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Por que Carla Dauden incomoda tanto
27 de Junho de 2013, 9:57 - sem comentários aindaO já célebre vídeo da jovem aspirante a cineasta Carla Dauden contra a Copa do Mundo – uma espécie de manifesto de seis minutos em que existe muita revolta e pouco rigor jornalístico — incomoda por duas razões fundamentais.
A primeira é frívola: nós, brasileiros, nos sentimos feridos no orgulho ao ver uma sucessão de imagens de miséria.
Este sentimento é amplificado pelo inglês excelente no qual Carla se expressa – uma fluência adquirida nos Estados Unidos, onde ela vive já há alguns anos.
A segunda razão é muito mais profunda: a miséria que aparece no vídeo é real, e as questões que ela levanta são, quase todas, pertinentes, a despeito das imprecisões jornalísticas que têm sido notadas.
O vídeo despertou críticas principalmente entre os simpatizantes das administrações petistas – e isto é compreensível, em certa medida.
Repito: em certa medida.
Isso porque, por um lado, nunca houve tanta ação social por parte de Brasília como nos últimos dez anos, com a exceção da primeira gestão de Getúlio Vargas.
Mas, por outro lado, a velocidade das reformas sociais tem sido frustrante para quem quer ver um Brasil menos iníquo.
Pense nas pessoas removidas para as obras da Copa. Pense antes: no que aconteceu em Pinheirinho, há pouco mais de um ano. Pense nos índios. Pense nos favelados de Mané.
Que diferença fez, para todos estes brasileiros desvalidos, um governo de esquerda?
Alianças com o atraso do atraso – de Sarney a Maluf – travam enormemente o progresso social.
Sem elas não se governa, é a explicação mais frequente que se ouve.
Mas com elas o que se tem é insatisfatório, e uma hora as ruas mostrariam isso.
Daí a contribuição milionária da garotada do Movimento Passe Livre: por não ter vínculos com o PT, eles fizeram o que centrais sindicais e outros grupos sociais não fizeram.
Foram reclamar.
Depois a direita se aproveitou e tentou dar sua cara velhaca e oportunista aos protestos com a lengalenga da corrupção.
É um argumento ridículo quando você sabe que as grandes empresas de mídia sequer pagam os impostos devidos e abusam de marotagens como o expediente das Pessoas Jurídicas.
Mas ainda assim.
O MPL expôs o grande paradoxo nacional: uma administração popular que para obter governabilidade mantém quase que intocados os privilégios de uma casta que sempre usou o Estado como babá.
O que ficou claro, acima de tudo, é que se o ‘Acordão da Governabilidade’ serviu à velha elite política e econômica e ao PT, à sociedade ele acabou se tornando um fator irritante de lentidão em reformas sociais para as quais Lula e Dilma receberam dezenas de milhões de votos.
Uma hora o paradoxo daria no que deu.
Sob o calor das ruas, Dilma se mexeu.
Mas se das movimentações presidenciais não resultar uma nova estrutura política que diminua efetivamente as desigualdades sociais, as ruas brasileiras continuarão tomadas por protestos por muito tempo ainda.
E eles tenderão a ficar cada vez mais intensos.
(Publicado no DCM)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Governo paga caro por não ter democratizado os meios de comunicação
26 de Junho de 2013, 9:39 - sem comentários ainda
O primeiro ato de protesto contra o aumento da tarifa de ônibus, metrô e trem na cidade de São Paulo aconteceu em 6 de junho. Convocado pelo Movimento Passe Livre (MPL), reuniu 5 mil pessoas.
O segundo ato, no dia seguinte, juntou, também, 5 mil. O terceiro, 12 mil. O quarto, em 13 de junho, quando houve violenta repressão policial, 20 mil.
Ao quinto ato compareceram mais de 200 mil. Ao sexto, mais de 50 mil. No sétimo, em 20 de junho, para comemorar a redução da tarifa, 100 mil. No mesmo dia, ocorreram manifestações em mais de 120 cidades brasileiras, com grande variedade de pautas. Dirigidas inicialmente a seus prefeitos e governadores, passaram a ter como alvo principalmente o governo federal.
“O crescimento muito forte do movimento seria impossível sem a ação monopolística dos meios de comunicação”, alerta o sociólogo Emir Sader. “O governo está pagando caro por não ter democratizado os meios de comunicação. É um bumerangue que está voltando para as mãos do próprio governo.”
Emir Sader é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde coordena o Laboratório de Políticas Públicas. É também secretário-executivo do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais. Nesta entrevista ao Viomundo, ele analisa as mobilizações que ocorreram nas duas últimas semanas, a atitude do prefeito Fernando Haddad (PT) e o que a esquerda deve fazer agora.
Viomundo – Por que as manifestações cresceram tanto? Qual a sua avaliação do movimento?
Emir Sader — As mobilizações tiveram potencial de crescimento muito forte, porque pegaram duas fragilidades especiais do governo. A falta de políticas destinadas aos jovens, que dialoguem com eles: cultura, aborto, descriminalização de drogas, internet. E a ausência de iniciativas para democratizar os meios de comunicação.
Os jovens se mobilizaram por uma proposta justa contra o aumento de tarifa de transporte público. Porém, ela acabou catalisando quantidade enorme de outras demandas de diferentes tipos. O movimento passou a ser, então, uma disputa entre a extrema direita e extrema esquerda.
Obtida a primeira vitória, no dia 19, o movimento se esvaziou, porque o objetivo imediato foi alcançado. Porém, a partir da última quinta-feira 20, mudou o caráter das coisas. O potencial totalitário, que estava em segundo plano devido à reivindicação inicial, aflorou.
Tanto que a manifestação da quinta-feira passada não teve caráter de festividade, embora fosse a proposta do Passe Livre. Foi um ato sem objetivo imediato. E, aí, pode exteriorizar-se mais claramente a agressão contra a participação do PT, da CUT, já que o objetivo central tinha desaparecido do horizonte. Também as cenas de vandalismo se multiplicaram, a ponto de a direção do Movimento Passe Livre dizer que por ora não vai convocar outra manifestação.
Viomundo – Por que mudou o caráter?
Emir Sader — Essas mobilizações sem objetivo imediato, ingenuamente ou não, se prestam a ser laranjas dos vândalos, que, por sua vez desatam um processo repressivo como resposta. Dão a impressão de que estão buscando um cadáver, algum heroísmo, para poder multiplicar o movimento. Acho que, aí, já prevalece mais a ideia da provocação.
A própria imprensa, que até a última quinta-feira estava falando euforicamente “de um Brasil que está na ruas”, começou a passar a ideia de que o País estava sem controle. Foi como que apelando à repressão, querendo que o governo se aventurasse a uma repressão maior que o desgastaria, desgastaria a sua autoridade e geraria mais uso da força.
Viomundo – Esgotou-se uma etapa?
Emir Sader – Penso que sim, porque terminou a natureza reivindicatória, que foi vitoriosa e ficou sem objetivos imediatos, se prestando muito a desatar uma onda de violência, que, aqui no Rio de Janeiro, está sendo explorada. É preciso ver o que vem em seguida.
Viomundo – Nas manifestações de quinta-feira, não apenas bandeiras de partidos políticos, mas também do MST e do movimento negro foram queimadas, destruídas. O que acha disso?
Emir Sader — A mídia conseguiu inculcar a ideia da raiva dos partidos políticos, particularmente do PT. A gente pode perguntar: Por que a raiva do PT e não do PMDB e dos tucanos?
Aí, tem um instrumento de classe. É a bronca com os partidos, os governos, a política e o PT, que, claro, é o que encarna mais diretamente isso.
Mas tem outro elemento que os opositores do governo estão tentando tornar dominante: desqualificar a ideia de que o Brasil melhorou e melhorou para melhor.
Até a oposição aceitava isso e começava a discutir, que precisava fazer mais. Eles partiam desse pressuposto. Agora, eles estão com uma ideia de tábula rasa. É contra tudo o que está aí, personificado no PT, e essa ideia de que o Brasil acordou. Esse é o selo da direita, que agora deu mais um passo adiante. Não é a ideia de que precisa fazer mais, fazer melhor. É a desqualificação da política, do governo, do PT e tudo mais. Essa propaganda tem um substrato que desemboca na violência, porque é a representante disso que está aí.
Viomundo –Em que medida a falta de iniciativas do governo para democratizar a mídia e a não regulamentação dos meios de comunicação contribuiu para isso?
Emir Sader – Esse movimento seria impossível sem a ação monopolística dos meios de comunicação. No começo, eles até desqualificavam o movimento, depois perceberam que poderia ser um elemento de desgaste do governo federal e passaram a apoiar desproporcionalmente, a multiplicar sem importância.
Acho que o governo está pagando um preço caro por não ter democratizado os meios de comunicação. É um bumerangue que está voltando para as mãos do próprio governo.
Até agora, aparentemente, iria surfar nas eleições de 2014, e não queria briga nenhuma. Mas a Dilma já começou a perceber que o seu modelo econômico e social está sendo afetado pela desestabilização promovida pela mídia e a sua popularidade também.
Claro que houve, ainda, a intervenção desastrosa o prefeito de São Paulo, que poderia ter cortado isso logo no começo. Ele tem uma responsabilidade grave nessa história toda.
Viomundo – O Fernando Haddad foi titubeante?
Emir Sader — Eu nem diria titubeante. Diria que estava com uma atitude equivocada. Primeiro, ele condenou as ações de vandalismo, fazendo parecer que a violência era isso, não era a violência também da PM. Segundo, ele fechou as portas para a negociação, dizendo que não receberia representantes do movimento enquanto houvesse violência. Disse também que não voltaria atrás no aumento. Ou seja, ele tinha mesma postura do Alckmin: não negociar e denunciar a violência dos manifestantes.
Viomundo — Essa postura do prefeito contribuiu para que o movimento crescesse?
Emir Sader — A violência sempre multiplica os movimentos. Além isso, ele fechou as portas para a negociação, ajudando ainda mais a disseminar o movimento. Ele tem responsabilidade de ter facilitado o alastramento das mobilizações.
Viomundo – O governo Dilma se afastou dos movimentos sociais. Se isso não tivesse ocorrido, a evolução das manifestações não teria sido outra?
Emir Sader – Mais do que o governo Lula?
Viomundo — Acho que sim. Os próprios movimentos sociais queixam-se disso.
Emir Sader — Não dá para ficar culpando só o governo. Ele faz as suas políticas sociais, elas são mais ou menos populares. Agora, os movimentos sociais, que deveriam mobilizar os beneficiários dessas políticas, perderam a capacidade de mobilização.
Na quinta-feira, o MST e a CUT disseram que iriam à manifestação. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, comparecimento deles foi muito pequeno, mostrando flagrante incapacidade de mobilização.
Eu não acho que substancialmente o governo da Dilma se afastou mais do que o governo Lula. Uma coisa é o diálogo. O Lula chamava mais, conversava mais com os movimentos sociais… Você não tem quem realmente defenda os trabalhadores no seio do governo.
Viomundo – Nos últimos dias, muitos leitores postaram comentários preocupados com a possibilidade de um golpe no Brasil. O que acha disso?
Emir Sader — Todos os comentários que eu vejo sobre o assunto são fantasmas da esquerda. Pânico da esquerda. Não se tem notícia vinda das Forças Armadas nesse sentido. Quem sabe o que é golpe conhece isto. Não há clima para golpe.
Tudo bem, não se pode baixar a guarda. Mas também não se deve alimentar o fantasma do golpe. O objetivo da direita é desgastar a Dilma para tentar chegar ao segundo turno em 2014. O passo seguinte são as pesquisas eleitorais para mostrar o desgaste da Dilma. Esse é o caminho. Aí, vale tudo.
Viomundo – Nessa situação, o que a esquerda deve fazer?
Emir Sader – Primeiro, ir para as ruas com suas próprias manifestações para disputar o espaço político.
Segundo, disputar a interpretação, a narração do que está acontecendo hoje no Brasil. Nós sabemos que, quando há um avanço histórico da esquerda, há uma contra-revolução ou uma reação correspondente da direita.
É o que está acontecendo hoje. Mídia e oposição manipulam, usam os jovens como massa de manobra, disseminando a ideia de que o Brasil é uma merda, de que tudo o que é feito aqui é uma merda.
Nós temos que tentar impedir que se consolide essa visão muito retrógrada do País. Nós temos que favorecer a nossa interpretação do que está acontecendo e mostrar o que, de fato, já foi feito.
Terceiro, disputar nacionalmente com oposição a nossa agenda. Isso significa batalhar pela democratização dos meios de comunicação e financiamento público das campanhas eleitorais, entre outras coisas.
Esses são os três desafios que a esquerda tem de enfrentar.
(Por VioMundo)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
“Governo federal terá que tomar decisões drásticas”, afirma Arbex
25 de Junho de 2013, 12:11 - sem comentários ainda José Arbex Jr., jornalista, começou na imprensa clandestina. Fazia um jornal contra a ditadura. Atuou também na imprensa do PT e em sindicatos. Chegou na Folha de S. Paulo em 1984 e saiu em 1992. Hoje está no jornal Brasil de Fato e na revista Caros Amigos, além de ser professor da PUC-SP e autor de vários livros, como Showrnalismo – a notícia como espetáculo. Nesta entrevista exclusiva ao Fazendo Media, ele comenta os últimos episódios que levaram milhões de pessoas às ruas em todo o país. No cerne da questão, acredita, está a revolta contra a super exploração do povo. “Não queremos a vida em catracas”, cita uma das palavras de ordem do Movimento pelo Passe Livre, estopim dos protestos.Qual sua opinião sobre as manifestações promovidas pelo movimento pelo passe livre em SP?
A reivindicação central – não ao aumento dos R$ 0,20 – atendia a um anseio geral da população. Evidentemente, não se tratavam de “apenas” 20 centavos (com muitas aspas no “apenas”), mas sim do recado: estamos todos cansados da super exploração, do descaso das autoridades com a infraestrutura dos serviços públicos, da roubalheira indiscriminada, do cinismo dos patrões e dos políticos. Estava tudo embutido nos R$ 0,20. Eu acho que a palavra de ordem mais esclarecedora é esta: “não queremos a vida com catracas”. Está tudo aí, de forma explosiva e concentrada: todo o programa do Manifesto Comunista.
Qual sua opinião sobre as manifestações que vieram em seguida em todo o país?
Elas são o resultado de uma conjuntura explosiva. Basta comparar com outras situações em que a repressão policial era suficiente para amedrontar, impedir o desenvolvimento das manifestações. Agora aconteceu o contrário: a repressão policial não intimidou, mas aumentou a disposição de ir às ruas. Trata-se de uma situação conjuntural qualitativamente distinta, em que “os de cima já não conseguem mais controlar como antes, e os de baixo já não mais obedecem”, para usar uma expressão tomada de empréstimo de Vladimir Lênin.
Alguns analistas enxergam uma escalada de movimentos fascistas, não só nas redes sociais como nas ruas. Você concorda?
Parcialmente. Há uma óbvia polarização da sociedade. Os dois extremos se manifestam. Eu não ficaria nada surpreso se alguém descobrisse que há setores da polícia e do PCC envolvidos na organização dos skinheads e outros grupos extremados da direita.
Analistas dizem que o movimento de massas foi capturado pela direita. Concorda?
Em hipótese alguma. Isso é uma loucura total. Se a direita tivesse força para mobilizar 2 milhões de brasileiros e fazer tudo o que estão fazendo, ela já teria tomado o poder de assalto há muito tempo. Não. Isso está errado. Se alguém canta o hino nacional na rua e se envolve com a bandeira do Brasil, isso não significa, em hipótese alguma, que esse alguém seja, só por isso, de direita. Na hora de defender a própria dignidade, as pessoas se agarram a tudo o que esteja à mão, até mesmo ao crucifixo, se for o caso. Não vamos esquecer que os mesmos camponeses que apoiaram Lênin, em outubro de 1917, marchavam, alguns meses antes, em procissões convocadas pela Igreja Ortodoxa russa que pediam que Deus iluminasse o czar. Seriam camponeses de direita? Isso é um completo absurdo. As pessoas só se apegam a símbolos patrióticos como decorrência do fracasso da própria esquerda, que foi até agora incapaz de oferecer uma alternativa clara.
Como analisa a cobertura dos meios de comunicação de massa sobre os episódios?
Tenho a impressão de que vão tentar de tudo para preparar a campanha presidencial de 2014. Acho que há uma clara orquestração com o objetivo de desgastar o governo Dilma. Já começaram a fazer isso. Mas é um jogo perigoso, pois ninguém controla as manifestações. Ninguém.
Qual sua avaliação sobre as respostas dos governos estaduais?
Sofreram uma clara derrota. Mas o processo está no começo do começo.
Como avalia as últimas posições do governo federal a respeito (incluindo o pronunciamento da presidenta à nação)?
Creio que o governo federal está colocado diante de uma encruzilhada histórica: ou ele reafirma os laços com a direita, com o capital financeiro, com os empresários, com as classes dominantes, e para tanto terá que partir para a repressão, ou bem vai para a esquerda, abrindo um período de mobilizações ainda mais intensas. No primeiro caso, a opção à direita implicará o risco de estilhaçar a base social do PT e da CUT, particularmente os seus setores mais identificados com a própria origem do PT.
Você acredita em risco de ruptura institucional?
Sim, pois os dados estão lançados num contexto em que ninguém controla mais nada. Note que o governo enfrenta agora a alta do preço do petróleo, em parte devido à valorização do dólar sobre o real. Essa alta será repassada aos preços dos bens de consumo? E se não forem repassados, qual será a alternativa? As pressões internacionais tenderão a aumentar, pois o Brasil é um dos pilares dos Brics, que, por sua vez, são hoje fundamentais ao funcionamento da economia mundial. A situação é muito complexa. O governo federal terá que tomar decisões drásticas, e isso traz o risco da ruptura.
Você acha que as manifestações podem servir a algum agrupamento político para as próximas eleições presidenciais, em 2014? Qual?
Novamente, vai depender muito das respostas do governo federal. Ou bem vai capitular de uma vez diante da direita e intensifica a repressão – hipótese que não acho a mais provável – ou vai para a esquerda. Vamos ver.
É possível falar em “saldo organizativo” do movimento? O que você acha que vai acontecer daqui pra frente? Que cenários podem ser delineados?
Acho que a juventude, os trabalhadores e todos os que já puderam sentir as ameaças físicas representadas por uma direita fascistoide deveriam organizar comitês de bairro, de fábrica, em todos os locais, para organizar as próprias forças, desenvolver os debates e criar alternativas independentes e autônomas. Não quero, com isso, fazer coro com os que repudiam os partidos ou coisa parecida, mas me parece claro que está na hora de surgirem os conselhos populares. Os partidos, por si só, mesmo os mais combativos, não oferecem respostas orgânicas.
(Publicado em Fazendo Media)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Ditadura criou cadeias para índios com trabalhos forçados e torturas
24 de Junho de 2013, 9:49 - sem comentários ainda
Acusações de vadiagem, consumo de álcool e pederastia jogaram índios em prisões durante o regime militar; para pesquisadores, sociedade deve reconhecê-los como presos políticos
(Por Agência Pública)
Durante os anos de chumbo, após o golpe de 1964, a Fundação Nacional do Índio (Funai) manteve silenciosamente em Minas Gerais dois centros para a detenção de índios considerados “infratores”. Para lá foram levados mais de cem indivíduos de dezenas de etnias, oriundos de ao menos 11 estados das cinco regiões do país. O Reformatório Krenak, em Resplendor (MG), e a Fazenda Guarani, em Carmésia (MG), eram geridos e vigiados por policiais militares. Sobre eles recaem diversas denúncias de violações de direitos humanos.
Os “campos de concentração” étnicos em Minas Gerais representaram uma radicalização de práticas repressivas que já existiam na época do antigo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) – órgão federal, criado em 1910, substituído pela Funai em 1967. Em diversas aldeias, os servidores do SPI, muitos deles de origem militar, implantaram castigos cruéis e cadeias desumanas para prender índios.
Os anos desde o fim da ditadura pouco contribuíram para tirar da obscuridade a existência dos presídios indígenas. Um silêncio que incomoda novas lideranças como Douglas Krenak, 30 anos, ex-coordenador do Conselho dos Povos Indígenas de Minas Gerais (Copimg). “Em 2009, recebi um convite para participar das comemorações, em Belo Horizonte (MG), dos 30 anos da Anistia no Brasil. Havia toda uma discussão sobre a indenização dos que sofreram com a ditadura, mas a questão indígena não foi nem sequer lembrada”, reclama.
Douglas é mais um entre os que têm histórias familiares de violência física e cultural sofridas nesse período. “Meu avô foi preso no reformatório Krenak”, conta. “Chegou a ser arrastado com o cavalo de um militar, amarrado pelos pés”.
Para a pedagoga Geralda Soares, ex-integrante do Conselho Indigenista Missionário em Minas Gerais (Cimi/MG), é fundamental reparar a dívida com os indígenas vítimas de violências no período – que, acredita ela, não difere daquela reconhecida como direito de outros grupos que sofreram nos porões da ditadura. “Muitos desses índios, na minha concepção, são presos políticos. Na verdade, eles estavam em uma luta justa, lutando pela terra”, defende. Não existe, no Brasil, nenhum indivíduo ou comunidade indígena indenizado pelos crimes cometidos pelo Estado nessas áreas de confinamento.
“Se cabe para os outros, porque não cabe para os índios?”, questiona Maria Hilda Baqueiro Paraíso, professora associada da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Ela lembra que há relatos de pessoas desaparecidas após ingressarem em tais locais, cujos familiares vivem até hoje sem qualquer tipo de resposta do Estado ou política de reparação.
A Comissão Nacional da Verdade (CNV), instalada pelo governo federal em maio de 2012, definiu os crimes contra camponeses e indígenas como um dos seus 13 eixos de trabalho. O balanço de um ano de atividades da CNV, divulgado recentemente, informa que a existência de prisões destinadas a índios é um dos seus objetos de pesquisa. A Agência Pública entrou em contato para saber mais detalhes sobre as apurações que estão sendo realizadas, mas a Comissão não se pronunciou.
Espancamentos e trabalhos forçados no “centro de reeducação” Krenak
Em 1965, o combalido Serviço de Proteção aos Índios (SPI), afundado em denúncias de inoperância e corrupção, começou a negociar um convênio com o governo de Minas Gerais, através do qual o Executivo estadual assumiria a incumbência de garantir a ordem e a assistência às aldeias locais. O acordo foi ratificado posteriormente pela Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1967. Assim nasceu Reformatório Agrícola Indígena Krenak, um “centro de recuperação” de índios mantido pela ditadura militar no município de Resplendor (MG).
Sem alarde, o reformatório – por vezes também chamado de Centro de Reeducação Indígena Krenak – começou a funcionar em 1969 em uma área rural dentro do Posto Indígena Guido Marlière. As atividades locais eram comandadas por oficiais da Polícia Militar mineira, que, após o estabelecimento do convênio, assumiram postos-chave na administração local da Funai.
Nos anos seguintes, foram enviados para lá mais de cem índios, pertencentes a dezenas de comunidades. Um mosaico de etnias que incluía desde habitantes do extremo norte do país, como os índios ashaninka e urubu-kaapor, a povos típicos do sul e do sudeste, como os guaranis e os kaingangs.
Até hoje, muito pouco se divulgou sobre o que de fato acontecia no local. “O reformatório não teve sua criação publicada em jornais ou veiculada em uma portaria”, escreve o pesquisador José Gabriel Silveira Corrêa, autor de um dos poucos estudos sobre a instituição. “Seu funcionamento e a própria ‘recuperação’ lá executada passavam pela manutenção do sigilo”.
Em 1972, o então senador pela Aliança Renovadora Nacional (Arena) – partido de sustentação da ditadura – Osires Teixeira, se pronunciou sobre o tema na tribuna do Senado, em uma poucas manifestações conhecidas de agentes do Estado sobre o reformatório. Afirmou que os índios levados ao Krenak retornavam às suas comunidades com uma nova profissão, mais conhecimentos e saúde e em melhores condições de contribuir com o seu cacique. “O Brasil tem sido vítima de ignóbeis explorações de sua política indigenista por órgão da imprensa no exterior, quando, na verdade, todos sabemos que o Brasil foi o único país do continente que, para a conquista de sua civilização, jamais dizimou tribos indígenas”, afirmou Teixeira.
Relatos atuais de ex-presos e familiares, no entanto, revelam uma realidade muito diferente daquela descrita pelo senador da Arena.
Trabalho escravo
A sede do reformatório possuía duas edificações. Numa delas ficava a administração, o almoxarifado e o alojamento dos guardas. Já a outra era o reformatório propriamente dito. Dispunha de cozinha e refeitório, além de duas celas individuais, dois confinamentos coletivos e dois cubículos para detenção – estes últimos destinados a encarcerar quem cometesse faltas graves no dia a dia correcional.
Pela manhã, após o desjejum, os “confinados” – jargão utilizado para designar os índios – eram levados para trabalhos rurais, que prosseguiam também depois do almoço. No fim do dia, numa rotina tipicamente prisional, eram postos para dormir após o banho e o jantar coletivo.
“Íamos até um brejo, com água até o joelho, plantar arroz”, revela Diógenes Ferreira dos Santos, índio pataxó levado ao Krenak em 1969. “Botavam a gente para arrancar mato, no meio das cobras, e os guardas ficavam em roda vigiando, todos armados”, complementa João Batista de Oliveira, conhecido como João Bugre, da etnia krenak. A região onde foi instalado o reformatório era habitada pelos índios krenaks, e muitos de seus representantes também foram presos.
A reportagem da Agência Pública teve acesso a diversos documentos produzidos pelos policiais que comandavam as atividades do reformatório – ofícios, telegramas e fichas individuais que acompanhavam, mês a mês, o comportamento dos presos. Uma dessas fichas, de um índio da etnia karajá, descrito como lerdo e preguiçoso, deixa claro a obrigatoriedade dos trabalhos braçais. “É um elemento fraco, parecendo até mesmo ser um retardado. Se pudesse, não faria nenhum serviço.”
Outras formas de tratamento degradante, como, por exemplo, escassez no fornecimento de comida, calçados e vestimentas, também estão explicitadas nesses ofícios. “À tarde eles chegam do serviço, tomam banho e vestem a mesma roupa molhada de suor”, escreve o cabo da PM Antônio Vicente, então chefe do Posto Indígena Guido Marlière, em telegrama de 1971, pedindo providências a seus superiores.
Em 1972, outro comunicado informa que se esgotaram todos os alimentos locais. “Os índios confinados estão se alimentando de pura mandioca e inhame. Considerando-se a precariedade da alimentação, serão suspensos os trabalhos braçais.”
Crime e castigo
Homicídios, roubos e o consumo de álcool nas áreas tribais – na época fortemente repreendido pela Funai – são alguns dos motivos alegados para a transferência de índios ao Krenak. Além disso, os documentos do órgão também citam brigas internas, uso de drogas, prostituição, conflitos com os chefes de posto, indivíduos penalizados pelo “vício de pederastia” e atos descritos, não raro de forma bastante vaga, como vadiagem.
Segundo os registros oficiais, alguns índios permaneceram por mais de três anos e havia indivíduos sobre os quais desconhecia-se até o suposto delito. “Não sabemos a causa real que motivou o seu encaminhamento, uma vez que não recebemos o relatório de origem”, escreve o cabo Vicente, ao escritório central da Ajudância Minas-Bahia da Funai, a respeito de um xavante, considerado de bom comportamento, que lá estava há mais de cinco meses.
“Uma das histórias contadas é a de dois índios urubu-kaápor que, no Krenak, apanharam muito para que confessassem o crime que os levou até lá”, explica Geralda Chaves Soares, que trabalhou do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) em Minas Gerais, e atua como pesquisadora da história indígena no estado. “O problema é que eles nem sequer falavam português”.
Surras com chicotes e o confinamento em solitária eram outros castigos aplicados, segundo os relatos colhidos pela pesquisadora.
Se comunicar em língua indígena, diz o ex-preso João Bugre, era terminantemente proibido. “Você era repreendido, pois os guardas achavam que a gente estava falando deles”, lembra. Situação ainda mais difícil para aqueles que não sabiam português. “Tinha que aprender na marra. Ou falava, ou apanhava”.
Bugre foi preso em 1970. O registro sobre o caso, descrito nos documentos da Funai, afirma que ele transportou cachaça para dentro da aldeia e se embriagou com outros índios. “João Bugre está insuportável pelas desobediências que vem cometendo. Já faz juz a um confinamento e está detido em alojamento separado”, relata o documento.
“Muitos, como eu, não tinham feito nada. Tomei uma pinga. Será que uma pinga pode deixar alguém preso quase um ano?”, questiona ele. Bugre afirma ter ficado preso no reformatório por cerca de nove meses.
Além do consumo de bebida, também sair da área do posto indígena era considera uma falta grave. “Meu avô chegou a ser arrastado com o cavalo de um militar, amarrado pelos pés, porque tinha saído da aldeia”, revela Douglas Krenak. “Eu, uma vez, fiquei 17 dias preso porque atravessei o rio sem ordem, e fui jogar uma sinuquinha na cidade”, rememora José Alfredo de Oliveira, também índio Krenak.
São exemplos do comportamento comumente classificado como “vadiagem” pelos representantes do órgão indigenista na época. Até mesmo atividades tradicionais de caça e pesca fora dos postos indígenas – não raro pequenos e impróprios para prover a alimentação básica – podiam, segundo relatos, levar índios a temporadas correcionais.
Via de regra, os presos lá chegavam a pedido dos administradores regionais das áreas indígenas. Mas, em alguns casos, por ordem direta de altos escalões em Brasília. É o caso de um índio canela encaminhado à instituição em julho de 1969. “Além do tradicional comportamento inquieto da etnia – andarilhos contumazes –, o referido é dado ao vício da embriaguez, quando se torna agressivo e por vezes perigoso. Como representa um péssimo exemplo para a sua comunidade, achamos por bem confiá-lo a um período de recuperação na Colônia de Krenak”, atesta ofício emitido pelo diretor do Departamento de Assistência da Funai, Lourival Lucena.
Conflitos de terra
O depoimento do pataxó Diógenes Ferreira dos Santos sugere um outro motivo para a prisão de indígenas no reformatório Krenak.
Em meados da década de 1960, ele era apenas uma criança no dia em que, conforme conta, viu dois policiais chegando à Reserva Indígena Caramuru – um vasto território de Mata Atlântica, no sul da Bahia, tradicionalmente ocupado pelos pataxós. Vieram acionados por um fazendeiro, que reclamava ser o dono daquele local. “Tinha uma árvore ali em frente (onde Diógenes vivia com seus pais), e eles cravejaram de bala. Depois mandaram tirar tudo o que tinha dentro da nossa casa, e meteram fogo nela”, diz.
Sua família migrou então para uma área próxima, onde viveram “de favor” por cinco anos, instalando benfeitorias para um fazendeiro. Até o dia em que o pretenso proprietário vendeu o local, deixando-os novamente desalojados.
“Já que não tínhamos apoio de ninguém, decidimos voltar ao Caramuru”, conta Diógenes. Expulsaram o novo ocupante local, mas 15 dias depois novamente apareceram policiais, dessa vez incumbidos de levar, Diógenes e seu pai, até a cidade mais próxima. “Disseram que o Capitão Pinheiro (Manoel dos Santos Pinheiro, chefe da Ajudância Minas Bahia da Funai) estava nos esperando”, lembra. “Ficamos então seis dias presos na delegacia de Pau Brasil (BA), até que veio a ordem de nos levarem para o Krenak”.
Nessa época, Diógenes era adolescente. Por ironia do destino, ainda viveu para ver a Funai lhe dar razão em seu pleito. Em 1982, o órgão entrou com uma ação pedindo a declaração de nulidade de todas as propriedades de não índios instaladas dentro da Reserva Indígena Caramuru. Após anos de disputa judicial, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em maio de 2012, a favor dos índios.
Mesmo assim, Diógenes ainda sofre com esse passado. “Eu não gosto nem de falar, porque me dá ódio. É difícil estar preso por um erro. Trabalhando para sobreviver, ir pra cadeia?”, questiona.
Desaparecidos
Algumas mulheres krenaks, que chegaram a ser recrutadas pelos policiais da Funai para trabalhar no reformatório, também são tertemunhas das violências desse período. “Quem fugia da cadeia sofria na mão deles”, afirma Maria Sônia Krenak, que foi cozinheira no local.
Além dos espancamentos, há relatos sobre perseguições acompanhadas de tiros, e de presos que nunca mais foram vistos. “Saiu um bocado ali que não voltou mais”, revela.
Um dos desaparecidos é Dedé Baenã, ex-habitante de terras no sul da Bahia, cujo sumiço é confirmado pelo depoimento de índios e não-índios. Ofícios da Funai afirmam que, em agosto de 1969, ele foi levado ao Krenak a pedido de um funcionário do órgão. O documento o qualifica como um “índio problema”, violento quando embriagado e dono de vasto histórico de agressões a “civilizados”.
Maria Hilda Baqueiro Paraíso, professora associada da Universidade Federal da Bahia (UFBA), realiza pesquisas há décadas junto a comunidades indígenas da região. E revela uma versão diferente para a prisão de Dedé Baenã. “Foi numa ocasião em que o Capitão Pinheiro esteve na Bahia anunciando a suspensão da assistência aos índios locais. Dedé se revoltou e fez um discurso contra a administração do órgão. Saiu de lá já preso”, conta.
Após ingressar no reformatório, ele nunca mais foi visto. “Diz-se que ele teria sido executado por um militar que fazia a segurança dos índios presos na área Krenak”, comenta um indígena que vive na região onde Dedé nasceu.
*André Campos, 31 anos, é autor de reportagens e documentários investigativos e pesquisa há cinco anos as cadeias indígenas da ditadura. Esta reportagem foi realizada através do Concurso de Microbolsas de Reportagem da Pública.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
500 anos sem passe livre pela democracia - Brasil!
20 de Junho de 2013, 18:45 - sem comentários aindaNítido também é que em alguns países do mundo, a população sabe dialogar melhor com os grupos de poder, através de manifestações na rua, organizando grupos minoritários que minimizam as diferenças, etc. Há ainda outros países em que a população compreende que o seu bem-estar significa também e necessariamente o de todos os outros.
Nós, que cá estamos, fomos secularmente educados através de sistemas repressivos e mortíferos. Estima-se que nos primeiros trezentos anos de Brasil foram dizimados cerca de quatro milhões de índios. Escravos trazidos pela força da África, não porque fossem melhores que os índios, mas por serem mais domesticáveis em terras desconhecidas, também eram humilhados, mortos, estuprados, surrados e impedidos de serem humanos, de exercerem sua cultura.
Há também relatos de escravos que, refugiados em quilombos, vez ou outra também estupravam índias, espancavam. Índios e negros tinham suas almas sumariamente pisoteadas até que demonstrassem engolir a religião católica. Era a utopia ibérica na latino-américa, tentando construir um paraíso religioso cá entre nós.
Nos séculos XIX e XX, continuamos a colecionar histórias absurdas de extrativismo comercial, enriquecimento ilícito, repressão, genocídio, desigualdade social, deseducação, despolitização e domínio. Pouco importa se a elite financeira tupiniquim tinha uma fazenda cafeeira, uma indústria de tecido, um jornal ou uma plantação de soja, pois sempre trabalhou pelos mesmos interesses e quase sempre desprovida de escrúpulos.
Alternando períodos de democracia e de ditadura, com algumas diferenças questionáveis, o Brasil foi tentando crescer, em todos os sentidos. Grupos de poder nacionais e internacionais dedicaram anos de investimento em sabotagem inteligente e violenta para dinamitar esse crescimento. Conseguiram muitas coisas.
Em 1964 iniciou-se a Ditadura Militar, que só teve seu fim em 1985. Tortura, morte, estupro, humilhação, repressão e manipulação midiática foram os elementos usados para fazer este estranho e infeliz bolo. Nós, brasileiros? Ainda estamos tentando engolir essa porcaria.
Neste novo período democrático, o Brasil foi às ruas em massa para tirar Collor do poder. Depois disso, não me lembro da população escondendo o asfalto sob seus pés, com as mãos para o alto e gritando palavras de ordem, em massa, por todo o país. Ao mesmo tempo, fomos pisoteados, cansados, enganados, esgotados e principalmente, despolitizados pela MÍDIA e outros GRUPOS DO PODER. Tudo o que nos ensinaram, diariamente, foi a odiar a política (coisa de ladrão) e detestar esse gênero de desgraçados e ladrões (os políticos), porque nenhum deles presta. Aliás, fomos catequizados tanto a não pensar em política, que ela (alvo de nossa inteligência emocional) não deve ser discutida, bem como a religião e o futebol.
Tantas frustrações durante longos anos teriam que, mais cedo ou mais tarde, sofrer um processo de catarse. Anos atrás, o Movimento Passe Livre começou, em várias cidades do país. Nas últimas semanas, foi surgindo em Porto Alegre, São Paulo e se espalhou pelo país, ganhando adesão de muitas pessoas mundo afora. Mas tanta repressão e tanta educação despolitizada, sem nenhuma civilidade, jamais vai acabar bem. O que podemos fazer? Lamentar os ocorridos, reconstruir o que pudermos, abrir canais de diálogo entre políticos, poderes e povo, incentivar a redemocratização das mídias (esse oligopólio que serviu e estimulou ditaduras), reformular um projeto de política para o país e muito mais. Não sei, quero construir isto junto com você. Que tal?
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..