Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir.
Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives
Julia Rebeca, Fran e o machismo viral que mata
15 de Novembro de 2013, 8:54 - sem comentários aindaNem todo mundo que decide humilhar uma mulher por causa de um vídeo com cenas de sexo compreende que está sendo machista. Poderia chamar também de bullying virtual, mas nem todos concordariam que, de modo intencional e repetido, estão violentando ou agredindo uma mulher ou uma menina. Certamente muitos diriam que é só uma "brincadeira", uma "piada".
Uma simples "piada" foi o que fez Danilo Gentili com uma pernambucana que era a maior doadora de leite materno do país. Foi condenado pelo mau gosto do pretenso humor e pelos danos causados.
No último dia 10 de novembro, uma adolescente de 17 anos foi encontrada morta, dentro de seu quarto, enrolada num fio desses aparelhos de fazer "chapinha" no cabelo. Julia Rebeca chegou a anunciar o suicídio pelo Instagram.
Primeiro porque não me recordo de que algo semelhante tenha causado a morte de algum homem que tenha transado com mulheres belíssimas. Sendo assim, penso que o simples vazamento de um vídeo sexual não é capaz de matar ninguém, principalmente homens. O que mata, difama, humilha e agride são os comentários e "piadas" feitas em relação ao conteúdo do audiovisual. Importante frisar: quase sempre são "brincadeiras" e "piadas" com alto teor sexista e machista.
Qual é o real problema de se ver divulgado em um vídeo com cenas de sexo? Depende: se você é homem, provavelmente, nenhum. Ao contrário, isso ainda será usado como um troféu para seu "falo". Mas se você é mulher é quase certo que será vítima de bullying, de machismo, de "piadas e brincadeiras" que vão acabar com sua vida social, no mínimo. Em casos mais extremos, o mal-estar e a falta de elementos para se lidar com a situação podem levar ao suicídio.
O "Caso Fran" foi semelhante. Vídeo divulgado pelo WhatsApp, as "piadas" circulando pelas redes sociais, um homem que compartilha seu troféu (um vídeo sexual) e uma mulher sem condições de sair de casa para trabalhar, comprar pão, etc. Pessoas chegaram a parar em frente da loja onde a jovem trabalha (ou trabalhava) para tirar fotos fazendo sinal de "OK", a "piada" que virou meme e se espalhou por todo o país.
Qualquer pesquisa rápida pela internet será capaz de mostrar o quão recorrente estes casos se tornaram. Na verdade, isso sempre aconteceu em nossas sociedades. A grande diferença é que hoje se faz em minutos o que antigamente se fazia em meses ou anos. O objeto de difamação ainda é o mesmo: a mulher e/ou os homoafetivos. Os argumentos usados pouco mudaram: ainda são machistas e sexistas.
Atualmente, grupos reivindicam seu espaço justo e igualitário na sociedade. São feministas e apoiadores de causas homoafetivas e assim por diante. Mas o conservadorismo político, religioso, social e sexual logo respondeu a essas lutas, dizendo que hoje vivemos uma "ditadura gayzista", um "patrulhamento excessivo" do politicamente correto, que "não se pode dizer mais nada", etc. Mas até onde tenho conhecimento, somente o machismo continua matando, bem como os conservadorismos todos. O "politicamente correto" ainda não vitimou nenhum humorista de mau gosto. Não que eu saiba...
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Julia Rebeca, Fran e o machismo viral que mata
15 de Novembro de 2013, 8:54 - sem comentários aindaNem todo mundo que decide humilhar uma mulher por causa de um vídeo com cenas de sexo compreende que está sendo machista. Poderia chamar também de bullying virtual, mas nem todos concordariam que, de modo intencional e repetido, estão violentando ou agredindo uma mulher ou uma menina. Certamente muitos diriam que é só uma "brincadeira", uma "piada".
Uma simples "piada" foi o que fez Danilo Gentili com uma pernambucana que era a maior doadora de leite materno do país. Foi condenado pelo mau gosto do pretenso humor e pelos danos causados.
No último dia 10 de novembro, uma adolescente de 17 anos foi encontrada morta, dentro de seu quarto, enrolada num fio desses aparelhos de fazer "chapinha" no cabelo. Julia Rebeca chegou a anunciar o suicídio pelo Instagram.
Primeiro porque não me recordo de que algo semelhante tenha causado a morte de algum homem que tenha transado com mulheres belíssimas. Sendo assim, penso que o simples vazamento de um vídeo sexual não é capaz de matar ninguém, principalmente homens. O que mata, difama, humilha e agride são os comentários e "piadas" feitas em relação ao conteúdo do audiovisual. Importante frisar: quase sempre são "brincadeiras" e "piadas" com alto teor sexista e machista.
Qual é o real problema de se ver divulgado em um vídeo com cenas de sexo? Depende: se você é homem, provavelmente, nenhum. Ao contrário, isso ainda será usado como um troféu para seu "falo". Mas se você é mulher é quase certo que será vítima de bullying, de machismo, de "piadas e brincadeiras" que vão acabar com sua vida social, no mínimo. Em casos mais extremos, o mal-estar e a falta de elementos para se lidar com a situação podem levar ao suicídio.
O "Caso Fran" foi semelhante. Vídeo divulgado pelo WhatsApp, as "piadas" circulando pelas redes sociais, um homem que compartilha seu troféu (um vídeo sexual) e uma mulher sem condições de sair de casa para trabalhar, comprar pão, etc. Pessoas chegaram a parar em frente da loja onde a jovem trabalha (ou trabalhava) para tirar fotos fazendo sinal de "OK", a "piada" que virou meme e se espalhou por todo o país.
Qualquer pesquisa rápida pela internet será capaz de mostrar o quão recorrente estes casos se tornaram. Na verdade, isso sempre aconteceu em nossas sociedades. A grande diferença é que hoje se faz em minutos o que antigamente se fazia em meses ou anos. O objeto de difamação ainda é o mesmo: a mulher e/ou os homoafetivos. Os argumentos usados pouco mudaram: ainda são machistas e sexistas.
Atualmente, grupos reivindicam seu espaço justo e igualitário na sociedade. São feministas e apoiadores de causas homoafetivas e assim por diante. Mas o conservadorismo político, religioso, social e sexual logo respondeu a essas lutas, dizendo que hoje vivemos uma "ditadura gayzista", um "patrulhamento excessivo" do politicamente correto, que "não se pode dizer mais nada", etc. Mas até onde tenho conhecimento, somente o machismo continua matando, bem como os conservadorismos todos. O "politicamente correto" ainda não vitimou nenhum humorista de mau gosto. Não que eu saiba...
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
O Tabu das arquibancadas
15 de Novembro de 2013, 6:35 - sem comentários aindaEnquanto torcedores formam grupos para dar visibilidade à homossexualidade, organizadas temem perda de espaço. Discussão sobre homofobia no futebol é inadiável
(Por Ciro Barros e Giulia Afiune - Pública)
O ano de 2013 foi expressivo para a discussão de dois grandes tabus do futebol brasileiro: a homossexualidade e a homofobia. Em 9 de abril, torcedores do Atlético-MG fundaram a Galo Queer, uma página no Facebook que reúne torcedores alvinegros com uma postura anti-homofobia e anti-sexismo. “Galo” é o apelido do clube de Minas Gerais e “Queer”, em inglês, significa gay. Em 15 dias, a página ganhou cinco mil fãs, e hoje conta com mais de 6.600.
O gesto da torcida atleticana motivou outras a fazerem o mesmo. Ao longo do mês de abril, surgiram páginas semelhantes de torcidas de todo o país: Cruzeiro, São Paulo,Náutico, Grêmio, Vitória, Bahia, Internacional, Palmeiras, Corinthians, Flamengo, entre outros. A lista é extensa e mostra que a discussão da homofobia no futebol, até então, ainda estava dentro do armário.
“O estádio é um ambiente super homofóbico. Lá não se vê nenhuma manifestação de diversidade afetiva”, diz o jornalista – e palmeirense – William de Lucca, colaborador da Folha de S. Paulo em João Pessoa, na Paraíba. Ele é homossexual assumido e se esforça para prestigiar os jogos do Palmeiras em cidades próximas, como Recife ou Natal. William já era militante LGBT e, assim que ouviu falar, aderiu à página anti-homofóbica “Palmeiras Livre”. “Em 2008, eu morei alguns meses em São Paulo e tinha um namorado que era palmeirense também. A gente foi até aconselhado por um amigo dele da torcida organizada a não ter nenhuma demonstração de afeto dentro do estádio, porque a gente poderia ser agredido”, lembra. “A gente sempre fica com medo. Em outros ambientes, sou muito seguro quanto a manifestar meu afeto: ando de mão dada e tal, inclusive na rua, mas acho que o estádio de futebol é mais hostil do que a própria rua, sabe? A homofobia é muito mais explícita”, conta.
“A gente só não tem mais relatos disso porque os homossexuais que torcem nos estádios não arriscam nenhum tipo de demonstração afetiva”, conclui William.
Dentro da Palmeiras Livre, assim como nas outras organizações, ainda se discute quais serão os próximos passos. Os integrantes querem ocupar as arquibancadas, mas temem agressões físicas, já que as verbais ocorrem diariamente. “Dia sim e outro também nós recebemos ameaças”, conta a fotógrafa e analista de mídias sociais Thaís Nozue, também integrante da Palmeiras Livre. “As pessoas vem ameaçando, dizendo que estão mexendo com o time errado, que eles vão descobrir quem é, que não sei o quê”. Por enquanto, a hostilidade está restrita a mensagens no Facebook como: “Vão morrer”, “Experimenta aparecer na torcida e vocês vão apanhar”, “A Mancha [ maior organizada do Palmeiras ] bate em polícia e não vai bater em um monte de bicha?” – o que não significa que a ameaça venha da Mancha, como explica Thaís.
Segundo ela, a causa da Palmeiras Livre também foi rechaçada pelas organizadas alviverdes. “A gente até tentou uma aproximação com as organizadas, mas elas deram um recado para a gente não se meter com elas. Às vezes aparecem pessoas se dizendo das organizadas nos ameaçando, mas a gente não tem como comprovar se são mesmo”, diz.
No início de 2012, o Verdão estudava a possibilidade de contratar Richarlyson. A Mancha Verde convocou um protesto no dia 4 de janeiro, na frente do Centro de Treinamento (CT) do Palmeiras, zona oeste de São Paulo. Segundo a torcida o motivo era uma rixa antiga com o jogador, que estava à beira de um acordo com o Alviverde, mas acabou indo jogar no rival São Paulo. Porém, uma grande faixa estendida por duas pessoas durante aquele ato dizia: “A homofobia veste verde”.
Ao telefone, Marquinhos negou repetidas vezes que a Mancha tenha algo a ver com a faixa – ela seria obra de duas pessoas desconhecidas da organizada que foram ao protesto. Mas ele disse que “não via nada de agressivo na faixa”. A Pública tambémtentou contato com Richarlyson, mas foi informada pelo seu empresário, Julio Fressato, que ele estava se recuperando de uma cirurgia.
No dia seguinte, cinco integrantes da Camisa 12, segunda maior torcida organizada do Corinthians, foram ao CT do clube protestar contra a atitude de Sheik, levando três faixas que diziam “Vai beijar a P.Q.P. Aqui é lugar de homem”, “Respeito é pra quem tem” e “Viado não”.
Dois meses depois, o jornalista e apresentador Luiz Felipe de Campos Mundin, que assina como Felipeh Campos, anunciou que faltava pouco para fundar a já polêmica Gaivotas Fiéis, primeira torcida organizada com conceito gay do Corinthians.
A Pública conseguiu entrevistar um personagem importante em ambos os episódios, Marco Antônio de Paula Rodrigues, de 34 anos. Conhecido pelo apelido “Capão”, por ter crescido no Capão Redondo, bairro periférico da zona sul de São Paulo, ele é presidente da Camisa 12, e foi um dos cinco que protestaram contra o selinho de Sheik. Ele revela ter sido o autor da faixa que dizia “Viado não” – a única, dentre as três, que considera agressiva. “Só essa foi um pouco mais forte, foi um excesso. Eu que risquei com o spray essa faixa, eu até pensei [ que era agressiva ], mas depois que nós já estávamos lá, a gente não podia voltar atrás”, diz. Trajado da cabeça aos pés com roupas da Camisa 12 (boné, camiseta, agasalho, bermuda e até meias da torcida), Capão é assertivo, olha nos olhos e tem a voz rouca. Aceitou falar durante uma hora e meia com a reportagem da Pública na sede da torcida, no bairro paulistano do Pari, região central, para “dar a explanação” sobre os dois episódios.
Sobre a iniciativa de Felipeh Campos, Capão vê a nova torcida gay como puro marketing. “Acredito que ele está pensando mais numa autopromoção do que numa torcida organizada. Porque para nós, uma torcida organizada começa como a gente sempre troca ideia nas torcidas: o cara vai para uma caravana, o cara participa de vários jogos do Corinthians na arquibancada e não na numerada, a pessoa participa de inúmeras manifestações corintianas que teve nesses últimos anos, tanto de protesto contra diretoria, contra jogador. Tem uma caminhada ideológica dentro de uma instituição para você fundar uma torcida organizada. Torcida organizada não é um comércio, mano”, argumenta.
“Tomei muita borrachada da polícia por aí, passei muita fome na estrada, nunca fomos pra qualquer lugar e fomos bem recebidos por qualquer órgão que cuida da organização do jogo no estádio, da segurança pública, nós sempre fomos maltratados por muitos deles, então a torcida organizada não é simplesmente chegar e falar: ‘Ó, vou criar uma torcida hoje. Vou criar uma camisa e vou pro estádio’”.
Para Capão, é “inaceitável” a escolha do nome da torcida gay e a corruptela do símbolo do Corinthians – no brasão da Gaivotas, além da nova ave, o símbolo do Corinthians tem como fundo um espelho de maquiagem com direito a pincel e lápis, e a bandeira do Estado de São Paulo foi pintada com as cores do arco-íris, ícone do movimento gay.
“Eu acho que o rapaz lá acaba beirando até o ridículo… Ele está transmutando as nossas coisas. Tanto pelo nome que ele coloca se referindo a uma torcida que tem uma puta tradição [ Gaviões da Fiel, a maior organizada do Corinthians, fundada em 1969 ] quanto do nosso símbolo do Corinthians, ele colocar um espelho e uns negócios de maquiagem no símbolo… Numa entrevista que eu vi, perguntaram: ‘Mas por que isso daí?’ E ele: ‘Ah, porque na verdade o corintiano vai gostar de se pintar na arquibancada’. Meu, torcida do Coringão é 90 minutos, mano. A gente gosta é de cantar, de sofrer, de chorar pelo Coringão. Não é de se pintar. Com todo o respeito, nem as nossas mulheres fazem isso”, afirma Capão, que é contra a existência de uma torcida gay. “Já digo de pronto que eu não sou favorável a ter uma torcida gay, porque eu acho que os gays não precisam disso daí pra poder se achar numa sociedade que já está abrangendo todo mundo”.
Perguntado se existem gays na Camisa 12, Capão não hesita: “Nós não temos gays na torcida, mano. Pelo menos nunca soubemos, entendeu. Meu, se o cara tá lá, tá assistindo o jogo. Tudo bem, nós vamos respeitar, mas qualquer faixa assim, nós somo contra mano. Nós não queremos, de verdade mano, aqui dentro da 12. Pra nós é sério o estádio, não é só pra brincar”. Capão, explicando que, se “no meio de um gol os dois de repente se beijarem no meio da nossa torcida”, seria “ruim”: “O estádio pra nós é um templo”.
O lastro, para Capão – que não se considera homofóbico –, é sempre a tradição. “O cara ir pro jogo, se for um homem, de shortinho amarradinho, camisa amarradinha e todo pintado… Pra nós não rola meu, de verdade. Porque o nosso tradicionalismo, infelizmente, meio ogro, tá ligado, até beirando homem da caverna não permite isso daí, certo?”. Se a Camisa 12 fosse homofóbica, exemplifica Capão, “a gente juntava os associados da 12 e ia lá na passeata gay quebrar todo mundo. No entanto que ninguém tá muito se manifestando [ sobre a Gaivotas Fiéis ], certo? Por quê? Porque tudo que a gente fala, a mídia distorce”.
Sobre o episódio do selinho do Sheik, Capão diz que o problema foi o atacante ter declarado que o beijo era para comemorar a vitória do Corinthians. “Quando ele falou que ele estava fazendo aquilo pra comemorar o jogo ele já transferiu a responsa pro Corinthians”, afirma, explicando que, depois do episódio, onde quer que o Timão jogue é recebido com gritos de “beija beija beija” pelos torcedores rivais. “Estávamos ali [ no protesto ] representando muitos torcedores. Muitos pediram para que a gente tomasse a frente, tanto que eu recebi inúmeras congratulações depois”, diz.
Felipeh conta que vem sendo ameaçado nas redes sociais, e que foi agredido verbalmente na semana passada, na Avenida Paulista. “As ameaças são coisas do tipo ‘Cuidado, eu vou te matar’, ‘Você já tá jurado de morte’, ‘Abre teu olho’. Então você vê que são atitudes extremamente homofóbicas e preconceituosas, elas não têm outros motivos”, diz. Sobre a agressão ao vivo, ele conta que ocorreu na saída de seu trabalho, na sede da TV Gazeta, na avenida Paulista. “Eu estava com um amigo meu na Paulista e um cara passou, me esbarrou e começou a me xingar. E eu falei: ‘É comigo que você tá falando?’ E ele: ‘ Você acha que é com quem? Tá pensando que você e a sua turminha vai entrar em estádio? Não vai não, mano’. E eu falei: ‘Bom, vamos conversar, abaixa o tom de voz’. E aí ele continuou a gritar e eu falei: ‘Ótimo, a polícia está vindo ali, eu vou te incriminar agora em crime de homofobia e você vai sair daqui para a cadeia’. Aí na hora que ele viu que a polícia vinha vindo a pé, ele meio que saiu de canto e deu um pinote”, relata.
Felipeh Campos conta que desde pequeno frequenta estádios. “O futebol nas décadas de 70 e 80 era uma grande festa. Mas foi crescendo de uma forma tão grande que deixou de olhar para a questão democrática. Não está escrito na porta do estádio que só é permitida a entrada de homens, né? Eu acredito que não só os gays têm que frequentar os estádios, como a mulher, as crianças, entendeu? O futebol é pra todos”, diz. “Mas é claro que o conceito da torcida é gay e o meu objetivo maior é inserir o público gay no estádio de futebol. Eles [ as organizadas ] monopolizaram os estádios”, diz.
De fato, a divisão do estádio do Pacaembu é um dos argumentos de Capão para rejeitar a convivência com as Gaivotas. Por determinação da Federação Paulista de Futebol, as organizadas do Corinthians têm que ocupar as arquibancadas Verde e Amarela, atrás de um dos gols, nos jogos em que o clube é mandante. Se ficasse fora desse setor, a Gaivotas estaria violando a regra. “Mas dentro desse setor, nós já temos seis torcidas: temos a Gaviões da Fiel, temos a Camisa 12, a Pavilhão 9, a Estopim da Fiel, a Coringão Chopp e a Fiel Macabra. São seis torcidas que estão ali e todas elas obtiveram a caminhada. Ninguém chegou do nada não”, argumenta Capão.
Felipeh garante que o objetivo não é “fazer represália com qualquer tipo de segmento sexual”. Porém, sobre dividir espaço com as outras organizadas, ele é enfático. “Nem que eu tiver que pedir segurança para o exército. Mas que a minha torcida vai entrar nos estádios, isso vai, com certeza. Nem que a gente tenha que chegar de carro-forte, de tanque”. Ele ressalta que a sua torcida será profissional e que todo o corpo diretivo será remunerado, diferentemente das outras organizadas.
Procurado pela Pública, Jerry Xavier, diretor da Gaviões da Fiel, disse que a torcida não se pronuncia sobre esse tema. O Corinthians também afirmou, via assessoria, que não se manifesta a respeito de torcidas.
Para Bandeira, esse é o motivo da rejeição às torcidas gays: “Se a torcida do Corinthians, do Grêmio ou do Internacional for a primeira a levantar uma bandeira pró ações afirmativas, ela poderá ser chamada de a ‘torcida gay’, e as torcidas acham que isso é um problema”, diz.
Para Marco Antonio Bettine de Almeida, professor livre docente na Pós-graduação em Mudança Social e Participação Política da EACH-USP, a reação é “natural” num espaço que sempre foi dominado pelo masculino. “A partir do momento que as agendas de visibilidades desses grupos excluídos, que tiveram seus direitos cerceados, que são espancados, é natural, vendo a representação que o futebol tem no Brasil, começar toda essa movimentação de garantir uma representação nesse espaço eminentemente masculino, do macho, do falo”. Para ele, no entanto, há espaço para negociação entre os grupos LGBT e as organizadas. “Uma mulher no estádio é aceita, por exemplo, mas tem que representar os papéis dentro do estádio, que é torcer, xingar, participar. As torcidas gays ou não gays têm que incorporar um pouco da história desse espaço do torcer. E conhecer, minimamente, os códigos, senão vai gerar conflito. Porque o espaço é um espaço sagrado e tem uma carga cultural muito forte”.
Bandeira discorda. “Se é uma torcida gay, que ela tenha comportamentos diferentes das torcidas não gays. É sempre complicado quando a gente quer transgredir as regras de gênero sexual num ambiente muito marcado. Mas me parece que seria muito mais interessante se eles fizessem algo diferente”. Foi essa a aposta da Coligay, a primeira torcida homossexual do país, que em plena ditadura militar conquistou seu espaço dentre os torcedores do Grêmio (leia Box).
Uma inspiração para o caso brasileiro pode ser a GFSN (Gay Football Supporters Network, Rede de Torcedores de Futebol Gays, numa tradução livre). Fundada em 1989, a associação do Reino Unido tem diversas iniciativas para a inserção do público LGBT no futebol. “Estamos em contato permanente com muitos clubes para recomendar políticas anti-homofóbicas por parte deles”, afirma Simon Smith, do departamento de comunicação. “Ajudamos, por exemplo, a consolidar os Gay Gooners, a torcida LGBT do Arsenal e conseguimos o apoio formal de representantes do Liverpool e do Everton para a parada do orgulho LGBT da cidade de Liverpool. Dentro de campo, organizamos há dez anos campeonatos de futebol voltados ao público LGBT para a inclusão no esporte”, conta Smith.
A GFSN também registra com precisão britânica a ocorrência de gritos e cânticos homofóbicos nos estádios – e faz campanha permanente contra eles. “Na temporada passada, os torcedores do Brighton & Hove Albion FC sofreram com cantos homofóbicos em 72% dos jogos que disputaram. Nós documentamos isso e enviamos à FA (Football Association, a CBF inglesa), que ainda não tomou nenhuma atitude. Mas nós continuamos pressionando”, diz.
No próximo ano, a Copa do Mundo promete ser palco de discussão sobre homossexualidade – pelo menos em São Paulo, onde mais de 40 mil pessoas são esperadas para acompanhar a transmissão dos jogos nos telões da Fan Fest, no Vale do Anhangabaú, centro da cidade. Ali, a prefeitura planeja realizar uma intervenção para discutir homofobia, com direito a exibição de vídeos em telas e distribuição de folhetos sobre o tema. Outra ação que está sendo estudada é transmitir os jogos em telões no Largo do Arouche, um “point” LGBT da cidade, para esses torcedores.
O ano de 2013 foi expressivo para a discussão de dois grandes tabus do futebol brasileiro: a homossexualidade e a homofobia. Em 9 de abril, torcedores do Atlético-MG fundaram a Galo Queer, uma página no Facebook que reúne torcedores alvinegros com uma postura anti-homofobia e anti-sexismo. “Galo” é o apelido do clube de Minas Gerais e “Queer”, em inglês, significa gay. Em 15 dias, a página ganhou cinco mil fãs, e hoje conta com mais de 6.600.
O gesto da torcida atleticana motivou outras a fazerem o mesmo. Ao longo do mês de abril, surgiram páginas semelhantes de torcidas de todo o país: Cruzeiro, São Paulo,Náutico, Grêmio, Vitória, Bahia, Internacional, Palmeiras, Corinthians, Flamengo, entre outros. A lista é extensa e mostra que a discussão da homofobia no futebol, até então, ainda estava dentro do armário.
“O estádio é um ambiente super homofóbico. Lá não se vê nenhuma manifestação de diversidade afetiva”, diz o jornalista – e palmeirense – William de Lucca, colaborador da Folha de S. Paulo em João Pessoa, na Paraíba. Ele é homossexual assumido e se esforça para prestigiar os jogos do Palmeiras em cidades próximas, como Recife ou Natal. William já era militante LGBT e, assim que ouviu falar, aderiu à página anti-homofóbica “Palmeiras Livre”. “Em 2008, eu morei alguns meses em São Paulo e tinha um namorado que era palmeirense também. A gente foi até aconselhado por um amigo dele da torcida organizada a não ter nenhuma demonstração de afeto dentro do estádio, porque a gente poderia ser agredido”, lembra. “A gente sempre fica com medo. Em outros ambientes, sou muito seguro quanto a manifestar meu afeto: ando de mão dada e tal, inclusive na rua, mas acho que o estádio de futebol é mais hostil do que a própria rua, sabe? A homofobia é muito mais explícita”, conta.
“A gente só não tem mais relatos disso porque os homossexuais que torcem nos estádios não arriscam nenhum tipo de demonstração afetiva”, conclui William.
Dentro da Palmeiras Livre, assim como nas outras organizações, ainda se discute quais serão os próximos passos. Os integrantes querem ocupar as arquibancadas, mas temem agressões físicas, já que as verbais ocorrem diariamente. “Dia sim e outro também nós recebemos ameaças”, conta a fotógrafa e analista de mídias sociais Thaís Nozue, também integrante da Palmeiras Livre. “As pessoas vem ameaçando, dizendo que estão mexendo com o time errado, que eles vão descobrir quem é, que não sei o quê”. Por enquanto, a hostilidade está restrita a mensagens no Facebook como: “Vão morrer”, “Experimenta aparecer na torcida e vocês vão apanhar”, “A Mancha [ maior organizada do Palmeiras ] bate em polícia e não vai bater em um monte de bicha?” – o que não significa que a ameaça venha da Mancha, como explica Thaís.
Segundo ela, a causa da Palmeiras Livre também foi rechaçada pelas organizadas alviverdes. “A gente até tentou uma aproximação com as organizadas, mas elas deram um recado para a gente não se meter com elas. Às vezes aparecem pessoas se dizendo das organizadas nos ameaçando, mas a gente não tem como comprovar se são mesmo”, diz.
A homofobia veste verde?
Procurado pela Pública, Marcos Ferreira, o Marquinhos, presidente da Mancha Alviverde, não quis dar uma entrevista sobre a polêmica da homofobia e sobre um episódio envolvendo o volante e lateral Richarlyson, hoje no Atlético-MG e tido como homossexual, apesar de sempre se declarar heterossexual.No início de 2012, o Verdão estudava a possibilidade de contratar Richarlyson. A Mancha Verde convocou um protesto no dia 4 de janeiro, na frente do Centro de Treinamento (CT) do Palmeiras, zona oeste de São Paulo. Segundo a torcida o motivo era uma rixa antiga com o jogador, que estava à beira de um acordo com o Alviverde, mas acabou indo jogar no rival São Paulo. Porém, uma grande faixa estendida por duas pessoas durante aquele ato dizia: “A homofobia veste verde”.
Ao telefone, Marquinhos negou repetidas vezes que a Mancha tenha algo a ver com a faixa – ela seria obra de duas pessoas desconhecidas da organizada que foram ao protesto. Mas ele disse que “não via nada de agressivo na faixa”. A Pública tambémtentou contato com Richarlyson, mas foi informada pelo seu empresário, Julio Fressato, que ele estava se recuperando de uma cirurgia.
O selinho de Sheik e o voo das Gaivotas
Na esteira das iniciativas anti-homofóbicas, dois episódios jogaram o Corinthians no centro da discussão. O atacante Emerson Sheik, herói corintiano da inédita conquista da Libertadores em 2012, foi vítima de uma onda de ataques homofóbicos depois da vitória do Corinthians sobre o Coritiba por 1 a 0, no Pacaembu, no dia 18 de agosto. Para comemorar, Sheik postou uma foto em seu perfil oficial no Instagram em que aparecia dando um selinho em um amigo de longa data, o empresário Isaac Azar. “Tem que ser muito valente para celebrar a amizade sem medo do que os preconceituosos vão dizer. Tem que ser muito livre para comemorar uma vitória assim, de cara limpa, com um amigo que te apoia sempre”, escreveu.No dia seguinte, cinco integrantes da Camisa 12, segunda maior torcida organizada do Corinthians, foram ao CT do clube protestar contra a atitude de Sheik, levando três faixas que diziam “Vai beijar a P.Q.P. Aqui é lugar de homem”, “Respeito é pra quem tem” e “Viado não”.
Dois meses depois, o jornalista e apresentador Luiz Felipe de Campos Mundin, que assina como Felipeh Campos, anunciou que faltava pouco para fundar a já polêmica Gaivotas Fiéis, primeira torcida organizada com conceito gay do Corinthians.
A Pública conseguiu entrevistar um personagem importante em ambos os episódios, Marco Antônio de Paula Rodrigues, de 34 anos. Conhecido pelo apelido “Capão”, por ter crescido no Capão Redondo, bairro periférico da zona sul de São Paulo, ele é presidente da Camisa 12, e foi um dos cinco que protestaram contra o selinho de Sheik. Ele revela ter sido o autor da faixa que dizia “Viado não” – a única, dentre as três, que considera agressiva. “Só essa foi um pouco mais forte, foi um excesso. Eu que risquei com o spray essa faixa, eu até pensei [ que era agressiva ], mas depois que nós já estávamos lá, a gente não podia voltar atrás”, diz. Trajado da cabeça aos pés com roupas da Camisa 12 (boné, camiseta, agasalho, bermuda e até meias da torcida), Capão é assertivo, olha nos olhos e tem a voz rouca. Aceitou falar durante uma hora e meia com a reportagem da Pública na sede da torcida, no bairro paulistano do Pari, região central, para “dar a explanação” sobre os dois episódios.
Sobre a iniciativa de Felipeh Campos, Capão vê a nova torcida gay como puro marketing. “Acredito que ele está pensando mais numa autopromoção do que numa torcida organizada. Porque para nós, uma torcida organizada começa como a gente sempre troca ideia nas torcidas: o cara vai para uma caravana, o cara participa de vários jogos do Corinthians na arquibancada e não na numerada, a pessoa participa de inúmeras manifestações corintianas que teve nesses últimos anos, tanto de protesto contra diretoria, contra jogador. Tem uma caminhada ideológica dentro de uma instituição para você fundar uma torcida organizada. Torcida organizada não é um comércio, mano”, argumenta.
“Tomei muita borrachada da polícia por aí, passei muita fome na estrada, nunca fomos pra qualquer lugar e fomos bem recebidos por qualquer órgão que cuida da organização do jogo no estádio, da segurança pública, nós sempre fomos maltratados por muitos deles, então a torcida organizada não é simplesmente chegar e falar: ‘Ó, vou criar uma torcida hoje. Vou criar uma camisa e vou pro estádio’”.
Para Capão, é “inaceitável” a escolha do nome da torcida gay e a corruptela do símbolo do Corinthians – no brasão da Gaivotas, além da nova ave, o símbolo do Corinthians tem como fundo um espelho de maquiagem com direito a pincel e lápis, e a bandeira do Estado de São Paulo foi pintada com as cores do arco-íris, ícone do movimento gay.
Símbolos da Gaviões da Fiel e da Gaivotas Fiéis. Para a Gaviões, houve plágio do jornalista Felipeh Campos (Foto: Reprodução)
“Eu acho que o rapaz lá acaba beirando até o ridículo… Ele está transmutando as nossas coisas. Tanto pelo nome que ele coloca se referindo a uma torcida que tem uma puta tradição [ Gaviões da Fiel, a maior organizada do Corinthians, fundada em 1969 ] quanto do nosso símbolo do Corinthians, ele colocar um espelho e uns negócios de maquiagem no símbolo… Numa entrevista que eu vi, perguntaram: ‘Mas por que isso daí?’ E ele: ‘Ah, porque na verdade o corintiano vai gostar de se pintar na arquibancada’. Meu, torcida do Coringão é 90 minutos, mano. A gente gosta é de cantar, de sofrer, de chorar pelo Coringão. Não é de se pintar. Com todo o respeito, nem as nossas mulheres fazem isso”, afirma Capão, que é contra a existência de uma torcida gay. “Já digo de pronto que eu não sou favorável a ter uma torcida gay, porque eu acho que os gays não precisam disso daí pra poder se achar numa sociedade que já está abrangendo todo mundo”.
Perguntado se existem gays na Camisa 12, Capão não hesita: “Nós não temos gays na torcida, mano. Pelo menos nunca soubemos, entendeu. Meu, se o cara tá lá, tá assistindo o jogo. Tudo bem, nós vamos respeitar, mas qualquer faixa assim, nós somo contra mano. Nós não queremos, de verdade mano, aqui dentro da 12. Pra nós é sério o estádio, não é só pra brincar”. Capão, explicando que, se “no meio de um gol os dois de repente se beijarem no meio da nossa torcida”, seria “ruim”: “O estádio pra nós é um templo”.
O lastro, para Capão – que não se considera homofóbico –, é sempre a tradição. “O cara ir pro jogo, se for um homem, de shortinho amarradinho, camisa amarradinha e todo pintado… Pra nós não rola meu, de verdade. Porque o nosso tradicionalismo, infelizmente, meio ogro, tá ligado, até beirando homem da caverna não permite isso daí, certo?”. Se a Camisa 12 fosse homofóbica, exemplifica Capão, “a gente juntava os associados da 12 e ia lá na passeata gay quebrar todo mundo. No entanto que ninguém tá muito se manifestando [ sobre a Gaivotas Fiéis ], certo? Por quê? Porque tudo que a gente fala, a mídia distorce”.
Sobre o episódio do selinho do Sheik, Capão diz que o problema foi o atacante ter declarado que o beijo era para comemorar a vitória do Corinthians. “Quando ele falou que ele estava fazendo aquilo pra comemorar o jogo ele já transferiu a responsa pro Corinthians”, afirma, explicando que, depois do episódio, onde quer que o Timão jogue é recebido com gritos de “beija beija beija” pelos torcedores rivais. “Estávamos ali [ no protesto ] representando muitos torcedores. Muitos pediram para que a gente tomasse a frente, tanto que eu recebi inúmeras congratulações depois”, diz.
Gaviões X Gaivotas
A Gaviões da Fiel, maior organizada do Corinthians, fez uma denúncia de crime contra a propriedade industrial no 1º DP de Guarulhos, contestando a sátira à marca da torcida, que é registrada. A torcida reclama que a proximidade dos nomes e símbolos das duas pode induzir ao erro. “Eu não sei onde eles enxergaram plágio”, contesta Felipeh Campos, da Gaivotas. “A minha torcida chama Gaivotas Fiéis, não é gavioa. Já começa que Gaivota é feminino, não é masculino. Se eu tivesse colocado cílios e salto alto no gavião, aí eu até acredito que poderia ter sido uma questão de plágio. Porém eu não estou utilizando as peças do emblema para plagiar alguma coisa. Entendo isso como uma retaliação homofóbica”, diz.Felipeh conta que vem sendo ameaçado nas redes sociais, e que foi agredido verbalmente na semana passada, na Avenida Paulista. “As ameaças são coisas do tipo ‘Cuidado, eu vou te matar’, ‘Você já tá jurado de morte’, ‘Abre teu olho’. Então você vê que são atitudes extremamente homofóbicas e preconceituosas, elas não têm outros motivos”, diz. Sobre a agressão ao vivo, ele conta que ocorreu na saída de seu trabalho, na sede da TV Gazeta, na avenida Paulista. “Eu estava com um amigo meu na Paulista e um cara passou, me esbarrou e começou a me xingar. E eu falei: ‘É comigo que você tá falando?’ E ele: ‘ Você acha que é com quem? Tá pensando que você e a sua turminha vai entrar em estádio? Não vai não, mano’. E eu falei: ‘Bom, vamos conversar, abaixa o tom de voz’. E aí ele continuou a gritar e eu falei: ‘Ótimo, a polícia está vindo ali, eu vou te incriminar agora em crime de homofobia e você vai sair daqui para a cadeia’. Aí na hora que ele viu que a polícia vinha vindo a pé, ele meio que saiu de canto e deu um pinote”, relata.
Felipeh Campos conta que desde pequeno frequenta estádios. “O futebol nas décadas de 70 e 80 era uma grande festa. Mas foi crescendo de uma forma tão grande que deixou de olhar para a questão democrática. Não está escrito na porta do estádio que só é permitida a entrada de homens, né? Eu acredito que não só os gays têm que frequentar os estádios, como a mulher, as crianças, entendeu? O futebol é pra todos”, diz. “Mas é claro que o conceito da torcida é gay e o meu objetivo maior é inserir o público gay no estádio de futebol. Eles [ as organizadas ] monopolizaram os estádios”, diz.
De fato, a divisão do estádio do Pacaembu é um dos argumentos de Capão para rejeitar a convivência com as Gaivotas. Por determinação da Federação Paulista de Futebol, as organizadas do Corinthians têm que ocupar as arquibancadas Verde e Amarela, atrás de um dos gols, nos jogos em que o clube é mandante. Se ficasse fora desse setor, a Gaivotas estaria violando a regra. “Mas dentro desse setor, nós já temos seis torcidas: temos a Gaviões da Fiel, temos a Camisa 12, a Pavilhão 9, a Estopim da Fiel, a Coringão Chopp e a Fiel Macabra. São seis torcidas que estão ali e todas elas obtiveram a caminhada. Ninguém chegou do nada não”, argumenta Capão.
Felipeh garante que o objetivo não é “fazer represália com qualquer tipo de segmento sexual”. Porém, sobre dividir espaço com as outras organizadas, ele é enfático. “Nem que eu tiver que pedir segurança para o exército. Mas que a minha torcida vai entrar nos estádios, isso vai, com certeza. Nem que a gente tenha que chegar de carro-forte, de tanque”. Ele ressalta que a sua torcida será profissional e que todo o corpo diretivo será remunerado, diferentemente das outras organizadas.
Procurado pela Pública, Jerry Xavier, diretor da Gaviões da Fiel, disse que a torcida não se pronuncia sobre esse tema. O Corinthians também afirmou, via assessoria, que não se manifesta a respeito de torcidas.
Homofobia bate recorde no Brasil
O Brasil, o país do futebol, vem sendo líder no ranking de mortes por homofobia. Segundo dados do relatório “Assassinatos de Homossexuais (LGBT) no Brasil”, de 2012, do Grupo Gay da Bahia, o Brasil concentra 44% do total de assassinatos por motivação homofóbica no mundo. Em 2012, foram registradas 3.084 denúncias de violações ligadas à homofobia e 310 homicídios por esse motivo. Veja o infográfico abaixo.Estádio: a terra do macho
“Por ser o estádio um ambiente que tem uma série de permissões nas relações masculinas – carinhos, afetos, às vezes até mesmo agressões – é necessário que esse ambiente seja considerado seguro para os homens. Para garantir essa suposta ‘segurança’, os torcedores precisam reforçar a sua masculinidade. E uma das coisas que melhor reforça a masculinidade na nossa cultura é a homofobia. Por isso ela aparece de forma tão gritante”, afirma o pedagogo e professor da UFRGS, Gustavo Andrada Bandeira, autor da tese de mestrado “‘Eu canto, bebo e brigo…alegria do meu coração’: currículo de masculinidades nos estádios de futebol”.Para Bandeira, esse é o motivo da rejeição às torcidas gays: “Se a torcida do Corinthians, do Grêmio ou do Internacional for a primeira a levantar uma bandeira pró ações afirmativas, ela poderá ser chamada de a ‘torcida gay’, e as torcidas acham que isso é um problema”, diz.
Para Marco Antonio Bettine de Almeida, professor livre docente na Pós-graduação em Mudança Social e Participação Política da EACH-USP, a reação é “natural” num espaço que sempre foi dominado pelo masculino. “A partir do momento que as agendas de visibilidades desses grupos excluídos, que tiveram seus direitos cerceados, que são espancados, é natural, vendo a representação que o futebol tem no Brasil, começar toda essa movimentação de garantir uma representação nesse espaço eminentemente masculino, do macho, do falo”. Para ele, no entanto, há espaço para negociação entre os grupos LGBT e as organizadas. “Uma mulher no estádio é aceita, por exemplo, mas tem que representar os papéis dentro do estádio, que é torcer, xingar, participar. As torcidas gays ou não gays têm que incorporar um pouco da história desse espaço do torcer. E conhecer, minimamente, os códigos, senão vai gerar conflito. Porque o espaço é um espaço sagrado e tem uma carga cultural muito forte”.
Bandeira discorda. “Se é uma torcida gay, que ela tenha comportamentos diferentes das torcidas não gays. É sempre complicado quando a gente quer transgredir as regras de gênero sexual num ambiente muito marcado. Mas me parece que seria muito mais interessante se eles fizessem algo diferente”. Foi essa a aposta da Coligay, a primeira torcida homossexual do país, que em plena ditadura militar conquistou seu espaço dentre os torcedores do Grêmio (leia Box).
Uma inspiração para o caso brasileiro pode ser a GFSN (Gay Football Supporters Network, Rede de Torcedores de Futebol Gays, numa tradução livre). Fundada em 1989, a associação do Reino Unido tem diversas iniciativas para a inserção do público LGBT no futebol. “Estamos em contato permanente com muitos clubes para recomendar políticas anti-homofóbicas por parte deles”, afirma Simon Smith, do departamento de comunicação. “Ajudamos, por exemplo, a consolidar os Gay Gooners, a torcida LGBT do Arsenal e conseguimos o apoio formal de representantes do Liverpool e do Everton para a parada do orgulho LGBT da cidade de Liverpool. Dentro de campo, organizamos há dez anos campeonatos de futebol voltados ao público LGBT para a inclusão no esporte”, conta Smith.
A GFSN também registra com precisão britânica a ocorrência de gritos e cânticos homofóbicos nos estádios – e faz campanha permanente contra eles. “Na temporada passada, os torcedores do Brighton & Hove Albion FC sofreram com cantos homofóbicos em 72% dos jogos que disputaram. Nós documentamos isso e enviamos à FA (Football Association, a CBF inglesa), que ainda não tomou nenhuma atitude. Mas nós continuamos pressionando”, diz.
No próximo ano, a Copa do Mundo promete ser palco de discussão sobre homossexualidade – pelo menos em São Paulo, onde mais de 40 mil pessoas são esperadas para acompanhar a transmissão dos jogos nos telões da Fan Fest, no Vale do Anhangabaú, centro da cidade. Ali, a prefeitura planeja realizar uma intervenção para discutir homofobia, com direito a exibição de vídeos em telas e distribuição de folhetos sobre o tema. Outra ação que está sendo estudada é transmitir os jogos em telões no Largo do Arouche, um “point” LGBT da cidade, para esses torcedores.
Um pouco de história: em plena ditadura, nascia a Coligay
A tentativa de formar uma torcida organizada gay não é novidade no futebol brasileiro. Foi no dia 10 de abril de 1977, quando o Grêmio foi disputar uma partida pelo Campeonato Gaúcho contra o Santa Cruz (RS), que a novidade estampava as arquibancadas do estádio Olímpico: cerca de 60 torcedores homossexuais impressionaram os demais pela festa que faziam. Era a Coligay, a primeira torcida organizada assumidamente gay do Brasil. A Coligay foi fundada por Volmar Santos, que hoje é colunista social do jornal O Nacional, de Passo Fundo (RS).
Gremista fanático, Volmar nunca deixou de frequentar o Olímpico. “Eu ia aos jogos e achava as torcidas muito quietas, sem animação nenhuma. Foi quando eu resolvi formar uma torcida organizada. Aí me veio a ideia de fazer uma torcida gay”, conta. A ideia surgiu quando ele administrava a boate Coliseu, em Porto Alegre, voltada ao público gay, que não tinha muitas opções na capital gaúcha. O nome Coligay vem do nome da boate. “Foi aí que eu mandei fazer uns kaftas, uma espécie de túnica com as cores do Grêmio, e fomos torcer no estádio. A nossa marca era nunca deixar de cantar, fazer festa, apoiar sempre o nosso time. E a cada jogo a gente inventava coisas diferentes”, relembra. A torcida ganhou fama de pé quente: em 1977, com a Coligay nas arquibancadas, o Grêmio quebrou um jejum de oito anos sem títulos estaduais.
Naquele longínquo ano de 1977, o mesmo Corinthians chegou a convidar a torcida gay a prestigiar os seus jogos – e a Coligay esteve presente na quebra do jejum de 23 anos sem títulos do Timão. “Ganhamos fama de pé quente e o Vicente Matheus [ ex-presidente do Corinthians ] nos convidou. Assistimos o título do Corinthians contra a Ponte Preta de dentro do Morumbi, vestidos como gremistas”, recorda.
A Coligay durou cerca de seis anos, e acabou em 1983. “A torcida era muito centrada na figura do Volmar. Quando ele teve que ir para Passo Fundo, não teve uma liderança que conseguisse dar continuidade”, conta Leo Gerchmann, repórter especial do jornal Zero Hora, autor de um livro sobre a Coligay que deve ser lançado nos próximos meses.
Segundo Léo, a torcida enfrentou muita resistência por parte do Grêmio e da sua organizada Eurico Lara. “Temendo agressões, eu até coloquei o pessoal pra fazer karatê pra nos defendermos de possíveis ataques”, diz Volmar. Assim, na ocasião em que foram de fato atacados por torcedores do Gaúcho, clube de Passo Fundo, durante o Campeonato Gaúcho de 1977, a Coligay colocou os agressores para correr. “Com o tempo o clube e a própria torcida adotaram a Coligay. Alguns conselheiros gremistas até deram apoio financeiro à torcida. Acho uma página bonita da história do Grêmio, de aceitação da diferença”, diz Gerchmann. “Houve outras experiências de torcidas gays, coisas efêmeras no Cruzeiro, Fluminense e até no Internacional, que teve a Inter Flowers. E dois anos depois da Coligay, teve a Fla-Gay fundada pelo carnavalesco Clóvis Bornay, apesar dele ser vascaíno”.O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Agência Pública lança Microbolsas da Copa
12 de Novembro de 2013, 13:45 - sem comentários ainda
Edição extra do Concurso de Microbolsas terá como tema os preparativos para a Copa do Mundo; serão financiadas quatro reportagens investigativas no valor de R$ 4 mil
(Por Agência Pública)
A Pública está em busca de repórteres que queiram contar boas histórias e também investigar os preparativos da Copa do Mundo no Brasil. Se você já trabalha na cobertura esportiva e tem aquela pauta engavetada, essa é a hora de torná-la possível. Todas as reportagens podem ser publicadas também pelo seu veículo, em parceria com a Agência Pública!
Vamos distribuir quatro microbolsas no valor de R$ 4 mil para a realização de boas reportagens investigativas sobre a Copa do Mundo, que serão publicadas no site da Agência Pública e em jornais e sites parceiros.
As reportagens escolhidas vão fazer parte do blog Copa Pública, uma experiência de jornalismo cidadão da Pública que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora. Veja aqui as reportagens já produzidas pela nossa equipe. Todas as reportagens vão ser coordenadas e orientadas pela equipe da Pública, no espírito colaborativo que marca nosso trabalho.
Para se inscrever, basta preencher o formulário com as informações sobre a sua pauta, até o dia 6 de dezembro. O resultado final será divulgado no dia 11 de dezembro e a publicação das reportagens escolhidas está prevista para o primeiro semestre de 2014.
A inscrição pode ser realizada tanto individualmente como em grupo. A diferença, é que no caso da inscrição em grupo, o valor da premiação (R$ 4 mil) será dividido entre todos os componentes.
- Quem trabalha em algum veículo pode se inscrever?
Sim. Aquelas pessoas que têm interesse em inscrever um projeto, mas trabalham para algum outro veículo devem confirmar junto ao seu local de trabalho se o contrato prevê exclusividade. Caso não haja exclusividade e o veículo também tenha interesse em republicar a reportagem vencedora, a Pública está aberta para uma parceria com o veículo.
- Estudante pode se inscrever? Mas como eu vou comprovar experiência em reportagem investigativa?
Sim, estudantes podem participar. No caso específico de estudantes, a Pública aceita como exemplos reportagens realizadas durante a faculdade. O estudante deve provar ser capaz de realizar uma pauta bem apurada, com múltiplas fontes.
- E se eu não conseguir realizar a minha pauta, o que acontece?
Se mesmo sob orientação o microbolsista não conseguir realizar a pauta, o caso será analisado pela equipe da Pública para que se encontre uma solução viável. Em último caso, o microbolsista deverá devolver o dinheiro recebido através do concurso.
- Eu moro longe de São Paulo. Posso participar?
Sim. Interessados que não residam em São Paulo podem sim participar do concurso. Nesse caso, as reuniões com as editoras da Pública serão realizadas via skype, em datas pré-definidas.
- Pode ser projeto de infografia ou animação?
Sim. A Pública busca por novas narrativas dentro do Jornalismo, e incentiva projetos que apresentem dados e histórias de maneira visualmente atraente, interativa e inovadora. Mas o crucial é a apuração e a boa reportagem, independente do formato.
- O prêmio de R$ 4 mil pode ser utilizado apenas para o pagamento do repórter?
Sim. Uma vez tendo sua pauta escolhida, o repórter tem autonomia na utilização do dinheiro recebido da maneira que lhe convier.
- Posso fazer uma viagem para o exterior?
Sim. Como dito anteriormente, uma vez tendo sua pauta escolhida, o repórter tem autonomia na utilização do dinheiro recebido da maneira que lhe convier. A Pública não cobre custos de saúde e vai avaliar caso a caso os riscos para o repórter e a capacidade de realizar a pauta.
- Tem que ser brasileiro para poder participar?
Não. O concurso está aberto para jornalistas estrangeiros. Porém, todas as reportagens devem ser apresentadas em português.
- A Pública oferece identificação provisória (crachá)?
Sim.
- E sobre a segurança do repórter? Como a Pública pode ajudar?
As pautas serão pré-selecionadas pela equipe da Pública, e apenas as pautas que oferecem o mínimo de segurança para o repórter serão votadas pelo público. Ainda assim, solicitamos que o repórter considere os gastos com seguro no orçamento, caso isso seja necessário.
- Qual é o prazo final para a entrega da reportagem?
O prazo será definido pelo repórter e pelo editor responsável por coordenar a reportagem.
- Quando as reportagens serão publicadas?
As reportagens serão publicadas a partir de fevereiro, à medida que forem entregues à Agência Pública.
- Onde a reportagem será publicada?
A reportagem será publicada no site da Pública (http://apublica.org), que distribuiu o conteúdo via licença Creative Commons, podendo ser republicado em mais de 60 veículos parceiros.
Sua dúvida não foi respondida? Envie-nos um email: contato.publica@gmail.com
A Pública está em busca de repórteres que queiram contar boas histórias e também investigar os preparativos da Copa do Mundo no Brasil. Se você já trabalha na cobertura esportiva e tem aquela pauta engavetada, essa é a hora de torná-la possível. Todas as reportagens podem ser publicadas também pelo seu veículo, em parceria com a Agência Pública!
Vamos distribuir quatro microbolsas no valor de R$ 4 mil para a realização de boas reportagens investigativas sobre a Copa do Mundo, que serão publicadas no site da Agência Pública e em jornais e sites parceiros.
As reportagens escolhidas vão fazer parte do blog Copa Pública, uma experiência de jornalismo cidadão da Pública que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora. Veja aqui as reportagens já produzidas pela nossa equipe. Todas as reportagens vão ser coordenadas e orientadas pela equipe da Pública, no espírito colaborativo que marca nosso trabalho.
Para se inscrever, basta preencher o formulário com as informações sobre a sua pauta, até o dia 6 de dezembro. O resultado final será divulgado no dia 11 de dezembro e a publicação das reportagens escolhidas está prevista para o primeiro semestre de 2014.
Veja abaixo as perguntas mais frequentes
- A inscrição é individual ou pode ser em dupla/grupo?A inscrição pode ser realizada tanto individualmente como em grupo. A diferença, é que no caso da inscrição em grupo, o valor da premiação (R$ 4 mil) será dividido entre todos os componentes.
- Quem trabalha em algum veículo pode se inscrever?
Sim. Aquelas pessoas que têm interesse em inscrever um projeto, mas trabalham para algum outro veículo devem confirmar junto ao seu local de trabalho se o contrato prevê exclusividade. Caso não haja exclusividade e o veículo também tenha interesse em republicar a reportagem vencedora, a Pública está aberta para uma parceria com o veículo.
- Estudante pode se inscrever? Mas como eu vou comprovar experiência em reportagem investigativa?
Sim, estudantes podem participar. No caso específico de estudantes, a Pública aceita como exemplos reportagens realizadas durante a faculdade. O estudante deve provar ser capaz de realizar uma pauta bem apurada, com múltiplas fontes.
- E se eu não conseguir realizar a minha pauta, o que acontece?
Se mesmo sob orientação o microbolsista não conseguir realizar a pauta, o caso será analisado pela equipe da Pública para que se encontre uma solução viável. Em último caso, o microbolsista deverá devolver o dinheiro recebido através do concurso.
- Eu moro longe de São Paulo. Posso participar?
Sim. Interessados que não residam em São Paulo podem sim participar do concurso. Nesse caso, as reuniões com as editoras da Pública serão realizadas via skype, em datas pré-definidas.
- Pode ser projeto de infografia ou animação?
Sim. A Pública busca por novas narrativas dentro do Jornalismo, e incentiva projetos que apresentem dados e histórias de maneira visualmente atraente, interativa e inovadora. Mas o crucial é a apuração e a boa reportagem, independente do formato.
- O prêmio de R$ 4 mil pode ser utilizado apenas para o pagamento do repórter?
Sim. Uma vez tendo sua pauta escolhida, o repórter tem autonomia na utilização do dinheiro recebido da maneira que lhe convier.
- Posso fazer uma viagem para o exterior?
Sim. Como dito anteriormente, uma vez tendo sua pauta escolhida, o repórter tem autonomia na utilização do dinheiro recebido da maneira que lhe convier. A Pública não cobre custos de saúde e vai avaliar caso a caso os riscos para o repórter e a capacidade de realizar a pauta.
- Tem que ser brasileiro para poder participar?
Não. O concurso está aberto para jornalistas estrangeiros. Porém, todas as reportagens devem ser apresentadas em português.
- A Pública oferece identificação provisória (crachá)?
Sim.
- E sobre a segurança do repórter? Como a Pública pode ajudar?
As pautas serão pré-selecionadas pela equipe da Pública, e apenas as pautas que oferecem o mínimo de segurança para o repórter serão votadas pelo público. Ainda assim, solicitamos que o repórter considere os gastos com seguro no orçamento, caso isso seja necessário.
- Qual é o prazo final para a entrega da reportagem?
O prazo será definido pelo repórter e pelo editor responsável por coordenar a reportagem.
- Quando as reportagens serão publicadas?
As reportagens serão publicadas a partir de fevereiro, à medida que forem entregues à Agência Pública.
- Onde a reportagem será publicada?
A reportagem será publicada no site da Pública (http://apublica.org), que distribuiu o conteúdo via licença Creative Commons, podendo ser republicado em mais de 60 veículos parceiros.
Sua dúvida não foi respondida? Envie-nos um email: contato.publica@gmail.com
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
O "Rei do Camarote" e a barrigada da Record
11 de Novembro de 2013, 11:30 - sem comentários aindaO "Rei do Camarote" e a barrigada da Record |
Alexander foi um dos personagens de uma reportagem de Veja São Paulo e ficou conhecido como "Rei do Camarote". Durante dois meses, a revista foi atrás de milionários que gastam fortunas em baladas. A reportagem repercutiu muito, e na semana passada sites questionaram se não teria sido uma armação.
O jornalístico da Record apresentou material sobre os "reis dos camarotes". Para questionar a revista Veja, utilizou o texto do N.E.D. (Fim da farsa! O Rei do camarote não existe, ele é estudante de direito) como se fosse uma fonte verdadeira, oficial. Mas o texto é fictício. Dizia que o "Rei do Camarote" se chamava, na verdade, Fernando Silva, era estagiário de direito da Band e dono de um Ford Ka ano 1998.
O Notícias da TV entrou em contato com Livan Pereira, advogado e o responsável pelo N.E.D. Segundo Livan, ninguém do programa o procurou para confirmar as informações ali publicadas.
"Não estava vendo TV no momento. E comecei a receber mais de 200 mensagens pelo Facebook dizendo 'Olha o seu bolg está passando na Record'. A gente não esperava [a publicação da matéria no Domingo Espetacular]. Apesar de ser uma notícia falsa, a gente deixa [na sessão] Embuste, que é sinônimo de mentira", afirma Livan.
E prossegue: "Se a pessoa que está produzindo a matéria olhasse esse detalhe, iria perceber que tratava-se de uma brincadeira. Eu acho engraçado porque o pessoal não confere as fontes, como se aquilo fosse uma verdade absoluta. Em momento algum alguém do programa entrou em contato comigo", conclui.
O texto foi publicado por Livan Pereira na sexta-feira e, desde então, já teve cerca de 1 milhão de visualizações.
Procurada, a assessoria da Record não nos respondeu até a conclusão deste texto.
(Por GILVAN MARQUES, em 11/11/2013)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..