Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir.
Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG
Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives
Veja e Ibope flagrados: os talibãs da desinformação
5 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários aindaBrasil 247, a revista Veja aprontou mais uma de suas canalhices: teria incitado participantes do Enem a fotografarem as provas e enviarem pelo Instagram para publicação em seu site, com a seguinte chamada: "Compartilhe fotos do Enem no Instagram: #VEJAnoEnem . As melhores serão exibidas em VEJA goo.gl/e2wq1 ".Esta convocação ao desrespeito das normas estabelecidas no edital do concurso foi feito no twitter institucional da revista e demonstra, mais uma vez, o tipo de jornalismo que esta publicação se dispõe a fazer.
Resultado: dezenas de participantes foram desclassificados por atenderem ao pedido criminoso da Veja.
Paulo César Pereio em seu twitter foi feliz ao classificar o ato do grupo Abril como delinquência, segundo suas próprias palavras: "Veja partiu para a delinqüência. Inventa matéria contra Lula, frauda prova do Enem... É a talibã da imprensa, o PCC da comunicação."
Prejudicou a terceiros, com o intuito delituoso de criar um fato que prejudicasse o MEC e desmoralizasse o exame.
Veja atola-se na lama que produz em sua redação, efeito do jornalismo chafurdado no lodaçal das faltas de ética e compromisso com a verdade.
Total sintonia com a manipulação dos fatos, somado a irresponsabilidade de prejudicar a terceiros para atingir seus rasos objetivos político-editoriais.
![]() |
Última pesquisa Ibope para o primeiro turno em Curitiba colocava o prefeito eleito, Gustavo Fruet, em terceiro lugar, sem qualquer chances de chegar ao segundo turno... |
No mesmo Brasil 247, outra matéria dá conta de que o Ibope está sendo denunciado por um grupo de ex-pesquisadores sobre irregularidades cometidas durante as últimas pesquisas eleitorais.
Um denunciante, que pediu demissão do instituto de pesquisa, apresentou a seguinte justificativa para sua saída: "Trabalho no IBOPE realizando as pesquisas de eleição. Realmente os resultados são bem diferentes em relação à pesquisa que fazemos e o que é divulgado na mídia. Pedi minha demissão hoje, 14/09, por este e outros motivos!!".
Nesta mesma matéria são apontadas várias irregularidades cometidas pelo Ibope, como uso de formulários falsos, dirigismo da pesquisa sobre a vontade do pesquisado, interferências políticas, balcão de negócios. Estas e outras mais denúncias servem para comprovar o pouco que resta de credibilidade aos institutos de pesquisa no país.
E não somente em pesquisas eleitorais!
O instituto de Carlos Augusto Montenegro foi condenado na 32ª Vara Cível de São Paulo a ressarcir a Rede Record em R$ 326 mil por ter sido levada a erro por falha em equipamento real time do instituto.
Este erro causou prejuízos à emissora na definição de estratégia em sua grade de programação.
O Ibope mede a audiência da TV brasileira em tempo real nas principais capitais brasileiras, os índices auferidos e publicados definem, por exemplo, a distribuição da verba publicitária. Hoje a Globo arrecada cerca de 60% de todo este montante, ganhos baseados na audiência medida pelo instituto que monopoliza este serviço no país.
Ibope e Veja, cada um em sua área de atuação, comprometem-se com aquilo que está além de seus papéis e, desta maneira, agem deliberadamente para desinformar, manipular e intervir, de forma vil, em processos que, ao contrário, deveriam conferir legitimidade com procedimentos imparciais e transparentes.
Nestes dois casos perde a sociedade com a flagrante mutilação da verdade em nome de interesses nada nobres que estes dois grupos defendem despudoradamente.
Não é mais possível crer no que publicam ou pesquisam, a desconfiança ronda números e letras destes agentes da manipulação de fatos e dados.
(Publicado em Palavras Diversas)
A crônica da morte anunciada de Furreco
4 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários aindaTudo começou com o cercamento de espaços públicos de Porto Alegre por parte da Prefeitura MunicipalPor Diego Pignones
O início da morte anunciada de Furreco começou com a privatização (processo ao qual foi dado o nome de ‘Parceria Público Privada) e cercamento do Auditório Araújo Vianna. Os motivos do cercamento do Araújo Vianna não são claros. Setores responsáveis pelas áreas da cultura e patrimônio de Porto Alegre afirmam que a cerca foi aprovada por eles, uma vez que o local foi tombado como patrimônio histórico e por conta do novo projeto arquitetônico do auditório que exporia a segurança de artistas e equipamentos.
O arquiteto responsável Moacyr Moojen afirma que a cerca foi uma exigência do edital lançado pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre e que, inclusive, a medida compromete visualmente seu projeto para o auditório. Mas a polêmica maior envolve os taludes que margeiam o Araújo Vianna. Os taludes serviam de espaço de convivência social para os transeuntes do Parque Farroupilha e Redenção. Ali era comum ver a gauchada de todas as idades tomar um sol e um mate. Os taludes eram ponto de encontro e em dias de shows no Auditório Araújo Vianna, o pessoal que não ia entrar no auditório sentava-se para ouvir o som.
Agora os taludes são ‘protegidos’ por um gradil verde, que o torna inacessível ao público e para os não-pagantes em dia de apresentações.
O projeto inicial era mais nefasto, se podemos dizer assim. Consistia no uso de chapas para tapar completamente a visão do local histórico.
(Fim do 1º ato)
Era noite. O Auditório Araújo Vianna estava lotado. O show de Tom Zé encerrava uma série de apresentações culturais do 19º Porto Alegre Em Cena. Os postos de vendas de ingressos esgotaram os ingressos.
Durante a apresentação de Tom Zé, manifestantes seguravam cartazes e protestavam contra as grades colocadas no espaço, reaberto no dia 20 de setembro (feriado estadual Dia da Revolução Farroupilha).
Provocador, no final de sua apresentação, mais precisamente no bis, Tom Zé segurou um cartaz dos manifestantes onde se lia em letras maiúsculas “PRAÇAS VENDIDAS”. O tumulto estava se formando. Acabado o show, alguns dos manifestantes sentaram nos taludes ao lado do prédio e foram retirados por seguranças.
A segurança da detentora dos direitos de exploração do auditório tentava dispersar o público utilizando aparelhos de choques, truculência e xingamentos. Os homens eram chamados de “maconheiros” e as mulheres de “puta” ou “vagabunda”.
A truculência da equipe de segurança foi a senha para um grupo de jovens arrastar um inflável da Coca-Cola para a rua, que fora patrocinadora da reforma do auditório.
O protesto ganhou repercussão e força nas redes sociais onde era divulgada a imagem da lata de Coca-Cola inflável incendiada na Rua Osvaldo Aranha.
O 9º Batalhão de Polícia Militar, que atende à região do Auditório, afirmou que não registrou nenhuma ocorrência sobre o protesto ou a queima do inflável em via pública.
(Fim do 2º ato)
Já era aberta a contagem regressiva para a morte de Furreco.
Nas redes sociais se articulava um protesto pacífico em defesa da alegria. Os manifestantes passaram o final da tarde e da noite na Praça Montevidéu, a uns 50 metros do mascote patrocinado pela Coca-Cola colocado no largo Glênio Peres.
Os manifestantes avançaram para onde estava o boneco inflável.
Armou-se o conflito.
As versões para a confusão são contraditórias. Policiais asseguram que os manifestantes avançaram sobre o boneco e que o destacamento que vigiava o quadrante agiu para evitar a depredação. Participantes do ato afirmam que iriam fazer uma ciranda em volta do mascote quando teriam sido atacados pelos soldados que defendiam um plástico com ar com uma logomarca.
De súbito, o mascote da Copa do Mundo de 2014 tombou.
A informação era de que o inflável tinha sido cortado com faca, lâmina, ou facão e perfurado por paus e pedras arremessadas contra ele.
Ao final do conflito, o saldo de vários feridos e 6 manifestantes presos, a abertura de inquérito pela Polícia Civil, informações desencontradas e vídeos do confronto no You Tube.
Furreco morreu. E fora assassinado.
A pergunta não respondida: Como pode uma publicidade inflável ser considerada patrimônio público e gozar de proteção policial?
(Fim do 3º ato)
Durante a semana, as informações vinham de todos os lados.
A imprensa repercutia o triste fim de Furreco. Esfaqueado, apedrejado e morto à pauladas.
Até que o impensado aconteceu.
Furreco poderia ser ressucitado.
A empresa detentora dos direitos de do boneco, a Opus Promoções (a mesma que detém os direitos de exploração do Auditório Araújo Vianna) entregou o boneco para ser periciado e não foi encontrada nenhuma ruptura no plástico ou perfuração.
Durante o conflito, alguém desligou da tomada o injetor de ar e só esvaziou Furreco.
Cogitava-se pedir outro boneco. Agora o prefeito de Porto Alegre cogitava reutilizar o Furreco esvaziado.
Mas, foi batido o martelo: Porto Alegre não teria mais Furreco nenhum.
(Fim do 4º ato)
O Furreco colocado irregularmente na Esplanada dos Ministérios em Brasília era morto à facadas durante a noite.
A FIFA anuncia restrições à venda de acarajés em Salvador.
O Governo do Estado do Rio Grande do Sul e a Brigada Militar (PM do Rio Grande do Sul) reconheceram que houveram excessos por parte dos policiais e, inclusive, o governador Tarso Genro emitiu uma nota oficial na qual reconhece os excessos, explica qual é a postura que o governo espera de sua força policia e ressalta que determinou ao secretário da Segurança Pública convidar os "cidadãos e cidadãs" que se sentiram vitimas para que façam suas denúncias à Ouvidoria da Segurança Pública.
(Fim do 5º ato)
O Furreco é atacado em São Paulo. O ataque aconteceu por volta das 17horas em um evento do grupo “A Cidade é Nossa”. O grupo, deixou a favela do Moinho (que pegou fogo em setembro) rumo ao centro de São Paulo, onde, segundo a organização, promoveria uma "roda de conversa sobre direito à cidade, especulação imobiliária e poder popular", além de atrações culturais.
A Fifa volta atrás na questão da venda do acarajé em Salvador.
(Fim do 6º ato)
A questão fundamental dos casos de homicídio contra o Furreco é a invasão dos espaços públicos com infláveis da iniciativa privada que gozam de segurança proporcionada pelos aparatos de segurança pública. Além disso, a Copa do Mundo 2014 não é nossa. Ela é da FIFA e de seus contratos corporativos de exploração comercial.
Nossas leis são ignoradas para que a Budweiser possa vender cerveja no entorno e dentro dos estádios. Nossas conquistas sociais são abolidas para que o consumidor que sinta-se lesado não possa recorrer ao Código de Defesa do Consumidor.
E a lei em que exige que na abertura de eventos públicos seja tocado o hino nacional? Será abolida. Ignorada.
A Copa é um evento privado. Em que uma pretensa entidade escolhe um país para fazer sua festa, leva os convidados VIPs, bebe até vomitar nas ruas, emporcalham o local e vão embora sem pagar a conta. Para agradar ao público, o refrigerante lança um mascote. Cujo nome deverá ser uma das três horrendas opções. A “maior festa do futebol” é a festa com o chapéu dos outros e o orgasmo com a genitália alheia.
Soy contra el fútbol moderno.
Anotação na Margem:
- Já escrevi antes sobre a Copa aqui mesmo no Comunica Tudo, Copa do Mundo 2014... Soy Contra http://comunicatudo.blogspot.com.br/2011/10/copa-do-mundo-2014-soy-contra.html
- Segue a previsão de que o Brasil será compensado com o caneco em virtude de ter perdido a Copa de 1950. Por isso, soy celeste!
- Entre Amijubi, Fuleco e Zuzeco, o melhor ainda é o Furreco.
- Ignore o slogan e não beba Coca-Cola.
- Post escrito ao som de Butoki Paradize Orchestra
Diego
Pignones
Publicitário
e pesquisador em Comunicação Social.
Twitter: @diegopignones
Tumblr: http://lavalanga.tumblr.com/
Nota de solidariedade a Daniel Fonsêca
4 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda O Intervozes se manifesta contra a criminalização que a empresa de bebidas Ypióca está promovendo com o jornalista e militante do coletivo Daniel Fonsêca.O Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social se solidariza com o jornalista e militante do coletivo Daniel Fonsêca no processo de criminalização que está sofrendo pela empresa de bebidas Ypióca.
No dia 6 de novembro de 2012, ocorre a audiência de julgamento do processo que a empresa move contra Daniel Fonsêca desde 2007, acusando-o de injúria, calúnia e difamação por se manifestar em defesa dos direitos dos índios Jenipapo-Kanindé e da preservação da região da Lagoa da Encantada, em Aquiraz (CE).
A Ypióca processou Daniel e o professor da Universidade Federal do Ceará Jeovah Meireles, em processos distintos - após declarações feitas em um seminário e pela produção de um artigo que sequer chegou a ser publicado - por eles terem relatado que a empresa utiliza água da Lagoa Encantada (sagrada para o povo Jenipapo-Kanindé) para alimentar seus 4.000 hectares de monocultura de cana para a produção de cachaça, além de poluir o lençol freático com os descartes do processo industrial de fabricação. O processo contra o professor foi finalizado em 2010.
Ações com esse caráter representam a judicialização de conflitos sociais na tentativa de intimidar a divulgação de manifestos, pesquisas e produções jornalísticas que defendam direitos fundamentais violados pela ação de empresas ou de governos. A Ypióca tenta, assim, impedir a produção acadêmica e jornalística sobre sua atuação no país, agindo contra a democracia, a liberdade de imprensa e a liberdade de expressão da população brasileira.
O Intervozes reafirma seu compromisso com a defesa das liberdades de expressão, de organização e de manifestação e do livre exercício dos profissionais de comunicação.
Brasília, 5 de novembro de 2012.
Intervozes - Coletivo Brasil de Comunicação Social
A volta do filho (de papai) pródigo ou a parábola do roqueiro burguês
3 de Novembro de 2012, 22:00 - sem comentários aindaPor Socialista Morena
Nem todo direitista é derrotista, mas todo derrotista é direitista. Reparem no capricho do léxico: as duas palavras são quase idênticas. Ambas têm dez letras, soam similares e até rimam. Se você tem dúvida se alguém é de direita observe essas características. Começou a falar mal do Brasil e dos brasileiros, a demonstrar desprezo por tudo daqui, a comparar de forma depreciativa com outros países, é batata. Derrotista/direitista detectado.
Temos hoje no Brasil duas personalidades célebres pelo derrotismo explícito e pelo direitismo não assumido: os roqueiros Lobão e Roger Moreira, do Ultraje a Rigor. Eu ia citar também Leo Jaime, outro direitoso do rock nacional, mas não posso classificá-lo como um derrotista típico –fora isso, no entanto, cabe perfeitamente no figurino que descreverei aqui. Os três são cinquentões: Lobão tem 55, Roger, 56 e Leo, 52.
Da geração dos 80, Lobão sempre foi meu favorito. Eu simplesmente amo suas canções. Para mim, Rádio Blá,Vida Bandida, Vida Louca Vida e Decadence Avec Elegance são clássicos. Além de Corações Psicodélicos, em parceria com Bernardo Vilhena e Julio Barroso, ai, ai… Adoro. E não é porque Lobão se transformou em um reacionário que vou deixar de gostar. Sim, Lobão virou um reaça no último. Alguém que voltasse agora de uma viagem longa ao exterior ia ficar de queixo caído: aquele personagem alucinado, torto, jeitão de poeta romântico, que ficou preso um ano por porte de drogas, se identifica hoje com a direita brasileira mais podre.
Não me importa que Lobão critique o PT ou qualquer outro partido. O que me entristece é ele ter se unido ao conservadorismo hidrófobo para perpetrar barbaridades como a frase, dita ano passado, em tom de pilhéria: “Há um excesso de vitimização na cultura brasileira. Essa tendência esquerdista vem da época da ditadura. Hoje, dão indenização a quem seqüestrou embaixadores e crucificam os torturadores, que arrancaram umas unhazinhas”. No twitter (@lobaoeletrico), se diverte esculhambando o país e os brasileiros, sempre nos colocando para baixo. “Antigamente éramos um país pobre e medíocre… terrível. Hoje em dia somos um país rico e medíocre… pior ainda”, escreveu dia desses.
Os anos não foram mais generosos com Roger Moreira, do Ultraje. O cara que cantava músicas divertidíssimas como Nós Vamos Invadir Sua Praia, Marylou ou Inútil virou um coroa amargo que deplora o Brasil e vive reclamando de absolutamente tudo com a desculpa de ser “contra os corruptos”. É um daqueles manés que vivem com a frase “imagine na Copa” na ponta da língua para criticar o transporte público, por exemplo, sem nem saber o que é pegar um ônibus. Os brasileiros, segundo Roger, são um “povo cego, ignorante, impotente e bunda-mole”. Sofre de um complexo de vira-lata que beira o patológico. Ao ver a apresentação bacana dirigida por Daniela Thomas ao final das Olimpíadas de Londres, tuitou, vaticinando o desastre no Rio em 2014: “Começou o vexame”. Não à toa, sua biografia na rede social (@roxmo) é em inglês.
Muita gente se pergunta como é que isso aconteceu. O que faz um roqueiro virar reaça? No caso de ambos, a resposta é simples. Tanto Roger quanto Lobão são parte de um fenômeno muito comum: o sujeito burguês que, na juventude, se transforma em rebelde para contrariar a família. Mais tarde, com os primeiros cabelos brancos, começa a brotar também a vontade irresistível, inconsciente ou não, de voltar às origens. Aos poucos, o ex-revoltadex vai se metamorfoseando naqueles que criticava quando jovem artista. “Você culpa seus pais por tudo, isso é um absurdo. São crianças como você, é o que você vai ser quando você crescer” –Renato Russo, outro roqueiro dos 80′s, já sabia.
O carioca Lobão, nascido João Luiz Woerdenbag Filho, descendente de holandeses e filhinho mimado da mamãe, estudou a vida toda em colégio de playboy, ele mesmo conta em sua biografia. O paulistano Roger estudou no Liceu Pasteur, na Universidade Mackenzie e nos EUA. Nada mais natural que, à medida que a ira juvenil foi arrefecendo –infelizmente junto com o vigor criativo– o lado burguês, muito mais genuíno, fosse se impondo. Até mesmo por uma estratégia de sobrevivência: se não estivessem causando polêmica com seu direitismo, será que ainda falaríamos de Roger e Lobão? Eu nunca mais ouvi nem sequer uma música nova vinda deles. O Ultraje, inclusive, se rendeu aos imbecis politicamente incorretos e virou a “banda do Jô” do programa de Danilo Gentili.
Enfim, incrível seria se Mano Brown ou Emicida, nascidos na periferia de São Paulo, se tornassem, aos 50, uns reaças de marca maior. Pago para ver. Mas Lobão e Roger? Normal. O bom filho de papai à casa torna. A família deles, agora, deve estar orgulhosíssima.
Transporte público gratuito existe e não é coisa de maluco
30 de Outubro de 2012, 22:00 - sem comentários ainda Ao analisar que as tarifas estão chegando ao patamar dos R$ 3 para cada viagem (ou conjunto de viagens, no caso de São Paulo), é bom saber que existem exemplos que desafiam a lógica que impera no BrasilThalita Pires, Rede Brasil Atual
O tema do valor do transporte público é sempre sensível nas cidades brasileiras. A cada aumento de tarifa, vozes se levantam para cobrar um subsídio maior para o uso de ônibus e trens. A resposta das prefeituras e governos estaduais é sempre a mesma: alguém tem de pagar pelo sistema, cujos custos sempre aumentam. Mas essa discussão chegou em outro nível em várias cidades nos Estados Unidos e Europa. Nelas, os moradores não pagam para usar o transporte coletivo. Entre elas estão Châteauroux, Vitré e Compiègne, na França; Hasselt, na Bélgica; Lubben, na Alemanha e Island County, Chapel Hill, Vail e Commerce, nos Estados Unidos, entre outras. A próxima a adotar a ideia será Tallinn, a capital da Estônia, no final deste ano.
A ideia de gratuidade no transporte vai contra tudo o que nos disseram sobre o assunto aqui no Brasil, a saber: sem pagamento, o sistema ficaria sem recursos, e em algum momento se tornaria inviável. Mas existem teóricos e administradores públicos que defendem que é economicamente viável – ou até preferível – que as pessoas não paguem por ele.
As vantagens de não se cobrar pelo uso de trens e ônibus são várias: promoção de uma certa justiça social, já que o peso do pagamento de transporte público é grande para a população mais pobre, que é a que mais precisa dele; redução da emissão de poluentes; menos poluição sonora; redução do uso de combustíveis fósseis; diminuição dos gastos em obras viárias, já que o carro seria menos necessário; aumento do uso do espaço público, pois as pessoas precisariam andar mais nas ruas para usar o transporte; eliminação dos gastos com o sistema de cobrança, entre outras.
Em Châteauroux, cidade de 49 mil habitantes, a média de uso do ônibus era de 21 viagens por ano, contra uma média de 38 em outras cidades pequenas da França. Depois da implementação da gratuidade, esse número saltou para 61 viagens por ano. Em Hasselt, o uso do transporte público subiu mais de 1000% desde que passou a ser gratuito.
O aumento no número de usuários é um dos indicadores para o sucesso do sistema, pois significa que as pessoas trocaram de meio de transporte: se deixaram o carro, contribuíram para a diminuição do trânsito, e se de outra forma teriam ido a pé ou de bicicleta, ajudaram a reduzir os riscos de acidentes como atropelamentos, diminuindo ainda mais o gasto com os carros (nesse caso, os custos de acidentes desse tipo entram na conta do transporte individual motorizado).
Os teóricos do transporte gratuito dizem ainda que, a cada aumento de tarifa, existe uma diminuição no número de usuários, que passam a não poder pagar ou encontram uma alternativa economicamente mais viável para se locomover. Isso diminuiu ou até anula o aumento da arrecadação esperado com o aumento da tarifa, fazendo com que o sistema fique cada vez menos viável, já que menos pessoas têm de pagar mais para as mesmas viagens.
Outro motivo econômico importante para a abolição das tarifas é que o sistema de cobrança custa muito dinheiro. Um estudo patrocinado pela Administração Federal de Transportes dos Estados Unidos mostrou que os gastos com o sistema de cobrança pode chegar a 20% de toda a renda com o pagamento de tarifas. Isso inclui gastos com máquinas de vendas, pessoal, contagem do dinheiro coletado e custos afins.
Mas quem paga por isso, afinal?
Embora os sistemas de financiamento variem um pouco de cidade para cidade, o princípio é sempre o mesmo. O transporte público é bancado por impostos. Em Hasselt, na Bélgica, 1% dos impostos municipais vai para o sistema de ônibus. No condado de Island, Washington, 6% do dinheiro arrecadado com o imposto sobre vendas vai para o transporte público. Em Châteauroux, os recursos vêm dos impostos sobre os salários, pagos pelos empregadores. As possibilidades são variadas.Financiar o sistema de transporte com impostos pode parecer uma ideia, digamos assim, muito comunista. Mas por que faz mais sentido pagar desse modo por saúde, educação e, pior, construção de ruas e avenidas para os carros? Por uma questão de justiça social, o transporte público também poderia ser incluído no rol de serviços custeados por impostos. Afinal, quem não anda de transporte público, especialmente no Brasil e nos Estados Unidos, acaba escolhendo carro ou moto para se locomover, aumentando custos de obras, da saúde, da limpeza pública, entre outros, além de contribuir para a emissão de poluentes. Há aqueles que não têm outra alternativa senão andar, e esses seriam os maiores beneficiados.
O segredo para o sucesso da gratuidade nas cidades citadas – e até agora todas elas se consideram casos de sucesso – é o planejamento anterior. Algumas delas fizeram investimentos maciços no transporte público antes de abolir as tarifas, para tornar o sistema atraente para um maior número de pessoas.
A grande questão que fica é se isso seria aplicável no Brasil. Isso depende de estudos aprofundados, que só podem ser feitos individualmente em cada cidade. Nas metrópoles, por exemplo, os sistemas de transportes já são tão lotados que qualquer ideia nesse sentido teria de ser precedida por um aumento massivo na oferta de ônibus e transporte sobre trilhos. É mais provável, no entanto, que seja um conceito inaplicável em grandes cidades, restando a ideia de maior subsídio ao sistema. Em cidade menores, talvez esse conceito seja mais facilmente aplicável. Mas, ao analisar que as tarifas estão chegando ao patamar dos R$ 3 para cada viagem (ou conjunto de viagens, no caso de São Paulo), é bom saber que existem exemplos que desafiam a lógica que impera por aqui. Resta saber qual seria a popularidade dessas ideias entre administradores públicos, empresários do setor de transporte e contribuintes que acham que não seriam beneficiados com a medida.