Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir.
Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives
Cassação de Eduardo Paes pode resultar de denúncia do MP-RJ
10 de Abril de 2013, 21:00 - sem comentários ainda
Cassação de Eduardo Paes pode resultar de denúncia do MP-RJ
Ação contra recolhimento de moradores de rua prevê multa de até cem vezes sobre seus vencimentos
A denúncia do Ministério Público do Rio (MP-RJ) contra o prefeito Eduardo Paes (PMDB), por não cumprir a suspensão das ações de recolhimento forçado de moradores de rua, pode levá-lo a perder o cargo. Isso porque, entre as sanções requeridas pelo MP-RJ na quarta-feira (10), há o pedido de “perda da função pública e suspensão dos direitos políticos por cinco anos” de Paes e Rodrigo Bethlem, ex secretário especial de ordem pública e também denunciado pelo órgão, previsto no artigo 12 da Lei de Improbidade Administrativa.
A Ação Civil Pública (ACP) também pede “pagamento de multa civil de até cem vezes do valor de suas renumerações e proibição de contratarem com o poder público e ou receberem benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual sejam sócios, pelo prazo de até 3 anos”. As penas podem ser aplicadas de forma isolada ou acumuladas.
A denúncia foi feita por causa da violação do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado entre o Município e o Ministério Público, que previa a suspensão dos recolhimentos compulsórios e involuntários de moradores de rua, então identificados como usuários de crack. Eles eram levados a abrigos que não ofereciam assistência médica ou condições adequadas para internação.
O Promotor Rogério Pacheco ainda ajuizou outra ação civil pública, na qual pede R$ 300 milhões de indenização por dano moral causado contra os moradores de rua, o equivalente a R$ 50 mil para cada morador. As ACPs são fruto de um inquérito civil iniciado em agosto do ano passado, aberto para investigar as ações da Secretaria Especial de Ordem Pública (Seop) contra a população de rua
Publicado no Jornal do Brasil
Crimes, mentiras e telegramas
10 de Abril de 2013, 21:00 - sem comentários aindaCumplicidade de Pinochet e americanos nas violações de direitos humanos no Chile expressa-se em telegramas cínicos e cheios de gentilezas; Pinochet sugeriu ao embaixador canalizar recursos através do Brasil
(Por Agência Pública)
Ele liderou o bombardeio do Palácio de La Moneda por aviões da força aérea, derrubou o governo Allende e assumiu o poder no Chile durante 17 anos. Em 1977, quatro anos depois do golpe que levou o presidente eleito, Salvador Allende, ao suicídio, e instituiu a ditadura militar no Chile, seu governo foi condenado pela ONU pela crueldade – comprovada – exercida contra presos políticos. Foram 40.018 vítimas da ditadura militar – mortos, torturados e presos políticos – de acordo com a contabilidade oficial do governo do Chile, divulgada em 2011. Em 2012, quase seis anos após sua morte, uma investigação judicial no país determinou a abertura de seu testamento, revelando uma fortuna de US$ 26 milhões, dos quais somente US$ 2 milhões possuíam justificativa contábil.
Com essas credenciais, parecem no mínimo inadequados os adjetivos escolhidos pelo embaixador americano no Chile, Nathaniel Davis, para descrever o comportamento de Augusto Pinochet em telegrama secreto enviado em 12 de outubro de 1973, um mês depois do golpe, quando dois jornalistas americanos – Frank Teruggi, 24 anos, e Charles Horman, 31 anos, estavam oficialmente “desaparecidos”.
“Pinochet foi gracioso e eloquente ao expressar seu desapontamento com minha transferência”, descreveu Davis, que deixou o comando da embaixada três semanas depois e foi definitivamente substituído em fevereiro de 1974, referindo-se a uma reunião marcada a pedido do então chefe da Junta Militar no poder, que queria “um momento de tranquilidade para conversar” com o embaixador.
“Ele disse que o Chile precisava enormemente de nossa ajuda, tanto econômica quanto militar, acrescentando que se o governo da Junta fracassar, a tragédia do Chile será permanente”, escreve Davis.“Aproveitei para lhe falar sobre nossos problemas políticos no momento: o debate sobre a Emenda Kennedy, e o problema de direitos humanos levantado pelos casos Teruggi e Horman”.
Ele prossegue justificando mais um pedido de ajuda militar do ditador: “Pinochet argumentou que o governo chileno compartilha de nossas preocupações com os direitos humanos e que está fazendo o melhor possível para prevenir violações, acrescentando que não é fácil porque os extremistas de esquerda continuam a atacar oficiais e soldados e praticar atos de sabotagem. Os extremistas ainda têm metade de seu arsenal, disse Pinochet, e as fábricas de bazucas e outras armas ilícitas continuam clandestinas. Se o exército deixasse o problema escapar de controle, o resultado seria um banho de sangue bem maior do que o atual”.
À luz do que se sabe hoje, o relato de Davis pode ser classificado de francamente cínico e mentiroso – e com a cumplicidade do destinatário. Não há registro da resposta de Kissinger ao telegrama de Davis. Mas a referida Emenda Kennedy tinha sido proposta pelo senador democrata Ted Kennedy, que se opunha ao governo Nixon e a seu secretário de Estado, Henry Kissinger, a quem se destinava o telegrama do embaixador. Aprovada no ano seguinte, essa emenda proibia a venda de armas e/ou ajuda militar americana a governos com denúncias de violação dos direitos humanos, e foi evocada diversas vezes pelos senadores americanos para suspender o suprimento militar ao Chile, embora o secretário de Estado, Henry Kissinger, defendesse que apoio militar e direitos humanos eram “assuntos diferentes”.
Desde 1975, com a conclusão do Church Report, o relatório do senador americano Frank Church, a participação ativa dos Estados Unidos no golpe do Chile era conhecida. Quanto aos casos dos jornalistas desaparecidos dias depois da derrubada de Allende, a explicação é mais complexa – e bem mais comprometedora para o embaixador, principalmente depois que o caso Horman se tornou mundialmente conhecido através do filme “Desaparecido” (“Missing”) de Costa Gravas, lançado em 1982.
Nele, o cineasta retrata a busca desesperada do pai e da mulher de Horman e as fortes suspeitas de envolvimento da embaixada americana no desaparecimento do jornalista logo depois do golpe militar no Chile. O autor dos telegramas publicados aqui, o embaixador Nathaniel Davis, vestiu a carapuça e entrou com um processo de 150 milhões de dólares contra Costa Gravas. O filme foi proibido de ser exibido durante a disputa judicial, que terminou com a vitória do cineasta. O capitão americano Ray E. Davis, adido militar da embaixada, foi acusado de cumplicidade no assassinato de Horman e teve sua extradição dos Estados Unidos pedida em dezembro de 2011 por um juiz chileno durante investigação sobre os crimes da ditadura.
A EMBAIXADA OCULTA OS ASSASSINATOS DOS JORNALISTAS
Dois meses antes do golpe, com a ajuda do jovem Teruggi, o jornalista investigativo Charles Horman havia publicado no jornal alternativo FIN uma história sobre o envolvimento da CIA na desestabilização do governo Allende. Casualmente acabou descobrindo mais detalhes em uma viagem de turismo realizada a pedido de uma amiga americana, na véspera do golpe, ao litoral chileno, onde estavam as forças de apoio da Marinha. Horman e a amiga ficaram retidos em Viña Del Mar – as estradas haviam sido bloqueadas pelos golpistas -, e voltaram à capital chilena no dia 15 de setembro de 1973, de carona com o chefe da missão militar americana, o capitão Ray E. Davis, que lhes relatou milhares de prisões e centenas de mortes na Santiago pós-golpe.
Dois dias depois, Charles Horman foi preso dentro de sua casa, na frente de sua mulher – e nunca mais foi visto vivo. Documentos liberados a partir de 1999 pelo governo americano incriminaram o capitão Davis e apontaram a cumplicidade da embaixada dos Estados Unidos em Santiago na ocultação do crime. No dia 9 de outubro, três dias antes do cínico telegrama de Davis – que sabia do real destino dos jornalistas – a embaixada publicou um anúncio do desaparecimento de Horman, por pressão de seu pai, que só deixou Santiago depois que o corpo do filho e de Teruggi foram “encontrados” nas ruas de Santiago com marcas de execução, no dia 18 de outubro de 1973.
No dia anterior, Edmund Horman, o pai do jornalista, havia visitado a Fundação Ford em Santiago e ouvido de um consultor de programas da fundação que uma fonte confiável havia lhe dito que o seu filho havia sido executado no Estádio Nacional, o centro de interrogatórios, torturas e execuções do governo chileno.
Só então o governo americano – que chegou a declarar que os jornalistas haviam retornado aos Estados Unidos – reconheceu a morte e emitiu a certidão de óbito de Charles Horman, cuja autópsia, assinada por um médico do necrotério do Chile, coloca como causa da morte “múltiplos ferimentos por bala”. O corpo de Teruggi, preso quatro ou cinco dias depois de Harmon, foi encontrado no mesmo dia e nas mesmas condições.
O EMBAIXADOR SE ENTENDE COM PINOCHET: CANALIZANDO RECURSOS PELO BRASIL
No mesmo 18 de outubro de 1973, dia em que o governo americano finalmente reconheceu o assassinato do jornalista, o embaixador Davis enviou um telegrama o Departamento de Estado de Kissinger com o seguinte sumário no alto da página:
“Convoquei o presidente da Junta, Pinochet, dia 17 de outubro. A conversa revelou a preocupação com o governo do Chile com sua imagem nos Estados Unidos. E sensibilidade para a necessidade de cautela para ambos os governos, americano e chileno, em relação ao estreitamento excessivo da identificação pública [entre os dois governos] (…). O presidente do PDC [Partido Democrata Cristão] Aylwin e o Cardeal Silva planejam visitar os Estados Unidos para tentar ajudar no problema da imagem pública do Chile”.
No corpo do longo telegrama secreto enviado a Kissinger, o embaixador – que não diz uma palavra sobre o reconhecimento da morte de Horman que se deu naquele mesmo dia – muda de tom. Explica que seguiu a “rotina diplomática, pedindo o encontro protocolarmente há duas semanas” e que na mesma tarde, Pinochet, que estava “relaxado e amigável”, também recebeu “outros embaixadores”.
Ao tratar da questão econômica no Chile e da cooperação financeira dos EUA, o embaixador conta que Pinochet falou rapidamente com o ministro de Relações Exteriores chileno, Ismael Huerta Díaz, em visita aos Estados Unidos, e que ficou com a impressão que o resultado da viagem seria positivo. “Ele sorriu e disse que entende que nós gostaríamos de ser prestativos, mas em alguns casos a ajuda deveria canalizada em breve através do Brasil ou de terceiros”, acrescentou o embaixador.
De fato, como revelaram os jornalistas Rubens Valente e João Carlos Magalhães, da Folha de S Paulo, em novembro daquele ano o Brasil governado pelo general Emilio Médici liberou US$ 50 milhões ao Banco Central chileno para estimular exportações do Chile. O Brasil também abriu linhas de financiamento na Carteira de Crédito para Exportação do Banco do Brasil para empresários brasileiros interessados em vender para o Chile e em adquirir cobre das jazidas chilenas.
Na conversa com Pinochet, o embaixador Davis prosseguiu: “Mencionando o fato que o governo americano tinha levado uma quantidade considerável de suprimentos médicos para o Chile, eu disse que seria útil divulgar essa ajuda em uma materinha na imprensa. E acrescentei que nós ficaríamos felizes em seguir qualquer preferência ou orientação de Pinochet a esse respeito. Disse que achava que seria útil naquele momento exibir nosso interesse e apoio no campo humanitário. Pinochet disse que achava uma boa ideia. Seu comentário foi o de que a publicidade deveria se restringir a coisas humanitárias e que deveríamos ficar bem quietos a respeito de nossa cooperação em outros campos”. Entre parêntesis, o embaixador acrescentou: “Comentário: Tanto em relação à canalização da ajuda através de outro país como sobre a publicidade, Pinochet está mostrando uma compreensão considerável e ao menos alguma sensibilidade aos problemas que nossos países enfrentam”.
Ainda sobre o assunto, o embaixador relata: “Pinochet me disse que o Cardeal Silva lhe prometeu que tentaria ajudar com o problema da imagem do Chile no exterior. Pinochet acha que talvez o cardeal possa viajar para Washington e falar com o senador Kennedy e outros políticos e religiosos dentro de uma ou duas semanas. Eu comentei que o cardeal era muito respeitado como uma liderança progressista na Igreja que ele teria uma influência considerável”. Novamente entre parêntesis, o embaixador comenta que o presidente do PDC tinha ligado pra ele na manhã daquele dia e que também estava pensando em viajar ao exterior: “Aylwin espera convencer Kennedy e outros líderes democratas de que o Chile precisa da ajuda econômica americana porque uma rápida recuperação do país permitiria que ele voltasse à democracia institucional. Mas expressou alguns escrúpulos morais sobre envolver seu partido profundamente com a Junta, principalmente porque ele teme que a Ley de Fuga esteja sendo usada para eliminar oponentes extremistas”.
A VITÓRIA DE PINOCHET E SEUS ALIADOS NO GOVERNO AMERICANO
Um telegrama de 3 de abril de 1974, às vésperas de Pinochet ser nomeado definitivamente presidente da República pela Junta Militar, mostra que a estratégia de Davis – a essa altura substituído por David Popper à frente da embaixada – e o general foi bem sucedida. Em uma reunião cordial de 40 minutos com o secretário americano do Tesouro, George Schultz, Pinochet agradece a “ajuda indireta” dos EUA, “sem especificar o tipo”, ressalta o embaixador que aproveita para transmitir os cumprimentos do presidente Nixon, ao que Pinochet agradece, “referindo-se calorasamente à carta que Mrs. Nixon lhe entregou em Brasília”.
Pinochet também promete compensar financeiramente os Estados Unidos através das minas de cobre e quando questionado por Schultz sobre direitos humanos, responde, segundo Popper que “depois dos eventos de setembro de 1973 [quando houve o golpe militar], não havia outra maneira de impedir a infiltração da esquerda”, mas que “a autoridade de seu governo sempre seria exercida dentro dos limites de respeito pelo indivíduo como ser humano”.
Como prova da liberdade no Chile, dá o seguinte exemplo: “Como o secretário podia ver, se a situação retratada por líderes da oposição chilena no exterior perdurasse, não haveria crianças chilenas nas ruas nem mulheres dirigindo carros”. E “enfatizou a importância que representou para todo o hemisfério livrar o Chile do atraso comunista”.
Em outro momento, Pinochet diz a Popper: “O governo do Chile é um governo cristão que, diferente dos regimes comunistas, tem respeito autêntico pela pessoa humana”. Reconhecendo que “incidentes isolados de abusos ainda ocorrem porque as pessoas ‘não são perfeitas’”, o ditador adverte que os que denunciam as violações de direitos humanos “não são anjos”, e que teriam seus próprios motivos para fazer tais denúncias.
Passado quase um ano do encontro com o Secretário, em janeiro de 1975, quando o Senado americano cobrava a investigação dos crimes contra dos direitos humanos cometidos no Chile e a participação americana nos delitos, Pinochet concluiria uma conversa por telefone com o embaixador Popper falando sobre “amizade”: “Um dia os Estados Unidos entenderão que o Chile é um verdadeiro amigo – provavelmente o melhor – e talvez o único verdadeiro amigo no hemisfério. No nosso caso, isso sempre foi verdade, e agora é muito tarde para mudar”.
Como o inventor Paul Vo criou uma pequena caixa preta que pode mudar os violões para sempre
9 de Abril de 2013, 21:00 - sem comentários ainda
O sintetizador acústico VO-96 é um dos produtos instrumentais mais inovadores criados em anos. Ligue um em um violão e você pode transformar totalmente o som ao quebrar – ou pelo menos manipular – as leis da física. Eis a história de como o inventor Paul Vo criou um dispositivo que parece mágica.
Vo é mais conhecido como o inventor da tecnologia de sustentação infinita dentro daguitarra Moog. Em uma das configurações, você toca as cordas daquela belezinha e ela vibra para sempre. É um feito técnico bastante impressionante, mas apenas uma fração do que a tecnologia de Vo é capaz de fazer.
O Vo-96 foi feito dentro deste conceito e amplia; é um acessório sofisticado para um violão que basicamente transforma aquela velha caixa de madeira em um instrumento completamente diferente. Dependendo da configuração que você usar, o Vo-96 pode ter sonoridade de um violino, uma flauta ouum sintetizador analógico.
Vo, 61, está desenvolvendo a tecnologia há quase uma década. Em 2004, após 20 anos de trabalho no desenvolvimento de produtos para a indústria do áudio, ele passou a se focar na tecnologia de controle de vibração por trás do Vo-96. Ele diz que está convencido desde 1979 que a tecnologia podia funcionar, mas não era realisticamente possível até por volta de 2000.
Vo se mudou para Raleigh, na Carolina do Norte, se estabeleceu em um laboratório e começou a trabalhar. Em 2006, ele apresentou a tecnologia à Moog em Ashville, uma cidade próxima, como um protótipo acústico funcional. Um protótipo elétrico do instrumento foi mostrado no ano seguinte, quando a Moog e Vo começaram a trabalhar no processo de 18 meses que resultou na Moog Guitar. O instrumento resultante é uma obra-prima de engenharia por dentro e uma obra de arte por fora.
Agora, Vo voltou sua atenção de volta ao conceito original com o Vo-96, que ele vê como a expressão pura da sua tecnologia. Inicialmente, a coisa parecia monstruosa, mais ou menos como “Como diabos eu vou ligar isso ao meu violão?”. Há muita coisa neste diagrama abaixo, mas após você instalar o Vo-96 no violão, apenas a parte visível é a de cima. A caixa que contém os eletrônicos do Vo-96 fica dentro do corpo do instrumento.
Você provavelmente já ouviu uma guitarra fazer todo o tipo de som maluco graças a processos digitais ou analógicos. O Vo-96 funciona completamente diferente, apesar de tecnicamente a unidade fazer alterações analógicas e digitais no som do violão. Em vez de modificar a onda após o fato – como faz um pedal de efeito da guitarra – o Vo-96 muda a onda em tempo real.
Em outras palavras, o Vo-96 muda a física de como um violão emite som. Como? O dispositivo tem o que Vo chama de “conversação de dois caminhos” com as cordas. Ele ouve as cordas e então aplica uma energia magnética precisamente calculada para mudar o som.
A parte da interface do dispositivo contem 12 transdutores, dois para cada corda. Os transdutores pegam amostrar da energia da corda vibrante, converte em sinal elétrico e envia para uma caixa de controle dentro do violão. A caixa computa precisamente quanta energia precisa ser aplicada em cada corda, e envia a informação de volta aos transdutores, que fazem o seu trabalho. Esta operação acontece em uma taxa muito mais rápida do que a vibração da corda, o que significa que, de um ponto de vista prático, os transdutores ouvem e falam simultaneamente.
E, na verdade, esta descrição é uma simplificação da tecnologia. O Vo-96 tem um controle granular intenso sobre a forma como as cordas vibram. O que ela faz é alterar a vibração de 16 diferentes harmônicos diferentes em cada corda. (16 harmônicos x 6 cordas = Vo-96). Para cada uma dessas partes, o dispositivo pode aplicar mais força ou retirar força. Você pode silenciar um harmônico em particular, ou pode sustentá-la eternamente – ou pelo menos enquanto você tiver bateria.
Dependendo de quais harmônicos você modificar e como você alterá-los, você pode ter um instrumento com som completamente diferente. Por motivos práticos, a primeira versão do Vo-96 virá com apenas seis configurações pré-definidas que você pode mudar usando três sliders capacitivos. Você não vai conseguir criar uma interface de usuário mais simples para modificar todos os 96 canais de controle possíveis.
Então é apenas uma fração do que é possível. “A mãe natureza foi bem generosa com esta coisa”, diz Vo. “Acontece que há mais som em uma corda do que eu poderia imaginar na minha cabeça. As configurações no modelo inicial representam o que Vo pensa ser interessante baseado na sua própria experiência. Mas agora, ele quer saber o que nerds do violão ao redor do mundo pensam.
Informações sobre o Vo-96 começaram a aparecer há cerca de seis meses. A Moog Music – que possui a licença da tecnologia de Vo – postou fotos de um misterioso protótipo chamado “LEV-96″ em outubro passado. Eram imagens lindas do kit e uma descrição sedutora da tecnologia, mas era difícil entender o que exatamente era o dispositivo. E até fevereiro ninguém tinha ouvido nada.
Hoje, Vo lançou um projeto no Kickstarter para tentar conseguir colocar 350 unidades do Vo-96 em produção. O Kickstarter parece ser uma escolha estranha para um inventor como Vo. De fato, a guitarra Moog foi um produto bem sucedido para a empresa, e é universalmente aclamado. Mas apesar do entusiasmo da Moog no protótipo LEV-96, a empresa não tem planos de torná-lo um produto – ou ao menos não em algo como o Vo-96. A empresa fez um teste com 13 unidades ano passado, mas foi para pesquisa e desenvolvimento. A Moog é uma empresa lendária de inovação em instrumentos musicais, mas tem um limite, e no seu estado atual, o Vo-96 não está pronta para ser lançada.
Vo, por outro lado, não vai desistir facilmente. “Eu estava convencido de que existia mercado para isso mesmo que não fosse em lojas”, ele diz.
Ele diz ser eternamente grato à Moog pelo apoio tanto na Moog Guitar quanto no projeto Vo-96, mas ele tem 100% de compromisso com desenvolvimento e avanço da tecnologia de controle de vibração e as duas partes decidiram mutuamente que ele deveria partir por si só e melhorar o seu conceito. É isso que é o projeto no Kickstarter – financiar pesquisas adicionais com uma versão funcional do produto da forma como ele está agora. (Hoje mesmo a Moog divulgou um press releaseconvidando pessoas a contribuírem com o projeto de Vo). Ele diz que quer colocar o Vo-96 por aí para ver como um teste com audiência maior será. A partir daí, ele pode fazer modificações ao software para atualizações e ao hardware para futuras versões do produto.
Conseguir um Vo-96 não será barato – entre US$ 1050 e US$ 1450 – dependendo de quanto você contribuir com o projeto. O dinheiro da campanha do Kickstarter vai pagar os componentes do lançamento inicial e acelerará o desenvolvimento do software. [Kickstarter and Vo Innovations]
(Publicado originalmente por Gizmodo)
O golpe de 64 que ainda não terminou
9 de Abril de 2013, 21:00 - sem comentários ainda
O golpe de 64 que ainda não terminou
Por Carlos Tautz*
Já se passaram 49 anos desde que empresários e militares golpearam o presidente João Goulart, mas ainda há por ser desvelada toda a economia política da derrubada de Jango, que prometia apenas limitados ajustes distributivos no padrão de acumulação vigente à época, e a sustentarem economicamente a ditadura por 25 anos. A história carece tanto mais ser esclarecida quanto mais se percebe que várias das estruturas de acumulação que contribuíram para o golpe cresceram e se adaptaram de lá para cá, ainda operam nos dias de hoje e são decisivas para manter um modelo que concentra renda e riqueza e que manobra a forma subalterna como o Brasil sempre se enquadrou na economia mundial. É como se o golpe de 1964 ainda não tivesse terminado.
Um emblema dessa estrutura resistente, que ganha vitalidade e escala após o golpe, foi o senador José Sarney (PMDB-AP). De uma UDN com vernizes nacionalistas antes do golpe, ele passa a expressão maior de uma oligarquia vinculada aos setores da energia, da siderurgia e da extração mineral na Amazônia, que permitiu a grandes agentes econômicos, como a Vale, inserirem-se internacionalmente. Sarney sempre mediou tão bem as relações entre o Estado brasileiro e estes setores que chegou à Presidência da República e, quando saiu dela, continuou a manejar interesses, de tal forma que alcançou a Presidência do Senado e do Congresso, reunindo ao seu redor tanto poder político e econômico que todos os presidentes que o sucederam beijam-lhe as mãos. Até hoje.
Sua forma de agir é a convencional: aloca, aqui e ali, seus representantes em postos do Estado, com capacidade de decisão sobre os destinos de montantes expressivos de recursos públicos. Entre outros, é protegido de Sarney o engenheiro José Muniz Lopes, atual diretor da Eletrobras, que já presidiu a holding e as suas subsidiárias Eletronorte e Chesf. Muniz é um dos mais longevos funcionários da cúpula do setor – em 89 já presidia a Eletronorte – e um histórico defensor da megahidrelétrica Belo Monte (orçada em R$ 24 bilhões, dos quais 22 bilhões são fornecidos pelo BNDES), desde quando ela se chamava Kararaô, nos anos 1980.
É mais ou menos com esse modo de operar que muitas imbricações entre capital privado e dimensões do Estado brasileiro se perpetuam desde a queda de Goulart, que foi deposto, simbolicamente, poucos dias após divulgar no histórico comício da Central do Brasil a série de medidas que apontavam para alguma distribuição da riqueza no Brasil. Na Central, Jango listou algumas mudanças – estatização da cadeia produtiva do petróleo, reforma agrária à beira de rodovias, limites à remessa de lucros etc -, mas caiu por não querer perceber que não tinha suficiente apoio econômico e político para fazê-lo. E, porque, também, não observou que àquela altura empresários e oficiais de alta patente já fechavam suas conexões para incluir o Brasil definitivamente, e de forma subalterna, nas franjas do capitalismo internacional.
É por esta razão, provavelmente, que as elites brasileiras cometeram o crime de lesa-pátria de permitir que navios da IV frota da Marinha dos EUA estacionassem na costa brasileira, para entrar em ação em caso de fracasso dos militares golpistas. Anos depois, a IV frota teve suas atividades suspensas, mas foi retomada há poucos anos, porque Cuba permanecia como problema maior para os EUA na América Latina, Hugo Chávez recuperava o controle sobre o petróleo da Venezuela, que em boa medida alimenta a petroquímica estadunidense, e, talvez, porque há muito os técnicos já aventavam a hipótese, confirmada há pouco mais de cinco anos, de existirem enormes reservas de óleo na costa brasileira.
Toda essa história ainda está por ser incluída numa agenda de debates nacionais. Precisamos conhecer nomes e sobrenomes daqueles que, fardados ou não, contribuíram para aprofundar um modelo econômico que sempre manteve o Brasil em um infeliz lugar entre as piores distribuições de renda do planeta.
Nesse sentido, abrir arquivos não trará à tona apenas os nomes dos responsáveis pelas bárbaras torturas que abateram muitos e muitas patriotas, nem servira somente como exercício diletante de recuperação da história. Escancarar documentos oficiais mostrará quem, no governo, de fato cometeu crimes de lesa-pátria e se articulou com interesses empresariais, do Brasil e de outros países, para garantir uma economia baseada, até hoje, na extrema extração de mais-valia.
Tomem-se como exemplos alguns casos históricos, cujos personagens não saem das primeiras páginas. Um deles ganha notoriedade articulando o empresariado brasileiro ainda no planejamento do golpe. É o economista Delfim Netto, titular de vários Ministérios da ditadura, e um dos principais negociadores da dívida externa brasileira (aliás, por que até hoje não foi realizada a auditoria da dívida, como determina a Constituição de 1988?). Delfim é uma eminência desde 64 e até hoje desfruta da intimidade de presidentes e presidenta – na terça (8), até almoçou com Dilma Roussef.
Talvez Delfim também pudesse, na Comissão Nacional da Verdade (CNV), no Congresso ou em algum fórum público corajoso o suficiente para convocá-lo, revelar quais foram os termos da enorme contratação de dívida externa feita pelo Brasil para construir a usina Binacional Itaipu, uma obra tão impactante sob qualquer ângulo que se olhe, que só se viabilizou porque tanto aqui quanto no Paraguai vigoravam ditadores ferozes. A propósito, o Brasil tem em Itaipu a oportunidade histórica de desfazer enorme injustiça histórica contra o povo paraguaio, que não tem autonomia para decidir por si o que fazer com a totalidade da energia produzida por Itaipu. Rever o tratado de Itaipu para garantir os benefícios equânimes da produção de energia para ambos os países é um dever do Brasil. Mesmo que o Itamaraty se oponha.
Voltando a Delfim: se de fato ele fosse convocado, certamente estaria a caráter para esclarecer, como apontam os trabalhos da CNV, qual foi o papel que no golpe e na ditadura tiveram os maiores grupos econômicos (e de suas entidades, como a Fiesp e a Febraban), na repressão política e o que eles ganharam dos governos militares em troca do financiamento aos sistemas policiais paralelos como a Operação Bandeirantes.
A lista de eventos históricos que precisam ser finalmente contados é extensa e urgente, se o Brasil quiser se redimir diante de sua própria sociedade e projetar um presente e um futuro mais justos. A ética e a justiça históricas exigem que compreendamos a horrível inflexão econômica que houve no Brasil em 1964 e seus reflexos até os dias atuais.
*Jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – transparência e controle cidadão de governos e empresas
(Publicado no Viomundo)
Globo proíbe despedida e apresentadora sai do ar chorando
9 de Abril de 2013, 21:00 - sem comentários aindaGlobo proíbe despedida e apresentadora sai do ar chorando. Carla Vilhena só soube pela imprensa que seria substituída em telejornal da Tv Globo
Foram dramáticos os últimos minutos da jornalista Carla Vilhena como apresentadora do Bom Dia São Paulo e do bloco paulista do Bom Dia Brasil, na última sexta-feira.
Carla soube pela imprensa, na véspera, que deixaria o telejornal, que apresentava desde meados de 2010.
Na sexta, ela escreveu uma nota de despedida do público, mas foi proibida pela direção de jornalismo da Globo, enquanto apresentava o Bom Dia São Paulo, de ler o texto.
Abalada, Carla não conseguiu terminar sua participação no Bom Dia Brasil. Na bancada, mas fora do ar, chorava tanto que teve de ser substituída, às pressas, por uma moça do tempo. Foi embora sem levar suas roupas e pertences, amparada por funcionários da Globo.
Desde ontem, o telejornal está sendo apresentado pela repórter Monalisa Perrone.
O jornalista Marco Aurelio Mello, ex-colega de trabalho de Carla Vilhena e fundador do blog DoLadoDeLa, publicou texto em que se solidariza com a apresentadora. Leia abaixo.
Minha Solidariedade à Carla Vilhena
Marco Aurelio Mello
A nova direção de jornalismo da TV Globo parece que não gostar muito de investir nas relações humanas. Nem mesmo o departamento de RH, que deveria gerenciar “as emoções” consegue saber com antecedência o que está acontecendo, para tomar medidas paliativas necessárias numa grande corporação.
O choro copioso da querida Carla Vilhena, apresentadora do Bom Dia São Paulo e do bloco local do Bom Dia Brasil, impedida de se despedir de seus telespectadores na última sexta-feira, dá bem a dimensão da falta de tato dos gestores.
Depois de saber PELA IMPRENSA que seria substituída na bancada pelo correspondente em Nova Iorque, Rodrigo Bocardi, Carla, com a delicadeza que lhe é peculiar, escreveu uma mensagem de despedida, mas a direção proibiu-a de lê-la.
Abalada, Carla não conseguiu terminar sua participação e foi substituída pela uma moça do tempo. Saiu do ar amparada por funcionários da Globo.
Trazer Rodrigo de volta para o Brasil com assento em uma bancada é um movimento importante. O repórter, que teve carreira meteórica na emissora durante o mensalão, faz com desenvoltura o jogo da casa. Quem não se lembra da moedinha na pista do aeroporto de Congonhas, para incriminar Lula pelo acidente da TAM, em julho de 2007?
Rodrigo é um bom sujeito. Trabalhamos juntos no Jornal da Globo, com Ana Paula Padrão. Ele tinha vindo da Band, onde começou como coordenador de telejornal, uma função burocrática. Teve a felicidade de fazer jornalismo na Faculdade do Morumbi, onde a elite paulistana se encontra. Fez amizade com os Saad, circula em altas rodas e conhece detalhadamente a cartilha neolibelês.
Sonhava em ser editor de economia e pediu para que eu o apadrinhasse nesse sentido. Como acumulava – para que testassem minha capacidade – as funções de editor de política e economia do telejornal, cujo noticiário era majoritariamente composto por esses dois temas, concorde,i e indiquei seu nome ao então editor-chefe, Luiz Claudio Latgé.
Competente, logo Rodrigo caiu nas graças de toda a equipe, mas alimentava em silêncio o sonho de ser repórter, o que no caso dele não era difícil, porque tem boa estampa, boa voz e é muito bem relacionado. Será muito bem teleguiado na nova função.
Depois de dois anos na bancada, Carla volta à reportagem. Passa a engrossar o coro do Fantástico. Como apresentadora, a bela morena de olhos azuis encantou o país no Jornal da Band, no fim dos anos 90. Beleza, postura e voz eram tão marcantes, que foi convidada pela Globo para ser apresentadora do Novo SPTV, em 1998.
Como na emissora a fila é grande, Carla ficou para lá e para cá, até que conseguisse sua própria bancada num jornal de rede. Apresentou os SPTV, os Bom Dias, o Jornal Hoje, o Fantástico e até o Jornal Nacional, nas folgas dos apresentadores titulares. É o tipo de profissional de quem não se ouve críticas, só elogios.
Torço para que ela supere a dor de ser cortada sumariamente, como já aconteceu com tantos outros. Carla, o mundo não só aí. Um beijo no seu coração.
(Publicado no Pragmatismo Politico, com agências)