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Quanto custa a nossa vida?
June 20, 2022 9:48![]() |
Quanto custa a nossa vida? |
Quanto Vale Petrópolis e Jaboatão dos Guararapes?
Entre assombros e perguntas a lama presa no pescoço nos asfixia.
Quanto do Mito tem em cada pingo grosso de chuva em Petrópolis?
Quanto de SSalles tem em cada casa que desliza de Angra dos Reis até Jaboatão dos Guararapes?
Quanto de monarquistas e gente da "elite do atraso" há em cada tonelada de terra?
Quantos ratos, cabrais, garotinhos e com quantos fernões se produzem os maus tempos, vendavais e temporais na necropolítica da barreira e da barragem?
Quantos príncipes, duques, condes e barões dos “Modern Times” moram nas encostas, desfiladeiros e morros da cidade?
Quantas árvores são derrubadas na serra para se fazer um mourão? Pedaço de pau morto que fincado na mãe terra estabelece as fronteiras.
Quanto é o tamanho da fronteira entre a humanidade e a desumanidade estabelecida pelos territórios que permitem a morte triunfar sempre que chove?
Quanto é a conta dos que ali moram? Os sem tetos da chuva!
Quanto é a conta desses filhos da casa grande, da gente refinada, da branquitude imperial?
Quanto suor do nosso rosto é laudêmio, herança, cobrança e bonança dessa gente feitora rançosa, sebosa e ainda assim, cheia de ganância?
Quantos Pedros a cidade extorquida pelos vampiros em suas capitanias hereditárias e quantos capitães do mato do falso império essa cidade aguenta?
Quanto de: Dia do Fogo, de culto e alvoroço, ameaça e fome até o osso, quanto de "passar a boiada", de liberação de garimpo, de ataque a cada aldeia e cada quilombo, do desmonte do Ibama e da ICMbio a gente aguenta? Quanto?
Quanto tem dessas necrosacanagens em cada metro de lama que soterrou a criança recém-nascida em Petrópolis?
Quanto de bala, milícia, perdigotos e bíblia sagrada, de picaretas e falsos profetas tem em cada corpo afogado e arrastado?
Quanto foi arrecadado pela a transa sacana de dízimos vorazes e de jeitinhos, de dez porcentinhos e de presentinhos ?
89 mil vezes quanto?
Quantas "palavrasmundo" povoam as mentes petropolitanas e pernambucanas quando se escutam: barreira, deslizamento, enchente, morte, desabamento, transbordamento, inundação e enxurrada?
Ou simplesmente, chuva.?
Quanto?
Quanto Vale a lama que soterra vidas?
Quanto Laudêmio ainda vamos pagar?
De quanto estamos falando?
Quanto custa essa saudade que vai ficar?
Quanto o trabalhador tem de pagar para ter uma casa digna para morar?
Quanta terra são os 7 palmos de dignidade?
De quanto dessa lama podre e fétida é feita a alma dessa gente podre e estragada?
Enterraram nosso choro e nosso drama
Quanto custa a nossa vida?
Quanto? Quanto? Até quando?
Até quando Genival vai sufocar?
Até quando Bruno e Dom continuarão a serem mortos?
Até quando vamos esperar para saber quem mandou matar Marielle?
(Por Bruno Monteiro, Químico e Físico, Compositor e Baterista da banda Disrhythmia in Blues e Professor da UFRJ; e Celso Sánchez, Biólogo professor da Unirio poeta e compositor da Disrhythmia in Blues)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Quando ouvir falar em violência, lembre-se de Darcy Ribeiro
June 18, 2022 13:32![]() |
Darcy Ribeiro |
O professor e Antropólogo Darcy Ribeiro foi o maior entusiasta da educação brasileira. Em sua corrente sanguínea, a marca da educação libertadora sempre fluía. O professor Darcy sonhava com a educação transformadora de homens e ideias. Não somente sonhava, saiu da teoria para as pautas concretadas conforme realizou um de seus maiores sonhos: a escola em tempo integral.
Na década de oitenta, durante o período de redemocratização, o professor Darcy Ribeiro tornou-se vice governador de Leonel Brizola, e foi neste período que o professor viu, naquele momento, a realização de seu projeto de vida que era a escola em tempo integral. Ficou conhecido como Centro de Educação Integral Pública (CIEP’s) ou Brizolão.
O projeto curricular dos CIEPs visava à educação integral e, nessa perspectiva, a escola teria o papel de propiciar um processo de ensino-aprendizagem cujo objetivo não era apenas o desenvolvimento cognitivo, mas também o social, físico e afetivo do aluno e demais atores envolvidos. Além das disciplinas obrigatórias previstas em lei, a matriz curricular era enriquecida com atividades artísticas e esportivas e complementada por estudos dirigidos supervisionados para atender alunos com dificuldades de aprendizagem. O Plano Especial de Educação do governo Brizola possuía recursos de mais de 400 milhões de dólares. Um plano ousado, bastante caro, é verdade, já que nos CIEPs eram oferecidas três refeições diárias aos estudantes e funcionários, além da necessidade de se recrutar um maior número de professores e demais profissionais para dar conta da diversidade curricular.
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Policiais numa operação na favela |
Todo o projeto foi detonado, com o tempo, optaram pela ignorância. Na concepção elitista o investimento em educação era muito “caro”, e o resultado vejam por si só. Lembrando que a pobreza não gera a violência, mas a desigualdade sim. Já está mais que comprovado que sem ação do Estado, com suas obrigações constitucionais, a tendência é de que outros "poderes" não–estabelecidos tomem conta da situação.
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O ex governador Leonel Brizola , no conjunto Amerelinho /RJ. Pulando por cima de armas de brinquedos trocados por livros. |
Enquanto a educação não for tratada como assunto de Estado, ainda vamos assistir a muitas 'Vilas Cruzeiros' sendo alvo de chacina.
A cada massacre dentro das favelas, lembrem-se do professor Darcy Ribeiro e da frase célebre que disse há quatro décadas:
"A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto".
(Por Fabio Idalino Alves Nogueira, graduando em História pela UVA/RJ e professor de pré-vestibular comunitário.)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
'O Preto de Azul' ganha exibição gratuita na Lapa, Rio de Janeiro
May 10, 2022 8:40Animação brasileira com trilha sonora original do Kaialas poderá ser vista no Bandolim Vegan Cult BarNa próxima quarta-feira, 11 de maio, acontece a estreia, com exibição gratuita, do curta-metragem "O Preto de Azul" (The Black in Blue), de Alvaro Tallarico e Leandro Ferra. O evento ainda conta com apresentação da cantora Bia Serrano e do músico Gilson Olivah. O local escolhido é a casa de cultura Bandolim Vegan Cult Bar, que fica na Rua Joaquim Silva, 97, Lapa, ao lado da famosa Escadaria Selarón. O som começa a partir das 19:30.
"O Preto de Azul" traz a história de um menino sonhador que quer sair de seu país natal em busca de reconhecimento e fama. A obra traz diversas metáforas e mitologias, juntamente com doses de fé e aventura. O roteiro é do escritor Alvaro Tallarico, a animação e ilustração é de Leandro Ferra. A direção é de ambos. O jovem viaja por um mar que é como um ser enigmático e implacável, uma selva submersa, entre medos e meditações. Porém, será que o sonho vale a pena?
Kaialas
A trilha sonora original do filme é do Kaialas, projeto musical que une o cantor cabo-verdiano Plácido Vaz e o escritor Alvaro Tallarico. Em 2021, o Kaialas foi selecionado para o BDO Live Festival Portugal com a canção “Herança” e ficou entre os primeiros lugares. O primeiro single, "Preto de Azul", que inspirou o curta-metragem, foi lançado em julho de 2021 e está em todas as plataformas digitais.
"Animação é uma forma muito lúdica e especial de contar histórias. Leandro Ferra é um animador experiente e fez um trabalho diferenciado. O curta tem alma e as canções conduzem o espectador por um ciclo de emoções e filosofias lindamente ilustradas", declara Alvaro Tallarico.
Enfim, confira o trailer do filme:
Serviço:
Exibição do filme "O Preto de Azul" com show de Bia Serrano e Gilson Olivah
Data: 11 de maio de 2022
Horário: 19:30
Local: Bandolim Vegan Cult Bar
Endereço: Rua Joaquim Silva, 97, Lapa, Rio de Janeiro
Sobre Alvaro Tallarico
Alvaro Tallarico é jornalista e escritor. Nascido e criado no Rio de Janeiro, começou a descobrir o sabor da escrita no seu ensino médio técnico em Publicidade e Propaganda na Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch. Escreve no portal de jornalismo cultural Vivente Andante e é colunista no Diário do Rio. Ganhou Menção Literária no 2º Prêmio Literário AFEIGRAF. Roteirista do curta-metragem "Caverna de Maya". Tem publicações na Antologia Nacional de Poesia da Academia de Letras de Montes Claros – MG, na Antologia Alma Artificial da Cartola Editora, entre outros. Em 2021 lançou o livro “Cem Ruínas na Esquina da Poesia”.
Sobre Leandro Ferra
Formado pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2008, nascido no Rio de Janeiro é sócio-diretor da Quadro-chave Produções. Trabalha na área de ilustração, animação, design, criação. Foi professor de Senai por 12 anos em curso de jogos, modelagem, ilustração e animação. Diretor de arte e animação da série “Imagem Vinil” 2019 para o canal Prime Box Brasil foi exibido no Festival de cinema de Brasília em 2020; design e animação no documentário “Salve a Malandragem” 2019, exibido no canal Cine Brasil; participou de 32 festivais pelo mundo com seus curtas metragens e videoclipes produzidos pela sua produtora Quadro-chave Produções.
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Selminha Sorriso falou e disse: reparações para os negros já!
April 27, 2022 20:55![]() |
Empretecer o Pensamento É Ouvir a Voz da Beija-Flor |
Traz de volta o que a História escondeu
Foi-se o açoite e a chibata sucumbiu
Mas você não reconhece o que o negro construiu
Foi-se ao açoite e a chibata sucumbiu
E o meu povo ainda chora pelas balas de fuzil”
Tenho que ser sincero que não assisti por completo os desfiles das escolas de samba do Rio De Janeiro. E o fato que também contribui para não assistir em sua integralidade é que a transmissão da emissora é terrível, monótona e tediosa. Requer bastante paciência para ficar sentado por sete horas a finco. A emissora é aquela que num passado não tão distante promoveu ataques ferozes contra a construção do sambódromo.
O ponto a destacar neste desfile foi a quantidade de escolas de samba que inseriram temas ligados à África. Há escolas que são tradicionais com esses temas (Salgueiro, Vila Isabel e Beija- Flor), outras foram novidades, como a Portela. Em anos anteriores os números de agremiações eram limitadas, mas neste ano os números superam. Todas estão de parabéns.
Trabalhar a história da África se constitui num desafio fora da avenida. Nas escolas, no dia-a-dia, não é o mar de rosas como observar aquelas pessoas se maravilhando com o carnaval. Somos a segunda maior população preta fora da África. Somos próximos e, no entanto, se pedirmos pro brasileiro citar dez países africanos, levante as mãos para o céu se alguém mencionar Angola e pronto.
Somos muitos distantes quando o assunto é a África. Sabemos pouco sobre o passado da África, para alguns de nós, a África aparece a partir do tráfico negreiro. Junta-se às crises políticas, doenças, guerras e feitiçaria.
No passado antes e depois de Cristo, a África era um continente pujante com organizações sociais, culturais e comerciais. Invenções que utilizamos em nosso cotidiano nasceram na África: medicina, filosofia, metalurgia, astronomia e engenharia. Sim, também a engenharia, ou vocês pensaram que as pirâmides foram construídas pelos ETS? O filme Pantera Negra dá a ideia dessa África moderna que um dia existiu. O continente heterogêneo com complexo linguístico, religioso e multi-étnico.
Anteriormente disse que trabalhar o conteúdo de África é um desafio fora da avenida. É pura realidade. Nos estabelecimentos de ensino não encontramos apoio dos diretores, se você for seguidor de religião de matriz africana, então essas chances são quase zero. Outro desafio é intromissão de igrejas cristãs. Há alguns anos tive a desagradável experiência ao ver dez alunos saírem da sala para não assistirem a aula de África, ficamos sabendo depois que essa ordem partia de pastores neo-pentecostais com medo de "ideologização" religiosa dentro da sala de aula, pura mentira . Numa mente comum conservadora, falar em África é mencionar feitiçaria, demônios e guerras. São frutos de Marcos Feliciano.
Feliz foi a Porta-Bandeira da Beija-flor, Selminha Sorriso, que foi firme sem perder a doçura e afirmativa e contundente em falar que o Estado tem que reparar quatro séculos de escravidão e mais: os cumprimentos das leis 10.639 e 11.645. Ambas as leis obrigam os estudos tanto da África e afro-brasileiros e os nativos da terra, os índios.
Não há como negar que houve avanços dos direitos dos negros e indígenas. Atualmente passamos por retrocessos que é capaz de tirar nossas vidas e com olhos beneplácitos do mandatário do país. A política de cota racial foi a nossa vitória, partiu dos movimentos negros essa iniciativa, não foi de esquerda ou direita que quando necessário procuram sempre estar nos calando.
Ficarei feliz em estar numa sala de aula e estar ensinando a história do povo afro brasileiro e indígena. Ver nos olhos dessas crianças, jovens e adultos, que tem motivos reais de serem parte na construção política social do Brasil.
Empretecer a pele não basta, ser preto quando convém é fácil: quero ver estar ao lado, lutando por direitos iguais .
OBS: Este mês completou dez anos do julgamento do STF que deu constitucionalidade à politica de cota racial em universidade.
(Por Fabio Idalino Alves Nogueira, graduando em História pela UVA/RJ e professor de pré-vestibular comunitário)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..
Religião e política: um prato indigesto
April 12, 2022 18:46Todas as constituições do Brasil da Era Republicana são enfáticas ao destacar a separação entre a religião e o Estado. No Brasil colônia e império, todos os brasileiros automaticamente já nasciam católicos. Era impensável mudar de religião.
A atual constituição reforça este conceito. Seguir ou não uma religião são conceitos privados. A lei garante a liberdade religiosa. Qualquer um pode seguir ou não uma religião. Eu, você e todos nós podemos acreditar nas divindades ou não.
É normal chefes de governos ou de Estado receberem qualquer membro de organizações religiosas. Tantos chefes de governo ou de Estado podem ter ou não uma religião, são direitos garantidos pela constituição. O temeroso será levar este desejo pessoal para a esfera pública, tomar decisões que possam alterar a vida de cada brasileiro.
O momento obscuro que estamos atravessando com o atual governo deixa–nos em alerta. A presença da bancada da Bíblia (religiosos conservadores), em sua grande maioria evangélicos, na qual, constantemente, protagonizam polêmicas ao tentarem misturar assuntos de estado com os dogmas de sua religião, é prova disso. Um desses casos célebres é o da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, a pastora Damares Regina Alves, cujos discursos já provocaram diversas situações embaraçosas para o Planalto.
A justificativa de por Deus em pautas políticas é como colocar um ponto final em uma discussão. A palavra Deus traz a questão do respeito por ser uma entidade divina e poderosa. Não há argumento que contenha premissas lógicas e racionais que possam derrubar uma premissa divina, pois está em um conhecimento religioso, diferente das demais.
Quem se atreve a se opor a (um argumento que use) Deus em uma pauta política em um país como Brasil? Caso isso venha acontecer, saiba que será chamado de forma pejorativa de “Comunista!”, “Chavista!”, “Satanista!” e outros xingamentos.
O fanatismo religioso foi um dos motivos de ter elegido Bolsonaro no poder do Brasil. Usou pautas religiosas para justificar os seus atos. Isso pode lembrar os governos Fascistas e Nazistas da Itália e da Alemanha que de uma certa forma usaram a Igreja para se levantarem e se manterem no poder. Utilizaram o conservadorismo da Igreja para se apoiar em suas “reformas políticas”.
Lembrando que designar a religião como algo “mal” pelos infortúnios causados pela Igreja é um equívoco. Pois, a religião em si não prega as barbáries que a Igreja e quem a usou em nome dela fizeram. Quem matou, dizimou e procurou justificar a escravidão nas Américas e na África foram pessoas que se apropriaram de forma errada da religião para praticarem tais atos.
A política de quem está no poder do Brasil está na contra mão do progresso, com pautas cada vez mais conservadoras, usando, por vezes, Deus em “vão” para se escorar e conseguir apoio para talvez se reeleger. Sempre desconfie de quem usa Deus na política, geralmente esse político não possui plano de governo econômico-social convincente, por isso apela a Deus.
(Escrito por Fábio Idalino Alves Nogueira e Gabriel Luiz Campos Dalpiaz)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..