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Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Control C + Control Veja

4 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários aindaPor Cynara Menezes, na CartaCapital

No centro do furacão desde que vieram à tona suas relações no mínimo pouco éticas com os bandidos da quadrilha de Carlinhos Cachoeira, a revista Veja parece ter perdido toda a noção de ridículo. Sua capa desta semana é uma farsa: o “documento” que a semanal da Abril alardeia ter sido produzido pelo PT como estratégia para a CPI de Cachoeira é, na verdade, um amontoado de recortes de reportagens de jornais, revistas e sites brasileiros.

Confira neste link (clique AQUI) os fac-símiles do suposto “documento” que a revista apresenta com “exclusividade” e compare com os outros links no decorrer deste texto.

Segundo a revista, os trechos que exibe fariam parte de um “documento preparado por petistas para guiar as ações dos companheiros que integram a CPI do Cachoeira”. Mas são na realidade pedaços copiados e colados diretamente (o manjado recurso Ctrl C+ Ctrl V dos computadores) de reportagens de terceiros, sem mudar nem uma vírgula. O primeiro deles: “Uma ala poderosa da Polícia Federal, com diversos simpatizantes nos meios de comunicação, não engole há muito tempo o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal” saiu de uma reportagem de 6 de abril do site Brasil 247, um dos portais de notícia, aliás, que os colunistas online de Veja vivem atacando com o apelido de “171″ (número do estelionato no código penal). Mas quem é que está praticando estelionato com os leitores, no caso? (confira clicando AQUI).

Outro trecho do “documento exclusivo” de Veja é um “copiar e colar” da coluna painel da Folha de S.Paulo do dia 14 de abril: “Gurgel optou por engavetar temporariamente o caso. Membros do próprio Ministério Público contestam essa decisão em privado. Acham que, com as informações em mãos, o procurador-geral tinha de arquivar, denunciar citados sem foro privilegiado ou pedir abertura de inquérito no STF”. (Confira AQUI)

Mais um trecho do trabalho de jornalismo “investigativo” com que a Veja brinda seus leitores esta semana: “Em uma conversa entre o senador Demóstenes Torres e o contraventor Carlinhos Cachoeira, gravada pela Polícia Federal (…)”, é o lead de uma reportagem do jornalO Estado de S.Paulo do dia 28 de abril (leia AQUI).

Pelo visto, os espiões da central Cachoeira de arapongagem, que grampeavam pessoas clandestinamente para fornecer “furos” à Veja, estão fazendo falta à semanal da editora Abril…




Adolescentes e jovens de todo o mundo se preparam para integrar a maior equipe de cobertura da Rio+20

4 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda
Equipe com mais de 100 pessoas compõe a Agência Jovem de Notícias Internacional na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável e na Cúpula dos Povos por Justiça Social e ambiental na capital carioca

Adolescentes e jovens de 11 Estados brasileiros, do Distrito Federal e de mais 18 países da América Latina, Europa, África e América do Norte se preparam para a maior agência de notícias presente na Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável e a Cúpula dos Povos por Justiça Social e ambiental, que acontecem na cidade do Rio de Janeiro entre os dias 15 e 23 de junho.

No total, 100 adolescentes e jovens com idades entre 15 e 30 anos, acompanhados por uma equipe de educadores, vão compor o time da Agência Jovens de Notícia Internacional, liderada pela ONG Viração Educomunicação, pela Rede Nacional de Adolescentes e Jovens Comunicadores e Comunicadoras – RENAJOC e pela campanha Rio+Você. A iniciativa conta com o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da Província Autônoma de Trento (Itália) e será desenvolvida em parceria com diversas organizações brasileiras e da América Latina, como a BemTV e Catavento Comunicação e Educação, e as argentinas Fundación Tierravida e Ecomania.

Alguns participantes já desembarcam no Rio na próxima semana para a Youth Blast, encontro preparatório de jovens para a Rio+20 organizado pelo Major Group de Crianças e Jovens da ONU. No dia 11 o grupo fica completo e no dia seguinte começam suas atividades de formação e preparação para a cobertura educomunicativa e colaborativa de um dos maiores eventos da história da ONU.

Os adolescentes e jovens serão divididos em equipes de texto, foto, vídeo, áudio, jornal mural e fanzine. Com o apoio do Laboratório de Ativismo um grupo de jovens ainda vai criar ações ativistas para incorporarem a cobertura. Todo o material produzido será veiculado no site da Agência Jovem de Notícias (www.agenciajovem.org) e no site da campanha Rio+Você (www.riomaisvoce.org), bem como nas páginas e redes sociais das organizações parceiras dessa iniciativa.

Um dos participantes da Agência Jovem de Notícias Internacional na Rio+20 é Reynaldo de Azevedo, de 16 anos, morador de Lavras, interior de Minas Gerais. Ele entende que fazer a cobertura colaborativa desse grande evento é uma maneira de promover espaços de reflexão, debates e trocas de experiências sobre sustentabilidade e a participação da juventude na construção de melhores lugares parta se viver.

Já Maria do Socorro da Costa, de 29 anos, moradora de São Luís, no Maranhão, a cobertura feita por adolescentes e jovens ajuda a colocar o jovem na pauta das discussões, uma vez que eles se sentem pouco representados nas coberturas feitas pela grande mídia. “Nesse modelo de cobertura produzimos informações de qualidade para os jovens e também troca de conhecimentos”, diz. O mexicano Eduardo Salinas, de 25 anos, concorda com Maria do Socorro e completa: “Participar da Agência Jovem de Notícias é uma importante oportunidade para levar a outros jovens de todo o mundo os acordos e as negociações a que se chegarão a Rio +20, a partir do nosso ponto de vista".

A argentina Luisina Garro, de 23 anos, está ansiosa para chegar ao Rio. Ela acredita que a cobertura feita pelos jovens é uma maneira de participar da transição para um novo modelo de sociedade. Do outro lado do continente está a italiana Giovana Sartori, de 26 anos, que vai participar da cobertura da Agência Jovem para fazer pressão nos governantes. “Acredito no poder da informação e da comunicação para levar a sempre mais pessoas o conhecimento dos problemas ambientais e sociais”, defende Giovana.

Todos esses jovens já têm histórico em organizações e projetos de educomunicação e comunicação comunitária para adolescentes e jovens. Desde o ano passado a maioria deles já desenvolve produtos de comunicação com temáticas ambientais. Tudo para se preparar para a Rio+20 e mobilizar ainda mais adolescentes e jovens a participar.

O processo de preparação desses participantes foi tão significativo que influenciou, inclusive, o dia-a-dia deles na busca por hábitos de vida mais sustentáveis. Tanto é que muitos participantes vão usar bicicletas para se deslocarem no Rio de Janeiro durante a cobertura. Uma parceria com a secretaria de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, a Super Via e a Transporte Ativo viabilizou 25 bicicletas para o grupo e 80 Rio Card’s para o uso do transporte público. A ONG Projetos de Inovação ainda disponibilizou oito Recicletas -  bicicletas fitas com restos de bicicletas que iriam para o lixo – para ajudar nos deslocamentos dos jovens na capital carioca.

Além das atividades de cobertura da Rio+20, o que inclui atividades como a Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, o Fórum de Mídias Livres e o Fórum de Empreendedorismo Social na Nova Economia, os jovens também vão dedicar parte do seu tempo para o turismo sustentável, conhecendo outros projetos de comunicação comunitária e ambientais em comunidades cariocas.

Sobre a Viração Educomunicação
Viração Educomunicação (www.viracao.org) é uma organização social de comunicação, educação e mobilização social entre adolescentes, jovens e educadores que tem como missão fomentar e divulgar processos e práticas de educomunicação e mobilização entre jovens, adolescentes e educadores para a efetivação do direito humano à comunicação e para a transformação social. Criada em março de 2003, impactou na vida de mais de 3,5 milhões de pessoas no Brasil, seja por meio da Revista Viração e Agência Jovem de Notícias, seja por meio dos 31 projetos especiais desenvolvidos ao longo de nove anos.

Viração integra o Conselho Nacional da Juventude e conta com o apoio institucional de importantes organismos nacionais e internacionais: Ashoka Empreendedores Sociais; Mckinsey Consultoria, Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), Agência Internacional pela Paz (IPAZ) e Núcleo de Educação e Comunicação da Universidade de São Paulo (USP).

Sobre a Agência Jovem de Notícias
A iniciativa tem origem no V Fórum Social Mundial, quando a Revista Viração e o Projeto Agente Jovem, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), promoveram a cobertura jovem do evento.  Desde 2005, a Agência vem fazendo a cobertura especial e pontual de eventos que tenham relação direta com jovens e adolescentes. Já atuou em pelo menos 60 coberturas de eventos nacionais e internacionais, como o Fórum Social Mundial, o Congresso Internacional sobre Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes e o IV Encontro Nacional de Adolescentes e Jovens Vivendo com HIV/aids.

A ideia é reunir uma equipe de jovens interessados em aprender as práticas da Educomunicação e produzir notícias diariamente sobre os diversos temas ligados aos jovens e adolescentes, além do interesse público que esses jovens têm e que estão em pauta ao longo dos acontecimentos de um determinado evento.

A equipe de educadores da Viração e parceiros promove, diariamente, oficinas de comunicação entre os grupos de participantes para que os jovens façam uma cobertura de qualidade e inovadora, participativa e crítica dos acontecimentos que eles mesmos estão presenciando.

Sobre a Rio+Você
A Campanha Rio+Você/ Rio Mas Vos/ Rio Plus You é uma mobilização internacional que tem a Viração Educomunicação como ponto focal no Brasil e congrega mais de 70 entidades parceiras, como a Rede Nossa São Paulo, Vitae Civilis, Rejuma e Equações Sustentáveis. O objetivo principal da Rio Mais Você é mobilizar movimentos, grupos e organizações juvenis para a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável – Rio+20, que acontecerá na cidade do Rio de Janeiro de 20 a 22 de junho de 2012.




Cynara liquida de vez com o factoide Veja-Gilmar

3 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Por Luis Nassif, em seu blog

A última edição da Carta Capital, matéria de Cynara Menezes, liquida de vez com o factoide Veja-Gilmar, meramente juntando a lógica com as diversas versões apresentadas por Gilmar.

Primeiro, desmascara o teatro da indignação de Gilmar com o encontro. Ela não se coaduna com uma espera de 30 dias, sem sequer comentar o episódio com seus colegas de Supremo. A revista mostra que o único comentário foi com o presidente Ayres Brito, na 4a feira anterior à capa da Veja. E teria sido uma conversa informal, papo de cafezinho, sem nenhuma dramaticidade.

Depois, alinhava as diversas versões de Gilmar, mostrando o festival de contradições. A reportagem da revista sustentava que Nelson Jobim não ouviu toda a conversa; em uma das inúmeras entrevistas, o próprio Gilmar garante que sim.

Na versão da revista, houve pressão explícita de Lula para adiar o mensalão. Na entrevista de Manaus, Gilmar diz que houve uma breve menção ao mensalão que ele (trinta dias depois) intuiu ter sido pressão.

É certo que houve intriga da pesada de duas experientes jornalistas - uma da TV Globo, outra da Globonews. Mas se fosse tão fácil levar Gilmar no bico, ele não teria chegado aonde chegou.

O mais provável é que sua estratégia tenha sido montada rapidamente, depois do Ministro Ricardo Lewandovski, do STF, ter assumido as rédes da Operação Monte Carlo e liberado as chamadas gravações de conversas fortuitas não incluídas no relatório da PF.

É curioso também como mudou o comportamento da velha mídia em relação a Lewandovski - alvo de uma quebra de sigilo, quando filmadas as mensagens que trocava com uma colega, em uma sessão do Supremo. Agora, é tratado com deferência. A mudança se deve ao poder de que Lewandovski se viu revestido.

Agora, por sua posição no caso, tem poderes quase absolutos. Coube a ele quebrar o sigilo de todo mundo em Goiás. Pode convocar a Polícia Federal, pedir informações, quebrar sigilos.

Além da reportagem da Veja, mudou completamente o comportamento de Gilmar em relação ao Ministério Público Federal e ao próprio mensalão. De uma hora para outra criou caso com Lewandovski, pressionando-o a apressar o relatório.

Do mesmo modo, depois de qualificar o MPF como "milícias" - na Operação Satiagraha -, de repente tomou as dores do Procurador Geral Roberto Gurgel

Se o relatório tivesse sido entregue no prazo pelo qual a mídia pressionava, o julgamento começaria no dia 5 de junho. E, aí, adeus CPI do Cachoeira. Todos os jornais e a Rede Globo centrariam fogo no julgamento do mensalão, abafando completamente a CPI.

Por aí é possível entender a agonia de Gilmar, pressionando pelo relatório de Lewandovski.

Celso Melo e Marco Aurélio Melo já se manifestaram contra essa pressão da velha mídia. E consideraram que a pressão procura transformar o julgamento quase em um rito sumário, prejudicando o direito de defesa. Celso de Melo já opinou que a criação de um mutirão para acelerar o relatório comprometeria o rito legal da corte.




Excelentíssimo advogado do bicheiro comprador de políticos

3 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários aindaPor Pierre Lucena

tomaz
Carlinhos Cachoeira não é o primeiro bandido do colarinho branco a parar na cadeia. Outros pilantras dessa estirpe já passaram pelas grades, como Salvatore Cacciola, que ficou alguns anos preso, e Daniel Dantas, cuja velocidade de soltura deve ter entrado no Guiness, o Livro dos Recordes.
Apesar de não ser o primeiro, Cachoeira tem chamado a atenção pelo estrago que vem causando, mesmo sem ter dito absolutamente nada até agora.

Contravenção, propinagem, corrupção, intermediação de negócios, tudo isso já é enredo conhecido por todos.
Nada do que aconteceu até agora é novidade.
O único fato novo, e muito pitoresco, é a escolha do advogado de defesa do bicheiro: o ex-Ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, responsável pela indicação de praticamente a metade do Supremo tribunal Federal.
Nada impede legalmente o ex-Ministro de advogar para um bandido. Assim como nada impede legalmente o bicheiro de se defender com quem quer que seja afinal, todos têm direito à defesa.
Mas que é uma situação muito peculiar, para não dizer amoral, isso é.
Quem melhor definiu esta situação fo o ator Marcius Melhem: “Todo mundo tem direito à defesa. Mas quando um ex-Ministro da Justiça vira defensor de réu confesso e chefe de quadrilha, o País fica menor.”
O meio jurídico tem a mania de vomitar alguma lei para justificar seus atos, esquecendo que por trás disso tudo existe a consciência da pessoas.
Só esquecem de dizer que os R$ 30 milhões que Cachoeira está pagando para sua defesa sairá da corrupção e ladroagem.
A única conclusão disso tudo é que parte do dinheiro surrupiado dos cofres públicos em corrupção da Delta irá parar nos gordos bolsos do advogado.
De maneira legal, é claro.
Ou alguém acha que esse dinheiro todo caiu do céu.
Processo de lavagem de dinheiro sujo mais moderno é impossível.




O Anti-Édipo, uma resenha

2 de Junho de 2012, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários aindaResenha de DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia 1. Trad. Luiz B. L. Orlandi. ed. 34. 2010 [1972].


Publicado no Quadrado dos Loucos
Quando se pensa no Maio de 68 europeu, logo vêm à mente alguns livros. Geralmente, lembramos de Eros e civilização (1955), de Marcuse, ou A sociedade do espetáculo (1967), de Debordàs vezes de Os condenados da Terra (1961), de Fanon; ou talvez A arte de viver para as novas gerações (1967), de Raoul Vaneigem. Cânones de seu tempo, foram livros que ficaram registrados como inspiradores da geração, frequentemente citados em retrospectivas, documentários e memórias. O anti-Édipo veio depois da grande turbulência, em 1972. O primeiro da série de livros resultado das núpcias intelectuais entre um filósofo e um médico, daí por diante amados e odiados pelo binômio Deleuze-Guattari.

No começo da década de 1970, a onda já tinha quebrado na cabeça de muitos militantes daquele ciclo. Tempos de frustração, nuvens carregadas, revisionismo. Nada disso deprimiu os autores, que escreveram uma obra sem qualquer compromisso com fardos históricos. Em vez de sentar no sofá e se ressentir, fizeram um livro que age. Que articula novas armas para novos desafios. Não dá pra ler O Anti-Édipo sem dar uns pulinhos de vez em quando. Nele, você passeia por um mundo barroco de jogos, armadilhas, provocações, labirintos, boutades, sacanagens, palavrões, astúcias, gracejos, sacadas, imposturas e impudicícias. Uma experiência tão sexy quanto um livro de filosofia pode proporcionar. E sem a menor vergonha. Um livro-vadia que dá a pensar, que alucina, no meio do que algo se passa e está sempre se passando. Não é para sedentários. É pra ler viajando, ainda que sem sair do lugar. Um livro que jamais apetecerá velhas Guermantes.
Erra feio quem, por desconhecimento ou ódio, atribui a Deleuze-Guattari a aura do pós-modernismo radical chic. Esta espécie de anemia que conjuga bem com o liberalismo fim-de-século, “antitotalitário”, antimilitante e multicultural. Nada menos justo. O livro não prega o respeito às diferenças, mas a agressividade como constitutiva delas. Não propõe vias ecléticas ou conciliadoras, mas a revolução. Nada aquém do que a desordem de uma revolução. Em nenhum momento, se pretende tolerante: o livro ofende sem parar o próximo e confessa o amor pelo distante. E sem deixar que se aproxime muito, pois a relação à distância mesma é que produz. Está atravessado por uma leitura intensiva e ao mesmo tempo distanciada de Marx e Freud, mas também Nietzsche, Spinoza, Kant, Artaud, para citar alguns. Possui uma teoria do estado, uma teoria da moeda, uma teoria do poder constituinte, uma psiquiatria materialista, uma filosofia da imanência, o projeto da esquizoanálise, e muito mais.
O maior protagonista do Anti-Édipo é o desejo. Sem estragar o conceito com antropocentrismos. O humano não deseja propriamente falando, como se fosse o sujeito do desejo. O desejo é que acontece nele, e o faz ser o que ele é — ou não. O desejo em mim é o mesmo desejo no lobo, na samambaia, nas rochas, na Lua, numa poesia de Pessoa ou numa canção de rock. O desejo ativa forças impessoais, não-figurativas, não-simbólicas, forças conspiratórias do Ser. Ele gera o real. Toda a realidade se cria no desejo e pelo desejo, num movimento para dentro e para fora, que se diferencia inclusive em si mesmo, uma vastidão intensiva. Por sermos tocados pelo desejo, sempre há algo em nós que nos convoca para além do que somos. O desejo nos chama de um nome estranho e nós respondemos — outros. Ele é primeiro e doa (ou rouba) tudo, sem contrapartida nem equivalência. Por isso, nenhuma pessoa, nenhuma coisa, nada basta em si próprio. Sempre se pode ativar um excedente, uma carga delirante que desborda e embaralha. Aqui, nenhum vitalismo à vista: tem desejo de vida e tem desejo de morte. Do contrário, as pessoas nunca se suicidariam.
O desejo está em tudo e tudo está nele. Tudo se cria, respira, numa variação contínua. O desejo pulsa no interior das coisas, das relações, dos afetos, das impressões, do que existe e pode existir. Uma metonímia infinita, um continuum de matéria e espírito, a contiguidade última. Daí a coextensividade de que nos falam os autores, entre homem e natureza, entre cultura e universo, que os fluxos desejantes percorrem sem distinção real. Isto não significa que homem e natureza se unam nalguma pasta cósmica e indiferenciada. Mas, sim, que cultura e meio ambiente se dobram e redobram entre si, uma essência natural do homem, uma essência humana da natureza. A natureza funciona como processo de produção, enquanto a humanidade é soprada de todas as formas, figuras e máscaras do universo. Um pan-desejo essencialmente revolucionário, só por querer como, com efeito, ele quer: infinitamente.
Mas sucede também o desejo por fascismo. Isto é real. As pessoas não foram enganadas para apoiar ditaduras. Elas quiseram. E muitas pessoas efetivamente desejaram e desejam a mão que bate, explora, que faz sofrer o outro. O problema é menos de falsa consciência do que explicar porque a servidão voluntária pode acontecer. Portanto, não é questão de denunciar ideologias, mas compreender a materialidade do funcionamento do próprio desejo. Como podemos realmente desejar aquilo que nos reduz a potência de agir e existir? A pergunta de Deleuze-Guattari não é simplesmente por que, em face do intolerável, algumas pessoas se revoltam? Mas, por que não se revoltam todas o tempo todo? Eis um materialismo à altura de Marx. Embora o desejo seja infinito movimento e não tenha finalidade intrínseca, existem maneiras de recalcá-lo. Bloquear a sua potência revolucionária, usá-lo para oprimir e submeter. Toda uma maquinaria histórico-política, com suas forças de reprodução e repressão sociais, para esclerosar os fluxos produtivos, fazê-los voltar contra si mesmos, como na vontade de poder, do dinheiro, de ser amado, em toda essa abjeção de servo. No fascismo, apaixonamo-nos não só pelo poder, mas pelo poder em nosso eu-querido, nossa vaidade de pertencer àlguma raça de senhores.
Nesse sentido, Deleuze-Guattari se propõe a realizar uma crítica da economia política do desejo. Para isso, como o melhor Marx, o Marx dos Grundrisse, eles desbravam a formação do capitalismo. Três máquinas sociais, apropriadoras das forças desejantes, são descritas no capítulo 3. A máquina primitiva dos selvagens, a máquina despótica dos bárbaros e a máquina capitalista dos civilizados. A tarefa consiste em compreender como, na materialidade, operam essas maquinarias. Por meio de qual regime de funcionamento o desejo acaba sendo conduzido à servidão voluntária, como são organizados o social e o desejo? Com fôlego de maratonista, o capítulo aborda como o capitalismo — esse Inominável — pôde ter ocorrido, a partir das formas pré-capitalistas, na contingência dos encontros e acasos que nos levaram até ele. Mas também almeja encontrar,dentro e contra a máquina capitalista, as faíscas no vento, as faíscas que anseiam pelo barril de pólvora.
Segundo o Anti-Édipo, onde está a alteridade radical ao capitalismo?
Pode-se tomar a (enorme) liberdade de trocar a palavra ‘esquizofrenia’, presente desde o subtítulo, por ‘comunismo’. Também com Marx, o comunismo de Deleuze-Guattari, isto é, a esquizofrenia como libertação absoluta do desejo, aparece quando o capitalismo não consegue mais impor e interiorizar os limites com que governa. A esquizofrenia é o limite derradeiro, o bólide com velocidade de escape da órbita do capital. Os fluxos esquizos a todo momento se modificam em intensidade, contornam os limites, se redefinem e se recriam, processo que os autores chamam de ‘desterritorialização-reterritorialização’. A esquizofrenia é o modo de funcionamento do nômade. Em vez de uma deriva perpétua, o nômade migra de acampamento em acampamento, sempre mais ali, onde o poder ainda não está à espreita, onde ele não pode ser totalmente explorado e classificado. E não há no nômade nenhum Holandês Voador, a vagar pelos mares até o fim dos tempos. O comunista precisa da terra e do sentido da terra. A desterritorialização sem reterritorialização acaba produzindo o esquizofrênico hospitalizado, uma produção do capitalismo que impede a materialidade do comunismo.
Como Marx, Deleuze e Guattari apontam no capitalismo uma contradição fundamental. Por um lado, o capital precisa fomentar a produção desejante, necessita do trabalho vivo, da produtividade geral do mundo, para continuar canalizando riqueza. Afinal, sem vampirizar a potência das pessoas, o capital — trabalho morto que é — resta improdutivo. Por outro lado, o capital não pode perder o controle das potências que explora, as mesmas que precisou fortalecer em primeiro lugar. É preciso governar o que se quer ingovernável, o desejo que quer sempre mais. É preciso inscrever os agentes de produção e as forças produtivas na maquinaria do capital, que então se atribui o mérito pela (limitada) produção de riqueza. Daí que a classe capitalista não pode deixar de impor limites, estabelecer medidas e métricas, regular os fluxos selvagens, conter o dilúvio de quereres. Esses limites podem ser tanto da ordem externa (a polícia, as leis, a propriedade, a burocracia), quanto interna (as identidades, a culpa, a interiorização da dívida). E não se acredite o capitalismo vá sucumbir às próprias contradições, como se houvesse um fim da história. Isso seria hegelianismo de esquerda. Nunca ninguém morreu de contradição. Pelo contrário, a máquina capitalista aprendeu a perseverar na crise, mediante um estado-crise que habitualmente se alimenta das contradições que provoca, das angústias e medos que suscita, das fomes e desastres que deixa acontecer.
No Anti-Édipo, não existe nenhuma proposta de contenção da produção, da circulação, do consumo. É o inverso: não há consumo suficiente! O mal do capitalismo não está em produzir demais, mas na antiprodução que dissemina. O capital é quem forja a escassez e a divisão do trabalho. O modo capitalista frustra o compartilhamento generalizado de tudo, negando a superabundância. O momento revolucionário está em extrapolar as contenções, em elevar a potência de existir até o ponto em que ela não possa mais ser axiomatizada e expropriada. Não se trata de sair do mercado mundial, de aspirar a um “fora” utópico da ordem capitalista, mas acelerar o processo. O capitalismo se conserva graças a uma infernal econometria de dívidas e cobranças, em que todos devemos mais do que podemos pagar. Ele pode ser tornado sempre mais insustentável. Esse comunismo desarranjado vive quando se desmontam os axiomas do mercado e do estado, do indivíduo e do coletivo, — tudo isso que recalca, confina, acumula, reproduz. O comunismo vive quando se rompe o que permite medir as coisas e as pessoas por seus valores, sob o critério da equivalência geral, quantificante e abstrata. Quando a máquina não suporta mais. Como um aneurisma, um mau funcionamento localizado, um excesso de todo inesperado, capaz de sobrecarregar o complexo sistema de fluxos e extração de fluxos e vazar o sangue dos poros. A revolução acontece quando os diques se rompem. Só o desejo, pensado e agido, pode orientar-nos nesse dilúvio.
De fato, é um livro marxista, militante e revolucionário.