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Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Deputado encaminha queixa-crime por calúnias

29 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Publicado no Tecedora
O deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS) foi alvo na noite de segunda-feira (28 de janeiro) de um ataque criminoso articulado por grupos de extrema direita no país (link) . O parlamentar já encaminhou Queixa-Crime à Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento de Santa Maria, solicitando abertura de inquérito para investigar e identificar autores e a origem das calúnias criminosas com conteúdo falso, que circulam na internet, responsabilizando criminalmente os autores.


Segundo o deputado, diante da Justiça, os autores dos ataques terão “oportunidade de sustentar as acusações”. Segundo informações, a ação iniciou na página do Revoltados Online no Facebook, um grupo de extrema direita, como é possível de comprovar aqui.

Ainda a tarde desta quarta-feira (30), Pimenta esteve em contato com especialistas em segurança da internet da Polícia Federal. O deputado diz que não hesitará em responsabilizar criminalmente quem reproduzir o conteúdo falso desse material.

Por fim, lamentou que, em um momento de dor e comoção nacional, haja espaço para que se use a tragédia como forma de tentativa de calúnias.

Veja aqui o texto da queixa-crime:










Por que surgiu o Partido do Futuro

29 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Portugal, março de 2012: mobilizados contra crise e inspirados nos protestos espanhóis, milhares de jovens saem às ruas e criam movimento “geração à rasca”
Parte dos “Indignados” espanhóis busca novo caminho para superar crise da democracia formal. Qual seu programa? Por que cultivam o anonimato?

Por Manuel Castells | Tradução: Gabriela Leite

Dia 8 de janeiro, anunciou-se na internet a criação do “Partido do Futuro”, um método experimental para construir uma democracia sem intermediários, que substitua as instutuições atuais, deslegitimadas na mente dos cidadãos. A repercussão cidadã e midiática tem sido considerável. Só dia do lançamento, e apesar da queda do servidor por ter recebido 600 visitas por segundo, a iniciativa (http://partidodelfuturo.net) teve 13 mil seguidores no twitter, 7 mil no facebook e 100 mil visitas no YouTube. Jornais estrangeiros e espanhóis, fizeram eco de uma “entrevista coletiva do Futuro” que anuncia o triunfo eleitoral de seu programa: democracia e ponto.




Sinal de que já não se pode ignorar o que surge a partir do 15-M. Porque esse partido emerge do caldo de cultura do movimento, mesmo que não possa, de modo algum, assimilar-se ao mesmo. Porque não existe “o movimento” com estrutura organizativa nem representantes, mas pessoas em movimento que compartilham de uma denúncia básica às formas de representação política que desarmam as pessoas ante os efeitos de uma crise que não causaram, mas que sofrem a cada dia. O 15-M é uma prática coletiva e individual mutante e diversificada, que vive na rede e nas ruas, e cujos componentes tomam iniciativas de todo tipo, desde a defesa contra o escândalo das hipotecas até a proposta de uma lei eleitoral que democratize a política.

Mas até agora, muitas dessas iniciativas parecem condenadas a um beco sem saída. Por um lado, as pesquisas mostram que uma grande maioria dos cidadãos (cerca de 70%) estão de acordo com as críticas do 15-M e com muitas de suas propostas. Por outro lado, toda essa mobilização não se traduz em medidas concretas que ajudem as pessoas, porque existe um bloqueio institucional à adoção das ditas propostas. Os dois grandes partidos espanhóis são corresponsáveis pela submissão da política aos poderes financeiros no tratamento da crise — compartilhando, por exemplo, a gestão irresponsável dos gerentes do Banco da Espanha, que arruinou milhares de famílias. Por isso o 15-M expressou-se no espaço público, em acampamentos, em manifestações, em assembleias de bairro e em ações pontuais de denúncia. Mas mesmo que essa intervenção seja essencial para criar consciência, esgota-se em si mesma quando se confronta com uma repressão policial cada vez mais violenta.

Por sorte, o 15-M freou qualquer impulso de protesto violento, desempenhando um papel de canalizador pacífico da ira popular. O dilema é como superar as barreiras atuais sem deixar de ser um movimento espontâneo, auto-organizado, com múltiplas iniciativas que não são um programa, e portanto podem congregar potencialmente os 99% que sabem o que não querem (ou seja, o que temos hoje), e que se lembram de buscar em conjunto novas vias políticas de gestão da vida.

Para avançar nesse sentido, surgiu uma iniciativa espontânea de ir ocupando o único espaço em que o movimento não está presente: as instituições. Não de imediato, porque seu projeto não é o de ser uma minoria parlamentar, mas mudar a forma de fazer política. Por meio de democracia direta, instrumentada pela internet: propondo referendos sobre temas-chave; co-elaborando propostas legislativas mediante consultas e debates no espaço público, urbano e cibernético; com medidas concretas, a serem debatidas entre a cidadania e servindo de plataforma para propostas que partam das pessoas.

Na verdade, não é um partido, mesmo que esteja registrado como tal, mas um experimento político, que vai se reinventando conforme avança. No horizonte, vislumbra-se um momento em que o apoio da cidadania a votar contra todos os políticos ao mesmo tempo, e em favor de uma plataforma eleitoral que tenha esse só ponto em seu programa, permita uma ocupação legal do Parlamento e o desmantelamento do sistema tradicional de representação, de dentro dele mesmo. Não é tão absurdo. É, em grande medida, o que aconteceu na Islândia, referente explícito do partido que nos fala a partir do futuro.

Mas como evitar reproduzir os esquemas tradicionais de partido, no processo de conquistar a maioria eleitoral? Aqui é onde se coloca a decisão — criticada pela classe política e alguns jornais — de anonimato, mantido pelas pessoas que tomaram essa iniciativa. Porque se não existem nomes, não há líderes, nem cargos, nem direções, nem porta-vozes que dizem que falam pelos demais, mas acabam representando a si mesmos. Se não há rostos, o que ficam são ideias, práticas, iniciativas.

De fato, é a prática da máscara como forma de criação de um sujeito coletivo composto por milhares de indivíduos mascarados, como fizeram os zapatistas em sua época, ou como faz o Anonymous com sua famosa máscara reconhecível em todo o mundo, mas com múltiplos portadores. Aliás, o aninomato no protesto encontra-se em nossos clássicos: “Fuenteovejuna, todos por um [1]”.

Talvez chegue um momento em que as listas eleitorais requeiram nomes, mas inclusive aí não necessariamente seriam líderes, porque é possível sortear os nomes entre milhares de pessoas que estejam de acordo com uma plataforma de ideias. No fundo, trata-se de pôr em primeiro plano a política das ideias, com qual enchem a boca os políticos — enquanto fazem sua carreira acotovelando-se entre si. A personalização da política é a maior cicatriz da liderança ao longo da história, a base da demagogia, da ditadura do chefe e da política do escândalo, baseada em destruir pessoas representativas. O “X” adotado como símbolo pelo partido do futuro não é para esconder-se, mas para que seu conteúdo seja recheado pelas pessoas que projetem, nesse experimento, seu sonho pessoal num um sonho coletivo: democracia e ponto. A co-definir.


[1] Peça do escritor espanhol Lope Vega, escrita em 1610, tendo como tema a rebelião do povo, unido contra a tirania e as injustiças. Ver na Wikipedia



A crise do jornalismo e seu possível resgate

29 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Fala Ignacio Ramonet: publicações tradicionais desaparecerão como dinossauros; desafio é assegurar, nas novas mídias em rede, profundidade e sustentação

Entrevista a Raúl Zibechi, em La Vaca | Tradução: Bruna Bernacchio | Publicado no Outras Palavras

O jornalista e analista uruguaio conversa com o também jornalista e comunicólogo espanhol, que afirma que “estamos diante de uma revolução que transborda o campo da comunicação para ser uma revolução social”


Caminhamos pelas ruas de Bogotá, onde Ignacio Ramonet assistiu ao décimo aniverśario da edição local de Le Monde Diplomatique, convidado, por Desdeabajo, coletivo editor de livros e jornais. Teve tempo, e ânimo, para fugir do turbulento centro e dedicar umas horas a percorrer o sul pobre da capital colombiana: Cidade Bolívar, onde se desenvolvem experiências de base notáveis. Não para de perguntar. Seu conhecimento de detalhes da história e da vida dos latinoamericanos permite assegurar que o colonialismo não é uma barreira intransponível.

Em certo momento, a conversa tornou-se mais sistemática, um pingue-pongue de perguntas e respostas que não tiveram nem começo nem fim.

Em A explosão do jornalismo você analisa a crise da imprensa e foca no novo poder adquirido por quem antes era leitor ou audiência passiva. É o que nós, jornalistas críticos, sempre havíamos sonhado, mas você vê, nesse papel ativo uma das causas da crise da mídia atual.

A grande transformação produzida pela internet na circulação de informação é que, onde antes dominava o que chamo de “mídia solar” — astros que enviavam seus raios de sol sobre toda a sociedade, impregnando-a com sua supremacia — acabou. Não há emissores puros, que tenham o monopólio da informação e receptores puros, que tenham de resignar-se com tal função de receptores. A revolução que vivemos é que cada receptor pode ser também emissor.

Pode fazer uma página na internet com os amigos, seu blog, facebook ou twitter. E os grandes veículos têm uma vitrine digital, onde se pode intervir fazendo comentários que contrapõem e complementam os artigos; o leitor pode indicar elementos a serem corrigidos do artigo inicial, além de fotos e vídeos. O que eu quero dizer é que a informação já não é algo limitado e fixo. A concepção da informação vem da imprensa, que é o meio que influenciou a rádio e a televisão, e sua origem é o trabalho da era industrial.

O fordismo, onde havia uma clara divisão de trabalho.

Exato. No fordismo há um projeto, um plano, e na base disso se realiza um produto terminado, intocável. Isso já não funciona nem sequer na indústria, onde aconteceu a revolução do toyotismo, nos anos 80. Fabrica-se, por exemplo, o carro que o cliente quer. A decisão já não vem da empresa, mas de baixo. Agora sucede o mesmo na mídia. Pede-se ao jornalista um artigo com certas características, mas logo os leitores vão completando-o, reformando-o, transformando-o. Por consequência, é uma obra em processo. Isso é uma revolução muito importante.

Agora, como consequência das mudanças técnicas e culturais, o leitor, a audiência, têm um poder como nunca tiveram. Se a isto somamos a crise econômica, estamos diante de uma crise dos velhos monopólios da informação. Newsweek deixou sua edição em papel, The Guardian debate a possibilidade de dar este passo, El País despede um terço do seu pessoal.

Estamos diante de uma crise conjuntural ou diante de uma virada de larga duração?

O que estamos vivendo no campo da comunicação só é comparável à invenção da prensa de tipos móveis, por Gutemberg, em 1440. Ela não transformou apenas a produção do texto escrito, a difusão do livro. Também produziu o humanismo como escola de pensamento, o Renascimento e a explosão das universidades e do saber, com tudo o que isso significa. O latim deixou de ser a língua comum e começou a ser substituída pelas línguas nacionais, que foram se desenvolvendo. Agora, acontece algo similar. Estamos diante de uma revolução que transborda o campo da comunicação para ser uma revolução social. Envolve o setor financeiro, o comércio, as relações sociais e a difusão da cultura. Uma revolução tecnológica transforma tudo.

O jornalismo vive todos os efeitos deste processo. A estrutura da indústria da informação e a maneira de produzir informação estão sendo transformadas. E é preciso lembrar que estamos apenas no engatinhar inicial, no primeiro segundo da história da internet. Algumas das realizações mais espetaculares das transformações tecnológicas, como os tablets, facebook, o Iphone, não existiam há apenas cinco anos e não podemos imaginar o que acontecerá nos próximos cinco.

E os monopólios?

Os monopólios vão sofrer. Foram a resposta da indústria empresarial da informação aos avanços tecnológicos dos anos 1960 e 70. As tecnologias anteriores eram específicas para o som, a escrita e a imagem, mas neste período convergiram para uma mesma tecnologia, que é a tecnologia digital. A partir desse momento, não há diferença em como se constroi um texto, um som ou uma imagem. Constroem-se da mesma maneira, com as mesmas máquinas, os computadores.

A internet traduz uma nova forma de expressão. Os seres humanos usaram, desde o começo da humanidade, três sistemas de signos para comunicar-se: a palavra, o desenho e a escrita — a mais recente. Com a internet, aparece um quarto, que é a mescla dos três, mais uma dimensão complementar: a velocidade e extensibilidade, que permite alcançar o planeta num segundo. Depois de tudo isso, a paisagem da comunicação não pode permanecer como era.

Ao que parece, a mídia mais afetada é a impressa, que, segundo você, está se extinguindo como os dinossauros.

Porque a imprensa continua sendo pesada. Além de ser o meio mais antigo, é o mais marcado pela era industrial, com operários, máquinas e toda a lógica da produção fabril. Por isso, é tão afetada pelas mudanças.

Estamos assistindo a uma ofensiva repressiva que busca controlar a internet e que se manifesta, entre outros fatos, no fechamento do Megaupload. Essa tentativa de controle pode triunfar, ou está destinada ao fracasso?

O problema é que essa transformação radical não tem sistema econômico. O sistema anterior, que hoje tornou-se arcaico, tem muitos defeitos — mas é muito rentável. Todos os jornalistas do mundo que seguem empregados podem viver porque trabalham em meios tradicionais, mas os meios surgidos na era da internet têm enormes problemas para sobreviver, não estão acoplados a um meio tradicional ou multimídia importante. Como a cultura dominante na internet é a gratuidade, o problema é: de que viverão os criadores, autores e jornalistas? Haverá um declínio da criatividade? Isso é um problema real.

Com o controle e o fechamento dos veículos, busca-se frear a “pirataria”. Por um lado, há um movimento da sociedade para que a internet siga sendo gratuita. Por outro, surge o Wikileaks, que estabelece a mesma problemática, mas em outro terreno impensável fora da internet. Estamos diante de uma situação similar ao escândalo de Watergate ou aos Documentos do Pentágono [Pentagon Papers], em que um informante passa dados reservados a um veículo — Washington Post e The New York Times, respectivamente. Nesse sentido, nada mudou. Mas o que, sim, muda é a quantidade de inforrmação que se pode difundir agora, e a massividade é a mesma.

Toda a sociedade está se digitalizando e todos os arquivos, desde os da saúde até os das forças armadas, estão sendo digitalizados. Enquanto há alguns anos eram necessários caminhões para carregar toda essa informação, hoje com um click em um computador movimentam-se milhares e milhares de documentos desmaterializados, que podem se propagar para todo o planeta. O que o Wikileaks fez foi difundir dados que prejudicam pessoas com poder, e isso que criou a situação que converteu Julian Assange no inimigo público número um dos Estados Unidos.

Na América Latina temos um forte debate sobre o comum, em que se afirma que os bens comuns não devem pertencer a nehum proprietário privado. Você crê que a internet deve ser considerada um bem comum da humanidade?

É um debate que afeta a cultura, e o que dizemos é que a cultura deve circular sem travas, porque isso beneficia o ser humano. Na medida em que a internet é hoje o maior difusor de cultura, creio que deve circular gratuitamente como um bem comum. Agora, aparece outro problema: o que fazer com os direitos dos criadores? Hollywood diz que a produção criativa tornou-se mais difícil porque a pirataria tira-lhe 15% a 20% dos lucros. Os principais produtores musicais do mundo desapareceram. Quase não se vendem mais discos e o CD tornou-se defasado em apenas 15 anos, como acontece com tudo o que é material. É evidente que a música pode circular como um fluxo, e isso acontece com todas as demais produções. Por isso, há um dilema. Ou o Estado assume este tema da mesma forma que assume a produção e circulação de eletricidade, o tratamento e distribuição de água, ou será preciso encontrar uma fórmula mista, para que o preço seja acessível aos usuários e garanta, ao mesmo tempo, uma remuneração para os criadores. O problema é que mesclar Estado com cultura é algo muito delicado. Porque pode haver a tentação de favorecer alguns e prejudicar outros.

Mas o debate existe e está muito presente, como no caso da Ley de Medios, na Argentina. Você acredita que na América Latina estamos a caminho de solucionar esse debate?

Em nenhum outro lugar do mundo este tema está sendo debatido como na América Latina, onde as discussões despertam, aliás, muita paixão. A informação era um monopólio do setor privado que fazia o que queria. Além disso abusava, como no caso da televisão, de um direito que não é do setor privado: as ondas radioelétricas são propriedade do Estado, que as concede e pode exigir do empresário que se comprometa com uma série de objetivos (como os culturais) e, quando o operador não os respeita, retira a licença. O que aconteceu na América Latina é que se manejou durante muito tempo a informação como um monopólio a mais do setor privado. Por isso falamos de “latifundios midiáticos”. A questão é como reduzir essa dominação, preservando a pluralidade — porque a sociedade se enriquece quando existem vários pontos de vista.

Em vários países, criou-se um serviço público da informação, como os existentes em toda a Europa. O melhor exemplo é a BBC inglesa, que tem uma estrutura de controle separada do Estado. O chamado “quarto poder” precisa ser organizado fora do governo, com suas próprias estruturas de controle, para que esteja ao serviço do público e não de um governo ou do setor privado. Creio que, na América Latina, o debate está tão acirrado porque estamos dando os primeiros passos, saindo de quase um século de imobilidade. Quando algo começa a se mover, os afetados colocam-se em uma situação de guerra, sobretudo porque também estão sendo afetados pelas mudanças tecnológicas e a revolução da internet. Essa confluência levou os donos dos veículos a uma postura muito intransigente.

Que tipo de jornalistas deveriam surgir nessa nova realidade? Qual é agora a função do jornalista? Já não somos os que iluminamos o leitor ou uma audiência passiva. Além disso, está surgindo uma multiplicidade de veículos independentes criados e dirigidos por jornalistas que em muitos países possuem um papel muito importante.

É o momento de nos repensarmos. Fazer bom jornalismo sempre foi e continua sendo difícil. Ter acesso a tecnologias que permitem fazer coisas impensáveis anos atrás, o fato de que da minha casa eu possa fazer uma televisão global, é muito importante. Mas essa revolução de ferramentas não soluciona a questão do conteúdo. O problema, portanto, é o mesmo de sempre. A principal mudança é a interatividade da qual estamos falando. É possível fazer um novo jornalismo do tipo Wikileaks, colocar na web as notícias e permitir que as pessoa interpretem e façam o que quiserem com essa informação. É possível fazer jornalismo cívico, como o que fazem algumas associações dos Estados Unidos, o chamado jornalismo sem fins lucrativos. Como a maioria das grande empresas estão em crise e já não têm recursos para financiar investigações sérias, o jornalismo está perdendo qualidade em escala mundial — e qualquer cidadão sabe que um jornalismo de qualidade é indispensável para ter uma democracia de qualidade.

Aquela prática dos editores, de poupar dois ou três jornalistas do trabalho cotidiano, durante algumas semanas, para que investigassem um tema importante, já não acontece…

Não há recursos para tanto, menos ainda para enviar uma equipe a outra parte do mundo para produzir notícias. Por isso, o jornalismo de investigação, que é um gênero nobre, está desaparecendo. Isso está ligado ao declínio da democracia atual. Porque a democracia só pode funcionar se surgem críticas e demandas da sociedade, que sempre foram transmitidas e refletidas pelo quarto poder. Quando este não cumpre sua função, a coisa pública começa a decair.

Por isso, algumas fundações criaram o jornalismo sem fins lucrativos. Uma fundação dos Estados Unidos propôs-se a funcionar como um comitê de redação. Pede aos jornalistas que lhe sugiram temas de investigação, isso seria inadmissíveis em seus jornais. Quando chegam as propostas, a fundação seleciona e financia investigações que considera mais adequadas e mais tarde as difunde, através dos meios. Existem somente há quatro anos e já ganharam dois premios Pulitzer. Quero dizer que a sociedade começa a produzir os elementos que compensam a decadência do jornalismo de mercado. Mas as velhas leis do jornalismo, como a checagem da informação e o rigor, continuam válidas.

De que forma a proliferação das publicações de base, ou comunitários, como acontece na Argentina, pode contribuir?

Estive em encontros de rádios comunitárias, de blogueiros, de contrainformação. Têm a grande riqueza do que vem do terreno, onde palpita a vida cotidiana. São muito mais interessantes quando narram a vida que os outros não veem, do que quando editorializam. Essa riqueza extraordinária pode ir do local a uma escala mais ampla, porque há experiências que, ainda sejam locais, interessam a qualquer ser humano, em qualquer lugar.

O bom jornalista não editorializa seus textos? Ou o faz através da voz dos outros?

Acho que só se deve editorializar a partir de fatos concretos. Essa é a qualidade de um bom editorialista: estabelecer conexões entre fatos que, em princípio, não estão relacionados. A primeira função do jornalista é dar informação. A partir daí, deve-se construir cidadania, difundir materiais que vão permitir aos cidadãos como sujeitos, ser mais dignos.

Apesar de um tom pessimista, em alguns de seus últimos trabalhos você assinala que o jornalismo do futuro é aquele que ajuda as pessoas a compreender o que acontece. A mente pensa com ideias, não com informação…

Há vários estilos jornalísticos. Acredito que a reportagem é insubstituível e há excelentes repórteres com a qualidade de texto que este gênero requer. Além disso, há a investigação, a análise econômica e geopolítica; mas no fundo trata-se de ajudar a compreender uma realidade em mudanças. Tecido e texto têm a mesma raiz epistemológica, um texto é um tecido. Os jornalistas têm que tecer textos para propor uma visão que permita a cada cidadão situar-se dentro de um contexto e saber qual é a sua função no relato coletivo.

Você tem assegurado que publicações que apostem nesta fórmula terão êxito.

É caso do jornal alemão Die Zeit: muito denso, com muita letra, textos difíceis, e ainda assim é o grande êxito da imprensa europeia dos últimos anos. Seguiu um pouco o caminho do Le Monde Diplomatique, porque é necessário recordar que vivemos nas sociedades mais educadas da história. Nunca houve tantos estudantes, tantos universitários, mas, ao mesmo tempo, a informação degradou-se e envelheceu, com uma enorme confusão entre informação e distração. Isso não pode satisfazer pessoas inquietas, que foram educadas e são exigentes, o que as leva a buscar informação de qualidade.

O diário mexicano La Jornada também creceu por esses mesmos motivos. Compreender o caos atual motiva e mobiliza muita gente.

Só encontraremos o fio de Ariadne para sair do caos atual refletindo em conjunto. Neste caminho, um jornalismo como o que mencionamos terá um papel relevante.

E é um contra-modelo, diante da mídia que coloca a informação nos espaços que a publicidade não ocupa…

É muito triste comprovar que muitas publicações tornaram-se dependentes da publicidade, o que falsifica a informação oferecida. O jornalismo de qualidade deve preocupar-se com a autonomia financeira e para isso deve-se associar os leitores ao veículo.

Estamos diante de um desafio geracional muito forte. No mundo da internet, surgem criadores de 12 e 13 anos que são capazes de fazer programas inovadores. O que te sugere a emergência dessas novas geracões?

É uma lição de humildade para os velhos jornalistas. Essas gerações são as que estão transformando as tecnologias e nos colocam diante de um desafio de escrever pensando em pessoas que não conheceram certas coisas. Devemos escrever pensando neles, recorrendo a referências que os atraiam. Não podemos fazer um jornalismo para entendidos, porque agora todos podem ser jornalistas e isso nos coloca em um lugar novo. Antes as observações só vinham de cima, agora qualquer leitor pode intervir e te questionar.


*Ignacio Ramonet é jornalista, editor do Le Monde Diplomatique, edição espanhola, e presidente da rede Memória das Lutas – Medelu.



Outra tragédia anunciada no Rio de Janeiro?

28 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Infelizmente, parece-nos outra tragédia anunciada no Rio de Janeiro. Usuários do Facebook estão a compartilhar fotos e comentários sobre o temor de outra tragédia anunciada no Rio de Janeiro. Claro que desejo estar errado, mas as imagens mostram outra realidade. Veja a mensagem publicada por um usuário:
Pra quem ainda não entendeu, vou explicar bem devagar: essa porra vai cair. Isso aí é o que dá pra ver (foto acima). O Elevado do Joá pode estar pior que isso por debaixo. Não é melhor desviar logo o trânsito para a Joatinga, Alto, Grajaú e Linha Amarela, e fazer logo o que precisa ser feito? O laudo técnico já disse: vai cair. As autoridades não podem "proibir o tráfego de caminhões e reduzir a velocidade para 60km/h" e achar que tá tudo bem. É tão arrogante ignorar o laudo dos peritos quanto querer revogar a lei da gravidade. Amigos, façam barulho.
No dia 03/01/2013, O Globo publicou:
Quem tem medo do Elevado do Joá? - Mesmo com obras de reforço, moradores da Barra estão inseguros de utilizar a via


Fernanda Dannemann, jornalista, publicou em seu blogue no dia 27/01/2013, uma Campanha: ajude o Paes a consertar o Joá! Leia um trecho abaixo:

Só eu vou a 60, e ainda tenho que aturar os faróis piscando na minha traseira, os xingamentos e as buzinadas alheias: pelo visto, ninguém acreditou que o elevado está cai-não-cai... ou ninguém se importa que ele venha mesmo a cair. Sabe aquela história de otimismo excessivo e de achar que as tragédias só acontecem com os outros? Pois é...
Concordo com a presidente da CET-Rio, Claudia Secin, que por ali passa todos os dias e disse, em entrevista publicada recentemente, que é um absurdo que a adoção dos radares seja necessária para botar um freio na desobediência dos motoristas. A CET-Rio espera uma média de 250 multas por dia depois da instalação dos radares, quando o ideal, diante dos riscos, seria que ninguém ultrapassasse o limite de velocidade. Se considerarmos o valor de R$ 127,69 por multa, no fim do mês somente estas 250 multas diárias somarão R$ 1 milhão!
Assim sendo, minha sugestão para o caso é que o prefeito instale logo os tais radares e coloque também um placar gigante com os dizeres "A PREFEITURA AGRADECE, JÁ ARRECADAMOS R$... EM MULTAS", e converta todo o dinheiro na reforma do elevado velho e na construção do novo. Taí uma boa maneira de usar de forma construtiva a falta de educação (e de consciência) do carioca!
Até quando o descaso vai imperar no Rio de Janeiro? Chega de tragédias.



O etnocentrismo que alimenta a ignorância

27 de Janeiro de 2013, 22:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

A História ocidental é bastante etnocêntrica. Revisá-la é uma forma de enxergar o que negamos e restituir o lugar da alteridade

Uns fumam, outros bebem álcool, alguns ingerem infusões. Ao longo da História, diversos povos do mundo inventaram meios variados para atingir o que no Ocidente se convencionou chamar de “estados alterados de consciência”. Eles são geralmente vistos como normais pela sociedade que os provoca: os indianos têm consumido tradicionalmente a folha dacannabis sem considerá-la uma droga, assim como os habitantes da região andina plantaram e consumiram durante milhares de anos a folha da coca sem que esses atos fossem tratados como ilegais.

No noroeste peruano, foram encontrados resíduos de folha de coca mastigada, datados em mais de 8.000 anos. Esse consumo se reveste de diversos sentidos para o homem andino – energético, terapêutico, religioso, identitário. Mas, de repente, o costume milenar se transforma: de “legal” passa a ser “ilegal”. E o etnocentrismo é um importante elemento dessa transformação.
Em 1950, preocupadas com o crescimento, nos países ocidentais, do consumo de cocaína – um dos componentes químicos presentes naquela planta –, as Nações Unidas formaram a chamada “Comissão da Folha da Coca”, que tinha como meta a elaboração de um informe sobre a produção e o consumo de coca nos países andinos. Esse informe criou um consenso com relação à nocividade da folha da coca, e o ato de mastigá-la passou a ser enxergado como um vício indígena que precisava ser extinto. Afinal, provocava “alterações psíquicas”, “introspecção”, “prostração moral”, “escassa capacidade de atenção”, e, portanto, “grande prejuízo econômico”. O documento serviu de sustentação para a Convenção Única de Estupefacientes, assinada em 1961, que normatizou, entre os países assinantes, a erradicação do cultivo da coca e do hábito de mastigação num prazo de 25 anos.
O etnocentrismo daquela Comissão se manifestou num pequeno detalhe: a população que fazia uso da planta havia milênios sequer foi consultada. Todos os supostos efeitos da coca sobre o corpo e a mente foram avaliados a partir de uma série de prejulgamentos e especulações dos membros da Comissão, todos educados numa cultura alheia aos andinos e distante deles. Sempre que nos deparamos com costumes diferentes e os interpretamos a partir da nossa própria cultura, estamos cometendo um ato etnocêntrico.
O gravíssimo problema do etnocentrismo é que ele não nos permite enxergar a lógica, as razões ou as motivações daquele que é diferente de nós, simplesmente porque não admitimos conceder-lhe a palavra, achando que bastam a nossa opinião, impressão ou julgamento. Um exemplo claro é o surgimento do nome Yucatán para designar a península do México, no século XVI. Os conquistadores perguntaram aos nativos, em língua espanhola, como se chamava aquele lugar em que tinham acabado de desembarcar. Os nativos, em sua própria língua, responderam algo que os espanhóis entenderam por “Yucatán”. E assim batizaram o local. Na verdade, o que os nativos disseram foi: “Não te entendo”. Para os colonizadores, qualquer resposta serviria, e, graças àquela incompreensão básica, o nome erroneamente dado por eles é até hoje um monumento ao etnocentrismo: “Não te entendo”.
Para o etnocentrismo, tudo o que é diferente se torna inferior, feio, ridículo, injusto, cruel, selvagem ou irracional. Ao julgar as distinções de forma negativa, o etnocêntrico passa a querer modificar os costumes ou crenças diferentes, em nome da superioridade dos seus próprios costumes ou crenças. Dito de outra forma: ser etnocêntrico é acreditar que só existe uma verdade (a nossa) e uma beleza (a nossa), assim como também só existem a nossa justiça e a nossa racionalidade. Em O que é etnocentrismo, o antropólogo Everardo Rocha escreve: “Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência”.
Todos os povos do mundo tendem a ser etnocêntricos. Os cheyenes (índios das planícies norte-americanas) se autodenominavam “os entes humanos”; os akuáwas, grupo tupi do sul do Pará, consideram-se “os homens”; os navajos, grupo indígena norte-americano, também se intitulavam “o povo”; osxavantes acreditam que seu território tribal está situado bem no centro do mundo, tanto quanto os incas dos Andes peruanos achavam que sua capital, Q’osqo (ou Cuzco, como foi pronunciada a palavra pelos conquistadores espanhóis), era o “umbigo do mundo”.
Por que tendemos ao etnocentrismo? Na medida em que todos os indivíduos são educados em uma cultura, e que toda cultura distingue o bem do mal, o feio do bonito, o certo do errado, é natural sermos etnocêntricos quando deparamos com outros povos.   Mas há diversos graus de etnocentrismo. Alguns povos simplesmente menosprezam quem é diferente e dele quer se afastar. Outros, além de menosprezar, acham que têm o dever de transformá-lo, e chamam isso de “civilizar” ou “evangelizar”. E há aqueles que vão ainda mais longe: menosprezam e não acreditam que seja possível transformar quem é diferente. Ele deve ser eliminado.
Durante a Idade Média – após a queda do Império Romano e com o fechamento do Mediterrâneo pela expansão islâmica nos territórios que o margeiam –, a Europa se encerrou em si mesma, trazendo como resultado uma nova forma de conceber o Outro. Sem possibilidades de conhecer esse Outro, os europeus passam a imaginá-lo, mas sempre de forma deturpada, “anormal”. Surgem, assim, as imagens dos povos de gigantes, pigmeus, amazonas, canibais, entre outros.
Com a expansão das navegações nos séculos XV e XVI, os europeus acabaram se defrontando com um continente até então desconhecido para eles: a América. Pensando inicialmente que tinham desembarcado nas Índias, chamaram os nativos de “índios”. E mesmo tendo percebido logo que não estavam nas Índias, isso não os impediu de continuar chamando os que aqui moravam com esse nome imposto e equivocado, “índios”.
Quanto etnocentrismo por trás de denominações generalizantes que uns acham que podem impor aos outros! Tupis, Chibchas, Cheyenes, Astecas, Incas, Mapuches, Maias, Dakotas, Sioux, Inuits e tantos milhares de outros povos foram todos colocados numa única categoria porque não interessava ao europeu conhecer suas particularidades ou singularidades. Conhecer o Outro não estava entre as prioridades do europeu conquistador. Ver e tratar alguém como inferior autorizou os europeus a nomear (mudando os nomes que os povos davam a si mesmos), excluir, conquistar, dominar, matar, sempre em nome de sua suposta superioridade cultural e religiosa.
Ao não se permitirem perguntar, escutar e dialogar, os etnocêntricos se veem privados de aprender sobre os povos diferentes, e, assim, aprender sobre si mesmos. Ao ver no Outro apenas um “índio”, os europeus dos séculos XVI e XVII não acharam necessário perguntar, por exemplo, o que era aquela série de canais subterrâneos, para que servia, como funcionava. Simplesmente deixaram o assunto pra lá – porque era “coisa de índio” –, enquanto se enchiam de pó, terra e lama durante séculos. Hoje, sabemos que esses canais foram construídos pelos incas com uma altíssima tecnologia hidráulica, para irrigar locais onde agora há apenas desertos (a estreita franja litorânea do Peru atual). Lamentavelmente, não temos mais a quem perguntar como é que eles conseguiam juntar água (e de onde) para fazê-la passar por esses canais. O etnocentrismo passado alimenta nossa ignorância no presente.

Urpi Montoya Uriarte é professora de Antropologia da Universidade Federal da Bahia e autora de Entre fronteras:convivencia multiculturalLimasiglo XX. Sur/Concytec, 2002).
Saiba Mais - Bibliografia
CASTRO, Eduardo Viveiros de. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
ROCHA, Everardo. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1984.
THEODORO, Janice. América barrocaTemas e variações. São Paulo: Edusp/Nova Fronteira, 1992.
TODOROV, Tzvetan. A conquista da América. A questão do Outro. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

Filmes
“Amissão”, de Roland Joffé, 1986.
“1492– AConquistadoParaíso”, de Ridley Scott, 1992.
“Xingu”, de Cao Hamburger, 2012.