessas análises reside, em larga medida, no método empregado por Marx, um método que rejeita a ideia de modelo e procura pensar o mundo como um todo. Não se trata de um pensamento interdisciplinar no sentido convencional, assinala Hobsbwam, mas de um pensamento que integra todas as disciplinas, abordando os fenômenos sociais a partir de distintos pontos de vista: econômicos, políticos, científicos e filosóficos. “Não podemos prever as soluções dos problemas com que se defronta o mundo no século XXI, mas, quem quiser solucioná-los, deverá fazer as perguntas de Marx, mesmo que não queira aceitar as respostas dadas por seus vários discípulos”, defende o historiador.

Marx tem, pois, uma lição metodológica que é, de diferentes modos, destacada por Hobsbawm. No método de Marx, não há lugar para determinismos, dogmas ou modelos pré-concebidos que possam ser aplicados mecanicamente a qualquer momento histórico. E esses pressupostos foram assumidos também por Hobsbawm em seu trabalho como historiador. No final do artigo “Marx e o trabalhismo: o longo século” (op.cit. pp. 358-375), ele reflete sobre os fracassos do século XX, os problemas do século XXI, reafirmando sua confiança no método de análise de Marx:

“Paradoxalmente, ambos os lados têm interesse em voltar a um importante pensador cuja essência é a crítica do capitalismo e dos economistas que não perceberam aonde levaria a globalização capitalista, como ele previra em 1848. Mais uma vez é óbvio que as operações do sistema econômico devem ser analisadas tanto historicamente, como uma fase da história, e não como seu fim, quanto de forma realista, isto é, em termos não de um equilíbrio de mercado ideal, e sim de um mecanismo integrado que gera crises periódicas capazes de transformar o sistema.” (op.cit. p.375)

Para Hobsbawm, a crise atual mostra que o “mercado” não tem nenhuma resposta para o “principal problema com que se defronta o século XXI”: “o fato de que o crescimento econômico ilimitado e cada vez mais tecnológico, em busca de lucros insustentáveis, produz riqueza global, mas às custas de um fator de produção cada vez mais dispensável, o trabalho humano, e, talvez convenha acrescentar, dos recursos naturais do planeta”. O historiador conclui: “O liberalismo econômico e o liberalismo político, sozinhos ou combinados, não conseguem oferecer uma solução para os problemas do século XX. Mais uma vez chegou a hora de levar Marx a sério”.

O que fica de um homem?
Paul Valéry, no início de sua formidável “Introdução ao Método de Leonardo da Vinci” (publicado no Brasil pela editora 34), disse que “o que fica de um homem é o que nos leva a pensar seu nome e as obras que fazem desse nome um signo de admiração, de ódio ou de indiferença. Pensamos que ele pensou, e podemos reencontrar entre suas obras esse pensamento que lhe é dado por nós: podemos refazer esse pensamento à imagem do nosso”.

A longa, profícua e aguda obra de Hobsbwam está aí para que nós melhoremos o nosso próprio pensamento sobre a nossa história e, sobretudo, sobre os desafios que o presente desfia a nossa frente. Não há fim da história, o mercado não é um deus e os homens e mulheres seguem lutando para sobreviver e levar a humanidade a um patamar melhor do que o que está aí. As palavras, as reflexões e a vida de Eric Hobsbwam seguirão a nossa disposição para deixar esse caminho um pouco menos sombrio.