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Sobre o que dizem as ruas - Passe Livre
16 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaSobre o que dizem as ruas - Passe Livre |
O papel da internet e das redes sociais é central e, em geral, os políticos e formadores de opinião não o tem compreendido minimamente. Buscar algum grau de compreensão do atual fenômeno, a partir do ponto de vista de uma esquerda que se coloca diante do dificílimo desafio de governar transformando, é o objetivo desse breve artigo.
O que se pode dizer preliminarmente é que estamos diante de uma expressão política do novo Brasil. A revolução democrática, levada a termo pelos governos Lula, redefiniu a estrutura de classes da sociedade brasileira, incluiu milhões de brasileiros à sociedade de consumo e possibilitou a emergência de novas expressões culturais e políticas. Mas o inédito processo de inclusão social e econômica ainda é imperfeito, inconcluso e contraditório. As dinâmicas políticas decorrentes do processo massivo de inclusão social em curso ainda são imprevisíveis, mas algumas pistas são visíveis e exigem da esquerda brasileira uma reflexão mais adensada.
As conquistas sociais dos últimos anos vieram acompanhadas da despolitização da política, de uma onda conservadora que constrange o Congresso Nacional e paralisa os partidos de esquerda, distanciando, ainda mais, a juventude da política tradicional. Lembremos que, recentemente, tivemos manifestações espontâneas, em todo o país, contra a indicação de Marcos Feliciano à Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional. Na oportunidade, nenhum manifestante propunha o fechamento do Congresso ou a criminalização dos políticos. E o que fez nosso Parlamento enquanto Instituição? Nada. Esperou solenemente o movimento se dispersar. Frente à onda conservadora que estimula a homofobia, o racismo e a violência sexista, o que têm feito os partidos políticos? Os ruralistas de sempre se organizam no Congresso Nacional para anular os direitos dos indígenas e o que dizem nossos parlamentares progressistas?
Os dez anos de governo de esquerda no país nos deixam um legado de grandes conquistas, entretanto, há incerteza e imprecisão quanto aos próximos passos. Demandas históricas não atendidas carecem de respostas mais amplas. Além disso, novas questões sempre se impõem num cenário de conquistas sociais e políticas. Pois, se é verdade que os governos do PT incluíram milhões e possibilitaram acesso a inúmeros serviços antes inacessíveis, também é verdade que temos, em diversas áreas, serviços de baixa qualidade e, fundamentalmente, caros.
O transporte nas grandes cidades é um drama cotidiano para milhões de brasileiros. Temos pleno emprego em diversas regiões metropolitanas do país e, no entanto, ainda temos um oceano de precariedade e informalidade. E aqueles que ingressaram na sociedade de consumo nos últimos anos, legitimamente, querem mais: anseiam por cultura, lazer, mais e melhores serviços, educação de qualidade, saúde, segurança e transportes. São os efeitos colaterais de toda experiência exitosa de redução das desigualdades sociais e econômicas.
Evidentemente, há ainda o afastamento e o desencantamento com a política e os políticos. A denominada "crise da representação" não é um conceito acadêmico abstrato. O déficit de democracia e de legitimidade das Instituições políticas colocam em xeque a capacidade dos atuais representantes em absorver e compreender as novas dinâmicas sociais e políticas que se expressam nas ruas do país. Nossa jovem democracia corre o risco de caducar precocemente, caso não tenhamos êxito em ressignificá-la e reaproximá-la dos setores sociais mais dinâmicos.
Essas seriam algumas das questões mais gerais que aproximam os movimentos do Sul, sudeste e nordeste. Mas há ainda temas locais que incidem sobre dinâmicas especificas e mobilizam pessoas a partir de questões mais sensíveis a partir de sua vivência concreta nos territórios.
O Rio de Janeiro, por exemplo, se tornou uma das cidades mais caras do mundo. Há uma reorganização em grande escala do espaço urbano e há setores sociais que se sentem completamente alheios (e marginalizados) ao processo de "modernização" da cidade. Em São Paulo, temos uma polícia orientada para o uso desmedido e desproporcional da força e da violência – e isso não diz respeito somente aos dias de protestos. Também há ali um tipo de violência estrutural contra homossexuais e mulheres sem que o Poder Público organize qualquer resposta mais contundente. Poderíamos estender a lista.
Por fim, cumpre registrar que seria recomendável aos dirigentes políticos do campo progressista afastar o risco de reproduzir aqui os erros da esquerda espanhola que, inicialmente, criminalizou o 15-M e terminou falando sozinha nas últimas eleições. Também seria recomendável não outorgar, de forma alguma, às elites brasileiras uma capacidade de mobilização que ela não possui e jamais possuirá. Refutar a ideia de que os jovens estão nas ruas em função da mídia ou de qualquer tipo de conspiração das "elites" é o primeiro passo para não cair em um erro elementar que seria bloquear qualquer possibilidade de dialogo com esses novos movimentos.
Melhor acreditar que é possível extrair do atual momento elementos para a renovação da agenda da esquerda brasileira e reforçar os laços que unem os governos progressistas da América Latina a todas as lutas contra as diversas formas de privatização da vida. É hora de reforçarmos nossa capacidade de dialogo, de escuta, e ouvir a voz nada rouca das ruas – a mesma que nossos adversários sempre buscaram silenciar. Estamos diante de uma oportunidade singular para renovarmos nossos discursos e nossas práticas, projetando o próximo passo da Revolução Democrática no Brasil com base na força sempre renovadora das mobilizações da juventude.
Por Vinicius Wu, Secretário-geral do governo do Estado do Rio Grande do Sul
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Equipe da ESPN relata tensão vivida durante manifestação
15 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários ainda(Por ESPN)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
A Revolta do Vinagre - Movimento Passe Livre
15 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários ainda
Texto original publicado no Youtube
Esse é um PLOC especial em decorrência das manifestações que ocorreram no Brasil, A Revolta do Vinagre.
LINKS PARA ESSE PLOC:
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ORIENTAÇÕES JURÍDICAS PARA QUEM FOR NA MANIFESTAÇÃO:
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PETIÇÃO:
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ACONTECEU:
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VíDEOS:
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FORA DO PAÍS:
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ARTE PARA AS RUAS:
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Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Sistema de transporte é mais violento do que polícia militar
13 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaLigo o rádio e ouço que o trânsito está um caos. Desconfio imediatamente. O trânsito me parece muito organizado. Vejo fluxos turbulentos de ônibus, carros, motos, trens, indo e vindo do subúrbio ao centro e então do centro ao subúrbio. Todos os dias, ininterruptamente. São milhões de veículos abarrotados de uma gente resignada, olhares perdidos, no tempo morto do transporte diário. Vamos sentadinhos ou de pé, em qualquer caso comprimidos na massa de semelhantes de cara fechada. Acordamos cedo para enfrentar essa via-crúcis e no final do dia só queremos que acabe logo para chegar em casa, tomar banho e no dia seguinte subir a pedra de novo. São milhões e milhões de horas humanas gastas, jamais remuneradas. Pelo contrário, taxadas a preços que não param de aumentar.
Todos os dias nos acotovelamos, nos estranhamos, nos empurramos, passamos à frente, ou somos sobrepujados pelos mais espertos ou fortes. Brigamos por lugares apertadíssimos, repelindo a carne alheia. De carro, buzinamos, fechamos, brigamos com o motorista vizinho, xingamos o motociclista. A culpa é sempre do outro mal educado. Ou então é nossa, por ainda não podermos comprar o conforto do carro particular, por não morarmos ou trabalharmos no lugar correto. No mais das vezes, nos refugiamos nas mentes, lamentando a condição miserável de passageiro. Que passe logo.
Enquanto isso, uma dinheirama à noite estará depositada nos caixas dos ônibus, ficará nas bilheterias do metrô, do trem, das barcas, ou então estará trocada nos postos de gasolina, por ainda mais crédito medido em quilômetros para rodar no purgatório de asfalto. Esse dinheiro irrigará empresários, dirigentes, burocratas, campanhas eleitorais. Será reaplicado para tirar ainda mais valor dos fluxos. Não. Sejamos realistas. O trânsito está bem organizado. Nós somos a maior prova disso. Como poderíamos aguentar ainda outro dia, amanhã mesmo, se não tivesse sido pensado de cabo a rabo para funcionar assim? Só pode ser por que é para funcionar assim.
A grande imprensa faz crer que bastaria ajustar a eficiência do sistema, melhorar a gestão, reduzir a corrupção etc. Detalhes de minúscula importância. Vejo a TV chamando o trânsito de caótico, mas nenhuma palavra sobre o completo alijamento das pessoas na decisão sobre as linhas, as empresas, as obras e os equipamentos. A ausência de caráter democrático nas macro ou micro decisões no plano dos transportes é absoluta. Tampouco alguma reportagem, notícia ou artigo a respeito da confusão de prefeitura e empresa de ônibus, unha e carne num projeto político que vai das eleições à governabilidade. Nenhum jornalista dá nome aos bois. Aí quando um ônibus cai do viaduto, a culpa foi de um passageiro agressivo. Quando a mulher é estuprada numa vã ou num ônibus, a culpa é de alguns marginais. Escondem o fato que, por trás dessas exceções, subsiste uma regra menos confessável. Atrás do que o sensacionalismo diverte, há razões estruturais. O capitalismo é um sistema de dominação indireta.
Como se a tensão entre passageiros e motoristas/cobradores não fosse causada pelo ódio que todos têm dos ônibus. O que, por sua vez, exprime vicariamente o ódio que se tem pelo sistema de transportes como um todo. Isto é, pela simbiose entre prefeitura e empresa, numa gestão que parece operar mediante algum inacessível plano divino. Como se não fôssemos desgastados e estressados diariamente, até a exaustão mental (não fossem os tarjas pretas!). Como se as mulheres não tivessem de encarar, até a neurose, um abuso sexual sistemático, quase naturalizado pela indiferença com que esse abuso é observado pelos outros ao redor. Porque muitos homens se esfregam nelas nos veículos lotados, passam-lhes o pau, e alguns fazem isso como um ritual diário. Várias são estupradas nos pontos mais isolados, de dia ou de noite.
Antigamente, os escravos eram gastos no engenho e tinham de ser trocados a cada 7 ou 8 anos. Revoltavam-se demasiado. Fugiam. Culpavam o senhor. Hoje, a carne é moída pelo menos duas vezes ao dia, de manhã cedo e à tardinha. Mas os músculos e nervos a gente dá sobrevida com os modernos tratamentos da medicina do trabalho. Principalmente a televisão, a nossa maior terapeuta. A culpa geralmente é atribuída a nós mesmos, muitas vezes autoatribuída: se estamos sofrendo é porque fracassamos. Por não nos esforçarmos o suficiente para sair dessa vida de merda, como fulana ou beltrano…
Em vez de admitir como seria muito mais fácil, muito mais prático, lutar coletivamente por um transporte para todos, achamos que o problema é individual, que no fundo teríamos uma parcela da culpa, e nos resignamos. Imagine contudo o efeito político, se as energias que despendemos para, num esforço individual inglório, sair dessa condição e “subir na vida” fossem aplicadas coletivamente na luta dos transportes? Como teríamos um transporte muito melhor e para todos, do que tentar subir sozinho somente mais um degrau na escala de degradação generalizada da vida na metrópole?
Os movimentos e lutas do passe livre são a melhor saída. Talvez a única. Arregaçam à força um rombo no beco sem saída, aonde nos coloca a falsa oposição entre “público” e “privado”. Rejeitam em bloco as narrativas da grande imprensa, seus opinólogos e especialistas, de que faltaria gestão ou eficiência (e que o povo é mal educado). O problema do transporte afinal não é ele ser público nem privado, como estas também não são suas soluções. Nem ser mal gerido. O problema é e sempre foi falta de democracia.
E democracia, inexoravelmente, significa tumulto. O tumulto é o pulmão das democracias. É nele que atua o poder constituinte, o que faz a constituição e a lei não serem apenas folhas de papel para a exegese das faculdades de direito. Não devemos confiar a constituição a capas-pretas, cortes supremas ou ao francamente conservador discurso do “ativismo judicial”. O tumulto é o momento em que nós a fazemos nossa, e de onde dimanam todos os direitos e todas as instâncias democráticas. O tumulto é um ato de dignidade, o que só acontece ao irresignar-se diante do intolerável. A dignidade não é humana: é o oposto da humilhação. Uma das maiores e mais disseminadas violências hoje está no sistema de transportes.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Que saudades do PT quando ele era “aquela” quadrilha - Lincoln Secco
13 de Junho de 2013, 21:00 - sem comentários aindaDurante toda a nossa história (desde o Império) tivemos motins “espontâneos” por causa de aumentos de preços e, mesmo assim, até hoje nossa sociedade não aprendeu a conviver com protestos. As cenas da violência policial de ontem comprovam isso. A fotografia de um policial espancando uma menina repugna. O lançamento de uma bomba contra um idoso em seu carro (prontamente ajudado pelos manifestantes) é digno de um fascista.
Nas Manifestações do Movimento do Passe Livre várias pessoas foram detidas “por formação de quadrilha”. A Ditadura Militar não precisava de tais expedientes “legais”, mas a “democracia” precisa. Pessoas que se reúnem para lutar por objetivos políticos têm toda a liberdade de fazê-lo, desde que o façam na calçada, com um cordão de isolamento de policiais e sem ofendê-los, é claro, pois como declarou um deles recentemente, “tive que me segurar para não atirar”.
Depois dos elogios do prefeito à Polícia, seguidos de um recuo; depois do Ministro da Injustiça prometer auxílio e “monitoramento” da Polícia Federal à ameaça terrível que um movimento social representa à ordem; depois que o PT criticou os “vândalos”, há algo que se rompeu definitivamente entre tais “petistas” e a história do PT.
O partido já foi chamado de quadrilha por embalar protestos desde os anos 1980. É verdade que agora é chamado assim por outros motivos. Recentemente, Lula declarou que existem dois PT. Eles deveriam prestar atenção nisto e interpretar a ideia enigmática do líder da melhor forma possível.
O leitor decerto se lembra de que o PT foi o defensor desta mesma pauta (tarifa zero) no governo Luiza Erundina. Mas isto faz tempo, é verdade. No entanto, na última mobilização importante do MPL durante a gestão Kassab estavam entre os manifestantes dois conhecidos vereadores do PT com apoio do Diretório Municipal do partido.
Não é incoerência. A Direção do PT aprendeu a fazer aquilo que criticava: movimentos sociais só servem como correias de transmissão da política eleitoral do partido. Se não são “centralizados” (como diz o prefeito), dirigidos ou tutelados eles de nada servem. São uma quadrilha. Que saudades do PT quando ele era aquela quadrilha…
Escrito por Lincoln Secco, professor da História Contemporânea da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..