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Desmascarando a falsa imparcialidade da rede globo
5 de Fevereiro de 2013, 22:00 - sem comentários aindaPoema inclinado para uma época
4 de Fevereiro de 2013, 22:00 - sem comentários ainda A moda,as marcas,
os carros,
as fábricas:
tudo tende
a alguma coisa.
Qual seja,
nos fazer desejar
a nova tendência
que nos faz desejar
a nova tendência...
Das velhas inclinações,
todos querem se afastar.
A tendência da cidade é o caos;
a tendência do capitalismo são as crises;
a tendência do emprego é o desequilíbrio;
a tendência da violência são as violências;
bem como a tendência do ser humano é revidar,
criando mais caos, crises, desequilíbrio, violências, revides;
ainda que em aparência,
no asfalto da obsolescência,
tudo queira ser normal.
A certeza do abismo é a queda e
a tendência da beirada é o empurrão.
Um suicídio com mãos alheias
sussurra nos ouvidos desatentos:
já não há mais direção!
Já não se pode fazer poema
sem qualquer tipo de interrupção.
A vida não é mais contínua e
a luta não é mais opção.
O Lincoln que Spielberg — e os EUA — esqueceram
4 de Fevereiro de 2013, 22:00 - sem comentários ainda Por Vicenç Navarro* | Tradução: Gabriela LeiteO filme Lincoln, produzido e dirigido por um dos diretores mais conhecidos dos EUA, Steven Spielberg, deu nova vida a um grande interesse pela figura de Abraham Lincoln, um dos presidentes que, como Franklin D. Roosevelt, sempre desfrutou, no imaginário estadunidense, de grande lembrança popular. Sua figura política destaca-se como a de quem garantiu a unidade dos EUA, depois de derrotar os confederados que aspiravam a secessão dos Estados do Sul. É também uma figura que ressalta na história dos EUA por ter abolido a escrevidão, e ter dado a liberdade e cidadania aos decendentes das populações imigrantes de origem africana — ou seja, a população negra, que nos EUA é conhecida como a população afroamericana.
Lincoln foi também um dos fundadores do Partido Republicano. Este, em suas origens, era o completo oposto do que é hoje, quando está fortemente influenciado por um movimento — o Tea Party — chauvinista, racista e reacionário ao extremo. O Partido Republicano fundado por Lincoln era, ao contrário, uma organização federalista, que considerava o governo federal como garantia dos Direitos Humanos. Entre eles, a emancipação dos escravos, tema central da película Lincoln, foi aquele ao qual Lincoln deu maior ênfase. Terminar com a escravidão significava que o escravo passava a ser trabalhador, dono de seu próprio trabalho.
Contudo, Lincoln, inclusive antes de ser presidente, considerou outras conquistas sociais como parte dos Direitos Humanos. Entre ela, o direito do mundo do trabalho controlar não só seu trabalho, mas também o produto dele. O direito de emancipação dos escravos transformava-os em pessoas livres assalarianas, unidas — segundo ele — em laços fraternais com os outros membros da classe trabalhadora, independentemente da cor de sua pele. Suas demandas de que o escravo deixasse de sê-lo e de que o trabalhador — tanto branco como negro — fosse o dono, não só de seu trabalho, mas também do produto de seu trabalho, eram igualmente revolucionárias. O segundo tipo de emancipação, no entanto, nem sequer é citado no filme Lincoln. Ele a ignora. E utilizo a expressão “ignora” ao invés de “oculta” porque é muito possível que os autores do filme e do livro em que ele se baseia nem sequer conheçam a história real de Lincoln.
A Guerra Fria do mundo cultural e até acadêmico dos EUA (que continua existindo) e o enorme domínio do que lá se chama a Corporate Class (a classe dos proprietários e gestores do grande capital) sobre a vida, não só econômica, mas também cívica e cultural, explica que a história formal dos EUA que se ensina nas escolas e universidades é muito tendenciosa, isenta de qualquer “contaminação ideológica” precedente dos movimentos de trabalhadores — seja socialismo, comunismo ou anarquismo. A grande maioria dos estudantes norte-americanos, inclusive os das universidades mais prestigiosas e conhecidas, não sabem que a festa do 1º de maio, celebrada mundialmente como o Dia Internacional do Trabalho, é uma festa em homenagem aos sindicalistas de seu país que morreram em defesa da jornada de oito horas de trabalho por dia (no lugar de doze). Sua vitória difundiu-se na maioria dos países do mundo. Nos EUA, tal dia, o 1º de Maio, além de não ser festivo, é o dia da Lei e a Ordem — Law and Order Day — (ver o livro People’s History of the U.S., de Howard Zinn). A história real dos EUA é muito diferente da história formal promovida pelas estruturas de poder estadunidenses.
As simpatias ignoradas de Lincoln
Lincoln, já quando membro da Câmara Legislativa de seu Estado, Illinois, simpatizou claramente com as demandas socialistas do movimento trabalhador, não só dos EUA, mas também da cena mundial. Sua defesa dos trabalhadores a controlar o produto de seu labor é revolucionária ainda hoje.
Na realidade, Lincoln considerou que a escravidão era o domínio máximo do capital sobre o mundo do trabalho, e sua oposição às estruturas de poder dos Estados do sul devia-se precisamente a perceber estas estruturas como sustentadoras de um regime econômico baseado na exploração. Daí veio a ideia da abolição da escravatura como a libertação não apenas da população negra, mas capaz de beneficiar também a classe trabalhadora branca — cujo racismo, via o presidente, ia contra seus próprios interesses.
Lincoln também indicou que “o mundo do trabalho antecede o capital. O capital é o fruto do trabalho, e não existiria sem o mundo do trabalho, que o criou. O mundo do trabalho é superior ao mundo do capital, e merece a maior consideração (…) Na situação atual, o capital tem todo o poder e há que se reverter este desequilíbrio”. Leitores dos escritos de Karl Marx, contemporâneo de Abraham Lincoln, se lembrarão que algumas dessas frases eram muito semelhantes às utilizadas por tal analista do capitalismo em sua crítica da relação capital/trabalho sob tal sistema econômico.
Surpreenderá a um grande número de leitores saber que os escritos de Karl Marx influenciaram Abraham Lincoln, tal como documenta em grande detalhe John Nichols, em seu excelente artigo “Reading Karl Marx with Abraham Lincoln: Utopian socialists, German comunists and other republicans” [“Lendo Karl Marx com Abraham Lincoln: Socialistas utópicos, comunistas alemães e outros republicanos”], publicado no Political Affairs (27/11/12), e do qual extraio as citações, assim como a maioria dos dados publicados nesse artigo. Os escritos de Karl Marx eram conhecidos entre grupos de intelectuais que estavam profundamente insatisfeitos com a situação política e econômica dos EUA, como era o caso de Lincoln.
Karl Marx escrevia regularmente no The New York Tribune, o jornal intelectual mais influente nos Estados Unidos naquele período. Seu diretor, Horace Greeley, considerava-se um socialista e um grande admirador de Marx, ao qual convidou a ser colunista no diário. Em suas colunas, incluiu um grande número de ativistas alemães que haviam fugido das grandes perseguições ocorridas na Alemanha daquele tempo — um país altamente agitado, com um nascente movimento trabalhador que questionava a ordem econômica existente. Alguns desses imigrantes alemães (conhecidos naquele momento como os “Republicanos Vermelhos”) lutaram mais tarde contra as tropas sulistas na guerra civil, dirigidos pelo presidente Lincoln.
Greeley e Lincoln eram amigos. Na verdade, Greeley e seu diário apoiaram desde o início a carreira política de Lincoln, sendo Greeley quem o aconselhou a candidatar-se à presidência do país. E todas as evidências apontam que Lincoln era um grande leitor de The New York Tribune. Em sua campanha eleitoral, convidou vários “republicanos vermelhos” a integrar-se a sua equipe. Já antes, como congressista, representante do condado de Springfield no estado de Illinois, apoiou frequentemente os movimentos revolucionários que ocorriam na Europa e muito especialmente na Hungria, assimando documentos de apoio a esses movimentos.
Lincoln, grande amigo do mundo do trabalho estadunidense e internacional
Seu conhecimento das tradições revolucionárias existentes naquele período não era casual, mas fruto de suas simpatias com o movimento trabalhador internacional e suas instituições. Incentivou os trabalhadores dos EUA a organizar e estabelecer sindicados e continuou fazendo-o quando presidente. Vários sindicatos nomearam-no membro honorário. Em sua resposta aos sindicatos de Nova York, sublinhou “vocês entenderam melhor do que ninguem que a luta para terminar com a escravidão é a luta para libertar o mundo do trabalho, ou seja, libertar todos os trabalhadores. A libertação dos escravos no Sul é parte da mesma luta pela libertação dos trabalhadores do Norte”.
Durante a campanha eleitoral, Lincoln posicionou-se contra a escravidão, indicando explicitamente que a libertação dos escravos permitiria aos trabalhadores exigir os salários que lhes permitissem viver decentemente e com dignidade.
Marx, e também Engels, escreveram com entusiasmo sobre a campanha eleitoral de Lincoln, em um momento em que ambos estavam preparando a primeira Associação Internacional dos Trabalhadores. Em umas sessões, Marx e Engels propuseram à Internacional que enviasse carta ao presidente Lincoln, parabenizando-o por sua atitude e postura. No documento, a Primeira Internacional parabenizava ao povo dos EUA e seu presidente por, ao terminar com a escravidão, haver favorecido a libertação de toda a classe trabalhadora, não só estadunidense, mas mundial.
O presidente Lincoln agradeceu a nota e respondeu que valorizava o apoio dos trabalhadores do mundo a suas políticas. Seu tom cordial certamente criou grande alame entre os establishment econômicos, financeiros e políticos dos dois lados do Atlântico. Estava claro que, como assinalaria mais tarde o dirigente socialista estadunidense Eugene Victor Debs, em sua própria campanha eleitoral, “Lincoln foi um revolucionário e por mais paradoxal que pudesse parecer, o Partido Republicado teve em suas origens uma tonalidade vermelha”.
A revolução democrática que Lincoln iniciou e que nunca se desenvolveu
Não é preciso dizer que nenhum desses dados aparece no filme Lincoln, nem é amplamente conhecido nos EUA. Mas, como bem observam John Nichols e Robin Blackburn (outro autor que escreveu extensamente sobre Lincoln e Marx), para entender o ex-presidente há que entender o período e o contexto em que ele viveu. Lincoln não era um marxista (termo sobreutilizado na literatura historiográfica e que o próprio Marx denunciou). Nem era sua vontade acabar com o capitalismo, mas sim corrigir o enorme desequilíbrio existente, neste sistema, entre o capital e o trabalho. Mas, sem dúvida foi altamente influenciado por Marx e outros pensadores socialistas, com os quais compartilhou seus desejos imediatos, levando sua postura a altos níveis de radicalismo em seu compromisso democrático.
Não há duvida de que Lincoln foi uma personalidade complexa com muitos claro-escuros. Mas as simpatias estão escritas e bem definidas em seus discursos. Na realidade, a maior influência sobre Lincoln foi a dos socialistas utópicos alemães, muitos dos quais se refugiaram em Illinois, fugindo da repressão europeia.
O comunalismo que caracterizou tais socialistas influenciou a concepção democrática de Lincoln, que interpretava a democracia como a governança das instituições políticas por parte do povo, no qual as classes populares eram maioria. Sua famosa frase (que se converteu no esplêndido slogan democrático mais conhecido do mundo) — Democracy for the people, of the people and by the people[Democracia do povo, para o povo e pelo povo] — mostra claramente a impossibilidade de haver um governo do povo para o povo sem que seja realizada pelo mesmo povo. Daí vieram a libertação dos escravos e do mundo do trabalho como elementos essenciais de tal democratização. Seu conceito de igualdade levava inevitavelmente um conflito com o domínio das instituições políticas pelo capital. A realidade existente nos EUA, que detalho em meu artigo “O que não foi dito na mídia sobre as eleições nos EUA” (Publico, 13/11/12) é uma prova disso. Hoje a Corporate Class controla as instituições políticas daquele país.
Repito que nenhuma dessas realidades aparece no filme. Spielberg não é, afinal de contas, Pontecorvo, e o clima intelectual estadunidense ainda está estancado na Guerra Fria, o que o empobrece intelectualmente. “Socialismo” continua sendo uma palavra mal vista nos círculos do establishment cultural daquele país. Na terra de Lincoln, o projeto democrático que ele sonhou nunca se realizou, devido à enorme influência do poder do capital sobre as instituições democráticas. E o paradoxo doloroso da história é que o Partido Republicano tenha se convertido no instrumento político mais agressivo a serviço do capital hoje existente.
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Vicenç Navarro é catedrático de Ciencias Políticas y Políticas Públicas. Universidad Pompeu Fabra, y Profesor de Policy Studies and Public Policy. The Johns Hopkins University
A estratégia midiática do crime organizado
4 de Fevereiro de 2013, 22:00 - sem comentários aindaNo dia 18 de janeiro, agentes prisionais do Presídio Regional de Joinville atacaram com balas de borracha e jatos de gás pimenta presos imobilizados num pátio (ver vídeo). A retaliação veio pouco mais de uma semana depois, com uma sequência coordenada de 43 ataques a delegacias, prefeituras e incêndios de ônibus em 15 cidades do estado.
O incidente no presídio foi tratado burocraticamente pela imprensa catarinense, que preferiu bater firme na denúncia da insegurança e na cobrança de ações por parte da polícia. É a forma tradicional e gasta de lidar com uma situação que tende a se tornar cada vez mais frequente porque o crime organizado já deu todos os sinais de que responderá com ataques tipo guerrilha a qualquer incidente registrado em cárceres onde existam organizações de presos.
É uma clara estratégia que busca impacto midiático para questões que o governo tenta ocultar, com a ajuda da imprensa. Trata-se de uma ação em que o objetivo é conquistar corações e mentes, mais do que ver quem é mais forte ou quem bate melhor. A reação do governo e da polícia foi a mais convencional possível. Ambos conhecem o que está por trás dos ataques a ônibus, mas preferiram o recurso tradicional de prometer o uso da força contra os delinquentes, mesmo sabendo das limitações estratégicas dessa estratégia.
A imprensa catarinense, logo após os primeiros ataques do crime organizado, partiu com força para a cobrança de ações do governo, amparada no horror e no medo da população. De certa forma ela acuou as autoridades,em vez de exigir medidas que fossem ao cerne do problema. Ela também se deixou levar pela rotina e ficou na cobrança de ações imediatas.
É claro que ao ver os incêndios a população das cidades catarinenses onde ocorreram ataques reagiu contra os delinquentes. É uma reação imediata e natural, mas a imprensa e o governo deveriam saber que a situação era mais complexa do que simplesmente responder com a força.
Quando a imprensa cobrou respostas das autoridades, estas em vez de neutralizar a ação do crime organizado, reconhecendo a gravidade dos incidentes no presídio de Joinville para punir os responsáveis,preferiu minimizar o episódio com uma discreta punição aos agentes acusados de violação dos direitos dos presos.
Dar ao incidente uma dimensão midiática esvaziaria a revolta dos dirigentes do crime organizado e contribuiria para criar na população a percepção de que a reforma do sistema penitenciário é muito mais eficiente – em termos de neutralizar o poder do crime organizado – do que as barreiras móveis, que servem mais para tentar transmitir à população a ideia de que a polícia está fazendo alguma coisa do que para capturar agentes do crime organizado.
A imprensa sabe que a situação é complexa e que é parte de uma batalha midiática por corações e mentes da população no contexto crítico da insegurança urbana. Por isso ela é também responsável por evitar o passionalismo numa situação como esta. A crise no sistema penitenciário está na origem da onda de atentados, a segunda em quatro meses em Santa Catarina, e que tem tudo para se transformar numfenômeno endêmico em todo o país.
Basta os líderes do crime organizado ordenarem que adolescentes ataquem ônibus em lugares ermos para implantar o pânico na população e o nervosismo nos comandos políticos e policiais. A crise não será solucionada no campo de batalha das ruas, mas no ambiente midiático. A arma do governo é mostrar que vai enfrentar com seriedade e transparência a delicada questão da reforma do sistema penitenciário. Ele desloca o eixo da discussão do passionalismo gerado pelos incêndios para a reflexão envolvendo a sociedade.
Mas enquanto as autoridades agirem prometendo apenas mão dura contra o crime, os principais beneficiados serão apenas os grupos organizados nos presídios brasileiros.
(Por Carlos Castilho)
O jornalista, um fingidor - entre a emoção e o escárnio
30 de Janeiro de 2013, 22:00 - sem comentários ainda É parte das crenças nas redações que o jornalista, por viver imerso nos fatos e em contato quase permanente com os dramas da sociedade, acaba por desenvolver uma espécie de capa impermeável emocional.Essa seria uma qualidade exigida, por exemplo, para os repórteres de televisão e rádio, os âncoras dos telejornais e os entrevistadores em geral.
Apresentador do Jornal Nacional, da Rede Globo, William Bonner costuma ser lembrado por ter sido capaz de noticiar a execução de seu colega Arcanjo Lopes do Nascimento, o Tim Lopes, em 2002, com o rosto praticamente impassível, sem demonstrar seus sentimentos.
Mas também é citado por não ter podido conter as lágrimas ao anunciar outra morte, no ano seguinte, a do seu patrão Roberto Marinho.
Essa característica atribuída a jornalistas tem sido também a origem de muitos equívocos na interpretação dos sentimentos alheios.
Eventualmente, correm até apostas nas redações sobre quanto tempo determinado acontecimento vai levar até começar a produzir anedotas entre jornalistas.
Um jornal importante, como o gaúcho Zero Hora, pode passar de manifestações explícitas de luto, como a colocação de faixa pretas em suas páginas, até o extremo oposto, o de admitir conteúdo de puro escárnio às vítimas.
Correm na internet manifestações de protesto contra a charge publicada na terça-feira, dia 29/01, pelo principal jornal da região Sul do País, sob o título “Uma nova vida” (ver aqui: www.coletiva.net/site/noticia_detalhe.php?idNoticia=48570).
A obra, assinada pelo veterano chargista Marco Aurélio, retrata uma longa fila de estudantes mortos, postados diante de um prédio identificado como “USP – Universidade de São Pedro”. Da porta, o próprio São Pedro recebe e direciona os jovens conforme a especialidade – arquitetos, sala 5 com Niemeyer; gente da pedagogia, com Gilberto Freire; medicina, sala 7 com Zerbini” – e assim por diante.
É uma referência direta aos mortos na boate Kiss, de Santa Maria, que o mais reles pasquim de quinta categoria teria pejo de exibir.
Após as primeiras críticas de leitores, o desenho desapareceu da versão online do jornal e o blog “Os diaristas”, que costumava publicar os trabalhos de chargistas e caricaturistas do grupo Zero Hora, foi tirado do ar.
Mas fica a pergunta: o que é que o jornal gaúcho pretendia ao publicar esse monumento ao mau gosto?
O jornalista, um fingidor
Na verdade, os jornalistas, como o inverso do poema, apenas fingem não sentir a dor que deveras sentem.
Por essa razão, entre outras, espera-se deles que dominem o vernáculo e as demais linguagens da comunicação, de modo a poderem se aproximar dos fatos com alguma objetividade, sem pieguice mas também sem frieza.
Em episódios de risco de má interpretação, a medida mais salutar é eliminar as fontes de possíveis equívocos.
No caso da tragédia de Santa Maria, o mais correto seria dispensar os chargistas de terem que caminhar na corda bamba.
Mesmo porque uma seção de humor é a última coisa que o leitor gostaria de ver num jornal em uma ocasião como essa.
Nesta quinta-feira (31/01), os jornais de circulação nacional começam a deixar para trás os relatos emocionados de sobreviventes e parentes das vítimas fatais e investem na apuração das causas da tragédia.
Além disso, instigam as autoridades a tomar uma posição mais clara quanto à necessidade da prevenção de riscos nas casas noturnas em outras cidades.
A Folha de S. Paulo volta a tratar do assunto em manchete, noticiando que a prefeitura da capital paulista promete fazer uma avaliação das boates da cidade em noventa dias.
O Estadão informa, na primeira página, que o dono da boate Kiss instalou a espuma de plástico que gerou a fumaça tóxica sem consultar os bombeiros nem a prefeitura de Santa Maria. E também registra as medidas preventivas tomadas em São Paulo.
O Globo alerta que há no Rio de Janeiro 49 espaços culturais sem alvará e também anuncia um mutirão de vistorias.
Os familiares das vítimas finalmente podem se retirar para o luto privado, com menos risco de virem a ser convocados a expor suas penas diante das câmeras.
O foco agora á a caça aos responsáveis, e, claramente, a imprensa escolheu entre os dois proprietários da casa noturna de Santa Maria aquele que vai levar a carga mais pesada.
Ao mesmo tempo, as luzes começam a se afastar do prefeito e do comandante local do Corpo de Bombeiros.
Mas, até esta quinta-feira, ninguém havia divulgado o nome que assina o laudo que liberou aquela ratoeira.
(Por Luciano Martins Costa)