Ir para o conteúdo
ou

Thin logo

Tela cheia
 Feed RSS

Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Música "Antiperiomidiatíco" - Grupo: O Levante

13 de Setembro de 2013, 9:38, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Grupo: O Levante
Música: Antiperiomidiatíco
Ano: 2013

Produção: Cria Filmes e Visão da Favela Brasil
Gravação, montagem e edição - Repper Fiell

Participação: Don Felix / Latuffe e repper Fiell.

Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



Dilma assume Marco Civil e força voto com neutralidade de rede

12 de Setembro de 2013, 10:15, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

A presidenta da República chamou para si a responsabilidade sobre o Marco Civil da Internet. Em reunião na noite de terça-feira, 10/9, Dilma Rousseff decidiu forçar o projeto à voto. Além de defender a neutralidade de rede, mantida na versão atual, a presidenta tirou do texto o afago que permitia às empresas ofertarem pacotes com limite de download – sem muita utilidade prática, mas um aparente gesto político.

A mensagem de urgência constitucional, formalizada no Diário Oficial da União nesta quarta-feira, 11/9, foi o mais forte. “Foi a resposta da presidenta à informação de que o projeto está travado. Ela quer votar e foi incisiva na neutralidade de rede”, anima-se o relator, Alessandro Molon (PT-RJ).

Há sinais para tanto. Diante dos ministros das Comunicações, Justiça, Ciência e Tecnologia, e da Advocacia-Geral da União, Dilma tratou pela primeira vez do Marco Civil da Internet pessoalmente com o relator e afirmou que “a neutralidade é fundamental para a Internet”.

“Vamos a voto com o texto do relator sobre a neutralidade”, afirmou o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, ao descrever a reunião da véspera com a presidenta e os colegas José Eduardo Cardozo, Marco Antonio Raupp e Luis Inácio Adams.

A discussão na terça foi, em si, mais uma das [agora] comuns reuniões de emergência sobre as denúncias de espionagem dos Estados Unidos sobre o planeta e notadamente o Brasil. Há um mês chegou a haver um aceno sobre o Marco Civil. Agora, Dilma assumiu essa questão.

Não significa que está tudo resolvido para tão esperado projeto de lei. No escaninho das urgências constitucionais, há três outros projetos na fila: o marco da mineração, das dívidas das Santas Casas e a criação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural.

A urgência, no entanto, garante uma votação – algo que desde novembro do ano passado vem sendo bloqueado pelo colégio de líderes da Câmara, ou mais efetivamente pelo líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ). Em 45 dias, não é possível votar nenhum projeto antes daquele que estiver em regime de urgência.

Haverá, porém, nova reunião do relator com o governo – a presidenta Dilma quer a inclusão do artigo que trata do armazenamento de dados relativos a brasileiros em território nacional. Nesse mesmo campo, parece ter descartado a possibilidade de as teles guardarem dados de navegação dos usuários.

Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



O que a mídia de celebridades faz com Anitta deveria ser crime

12 de Setembro de 2013, 9:55, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


A cantora Anitta, do hit “Show das Poderosas”, fez uma brincadeira com seus fãs durante um show na cidade de Guarapari, litoral do ES. Depois que um rapaz jogou uma lata de cerveja no palco, Anitta improvisou uma série de piadas, como se fosse uma comediante stand up (nem todas as piadas foram boas mas, vá lá). Foi tudo registrado em vídeo, inclusive as gargalhadas do público e o recado dela no fim: “Não vai falar depois no instagram que eu sou estrela, hein! Que eu tou brincando. Olha o senso de humor!”

Essa passagem está no vídeo que o ator Paulo Gustavo colocou em seu canal de Youtube.
Mas se você assistir a uma versão editada, de 23 segundos, acabará achando que Anitta desrespeitou o fã e o ofendeu covardemente.
Anitta havia acabado de conversar e promover a peça de Paulo Gustavo no palco e, naquele clima, resolveu improvisar um personagem de pavio curto assim que viu a lata de cerveja ser atirada. Disse exatame o que segue, mudando a voz para acentuar a piada.
— Quem é o mal educado que tacou essa porra aqui, heim?! Coisa de pobre!
Entrou de graça no evento?! Ganhou cortesia! Jogou a porra da latinha aqui! Puta que pariu, heim! Tá bêbado! Tu não vai comer ninguém, heim! Coisa horrorosa! Bêbado horrível. Tira daqui! Mal educado da porra. Se essa porra pega na minha cabeça, eu vou para o hospital. E tenho show pra cacete pra fazer.
Uma série de “reportagens” dos sites de celebridades ganharam destaque nas páginas de portais como iG, Terra e UOL. Os títulos: “Com palavrões, Anitta detona fã em show” e “Anitta dá chilique com fã que jogou latinha no palco”. Nos textos, os jornalistas descascam a cantora, desclassificando-a com extrema má fé e usando a performance humorística como argumento.
Anitta resolveu não ficar calada. Escreveu um ótimo texto que pode ser encarado como um libelo contra o sensacionalismo e o mentiroso que se faz em revistas e sites de celebridade como se fosse jornalismo.
Aqui, o vídeo completo, em que ela explica a piada:
O texto de Anitta:
Eu sempre pensei que o jornalista fosse um profissional de muita importância na sociedade. Na minha cabeça, eles exerciam um papel de extrema delicadeza: levar ao público informações sobre os fatos e acontecimentos.
Hoje em dia parece não funcionar mais assim. Com o aparecimento da internet, qualquer um se diz jornalista e distribui seus “conteúdos” para o público.
Cada dia que passa eu me dou mais conta de que os valores de compromisso e responsabilidade com a verdade para com o espectador se perderam.
Não é de hoje que eu vejo, por dia, pelo menos 3 “notícias” inventadas pelo fantástico mundo da mídia sobre mim. São lugares que eu nunca estive, pessoas que eu nunca vi, palavras que eu nunca falei. Em uma das últimas, dizia que pra eu ficar famosa passei por uma mudança de clareamento de pele pra ser branca, por que era negra e não faria sucesso por conta do preconceito… Oi?!
Isso existe?!
Acreditem… teve “jornalista” me ligando pra saber como foi o tratamento.
Depois me pego lendo que deixei fãs esperando sei lá quantas horas, quando na verdade eu cheguei na hora combinada. Depois que não quis atender ninguém, quando, na verdade, em quase todos os show eu passo mais tempo no camarim recebendo fãs do que no palco em si.
Teve veículo de imprensa que abriu uma perseguição contra mim e todo dia tem lá uma notinha sobre meus ataques e sobre como eu me tornei o demônio em poucos dias, com passo a passo e tudo. Amanhã corram lá que vai ter alguma nova, garanto. Talvez falando que eu xinguei alguém bem alto na rua, ou que maltrato minha equipe, com testemunhas e tudo. (Como se eu fosse burra o suficiente pra fazer todas essas coisas e achar que ninguém saberia.) Ou que escrevi isso aqui pra pagar de correta pros fãs. Provavelmente abriram um “criativo do mês” na empresa, onde o funcionário que inventar a mentira mais criativa sobre alguém ganha um prêmio. Não só sobre mim, mas sobre todos os outros artistas. Reparem que veículos como esse nao transmitem notícias construtivas sobre nada. Focam em falar mal da vida alheia. Daí o “jornalismo preguiçoso” copia e cola a “matéria” em seu veículo.
A mídia tem o poder de transformar uma lebre em lobo… e vice versa. Simplesmente porque nós, como público, acreditamos que essas pessoas tem o papel de transmitir informações pra gente. E não de criar ou manipular notícias para que vendam mais.
Antes, quando leitora, eu acreditava em tudo. Hoje só acredito no que vejo com meus próprios olhos… e olhe lá.
A nossa cultura acostumou o povo a se interessar por aquilo que é ruim. Comparem o tempo em que uma catástrofe fica sendo falada na mídia, com o tempo em que se fala de ações humanitárias ou acontecimentos que acrescentam na nossa cultura, educação ou caráter (a não ser que tenha dinheiro envolvido). Portanto, é muito mais fácil pra um “jornalista”, vender matérias inventadas que falam sobre como eu faço coisas ruins com os outros, do que como o meu trabalho é um trabalho legal e sobre como eu trabalhei igual louca pra chegar onde cheguei. Ou das coisas que faço pelos fãs, pela minha família e pela minha equipe. E aí, tudo que eu falo ou faço é distorcido ou aumentado ao triplo para que gere mais interesse do público em acessar/comprar aquilo. E lá vai o povo ser enganado, como sempre, a troco de dinheiro. Quero deixar claro que não sou todos. Conheço jornalistas sérios e profissionais e não duvido que exista muito mais.
Esse fim de semana eu fiz show em Guarapari – ES. Bem no meio do show, como sempre faço, eu chamei pessoas no palco. Desde que eu comecei a fazer show eu chamo pessoas no palco, brinco e falo besteiras com todo o bom humor pra elas. Por que esse é meu jeito… Eu conseguia brincar e ser espontânea com as pessoas antes e ninguém nunca se importou…por que hoje eu não posso mais ?
Durante o show,( para maiores de 18 anos) chamei as pessoas no palco, alguns famosos, e meu dançarino entrou pra se apresentar… foi quando um homem bêbado começou a jogar gelo e latas nele e nos outros convidados. Os convidados saíram e o rapaz insistiu na agressão. Eu não sei levar a sério um homem bêbado que joga lata nas outras pessoas. E, como em toda a minha vida, brinquei com o menino (com o meu característico humor sarcástico que as pessoas que me acompanham sabem que tenho) até tirarem ele do local. No final do vídeo ainda brinquei com o público dizendo pra não falarem mal de mim na internet por eu ter falado palavrão, por que eu estava brincando, e pedi senso de humor da galera. Tanto foi que ninguém quis me matar de indignação no dia do show, acharam graça.
Mas pronto, foi o suficiente pro site: perseguimosartistas.com.br cortar o vídeo, até deixa-lo só com a parte onde eu tiro sarro do homem que jogou latinhas no palco, colocar uma legenda e complementar às outras 50 matérias sobre como eu sou uma bruxa. E desencadear uma série de pessoas em cima de mim me criticando por que eu falei “isso é côdipobre” pro menino. Gente, por que todo mundo se leva tão a sério?! Vocês acham mesmo que se eu desdenhasse de pobre eu falaria “côdipobre” ? Acham que eu moro onde ? Que minha mãe mora aonde ? Que minha familia é de onde? Na noite antes de estar dormindo em Las Vegas pra gravar clipe eu dormi num quarto com uma droga de uma goteira bem do meu ladinho. Nas minhas folgas eu volto lá pra essa mesma casa com goteiras que minha mãe adora e fico lá sem nem ligar. Eu não ligo pra essas coisas, e por isso mesmo eu não tenho problema nenhum em tirar sarro delas. Eu achava engraçada a goteira do meu antigo quarto, acho até hoje. Eu AMO tirar sarro de mim mesma. Ou vocês acham mesmo que me irritei com minha dancarina por ela falar do peido no Faustão? Eu achei engraçado demais, há anos eu duvido dela, que ela falaria a palavra peido na tv ( e ela trocou por “Pum”, ninguém fala “Pum”, rs). Tenho o mesmo carro de sei lá quanto tempo atrás, moro no mesmo lugar. E não tô nem aí pra ter os mais lindos e mais caros, nao tô afim. Tem gente rica que nem fala a palavra pobre que é pra não dar problema, mas por dentro tá ali se roendo. Mas aí o povo ama. O dia que eu tiver que travar minha sinceridade, meu bom humor ou quem sou eu de verdade pra não me causar problema eu vou me sentir a mentira em forma de gente. Tudo isso por que agrada mais. Mas o que agrada as pessoas ? Eu não sei. Você não pode usar roupa barata, que falam que voce é pão dura, não pode usar cara que falam que você tá deslumbrada. Se eu continuo como eu era “aí não muda nada”… Se eu mudo “aí gostava quando era autêntica”.
Por que vocês acham que existem artistas que piram? Parece que a mídia inventa e fala essas coisas dos famosos pra eles pirarem de ver tanta gente falando coisas deles sem saber a realidade das coisas e aí com a piração deles conseguem vender mais notícias. Por que piração de famoso da audiência. Não entendo. Ou pior, eu entendo.
(Por Marcelo Zorzanelli, Jornalista, com passagens pelas revistas Época, Viagem e Turismo e Alfa. Um dos criadores do site Sensacionalista e do programa Saca Rolha, na Band News FM)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



Capitão Bruno: responsabilidade, querer e terror do Estado

12 de Setembro de 2013, 9:39, por Desconhecido - 0sem comentários ainda



Emblemático. No dia da segunda reconstituição do caso Amarildo, recebo o vídeo sobre a ação de um capitão do Batalhão de Policiamento de Choque da Polícia Militar do Distrito Federal. Simplesmente o capitão anda entre os manifestantes distribuindo alguns jatos de spray de pimenta. Quando indagado sobre sua ação, afinal os manifestantes não haviam desobedecido às ordens sobre os limites estabelecidos pelo Batalhão, o oficial sorridente responde: “Porque eu quis, pode ir denunciar”.

Antes deste final “triunfal”, devemos prestar atenção à frase dita anteriormente: “a partir do momento em que vocês definirem o objetivo, de repente a gente pode estabelecer metas para vocês”. Vamos tentar compreender o discurso do oficial: ele pressupõe que deve negociar a ação policial com os manifestantes, certo? “A partir do momento em que”. Condiciona a ação policial ao conhecimento dos objetivos do grupo. Primeira parte esclarecida. A segunda parte torna a questão muito mais complexa. Iniciarei destacando apenas um termo : “de repente”. Todos sabemos das dificuldades no emprego correto da língua portuguesa, e sob pressão, como afirmou o comandante geral Jooziel Freire, é possível que o capitão tenho dito algo que não fazia o menor sentido.

“De repente” é uma locução adverbial de tempo que deve ser usada apenas como indicação de algo súbito, repentino, jamais como algo que “talvez possa acontecer”. Mas este foi o emprego da locução. Quer dizer, “talvez” possamos não abusar de nossa autoridade. O final da frase, demonstra o grave problema do homem responsável por coordenar a ação policial : “a gente pode estabelecer metas para vocês”. O capitão Bruno deveria se envergonhar. Não apenas por ser um péssimo profissional, mas por sua total incapacidade de produzir uma frase com sentido. Quem é “a gente” capitão? É o Estado, que o senhor representa? É a corporação? Que metas, capitão? Os manifestantes não são seus subordinados, não são seus filhos. Nem seus parentes. Não há nada que o senhor possa estabelecer para eles. Seu ofício não o autoriza a estabelecer metas para população civil. No entanto, a fala do capitão Bruno diz muito sobre os policiais, suas hierarquias e sua forma de atuação.

Sempre me perguntei sobre a possibilidade de diálogo dentro dos quartéis com os policiais militares. Nada poderia ser mais estranho que propor uma reflexão sobre direitos humanos e Estado Democrático de Direito dentro de uma Academia de Polícia Militar. Como eles mesmos diziam: meu treinamento foi lavando chão de quartel e cantando o hino, não entendo nada de democracia. E indagavam realmente curiosos: como vou chamar o marginal de cidadão? Pois bem, o capitão Bruno sintetizou a concepção de um percentual expressivo (boa parte, pelo que temos visto) da polícia que segue vigorando sobre o que é a sociedade civil, manifestantes, jornalistas, moradores de favela e pobres em geral: marginais. Ou nas versões atuais, vândalos.

O capitão Bruno, deu um passo à frente. “Por que eu quis”. É isto que falta ao governador do Rio de Janeiro, ao secretário de Segurança, ao comandante da UPP da Rocinha. Admitir. Como Amarildo sumiu, por que um jovem foi morto no Jacarezinho no dia de seu aniversário, por que uma jovem ficou cega com arma “não letal” utilizada pela polícia? Eis a resposta, dada no feriado de 7 de setembro! E que data seria melhor? “Por que eu quis”. Ele quis. Não há outra justificativa, não foi necessário que nada ocorresse. Nem invasão, nem desacato. Ou seja, não há justificativa que possa ser empregada pelo Estado nos meses atuais e este capitão sintetizou as ações do Estado.

São centenas de policiais, comandantes, governantes, “querendo”. Querer, sinônimo de desejar, ter a vontade ou a intenção, neste caso da ação policial, ter consciência sobre a ação. Capitão Bruno não agiu “sob stress”, basta ver a imagem para comprovar isto. O jovem Israel Mallet foi alvejado com tiros de fuzil na favela do Jacaré. A polícia alega troca de tiros, a mãe nega. O policial atirou no rapaz. É simples, ele “quis”, tinha os meios e poder para efetuar os disparos. Em dezembro de 2008, Matheus de 8 anos, recebeu um tiro de fuzil quando saía para comprar pão na Baixa do Sapateiro no Complexo do Alemão. O comandante das Unidades Especiais, Alvaro Garcia, alegou que não foram os policiais e sim uma troca de tiros entre facções rivais. Apenas um projétil foi encontrado. O que matou Matheus. Quem comandou, quem decidiu, quem ordenou, quem atirou? Desejo, querer, poder, matar. Nesta ordem.

Há um problema de treinamento? Há um problema de recrutamento? Há um problema de compreensão dos direitos dos moradores de favela, dos manifestantes? Há uma continuidade das formas históricas de repressão utilizadas no Brasil desde Palmares? A fala do capitão Bruno realmente suspende boa parte das explicações dadas sobre uso da força pelo Estado no Brasil. Foi isto que os policiais da UPP pensaram quando levaram Amarildo? Nós podemos, queremos. E assim foi feito. Ignoraram a possibilidade de que suas justificativas não fossem aceitas. Nem o delegado Ruchester Marreiros convenceu ao tentar alegar o envolvimento de Amarildo e sua esposa com o tráfico. Suas 1000 páginas de investigação são pífias. Como em outros casos, o Estado resolve culpar o morto.

O que fez um homem como Ruchester, professor de Direito Penal da EMERJ e estudante em Direitos Humanos na Argentina, cometer tal ato? Incompetência? Leviandade? Ou, vontade? Concluo que o Capitão Bruno possibilita avançar nesta discussão. Sua frase é a síntese das ações policiais atuais. O Estado de Direito, é suspenso. Parte dos treinamentos, já na década de 90, consistiam em mostrar aos aspirantes qual é o verdadeiro trabalho policial. Através de espancamentos, humilhações constantes, submissão a rituais violentos para surgimento da identidade policial militar, os alunos deveriam compreender que na selva seu corpo pertencia não mais a sociedade civil e sim a Corporação. Um novo homem, um “caveira” deve surgir destes ritos. Provavelmente este tipo de treinamento é aprovado pelo Capitão Bruno. Ele próprio deve ter sido humilhado e violentado constantemente para que surgisse esta identidade capaz de movimentar-se com tanto orgulho, vestindo preto, mascarada, usando gás de pimenta. Esta é sua vontade: submeter.

Creio que para ele, não é suportável perceber atos de liberdade, de crítica. Não está no currículo ou nas interações dentro da Academia. Não é possível a aceitação de discursos ambíguos sobre as ações policiais. Não mais. Ou desmilitarizamos a polícia ou rasgamos a Constituição. Ou, como sugeriu o capitão Bruno, vamos lá denunciá-lo na Corregedoria. Mas caso alguém opte pela última opção, sugiro a leitura do Processo, de Kafka. O capitão Bruno não acredita na Corregedoria. O capitão Bruno faz o que “quer”.

Por Luciane Soares da Silva é do Núcleo de Estudos de Exclusão e da Violência -NEEV, professora associada Universidade Estadual Darcy Ribeiro

Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



Como driblar a espionagem digital dos EUA

12 de Setembro de 2013, 7:41, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Criador do Pirate Bay ensina a driblar a espionagem digital dos EUA. Peter Sunde revela que desenvolve sistema de emails criptografado, com interface atraente para o usuário, e aponta riscos políticos e culturais da espionagem em massa

A conversa torta que vai e volta na internet na cobertura do caso Snowden tem focado mais no drama de espionagem vivido pelo cara do que nas implicações do que ele revelou. Por causa disso, tem sido difícil achar mais informações sobre como evitar que a NSA meta a cabecinha intrometida pela janela de sua sala de estar virtual.

Uma maneira de se proteger de programas como o PRISM é por meio da criptografia. Muita gente pode argumentar que não existe um cadeado no planeta que não possa ser quebrado, mas a criptografia acrescenta (no mínimo) outra barreira de segurança que deixará conversas mais difíceis de monitorar. Como boa parte do mundo ficou emputecida com a realidade da vigilância online, não é surpresa que muitas empresas que trafegam em serviços de comunicação criptografados tenham visto uma disparada de uso. O mecanismo de busca criptografado DuckDuckGo tem atingido números recordes de usuários depois do vazamento da história da NSA. Há ainda o Seecrypt, um aplicativo de mensagens e chamadas de voz criptografadas para iOS e Android. O próprio presidente da empresa disse que o uso do aplicativo “simplesmente explodiu” depois que o mundo descobriu o que a NSA estava aprontando. O criador do PGP (Pretty Good Privacy) até lançou seu próprio serviço de mensagens criptografadas chamado Silent Circle.
E temos também Peter Sunde, um dos fundadores do Pirate Bay. Juntamente com um designer de software e um programador, Peter está desenvolvendo o Heml.is (hemlis significa “segredo” em sueco), um serviço de mensagens “bonito e seguro” que busca colocar o poder da criptografia num pacote mais acessível aos usuários comuns. Depois da divulgação de informações de que a Microsoft estava cooperando com o NSA, o Heml.is levantou mais de $137.000 (cerca de R$304 mil) — 150% do objetivo.
Mandei um e-mail para o Peter com o intuito de discutir o projeto Heml.is, o porquê da necessidade da criptografia no mundo de hoje e qual o futuro da segurança das comunicações.
VICE: Quando você decidiu entrar de cabeça no Heml.is?
Peter Sunde: Depois dos vazamentos de informação sobre a NSA por Edward Snowden. Já falávamos sobre fazer algo novo e tínhamos ideias diferentes — uma delas era criar um tipo de sistema de mensagem. Quando a coisa toda da NSA vazou, sentimos que era exatamente disso que todo mundo precisava — até a gente!
Como as revelações de Edward Snowden mudaram seu entendimento da vigilância governamental em 2013?
Sunde: Não mudaram — esse é o problema. Isso só cimentou a estimativa que todos já tínhamos, que era muito pior do que as pessoas mais positivas esperavam.
Você acredita que há algum benefício no fato de o governo ser capaz de grampear as comunicações digitais?
Sunde: Não. Nossos governos estão fazendo tudo errado. Eles precisam garantir que as pessoas não queiram cometer crimes, não grampear todo mundo para saber quem os comete. Se eles colocassem o mesmo esforço em coisas mais lógicas, como melhorar a educação, a saúde, o bem-estar social geral, isso sairia mais barato e produziria efeitos muito melhores contra o crime. O terrorismo se tornou uma desculpa para o governo fazer qualquer coisa, mas isso não afeta realmente os extremistas. Eles já evitam os grampos usando ferramentas simples. As únicas pessoas pegas na rede com esses grampos são as pessoas normais.
Como alguém que já passou por todos os rigores do sistema judiciário, há quanto tempo a vigilância é uma preocupação para você?
Sunde: Sempre foi! Quando alguém assiste ao que você faz, é possível mudar seu comportamento porque tem consciência disso. Na escola, eu odiava quando os professores assistiam ao que eu estava fazendo por cima do meu ombro, e acho que isso é parte da mesma coisa. Exijo minha privacidade.
Você vê a criptografia se tornar uma parte maior do uso on-line cotidiano num futuro próximo?
Sunde: A criptografia precisa estar lá, mas ela em si não é a solução para nada. A solução seria nos certificarmos de que não precisamos de criptografia. Vejo a criptografia como um tipo de movimento defensivo contra um comportamento agressivo que não devíamos tolerar. No entanto, nesse meio tempo, isso é como usar uma camisinha — não encontramos a cura para certas doenças ainda, então, devemos nos proteger da melhor forma possível.
Que serviços de criptografia online você acha que já são um sucesso?
Sunde: A VPN está se saindo muito bem em proteger seus usuários. A PGP tem tido muito sucesso em termos tecnológicos, mas não em termos de número de usuários. Já fui entrevistado milhares de vezes e só encontrei um jornalista que tinha a chave da PGN. É uma vergonha.
Quais os maiores obstáculos para fazer um usuário médio da rede se interessar pela criptografia?
Sunde: Conseguir uma boa base de usuários, devido tanto à competência no mercado quanto a ter uma boa experiência e interface para o usuário.
É por isso que o Heml.is está sendo comercializado como “bonito”?
Sunde: Sim. Essa é a questão principal das soluções tecnológicas! Se o usuário cotidiano que não entende (ou não se importa, ou não quer se importar) com criptografia não começar a usar o serviço, as pessoas que têm interesse não poderão falar com eles e isso vai acabar não dando certo. Para conseguir que as pessoas usem uma tecnologia importante, você simplesmente tem que tornar isso mais atraente do que qualquer outra coisa, para fazer com que elas mudem. Poucas pessoas comprariam um carro realmente feio — mesmo que fosse super-rápido. Elas preferem comprar um carro que parece rápido, mas que na verdade é lento pacas.
Por que a pessoa comum, que não tem nada a esconder, deveria querer usar o Heml.is?
Sunde: Não é uma questão de ter algo a esconder ou não, é sobre ter o direito à privacidade. Os grampos de hoje significam que o governo sabe tudo sobre você. Em quem você vota, sua crença religiosa, com quem você flerta, quais suas preferências sexuais, etc. E isso não é da conta deles. Olhando para a história, os governos futuros poderão estar mais interessados nesses dados do que os atuais. Veja a Europa, por exemplo, onde cada vez mais partidos de extrema-direita estão subindo ao poder. Na Noruega, o partido anti-imigração é, agora, o segundo maior do país, e é bem provável que faça parte do governo na próxima eleição. Tenho certeza que eles estão interessados em saber quem está ajudando imigrantes ilegais. Temos que pensar em longo prazo. Esses dados já foram armazenados uma vez e podem ser guardados para sempre.
Depois das revelações de que a Microsoft estava cooperando com a NSA, você acha que a opinião pública sobre o software mais popular do mundo vai mudar?
Sunde: Você está dizendo que a Microsoft faz um software popular? Para mim, é mais como um software forçado para todo mundo. Mas sim, essa é uma grande oportunidade para que as pessoas usem soluções melhores que existem por aí. Microsoft, Apple e outros fabricantes de software têm poder demais sobre nossas vidas e nossas liberdades, então, é importante quebrar o oligopólio deles. Se isso puder ser feito, também será muito mais difícil monitorar as pessoas, já que as melhores soluções agora são todos softwares abertos e gratuitos.
Estamos vendo um pico no desenvolvimento de softwares agora? Parece haver uma corrida para colocar produtos abertos e baseados em criptografia no mercado.
Sunde: Temo que isso vá perder o fôlego logo. As pessoas já estão desistindo… Elas acham que não podem lutar contra o governo. Nos Estados Unidos, você tem um sistema bipartidário em que os dois partidos são muito próximos na verdade — especialmente quando se trata de questões digitais. O desenvolvimento de software que acontece fora das grandes corporações quase sempre usa criptografia e soluções mais conscientes de privacidade do que as versões corporativas. Então, muitas das soluções tecnológicas já estão aqui, mas temos um problema para colocá-las para o usuário comum de desktop.
O que falta para serviços como o Heml.is se tornarem meios de comunicação comuns?
Sunde: Não tenho certeza se queremos que isso seja “o meio comum” de comunicação. Precisamos ter muitas soluções e não só alguns exemplos em que confiamos totalmente. Veja o Pirate Bay. A pior coisa que o Pirate Bay fez foi se tornar tão poderoso e dominante quanto é hoje. Por causa disso, ninguém cria um competidor à altura. Assim, perdemos a chance de ter uma tecnologia melhor e colocamos todos os ovos na mesma cesta.
Quais mudanças online são necessárias para que a internet seja um meio mais aberto e livre?
Sunde: Muita coisa! Acho que essa é uma grande questão dentro e fora da internet. Do jeito que a internet está crescendo agora — com serviços de nuvem e pouquíssimas operadoras de internet globais — certamente, estamos indo para o lado errado em termos de serviços livres e abertos.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..