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Um espião indiscreto contra Chávez
17 de Março de 2013, 21:00 - sem comentários aindaPública segue o rastro de um espião machista e temperamental enviado pela USAID para distribuir dinheiro à oposição venezuelana e dividir o chavismo
(Publicado por Agência Pública)
Eduardo Fernandez é um nome comum. Tão comum que é impossível encontrar informações sobre um determinado Eduardo dentre milhares deles em dezenas de países da América Latina. Mas o argentino-americano Eduardo Fernandez não é um homem nada comum. Entre 2004 e 2009, era ele quem dirigia o Development Alternatives (DAI) em Caracas, que recebia milhões de dólares da Usaid para seguir o plano estabelecido pelo Departamento de Estado dos EUA para a Venezuela: fortalecer grupos de oposição, dividir o chavismo e isolar Hugo Chávez internacionalmente.
O papel de Fernandez talvez passasse despercebido como o nome comum, não fosse o seu temperamento explosivo, desbragadamente machista e indiscreto – o que o levou a ser investigado por comportamento impróprio na empresa em que trabalhava – e que desapareceu da noite para o dia da Venezuela.
Como relataram seus ex-funcionários, ele era do tipo que se referia às mulheres colocando as mãos sobre os próprios peitos, para sugerir seios fartos, e chegou a dizer que o escritório da DAI em El Rosal, Caracas, era “ineficiente como um bordel”. Diante do caso de uma funcionária grávida, reagiu: “Se vocês conseguissem segurar uma pílula entre os joelhos, eu não teria que gastar dinheiro pagando por licença-maternidade”. Outra funcionária ficou tão desconcertada com os olhares sedentos do chefe à sua saia, que resolveu fechar a fenda com um clipes de papel. Dias depois Fernandez perguntou quando ela iria usar “aquela saia com o clipes” de novo.
Mas Fernandez é assim mesmo e não pretende mudar, como afirmou durante a investigação interna da DAI. Foi ele quem deixou o rastro das atividades da DAI na Venezuela, três anos depois de sua equipe ter se retirado às pressas do país, em 2009. Graças e ele uma longa lista de documentos que revelam em detalhes o trabalho da DAI pode ser consultada na internet, no processo de US$ 600 mil que a ex-diretora Heather Rome move contra a empresa por não ter tomado nenhuma atitude contra Fernandez apesar de suas repetidas reclamações. Os documentos da justiça de Maryland, nos EUA, foram vazados pelo jornalista americano Tracey Eaton, do blog Along the Malecon.
São mais de 300 páginas de documentos sobre o diretor da empresa que atuou num dos principais QGs anti-Chávez plantados pelos EUA em Caracas. “As reclamações que eu recebia das funcionárias venezuelanas iam ao ponto de elas virem chorar em meu escritório, o que reduzia a produtividade”, conta Heather no seu depoimento. “Várias pessoas falavam que seu sentimento era: ‘temos orgulho de estar trabalhando neste projeto, nós preenchemos os cheques e sabemos quanto dinheiro está sendo gasto. O governo dos EUA está trabalhando muito duro, e a DAI está nos ajudando a mudar a situação do nosso país para torná-lo mais democrático do que Chávez quer. Mas não entendemos como eles podem fortalecer a sociedade civil quando temos nosso próprio mini-Chávez aqui no escritório, e eles não ligam’”.
ALAN GROSS: SUA PRISÃO EM CUBA REVELOU A EXISTÊNCIA DA DAI
Entre 2002 e 2009 a Usaid distribuiu cerca US$ 95,7 milhões de dólares a organizações de oposição venezuelana através do seu Escritório de Iniciativas de Transição (OTI, em inglês), aberto no país dois meses após o fracassado golpe de estado contra Hugo Chavéz.
Simultaneamente, instalou-se no país a empresa Development Alternatives, uma das maiores contratistas da Usaid para gerenciar fundos de assistência no exterior, o que desde o governo Bush vem sendo feito pela iniciativa privada. A empresa, que costuma atuar nos bastidores, passou a ser conhecida no cenário latinoamericano em dezembro de 2009, quando Alan Gross, um de seus funcionários, foi preso em Cuba ao distribuir celulares e equipamentos de comunicação via satélite à dissidência cubana. Gross foi condenado a 15 anos de prisão por atos “contra a segurança nacional” de Cuba.
Na Venezuela, a DAI, cujo slogan é “moldando um mundo mais habitável”, foi a principal responsável pela distribuição de pequenos financiamentos da Usaid a diversas organizações da sociedade civil, seguindo a estratégia traçada pelo Departamento de Estado e pela missão diplomática no país de dividir o chavismo, infiltrar-se na sua base política e isolar Chávez internacionalmente.
No escritório em Caracas, situado entre a rua Guaicaipuro e a Mohedano, trabalhavam 18 venezuelanos de tendência anti-chavista e dois diretores americanos – Eduardo Fernandez era um deles e passou a dirigir o escritório em 2004. O currículo de Heather Rome, anexado ao processo, explica que a diretora assistente, também americana, chegou ao país em julho de 2005 para supervisionar a administração das doações a ONGs em um programa de US$ 18 milhões de dólares. Segundo seu currículo, Heather, que era subalterna a Fernandezn trabalhava “em colaboração com o embaixador americano William Brownfield”. Brownfield ocupou o cargo entre 2004 e 2007 e elaborou uma sucinta estratégia de 5 pontos para acabar com o governo Chávez em médio prazo.
Os programas mantidos pelas doações destinavam-se principalmente a “facilitar o diálogo entre segmentos da sociedade que dificilmente se sentariam juntos para discutir temas de interesse mútuo”, segundo um documento diplomático enviado ao Departamento de Estado em 13 de julho de 2004. Ou seja, unir a oposição. Um dos principais projetos era o “Venezuela Convive” que, segundo o documento diplomático, buscava “encorajar o conceito de convivência pacífica entre indivíduos e organizações com fortes opiniões contrastantes – um valor que a maioria dos venezuelanos respeita e que é considerado sob ataque no atual clima de intolerância política” – promovida pelo governo Chávez, segundo a embaixada.
Em 24 de fevereiro de 2006, em outro despacho diplomático, o ex-embaixador Brownfield explica que os financiamentos da DAI “apoiam instituições democráticas, incentivam o debate público, e demonstram o engajamento dos EUA na luta contra a pobreza na Venezuela”. Para William Brownfield, fortalecer a sociedade civil era essencial para isolar Chávez internacionalmente, levando para a arena internacional “os sérios problemas de direitos humanos no país”. Dois exemplos neste sentido, que receberam financiamento através da DAI, são o Centro de Direitos Humanos da Universidade Central da Venezuela e os projetos do IPYS, Instituto Prensa y Sociedad de jornalismo investigativo e de uma Lei de Acesso à Informação venezuelana.
GROSSO E MACHISTA, O CHEFÃO DA DAI TINHA APOIO DA USAID
O temperamental Eduardo Fernandez era uma peça fundamental nessa engrenagem, e contava com o apoio incondicional da Usaid. Tanto é que, mesmo depois de uma investigação interna da DAI em 2008 ter comprovado que Fernandez, no mínimo, assediava moralmente seus funcionários, gritando com eles, e que “destrataria um homem tão rapidamente quando uma mulher”, a DAI resolveu mantê-lo no cargo. E demitir Heather Rome. “A última coisa que eu preciso é ter de novo caos e desobediência no escritório”, escreveu Fernandez em um email à gerência da empresa.
No final de abril de 2008, o supervisor da Usaid para o programa da Venezuela, Russel Porter, ligou pessoalmente para o diretor da DAI, Mike Godfrey, para congratulá-lo pelo trabalho na Venezuela. Godfrey descreve, em um email constante no processo, que Porter voltara de uma visita ao país bastante satisfeito. “Russel queria especificamente relatar sua satisfação com o time sênior em Caracas – Erin Upton-Cosulich e Eduardo Fernandez. Fez questão de destacar que eles trabalham bem juntos, que o ambiente está mais harmonioso e que os dois conseguiram engajar toda a equipe de modo mais eficiente. Ele tem esperanças que isso continue”.
Eduardo Fernandez, portanto, seguiu sendo o chefe.
Um ano depois, porém, as coisas não estavam tão “harmoniosas” no escritório. O governo venezuelano acabava da abrir uma investigação contra empresa e contra seu diretor. No dia 27 de agosto de 2009, um consternado Eduardo Fernandez se reuniu com o pessoal da embaixada americana para pedir socorro.
A POLÍCIA BATE À PORTA DA EMPRESA DE FERNANDEZ
No dia anterior, uma quarta-feira, policiais venezuelanos bateram à porta da DAI com intimações para que Eduardo Fernandez e Heather Rome prestassem depoimento na semana seguinte perante a divisão de Crimes Contra a Riqueza Nacional do Corpo de Investigações Científicas, Penais e Criminalísticas (CICPC).
Os policiais – que foram “profissionais” e “educados” segundo Fernandez – disseram que a investigação fora iniciada pela Superintêndencia de Bancos após a detecção de “transferências incomumente grandes” de dinheiro em 2007 e 2008, conforme o despacho diplomático do embaixador dos EUA na Venezuela durante o governo Bush, Patrick Duddy, que já havia sido embaixador antes de Brownfield, mas fora expulso do país por Hugo Chávez antes de voltar como enviado de Obama.
“Isso [as grandes transferências de dinheiro] coincidiu com o referendo constitucional de 2007 e com as eleições nacionais, estaduais e locais em 2008”, escreveu Duddy.
O foco da investigação venezuelana era a origem dos fundos, os objetivos da DAI no país, seu status fiscal e o destino do dinheiro. Segundo os policiais, a investigação seria “longa e profunda” e envolveria também as autoridades fiscal e imigratória do governo venezuelano.
Fernandez estava em Caracas com um visto oficial cedido a pedido da diplomacia americana, porém vencido desde março de 2009. A embaixada pedira sua renovação, mas o passaporte foi retido sem explicações pelo Ministério de Relações Exteriores até o final de agosto. “Fernandez não tem outra forma de identidade venezuelana. Ele continua com seus passaportes americano e argentino”, escreveu o embaixador, pedindo orientações sobre o caso ao Departamento de Estado americano, então comandado por Hillary Clinton.
E explicava: “Como parte dos seus acordos de financiamento, a DAI se compromete a proteger a identidade de todos os beneficiários. Os arquivos da DAI são estruturados de maneira que a informação financeira pode ser liberada sem comprometer as identidades”, detalhava Duddy. “Dito isso, a DAI tem 50 caixas de arquivos no seu escritório que contêm informações sensíveis e que podem ser apreendidas”, alertava.
“AS RUAS ESTÃO QUENTES”, DIZIA FERNANDEZ SOBRE PROTESTOS DE FINANCIADOS DA DAI
Fernandez acreditava que o objetivo da investigação era coletar informações sobre as organizações financiadas pela DAI e, ao mesmo tempo, interromper o fluxo de recursos para elas. “As ruas estão quentes”, disse ele ao pessoal da embaixada, sobre crescentes protestos anti-Chávez. “Todas essas pessoas (organizando os protestos) são nossos financiados”. E afirmava que não queria abandonar o time, deixando o país, avisando que iriam pedir uma extensão de prazo para se apresentar à polícia.
No seu despacho, o embaixador pede orientações bem específicas a Washington, perguntando se Fernandez tinha “alguma imunidade baseada em seu passaporte oficial e em seu visto, ou se ele deveria comparecer ao CICP ou diante de outras autoridades venezuelanas”; e “se o Sr. Fernandez deveria revelar alguma informação, e se sim, qual”.
Duddy também queria saber “o que a DAI deveria fazer com suas 50 caixas de documentos, alguns dos quais contém nomes das pessoas que dirigem as organizações financiadas pela DAI”. E, por fim, pergunta se a embaixada deveria ajudar Fernandez a fugir: “Se o Sr. Fernandez é considerado alguém que trabalha em nome dos EUA, ele deve permanecer no país ou tentar sair da Venezuela antes da entrevista com a polícia em 1 de setembro?”.
AONDE ANDA EDUARDO?
Não há registro da resposta de Hillary Clinton nos documentos do WikiLeaks nem no site da DAI. Mas, no processo movido por Rome, a advogada da empresa não poderia ter sido mais clara a respeito da final da missão de Fernandez na Venezuela. No final de agosto do ano passado, em uma audiência em Maryland, nos Estados Unidos, onde o caso se desenrola, Kathleen M. Williams alegou que por se tratar “de um cliente novo” seria muito difícil levantar documentos relativos a seu período de trabalho na Venezuela: “A DAI abandonou o local muito apressadamente em 2009. Muitos arquivos não estão mais lá.” E volta a insistir no assunto, na conversa com o advogado de acusação: “Não sei se esses documentos existem. Não sei se eles foram abandonados da Venezuela. Eu sei que eles abandonaram um montão de informação na Venezuela”.
No mesmo diálogo, transcrito no processo, o advogado da acusação diz que o maior problema é que “Fernandez desapareceu”. Kathleen interrompe: “Não é verdade. Ele está neste país. Ele vive em Maryland”. A advogada, no entanto, nega estar em contato com ele e recusa uma intimação em seu nome.
É a ultima menção oficial da DAI a Eduardo Fernandez, o homem incomum de nome comum que tinha papel tão relevante nas tentativas dos EUA de desestabilizar o governo venezuelano. Outro Eduardo Fernandez foi contratado pela DAI, em março de 2012, para seu escritório no México. O homônimo, ex-ministro de finanças da Colômbia, herdou o email oficial do argentino-americano Fernandez que atuou na Venezuela até o escritório fechar: deste não há nenhuma notícia no site da DAI que, contatada pela Pública, não se pronunciou até a publicação desta reportagem.
Também não há menção a ele nos sites da USAID ou da OTI. O mesmo nome, Eduardo Fernandez, porém, figurou no site de outra empresa que faz trabalho semelhante à DAI – a Casals & Associates -, principal contratista da Usaid no Paraguai, encarregada deadministrar mais de US$ 30 milhões em doações antes da destituição de Fernando Lugo. Fundada por uma dissidente cubana, a Casals já havia distribuído mais de US$ 13 milhões para projetos que fortaleciam a oposição a Evo Morales na Bolívia.
No site da Casals o nome Eduardo Fernandez aparece em janeiro de 2012 e some em junho de 2012 – mês em que foi decretado o impeachment de Lugo no Paraguai. Um mês depois foi a vez da própria Casals desaparecer do bonito casarão que ocupava na rua Bernardino Caballero 168, em Assunção, aparentemente com a mesma pressa que a DAI desocupou suas instalações na Venezuela.
Utopia e Barbárie - documentário
17 de Março de 2013, 21:00 - sem comentários ainda“Utopia e Barbárie” é um road movie histórico que percorreu ao todo 15 países: França, Itália, Espanha, Canadá, EUA, Cuba, Vietnã, Israel, Palestina, Argentina, Chile, México, Uruguai, Venezuela e Brasil. Em cada um desses lugares, Tendler documentou os protagonistas e testemunhas da história do século XX.
Nas telas, o documentário transita por alguns dos episódios mais polêmicos da história mundial recente, como as bombas de Hiroshima e Nagasaki, o Holocausto, a Revolução de Outubro, o ano de 1968 no mundo (Brasil, França, Chile, Argentina, Uruguai, dentre outros), a Operação Condor, a queda do Muro de Berlim e a explosão do liberalismo mais canibal que a História já conheceu.
Entrevistas com Amos Gitai, Augusto Boal, Carlos Chagas, Denys Arcand, Dilma Roussef, Eduardo Galeano, Faride Zeran, Fernando Solanas, Ferreira Gullar, Francesco Rosi, General Giao, Gillo Pontecorvo, Jocob Gorender, Leandro Konder, Marlene França, Nahum Shaban, Vu Khoan, Zé Celso dentre outras pessoas.
Documentário; Direção: Silvio Tendler
Ano de lançamento: 2009 Brasil
Idioma do Áudio: Português, Inglês, Espanhol, Francês, Italiano.
Facebook - espaço privado travestido de público
14 de Março de 2013, 21:00 - sem comentários aindaMoney, money. Zuckerberg busca maneiras de aumentar as receitas de seu negócio. Foto: David Paul Morris/ Bloomberg/ Getty Images e Minimorgan |
Espaço privado travestido de público, o Facebook acaba de redesenhar a sua estratégia de marketing – e muitos usuários talvez não apreciem as novidades nascidas da intenção, legítima, de faturar mais. Com 10,4 milhões de amigos, o escritor Paulo Coelho não curtiu o novo modus operandi, parou de atualizar a sua página e tuitou as razões do desconforto: “Por que o Facebook pede que eu pague 10 mil dólares para que você me veja?”
Ao contrário do que muitos supõem, não é possível saber exatamente quantos “amigos” enxergam o que é publicado na rede. Um programa chamado EdgeRank filtra o material de forma a levar ao usuário o “mais relevante”, a partir de variáveis como a afinidade e o momento da postagem (as mais novas sobrepõem-se às antigas). Estudos recentes sugerem um índice de visibilidade de 30%, em média, ou de 16% para quem tem de mil a 5 mil fãs. No caso de um Paulo Coelho, cai a até 5%. Os milhares de dólares serviriam para elevar o alcance a 80%.
A nova forma de negócio correu o mundo após um colunista do New York Times, Nick Bilton, perceber que os seus posts não faziam o mesmo barulho de outros tempos, a despeito de sua base de amigos ter crescido. Assim que investiu 7 dólares, segundo o jornalista, quintuplicou o número de indivíduos que visualizaram o post, de acordo com o próprio site. “Parece que o FB não está apenas promovendo meus links quando pago por eles, mas, possivelmente, suprime aqueles pelos quais não paguei.”
*Leia matéria completa na Edição 740 de CartaCapital, já nas bancas
Ao contrário do que muitos supõem, não é possível saber exatamente quantos “amigos” enxergam o que é publicado na rede. Um programa chamado EdgeRank filtra o material de forma a levar ao usuário o “mais relevante”, a partir de variáveis como a afinidade e o momento da postagem (as mais novas sobrepõem-se às antigas). Estudos recentes sugerem um índice de visibilidade de 30%, em média, ou de 16% para quem tem de mil a 5 mil fãs. No caso de um Paulo Coelho, cai a até 5%. Os milhares de dólares serviriam para elevar o alcance a 80%.
A nova forma de negócio correu o mundo após um colunista do New York Times, Nick Bilton, perceber que os seus posts não faziam o mesmo barulho de outros tempos, a despeito de sua base de amigos ter crescido. Assim que investiu 7 dólares, segundo o jornalista, quintuplicou o número de indivíduos que visualizaram o post, de acordo com o próprio site. “Parece que o FB não está apenas promovendo meus links quando pago por eles, mas, possivelmente, suprime aqueles pelos quais não paguei.”
*Leia matéria completa na Edição 740 de CartaCapital, já nas bancas
Por que o nome Francisco foi tão bem escolhido
13 de Março de 2013, 21:00 - sem comentários aindaA pompa e a riqueza do Vaticano contrastam com o nome do santo pobre, surpreendentemente adotado pelo novo papa
Por DCM - O texto abaixo foi publicado, originalmente, no site Unisinos Humanitas. O autor é o o jornalista italiano Maurizio Chierici, e o texto saiu no jornal Il Fatto Quotidiano. Sugestivamente, o autor falava da impossibilidade de aparecer um papa Francisco, pelo contraste entre a opulência do Vaticano e a simplicidade franciscana. Pois o impensável aconteceu.
Ele morreu há quase oito séculos, mas ninguém se sentiu disposto a abraçar a sua espiritualidade e a sua dedicação absoluta à vida dos outros. “Francisco é um nome impossível para a carga de poderes com os quais, ao longo dos séculos, foi construído o papado: infalibilidade, soberania, controle na forma de todo serviço, autoridade sobre milhões de fiéis, responsabilidade de propostas. Não é uma questão de humildade pessoal. Francisco impõe uma pobreza difícil a qualquer soberano vaticano”.
O jornalista Raniero La Valle, autor da frase acima, não imagina que o próximo papa possa se lembrar disso. O que o conforta é a renúncia de Bento XVI, que restitui ao pontífice a fragilidade humana. Reevocada por Paulo VI no seu único discurso de improviso depois do Concílio: ele pediu que a Igreja se tornasse pobre ”não só no ser, mas também no aparecer”, palavras que se esvaíram com o tempo.
Diretor do jornal Avvenire, dos bispos italianos, nos anos do Concílio Vaticano II, La Valle hoje gira o mundo pela Rai em busca de notícias. A separação da Igreja da gestão dos bens é um tormento que atravessa os anos: quem também o invoca é Heinrich Böll, prêmio Nobel de Literatura que cresceu no pacifismo católico da Alemanha.
Disse Böll “Será sempre tarde demais quando a Igreja e a aristocracia se separarem das suas imensas propriedades, dos seus tesouros, das ridículas e pomposas ninharias com as quais elas continuam se adornando. Um aspecto do mundo ocidental são, justamente, as propriedades das Igrejas. Este terrível fardo pesa sobre o atormentado e sofredor líder daquela que é ainda hoje a mais poderosa das Igrejas. Quem poderia renunciar à propriedade? Quem, senão essa Igreja que não tem descendentes? E é cada vez mais tarde para isso.”
Era 1969. Em Castel Gandolfo, o Papa Paulo VI repetia as mesmas palavras: “Com este Vaticano, nunca haverá um papa chamado Francisco, porque Francisco destruía as regras humanas apenas na obediência ao Evangelho. Nenhuma estrutura piramidal, nenhuma burocracia, nenhum privilégio”. Quando Francisco descobriu que um irmão da Ordem construiu para si uma pequena casa, ele subiu ao telhado e, uma a uma, arrancou as suas telhas: que pobreza é essa se muitos irmãos se refugiam em grutas? Quem lembra isso é Ettore Masina, vaticanista e escritor que relatou o Concílio.
Francisco vinha da riqueza do pai, do qual se separou despojando-se das roupas diante do bispo e de uma multidão de curiosos. A pobreza é a vocação que o fez passar por louco. “Portanto, é impossível, nos nossos anos, que um pontífice chamado Francisco possa habitar no Vaticano. Ele deveria viver na última paróquia de Roma”.
O padre Paolo Farinella, pároco no centro de Gênova de uma paróquia sem paroquianos, viveu em Jerusalém. Estudou hebraico, aramaico e grego. Tem duas graduações em teologia bíblica. Em 2000, publicou o romance Habemus Papam, Francesco I. Dez anos depois, ele o reescreveu com o título Habemus papam. La leggenda del papa che abolì il Vaticano [A lenda do papa que aboliu o Vaticano], mas a história não muda.
Basílica de São Pedro: a pompa contrasta com a frugalidade franciscana
Ele conta a história de um pároco genovês chamado a Roma, onde os Padres do conclave não chegam a um acordo, e um cardeal que conhece as virtudes do pequeno padre faz a excêntrica proposta: e se escolhêssemos alguém assim? Pároco desarmado nos círculos da burocracia vaticana. Papa ideal nas mãos dos manipuladores. Eis a surpresa: assim que lhe perguntam “quomodo vocaberis?”, como você quer se chamar, o velho padre responde: “Francisco”.
E, quando, do trono, se dirige ao povo, a voz não treme: “Escolhi o nome de Francisco não por um capricho político, mas sim para que ele permaneça como marca de fogo na minha carne. Deve ser um lembrete constante a levar a sério o Evangelho: a caridade como lei, a pobreza como estilo, a comunhão como método”.
A multidão observa, perplexa, os paramentos que brilham. “Eu sei perfeitamente o que vocês estão pensando: prega bem, mas pratica mal”. Com lentidão exasperada, começa a se despojar. “Deponho esta férula de prata: como diz Marcos, não levem para a viagem nada mais do que um bastão. Deponho este chapéu anacrônico: mais do que um pastor, ele me mostra como um sátrapa oriental”. Ele se desfolha como uma cebola: do anel de zafira, da cruz de ouro maciço, dos paramentos “luxuosos que deveriam render glória a Deus e se tornam ofensa para os pobres”.
Ele fica com uma túnica branca. “E, por um momento, bispos e cardeais se envergonharam por não estarem nus como Adão e, olhando-se adornados pelos mantos no espelho da sua alma, se reconheceram ridículos”.
Ele morreu há quase oito séculos, mas ninguém se sentiu disposto a abraçar a sua espiritualidade e a sua dedicação absoluta à vida dos outros. “Francisco é um nome impossível para a carga de poderes com os quais, ao longo dos séculos, foi construído o papado: infalibilidade, soberania, controle na forma de todo serviço, autoridade sobre milhões de fiéis, responsabilidade de propostas. Não é uma questão de humildade pessoal. Francisco impõe uma pobreza difícil a qualquer soberano vaticano”.
O jornalista Raniero La Valle, autor da frase acima, não imagina que o próximo papa possa se lembrar disso. O que o conforta é a renúncia de Bento XVI, que restitui ao pontífice a fragilidade humana. Reevocada por Paulo VI no seu único discurso de improviso depois do Concílio: ele pediu que a Igreja se tornasse pobre ”não só no ser, mas também no aparecer”, palavras que se esvaíram com o tempo.
Diretor do jornal Avvenire, dos bispos italianos, nos anos do Concílio Vaticano II, La Valle hoje gira o mundo pela Rai em busca de notícias. A separação da Igreja da gestão dos bens é um tormento que atravessa os anos: quem também o invoca é Heinrich Böll, prêmio Nobel de Literatura que cresceu no pacifismo católico da Alemanha.
Disse Böll “Será sempre tarde demais quando a Igreja e a aristocracia se separarem das suas imensas propriedades, dos seus tesouros, das ridículas e pomposas ninharias com as quais elas continuam se adornando. Um aspecto do mundo ocidental são, justamente, as propriedades das Igrejas. Este terrível fardo pesa sobre o atormentado e sofredor líder daquela que é ainda hoje a mais poderosa das Igrejas. Quem poderia renunciar à propriedade? Quem, senão essa Igreja que não tem descendentes? E é cada vez mais tarde para isso.”
Era 1969. Em Castel Gandolfo, o Papa Paulo VI repetia as mesmas palavras: “Com este Vaticano, nunca haverá um papa chamado Francisco, porque Francisco destruía as regras humanas apenas na obediência ao Evangelho. Nenhuma estrutura piramidal, nenhuma burocracia, nenhum privilégio”. Quando Francisco descobriu que um irmão da Ordem construiu para si uma pequena casa, ele subiu ao telhado e, uma a uma, arrancou as suas telhas: que pobreza é essa se muitos irmãos se refugiam em grutas? Quem lembra isso é Ettore Masina, vaticanista e escritor que relatou o Concílio.
Francisco vinha da riqueza do pai, do qual se separou despojando-se das roupas diante do bispo e de uma multidão de curiosos. A pobreza é a vocação que o fez passar por louco. “Portanto, é impossível, nos nossos anos, que um pontífice chamado Francisco possa habitar no Vaticano. Ele deveria viver na última paróquia de Roma”.
O padre Paolo Farinella, pároco no centro de Gênova de uma paróquia sem paroquianos, viveu em Jerusalém. Estudou hebraico, aramaico e grego. Tem duas graduações em teologia bíblica. Em 2000, publicou o romance Habemus Papam, Francesco I. Dez anos depois, ele o reescreveu com o título Habemus papam. La leggenda del papa che abolì il Vaticano [A lenda do papa que aboliu o Vaticano], mas a história não muda.
Basílica de São Pedro: a pompa contrasta com a frugalidade franciscana
Ele conta a história de um pároco genovês chamado a Roma, onde os Padres do conclave não chegam a um acordo, e um cardeal que conhece as virtudes do pequeno padre faz a excêntrica proposta: e se escolhêssemos alguém assim? Pároco desarmado nos círculos da burocracia vaticana. Papa ideal nas mãos dos manipuladores. Eis a surpresa: assim que lhe perguntam “quomodo vocaberis?”, como você quer se chamar, o velho padre responde: “Francisco”.
E, quando, do trono, se dirige ao povo, a voz não treme: “Escolhi o nome de Francisco não por um capricho político, mas sim para que ele permaneça como marca de fogo na minha carne. Deve ser um lembrete constante a levar a sério o Evangelho: a caridade como lei, a pobreza como estilo, a comunhão como método”.
A multidão observa, perplexa, os paramentos que brilham. “Eu sei perfeitamente o que vocês estão pensando: prega bem, mas pratica mal”. Com lentidão exasperada, começa a se despojar. “Deponho esta férula de prata: como diz Marcos, não levem para a viagem nada mais do que um bastão. Deponho este chapéu anacrônico: mais do que um pastor, ele me mostra como um sátrapa oriental”. Ele se desfolha como uma cebola: do anel de zafira, da cruz de ouro maciço, dos paramentos “luxuosos que deveriam render glória a Deus e se tornam ofensa para os pobres”.
Ele fica com uma túnica branca. “E, por um momento, bispos e cardeais se envergonharam por não estarem nus como Adão e, olhando-se adornados pelos mantos no espelho da sua alma, se reconheceram ridículos”.
Wikileaks: o Papa Bergoglio e Kirchner
13 de Março de 2013, 21:00 - sem comentários aindaTelegramas da embaixada americana em Buenos Aires mostram a influência do novo papa na política argentina e sua ligação com a oposição
(Por Agência Pública)
Despachos oriundos da embaixada de Buenos Aires, vazados pelo Wikileaks, revelam que o novo papa da Igreja Católica, o argentino Jorge Bergoglio, era um nome bastante citado pela oposição argentina em conversas com diplomatas americanos.
Embora não haja nenhuma conversa direta entre o líder religioso e os diplomatas dos Estados Unidos, os oito cables que citam o cardeal no período de 2006 a 2010 mostram que a oposição do país vizinho, assim como os americanos, via nele um agente político poderoso contra os Kirchner.
O atual papa Francisco I é citado em um documento do final de outubro de 2006 que trata do revés político sofrido pelo aliado de Néstor Kirchner, então presidente, na província de Missiones, no nordeste do país. Carlos Rovira, tentara um plebiscito para alterar a constituição da província e tornar possível sua própria reeleição por indefinidas vezes. Mas foi batido pela oposição liderada pelo bispo emérito de Puerto Iguazú, Monsignor Piña.
“O Cardeal Jorge Mario Bergoglio, líder da Arquidiocese Católica de Buenos Aires, ofereceu seu apoio pessoal aos esforços de Piña, mas também desencorajou qualquer envolvimento oficial da Igreja em política”, relata o documento. O engajamento de outros religiosos na política é descrito neste mesmo telegrama. “A lista de candidatos da oposição era constituída principalmente de líderes religiosos, incluindo ministros católicos e protestantes, que eram amplamente vistos como líderes morais livres de qualquer bagagem política”, apontaram os diplomatas.
E se Bergoglio descartava o envolvimento “oficial” da Igreja, outros documentos revelam que ele não se mantinha longe da política. Em um documento de maio de 2007, a relação entre a Igreja Católica e o governo Néstor Kirchner é descrita como “tensa”: “Bergoglio recentemente falou de sua preocupação com a concentração de poder de Kirchner e o enfraquecimento das instituições democráticas na Argentina”. Além disso, reportam os documentos, Bergoglio agia fortemente nos bastidores, provocando a irritação dos partidários de Kirchner. “O prefeito de Buenos Aires, Jorge Telerman, e sua parceira de coalizão e candidata a presidência, Elisa Carrio, supostamente encontraram-se com Bergoglio em abril, e a inclusão do líder muçulmano Omar Abud na lista de candidatos ao legislativo de Telerman foi supostamente ideia de Bergoglio”, reportaram os diplomatas. O religioso também era muito próximo de Gabriela Michetti, então ex-vice prefeita de Buenos Aires e atualmente deputada federal da oposição, segundo outro telegrama, de 26 de janeiro de 2010.
A relação desgastada entre a Casa Rosada e a Arquidiocese de Buenos Aires chegou ao rompimento entre as duas instituições. Os laços institucionais entre a presidência argentina e o cardeal só seriam retomados por Cristina Kirchner em 2008, quando ela se encontrou com Bergoglio, segundo telegrama de abril daquele ano. Dias depois, os americanos especulam sobre a possibilidade do Cardeal negar-se a celebrar a missa de 25 de maio – data nacional na Argentina – em decorrência da mudança das festividades de Buenos Aires para Salta.
UM LÍDER MANCHADO PELA RELAÇÃO COM A DITADURA
Outro telegrama que cita Bergoglio, de outubro de 2007, narra a condenação de Christian Von Wernich, padre e ex-capelão da polícia de Buenos Aires durante a ditadura na Argentina. Wernich foi considerado cúmplice em sete assassinatos, 31 casos de tortura e 42 sequestros.
Após o veredito, a arquidiocese de Buenos Aires publicou uma nota em que convocava o sacerdote a se arrepender e pedir perdão em público. “A Arquidiocese disse que a Igreja Católica Argentina estava transtornada pela dor causada pela participação de um dos seus padres nestes crimes graves”, relata o despacho.
Para os americanos, este evento acabaria impactando na imagem de Bergoglio. “Entretando, numa época em que alguns observadores consideram o primaz católico romano Cardeal Bergoglio ser um líder da oposição à administração Kirchner por conta de seus comentários sobre questões sociais”, comenta o documento, “o caso Von Wernich pode ter o efeito, alguns acreditam, de minar a autoridade moral ou capacidade da Igreja (e, por conseguinte, do Cardeal Bergoglio) de comentar questões politicais, sociais ou econômicas”.