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Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Mia Couto: "Não há outro caminho que não seja a insubordinação"

27 de Maio de 2013, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


O escritor moçambicano venceu a 25ª edição do Prémio Camões e voltou a defender a urgência de uma insubordinação que questione o atual sistema mundial e abra o caminho para alternativas


Mia Couto falou com a agência Lusa pouco depois do anúncio da decisão do júri, no Rio de Janeiro. "Logo hoje, que é um daqueles dias em que a gente pensa: vou jantar, vou deitar-me e quero me apagar do mundo. De repente, apareceu esta chamada telefônica e, obviamente, fiquei muito feliz", disse Mia Couto, mostrando-se surpreendido com a decisão. 

"Não espero nunca uma coisa destas. Tenho com os prêmios uma relação de distância, não de arrogância, mas pensando que não vale a pena olhar para eles porque a gente trabalha por outra razão, que são outros prémios mais importantes que este", declarou o escritor. Para Mia Couto, o segundo moçambicano a ganhar o Prémio Camões desde José Craveirinha em 1991, ele é também um "contributo" para acabar com o pessimismo em relação a África. "Acho que é bom que este continente dê contas de si e sinais de si por via da produção artística", assinalou.

Homenageado há dois anos, em Penafiel, nas Escritarias, Mia Couto deixou um apelo para o tempo presente: “É preciso sair à rua, é preciso revoltarmo-nos, é precisa esta insubordinação”. Agora, repete esse desafio à agência Lusa: "As pessoas, acho que todas, se compenetraram, principalmente nos últimos anos, que isto não é uma crise localizada, não é uma falha, nem é um erro de um certo sistema, mas que é o próprio sistema que tem que ser radicalmente questionado".

"Ou nós vamos melhorar a miséria, ou nós vamos resolver o mundo, a nossa vida e a nossa esperança. Portanto, acho que não há outro caminho que não seja a insubordinação", realçou. "Não digo insubordinação como se ela, por si mesmo, trouxesse as respostas automaticamente. Mas tem que haver uma insubordinação, primeiro, em termos do espírito, em termos daquilo que nós temos que não aceitar deste mundo e da explicação que se dá do mundo", explicou o escritor moçambicano.

Mia Couto conseguiu “passar do local para o global”

A escolha do júri foi justificada pela “vasta obra ficcional caracterizada pela inovação estilística e a profunda humanidade”, em trinta livros que extravasaram as fronteiras do seu país e foram reconhecidas pela crítica, fazendo a sua obra “passar do local para o global”. José Carlos Vasconcelos disse que foi “ponderado tudo o que significa [a obra de Mia Couto] nas literaturas de Língua Portuguesa e na de Moçambique". "Inicialmente, foi muito valorizada pela criação e inovação verbal, mas tem tido uma cada vez maior solidez na estrutura narrativa e capacidade de transportar para a escrita a oralidade", acrescentou o diretor do Jornal de Letras, em nome dos restantes jurados do Prémio Camões: Clara Crabbé Rocha, catedrática da Universidade Nova de Lisboa, o escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho, o escritor angolano José Eduardo Agualusa, Alcir Pécora, crítico e professor da Universidade de Campinas e o diplomata Alberto da Costa e Silva, membro da Academia Brasileira de Letras, pelo Brasil.

"Já estava à espera há muito tempo que ganhasse o prémio. É mais do que merecido pela obra notável que tem publicado", sublinhou o editor da Editorial Caminho, que tem publicado a obra de Mia Couto há trinta anos, por entre livros de poesia, contos, crónicas e ficção.

(Publicado em Esquerda.Net)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



Vídeo sobre remoções da Copa é exibido na ONU

27 de Maio de 2013, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Comitês Populares da Copa denunciam violações ao Conselho de Direitos Humanos da ONU; assista e compartilhe aqui


(Publicado por Agência Pública)

Às dez horas da manhã de hoje (meio-dia em Genebra), Larissa Araújo, da Articulação Nacional dos Comitês Populares (ANCOP) participa da 23ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU para falar das violações cometidas nas remoções de famílias em todo o país nos preparativos para a Copa do Mundo. Em um evento paralelo à sessão do Conselho, o vídeo “Who wins this match?” (Quem ganha esse jogo?), produzido em parceria com a Conectas e disponibilizado aqui traz os números e os depoimentos dos moradores removidos ou em risco de remoção – 200 mil, segundo o cálculo dos movimentos.


“Para chegar a esses números somamos famílias que foram atingidas por obras – que em algum momento foram vinculadas à Copa e às Olimpíadas – (algumas obras foram retiradas da Matriz de Responsabilidade da Copa e assumidas por governos estaduais e/ou prefeituras), com famílias que em algum momento foram ameaçadas de remoção”, explica Francisco de Felippo, também da Ancop, sobre os cálculos, contestados pelo poder público. “Em Natal, por exemplo, o prefeito assinou um documento se comprometendo a não remover ninguém. Mas isso veio depois de muita luta das comunidades. Se a gente colocasse que as remoções em Natal foram zero, dá a impressão de que não teve problema lá. Mas teve e a gente reverteu”, exemplifica.

Além dos números, saltam aos olhos o desespero, a indignação e o desalento dos moradores diante dos métodos e da falta de diálogo do poder público transmitidos pelos depoimentos dos atingidos, agora ouvidos na ONU.

Assista ao vídeo: http://youtu.be/HmoLZBtqQ3c



*O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



Folha de SP: em defesa da dita

26 de Maio de 2013, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


O editorial da Folha de São Paulo de sábado (25/5), “Em defesa da Anistia”, engendra um discurso de teor autoritário que só poderia estar a serviço da impunidade dos criminosos do regime militar.

Logo no segundo parágrafo aparece “persecutório”, adjetivo discutível no contexto das atribuições da Comissão Nacional da Verdade e cheio de implicações revanchistas. Pior é encontrar, logo em seguida, “seus membros são livres para fazer constar no texto as recomendações que julgarem mais convenientes”. Por que a reiteração da obviedade? Quem pediu o aval da Folha?

“A proposta de mudar a Lei de Anistia”, segue o texto, “fomenta a discórdia no próprio grupo”. A iniciativa é associada à intriga, em oposição a um suposto espírito conciliador da maioria. Exatamente a tese dos ditadores civis e militares que redigiram a Lei. Então ressurge explicitamente o usual “revanchismo”, para justificar a falta de colaboração dos militares nas audiências. Coitados, eles estão apenas se protegendo.

Citar o endosso do Supremo Tribunal Federal é uma tentativa de conferir estatuto inquestionável a uma decisão de legitimidade no mínimo duvidosa. E também joga um apelo demagógico aos leitores que corroboram a atuação recente da corte. A frase seguinte inclui um trecho da medida de 1979, sem aspas, naturalizando a inaceitável expressão “motivações políticas” usada para unificar os crimes de agentes do Estado e de seus adversários, como se tivessem os mesmos recursos, meios e objetivos.

A idéia dos “ímpetos” e “conflitos e divisões” refreados insiste no caráter intransigente e irracional dos que defendem a punição dos bandidos. E que lutariam contra “o reencontro da sociedade consigo mesma” e “a reconstrução da democracia”. O estranho teor psicanalítico da primeira figura talvez se refira ao apoio majoritário recebido pelo golpe militar, inclusive da própria Folha. Mas o complemento lhe traz uma conotação apaziguadora, pois, “reencontrando-se”, os defensores do autoritarismo descobrem o âmago republicano desde sempre incutido nas suas boas intenções. Não foi assim que os ditadores explicaram a derrubada do fantasma comunista?

Reproduzo o nono capítulo: “Goste-se ou não, a passagem do regime de exceção para o Estado de Direito foi fruto de lutas, mas também de entendimentos. Antes de uma imposição, a anistia ampla foi um pacto que assegurou a transição democrática.” A expressão inicial é bem característica do vocabulário da autoridade. Mas o veredito da Folha independe mesmo de “gostarmos” dele? O próprio texto contradiz a negativa da “imposição”, outorgando um “pacto” que não permite discordância.

O indulto a assassinos, estupradores e torturadores “tem contribuído para que o país não se dilacere em lutas internas”, finaliza o editorial. As últimas palavras são fortes, algo ameaçadoras, típicas do alarmismo golpista. E completam-se muito coerentemente sugerindo que a comissão “deveria se concentrar em sua tarefa em vez de abraçar propostas inoportunas que extrapolam o seu próprio escopo”. A Folha ordena que os inconvenientes se coloquem nos seus lugares. Senão...

De fato, a defesa do indefensável exige uma retórica apropriada.

(Publicado por Guilherme Scalzilli)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



Anarquismo segundo Noam Chomsky em oito questões

23 de Maio de 2013, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Noam Chomsky no Brasil, em visita ao MST

Embora Noam Chomsky tenha escrito bastante sobre o anarquismo nas últimas três décadas, as pessoas frequentemente pedem a ele uma visão mais detalhada e tangível sobre a mudança social. Sua análise política nunca falha ao propagar insulto e raiva à forma como o mundo funciona, mas muitos leitores não sabem sobre como exatamente Chomsky faria para mudá-lo. Talvez por considerarem seu trabalho analítico com certo respeito, acreditam que ele irá planejar seus objetivos e estratégias com semelhante precisão e clareza, apenas para se frustrarem depois, por razão de suas declarações generalizadas dos valores socialistas libertários. Talvez muitos olhem para um grande intelectual com o objetivo de produzir um “plano mestre” para segui-lo passo a passo rumo a um futuro brilhante e radiante.

Porém, Chomsky evita dar essas declarações. Ele adverte que é difícil prever quais formas particulares uma organização social justa deve tomar, ou, mesmo, saber exatamente quais são as alternativas ideais ao sistema atual. Apenas a experiência pode nos mostrar as melhores respostas para essas questões, diz ele. O que deve nos guiar ao longo desse caminho é uma série de prin­cípios que irão basear quaisquer formas específicas que nossa sociedade futura poderá tomar. Para Chomsky, esses princípios surgem da tendência histórica de pensamento e ação conhecida por anarquismo.

Chomsky adverte que pouco pode ser dito sobre o anar­quismo num nível muito geral. “Eu não venho tentando escrever algo sistemático sobre esse assunto, nem sei de algo feito por outros que eu poderia recomendar”, escreveu-me em resposta a uma série de questões sobre o tema. Ele está escrevendo aqui e ali sobre isso, especialmente em seu recente livro Powers and Prospects, mas realmente não há muito a se dizer em termos gerais. “O interesse está nas aplicações”, acredita ele, “mas estas são específicas ao seu tempo e lugar”.”Na América Latina”, diz Chomsky, “eu falei sobre muitos desses tópicos, e muitos outros mais importantes, e cujo aprendi­zado se deve às pessoas que, de fato, estão fazendo coisas, e boa parte delas tinha um ‘tempero’ anarquista. Também tive a chance de me encontrar com grupos anarquistas ativos e interessantes, de Buenos Aires a Belém, na boca da Amazónia (dos últimos eu nada sabia a respeito – incrível onde nossos amigos aparecem!). Mas as discussões estavam muito mais focadas e específicas do que eu frequentemente vejo aqui; e de forma correta, creio.”

Como esta, as respostas de Chomsky às perguntas são gené­ricas e breves. De qualquer forma, uma sintética introdução a alguns de seus pensamentos sobre o anarquismo talvez inspire o leitor a procurar outros escritos sobre o tema e o mais importante, a desenvolver o conceito de anarquismo através do processo de construção de uma sociedade mais livre e democrática.

Respostas de Chomsky a oito questões sobre anarquismo. Comentário geral sobre todas as questões:

Ninguém é dono do termo “anarquismo”. Ele é usado para uma enorme variedade de diferentes correntes de pensamento e ação, que se diferenciam amplamente. Existem muitos anarquis­tas com estilos próprios que insistem, frequentemente com grande paixão, que seu método é o único correto, e que os outros não mereceriam o termo (e que talvez sejam criminosos de uma ou outra natureza). Uma passada de olhos na literatura anarquista contemporânea, particularmente no ocidente e nos círculos inte­lectuais (eles podem não gostar do termo), irá rapidamente mos­trar que grande parte das denúncias que alguns fazem dos desvios dos outros, está na sectária literatura marxista-leninista. Infeliz­mente, a proporção desse material no trabalho criador é bem alta. Pessoalmente, eu não tenho confiança em meus próprios projetos sobre o “caminho certo”, e não estou impressionado com as presunçosas declarações de outros, incluindo os bons amigos. Eu sinto que muito pouco é conhecido para se ter a capacidade de dizer muito com alguma confiança. Nós podemos tentar for­mular nossos projetos de longo prazo, nossos objetivos, nossos ideais; e podemos (e devemos) nos dedicar a trabalhar em ques­tões de importância à humanidade. Mas a lacuna entre essas duas possibilidades é frequentemente considerável, e eu rara­mente vejo algum caminho para transpô-la, exceto em um nível vago e genérico. Essas minhas qualidades (que talvez sejam defeitos) irão aparecer nas respostas (muito sintéticas) que farei às suas questões.

1- Quais são as origens intelectuais do pensamento anarquista, e quais movimentos desenvolveram e tornaram vivo esse pensamento durante toda a história?
As correntes do pensamento anarquista que me interessam (existem muitas) têm suas origens, acredito, no Iluminismo e no liberalismo clássico, e, inclusive, remontam de modo interessante à revolução científica do século XVII, incluindo aspectos que frequentemente são considerados reacionários, como o racionalismo cartesiano. Existe literatura sobre o assunto (o historiador conceituai Harry Bracken, por exemplo; eu escrevi sobre isso também). Não irei tentar tratar disso aqui, exceto dizer que eu tendo a concordar com o importante escritor anarco-sindicalista e ativista Rudolf Rocker, que as ideias liberais clássicas foram destruídas na turba do capitalismo industrial, e nunca se recupe­raram (estou me referindo ao Rudolf Rocker dos anos 30; décadas depois ele modificou seu pensamento). As ideias têm sido reinventadas continuamente; na minha opinião, porque elas refletem neces­sidades e percepções humanas reais. A Guerra Civil Espanhola talvez seja o caso mais importante, ainda que devamos lembrar que a revolução anarquista que conquistou boa parte da Espanha em 1936, tomando várias formas, não foi um levante espontâneo, mas foi preparada através de muitas décadas de educação, organização, esforço, derrota e algumas vezes vitórias. Isso foi muito significante. O suficiente para despertar a ira de todos os maiores sistemas de poder: stalinismo, fascismo, liberalismo ocidental, a maioria das correntes intelectuais e suas instituições doutrinárias – todos combinados para condenar e destruir a revo­lução anarquista, assim como fizeram; um sinal de sua importân­cia, na minha opinião.

2 – Os críticos dizem que o anarquismo “não tem forma, é utópico”. Você contrapõe dizendo que cada estágio da história tem suas próprias formas de autoridade e opressão que precisam ser combatidas, portanto nenhuma doutrina fixa pode ser aplicada. Na sua opinião, qual reali­zação específica do anarquismo foi relevante nessa época?
Eu tendo a concordar com que o anarquismo não tem forma e é utópico, entretanto, dificilmente mais do que as doutrinas vazias do neoliberalismo, marxismo-leninismo, e outras ideologias que têm apelado aos poderosos e seus servos intelectuais através dos anos, por razões que são fáceis de se explicar. A razão para a falta de forma e o vazio intelectual (frequentemente encoberto em grandes discursos, mas que está, de novo, no próprio interesse dos intelectuais) é que nós não entendemos muito os sistemas complexos, assim como as sociedades humanas, e temos apenas intuições limitadas de eficácia sobre os caminhos que devem ser remodelados e construídos. O anarquismo, na minha visão, é uma expressão da ideia de que o ônus da prova está sempre sobre aqueles que sustentam que a autoridade e a dominação são necessárias. Eles têm que demonstrar, com uma forte argumentação, que isso está correto. Se não conseguirem fazer isso, então as instituições que defendem devem ser consideradas ilegítimas. Como cada um deve reagir para deslegitimar a autoridade, isso dependerá das circunstâncias e das condições: não existem fórmulas. No presente período, as questões surgem das maneiras mais comuns: das relações pessoais na família e em qualquer parte, para a ordem política/econômica internacional. E as ideias anar­quistas – desafiando a autoridade e insistindo que ela se justifique – são apropriadas em todos os níveis.

3- Em que tipo de concepção de natureza humana o anarquismo está baseado? As pessoas teriam menos incentivo para trabalhar em uma sociedade igualitária? Uma ausência de governo permitiria aos fortes que dominassem os fracos? As tomadas de decisão democráticas resultariam em um conflito excessivo, indecisão e tumulto?
Assim como eu entendo o termo “anarquismo”, ele é baseado na esperança (em nosso estado de ignorância, não pode-nos ir além disso) que aglutina elementos da natureza humana, incluindo sentimentos de solidariedade, apoio mútuo, simpatia, preocupação com os outros, e assim por diante. As pessoas trabalhariam menos em uma sociedade igualitária? Sim, à medida que elas fossem conduzidas ao trabalho pela necessidade de sobrevivência; ou por uma recompensa material, um tipo de patologia que leva alguns a tirar prazer da tortura de outros. Aqueles que acham razoável a doutrina liberal clássica, que o impulso de se empenhar em um trabalho produtivo está no âmago da natureza humana – algo que vemos constantemente, creio, desde as crianças até os idosos, quando as circunstâncias permitem – estarão muito desconfiados com as doutrinas que são altamente promotoras do poder e da autoridade, e parecem não ter outros méritos. Uma ausência de governo permitiria aos fortes dominar os fracos? Nós não sabemos. Se isso acontecer, então formas de orga­nização social teriam que ser construídas para superar esse crime, e existem muitas possibilidades de se fazer isso. Quais seriam as consequências das tomadas de decisão democráticas? As respostas são desconhecidas. Nós teríamos que aprender pelas tentativas. Vamos tentar e descobrir.

4- O anarquismo é algumas vezes chamado de socialismo libertário. Como ele se diferencia das outras ideologias que são frequentemente associadas com socialismo, como o leninismo?
A doutrina leninista defende que um partido de vanguarda deveria assumir o poder do Estado e dirigir a população rumo ao desenvolvimento econômico, e, por algum milagre que é inexplicado, à liberdade e à justiça. Ela é uma ideologia que natural­mente apela, de forma muito forte, à intelligentsia radical, para a qual tem uma justificativa do seu papel como administradora do Estado. Eu não posso ver qualquer razão – seja na lógica, seja na história – para levá-la a sério. O socialismo libertário (incluindo grande e essencial parte do marxismo) rejeitou tudo isso com des­dém, muito corretamente.

5- Muitos “anarco-capitalistas” reivindicam que o anarquismo é a liberdade de se fazer o que quiser com as propriedades que possuem,e de se comprometer para o trabalho, com outros, através de um livre contrato. O capitalismo é, em algum nível, compatível com o anarquis­mo do seu ponto de vista?
O anarco-capitalismo, na minha opinião, é um sistema de doutrina que, se fosse um dia implantado, conduziria a formas de tirania e opressão com poucas semelhanças na história hu­mana. Não existe a menor possibilidade de que suas (ao meu ver, horrendas) ideias sejam implantadas, porque elas destruiriam rapidamente qualquer sociedade que cometesse o erro colossal de implantá-las. A ideia de “livre contrato” entre o poderoso e seu vassalo faminto é uma piada doentia, que talvez valha alguns momentos num seminário acadêmico explorando as consequên­cias das (na minha visão, absurdas) ideias, mas em nenhum lugar mais. Eu deveria adicionar, de qualquer forma, que me encontro em substancial acordo com as pessoas que se consideram anarco-capitalistas em uma série de questões; e por alguns anos, fui capaz de escrever sozinho em seus periódicos. Eu também admiro o comprometimento deles com a racionalidade – o que é raro — embora eu não ache que eles vejam as consequências das dou­trinas que adotam, ou suas profundas falhas morais.

6 – Como os princípios anarquistas se aplicam na educação? Os graus, exigências e provas estão corretos? Que tipo de ambiente é mais favorável ao livre pensamento e desenvolvimento intelectual?
Minha impressão, baseada parcialmente em minha expe­riência pessoal, nesse caso, é que uma educação decente deve proporcionar uma linha, ao longo da qual a pessoa irá percorrer seu próprio caminho; o bom ensino é mais um problema de dar água para uma planta, para possibilitar que ela cresça com suas próprias capacidades, do que encher um vaso com água (pensa­mentos altamente não-originais, devo adicionar, parafraseados dos escritos do Iluminismo e do liberalismo clássico). Esses são princípios gerais, que eu acho que são geralmente válidos. Como eles se aplicam em circunstâncias particulares, deve ser avaliado caso a caso, com a devida humildade, e o reconhecimento de quão pouco realmente entendemos das coisas.

7 – Descreva, se você puder, como uma sociedade anarquista ideal funcionaria no dia-a-dia. Que tipos de instituições políticas e económi­cas existiriam, e como elas funcionariam? Nós teríamos dinheiro? Com­praríamos em lojas? Teríamos nossas próprias casas? Teríamos leis? Como preveniríamos o crime?
Eu nem sonharia tentar fazer isso. Esses são problemas sobre os quais nós temos que aprender através do esforço e da expe­riência.

8 – Quais são os panoramas para a realização do anarquismo em nossa sociedade? Em que sentido devemos caminhar?
Os panoramas de liberdade e justiça são ilimitados. Os passos que devemos dar dependem de onde queremos chegar. Não existem, e não podem ser, respostas gerais. As questões estão colocadas de forma errada. Eu me lembro de uma bela frase do movimento dos trabalhadores rurais do Brasil (de onde eu acabei de voltar): eles dizem que devemos expandir a área da jaula, até o ponto que as grades sejam quebradas. Às vezes, necessita-se até defender a jaula contra os piores predadores do lado de fora: a defesa do poder ilegítimo do Estado contra a tirania privada predatória dos Estados Unidos hoje, por exemplo, é um ponto que deve ser óbvio para qualquer pessoa comprometida com a justiça e a liberdade – qualquer um, por exemplo, que pense que as crianças devem ter o que comer -mas isso parece de difícil compreensão para muitas pessoas que se reivindicam libertários e anarquistas. Esse é um dos impulsos irracionais e autodestrutivos de pessoas decentes que julgam estar dentro da esquerda, na minha opinião, separando-se, na prática, das vidas e das legítimas aspirações das pessoas que sofrem. Então essa é minha impressão. Eu estou feliz em discutir isso, e escutar os contra-argumentos, mas somente num contexto que nos permita ir além do grito de slogans – o que, temo, vai excluir boa parte do que se passa nos debates da esquerda, o que é uma pena.

Em outra carta, Chomsky estendeu seus pensamentos sobre uma sociedade futura:

Sobre uma sociedade futura, eu posso estar repetindo, mas é algo pelo qual eu tenho me interessado, desde que eu era um garoto. Recordo, por volta de 1940, lendo o interessante livro de Diego Abad de Santillán, A/ter the Revolution, criticando seus companheiros anarquistas e esboçando com algum detalhe, como a Espanha anarco-sindicalista funcionaria (essas são memórias de mais de 50 anos, então não as tome tão literalmente). Minha impressão foi que ela parecia boa, mas nós enten­demos o suficiente para responder perguntas sobre uma sociedade em cada detalhe? Através dos anos, naturalmente, eu aprendi mais, mas isso apenas aprofundou meu ceticismo sobre se sabemos o suficiente. Em anos recentes, eu discuti bastante isso com Michael Albert, que tem me encorajado a expor em detalhes como eu acho que a sociedade deveria funcionar, ou, pelo menos, reagir à sua concepção de “democracia participativa”. Eu recusei, em ambos os casos, pelas mesmas razões. Parece-me que as res­postas à maioria dessas perguntas têm que ser aprendidas através da experiência. Considere os mercados (na medida em que eles possam fun­cionar em alguma sociedade viável – limitada, se o registro histórico servir de guia, e sem falar de lógica). Eu entendo bem o su­ficiente o que está de errado com eles, mas isso não é bastante para demonstrar que um sistema que elimina as operações de mercado é preferível; é simplesmente um sinal de lógica, e eu não acho que sabemos a resposta. O mesmo vale para todo o resto.

Retirado de: Notas sobre o Anarquismo por Francisco Trindade e retirado dele por mim e retirado de mim por você. deixem que retirem de você!

(Publicado por Anarquista)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



Desabrigados da Favela Bandeira 1

23 de Maio de 2013, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Desabrigados por conta do incêndio ocorrido no dia 15 de maio de 2013, os moradores da favela Bandeira 1, em Del Castilho não têm pra onde ir. Neste momento estão em casas de parentes, amigos, igrejas e barracos que ainda restam na própria favela.

Foto: Léo Lima
Foto: Léo Lima
Hoje pela manhã, recebemos a notícia que a prefeitura estaria indo ao local para remover os barracos que ainda permaneciam de pé e que logo serviam de abrigo para os demais. Chegando ao local, nos deparamos com responsáveis da subprefeitura, policiais, agentes de “conservação”.
Foto: João Lima
Foto: João Lima
O agente da subprefeitura, que não quis ser identificado, alegou que o terreno teria sido condenado por área de risco. Ele, ou melhor, o Sr Orlando Erdite de Jesus, expôs a todos que tinha autoridade para mandar demolir todos os barracos.
Os moradores, que já residem no local há mais de 15 anos, por sua vez estavam revoltados! Segundo a vice-presidente da ass. Cristiane Roque,uma demanda de cheques para o aluguel social seria entregue logo após os cadastramentos, porém, das 250 pessoas da favela, somente 21 pessoas receberam o auxílio, de R$ 400,00, mesmo todas estando devidamente cadastradas.
Foto: Edmilson de Lima
Foto: Edmilson de Lima
O cenário era desastroso!!! São telhas, madeiras e muitas cinzas pelo chão. Mães com cinco e seis filhos, sem terem remédios, fraldas, alimentos e roupas. A convivência com esgoto a céu aberto traz sérios riscos à saúde, assim como os ratos e baratas que circulam pelos barracos com 8 a 12 pessoas em cada.
Foto: Ratão Diniz
Foto: Ratão Diniz
Com cartazes, pedidos por justiça e muita raça, os moradores fizeram um protesto simbólico e pacífico no lugar onde ficavam as casas incendiadas. De maneira voluntária, alguns comunicadores informavam a todo o momento para outros colegas da mídia a situação, assim como outros órgãos públicos que lutam pelas causas do povo.
Foto: Joao Lima
Foto: Joao Lima
Depois de intenso protesto, a defesa civil chegou ao local e concedeu a doação de 50 colchões e lençóis, encaminhando o Presidente da Ass.dos Moradores até a subprefeitura da zona norte para pegar mais 50 cestas básicas.
Foto: Léo Lima
Foto: Léo Lima
No fim da tarde, todos foram embora e nenhuma demolição foi executada. Porém, os moradores esperam que algum defensor público possa ajudá-los nesse caso, pois entendem que o aluguel social ajuda, mas não resolve o problema maior das famílias. Afinal, as dificuldades serão inúmeras para encontrar uma nova casa e principalmente mantê-las depois do fim do auxílio, sem contar o risco da poeira baixar, a prefeitura fazer as demolições e alegar novos acontecimentos.
Foto: Ratão Diniz
Foto: Ratão Diniz
Os moradores da bandeira 1, não querem morar em abrigos populares, eles brigam agora por moradias de direito, dignas e de qualidade.
Texto: Léo Lima
Para doações:
Falar com Léo Lima (9247-5067) – Ivana Baiana (9605-0937)
Entregar na favela bandeira 1 – rua domingos magalhães, 750, del castilho/maria da graça
debaixo do viaduto do Nova América. Tratar com Kelly; Isaac; Cristiane ou Marcos (moradores)
Escola de Samba Unidos do Jacarezinho, Av. Suburbana, 2233
na portaria

(Publicado no Favela em Foco)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..