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Dez fatos chocantes sobre os EUA
21 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda1- Os Estados Unidos têm a maior população prisional do mundo, compondo menos de 5% da humanidade e mais de 25% da humanidade presa. Em cada 100 americanos 1 está preso.
A subir em flecha desde os os anos 80, a surreal taxa de encarceramento dos EUA é um negócio e um instrumento de controlo social. À medida que o negócio das prisões privadas alastra como gangrena, uma nova categoria de milionários consolida o seu poder político. Os donos destes cárceres são também na prática donos de escravos, que trabalham nas fábricas no interior prisão por salários inferiores a 50 cêntimos por hora.
Este trabalho escravo é tão competitivo, que muitos municípios hoje sobrevivem financeiramente graças às suas próprias prisões camarárias, aprovando simultaneamente leis que vulgarizam sentenças de até 15 anos de prisão por crimes menores como roubar pastilha elástica. O alvo destas leis draconianas são os mais pobres mas sobretudo os negros, que representando apenas 13% da população americana, compõem 40% da população prisional do país.
2- 22% das crianças americanas vive abaixo do limiar da pobreza.
Calcula-se que cerca de 16 milhões de crianças americanas vivam sem “segurança alimentar”, ou seja, em famílias sem capacidade económica de satisfazer os requisitos nutricionais mínimos de uma dieta saudável. As estatísticas provam que estas crianças têm piores resultados escolares, aceitam piores empregos, não vão à universidade e têm uma maior probabilidade de, quando adultos, serem presos.
3- Entre 1890 e 2012 os EUA invadiram ou bombardearam 149 países.
São mais os países do mundo em que os EUA intervieram militarmente do que aqueles em que ainda não o fizeram. Números conservadores apontam para mais de 8 milhões de mortes causadas pelos EUA só no século XX. E por detrás desta lista escondem-se centenas de outras operações secretas, golpes de Estado e patrocínio de ditadores e grupos terroristas. Segundo Obama, recipiente do Nobel da Paz, os EUA têm neste momento a decorrer mais de 70 operações militares secretas em vários países do mundo. O mesmo presidente, criou o maior orçamento militar norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial, batendo de longe George W. Bush.
4- Os EUA são o único país da OCDE que não oferece qualquer tipo de subsídio de maternidade.
Embora estes números variem de acordo com o Estado e dependam dos contratos redigidos pela empresa, é prática corrente que as mulheres americanas não tenham direito a nenhum dia pago antes nem depois de dar à luz. Em muitos casos, não existe sequer a possibilidade de tirar baixa sem vencimento. Quase todos os países do mundo oferecem entre 12 e 50 semanas pagas em licença de maternidade. Neste aspecto, os Estados Unidos fazem companhia à Papua Nova Guiné e à Suazilândia com 0 semanas.
5- 125 americanos morrem todos os dias por não poderem pagar qualquer tipo de acesso à saúde.
Se não tiver seguro de saúde (como 50 milhões de americanos não têm), então, tem boas razões para recear mais a ambulância e os cuidados de saúde que lhe vão prestar, que esse inocente ataquezinho cardíaco. Com as viagens de ambulância a custarem em média 500€, a estadia num hospital público mais de 200€ por noite, e a maioria das operações cirúrgicas situadas nas dezenas de milhar, é bom que possa pagar um seguro de saúde privado. Caso contrário, a América é a terra das oportunidades e como o nome indicam, terá a oportunidade de se endividar até às orelhas e também a oportunidade de ficar em casa, fazer figas e esperar não morrer desta.
6- Os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas índias foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo americano.
Esqueçam a história do Dia de Acção de Graças, com índios e colonos a partilhar placidamente o mesmo peru à volta da mesma mesa. A história dos Estados Unidos começa no programa de erradicação dos índios. Tendo em conta as restrições actuais à imigração ilegal, ninguém diria que os fundadores deste país foram eles mesmo imigrantes ilegais, que vieram sem o consentimento dos que já viviam na América. Durante dois séculos, os índios foram perseguidos e assassinados, despojados de tudo e empurrados para minúsculas reservas de terras inférteis, em lixeiras nucleares e sobre solos contaminados.
2- 22% das crianças americanas vive abaixo do limiar da pobreza.
Calcula-se que cerca de 16 milhões de crianças americanas vivam sem “segurança alimentar”, ou seja, em famílias sem capacidade económica de satisfazer os requisitos nutricionais mínimos de uma dieta saudável. As estatísticas provam que estas crianças têm piores resultados escolares, aceitam piores empregos, não vão à universidade e têm uma maior probabilidade de, quando adultos, serem presos.
3- Entre 1890 e 2012 os EUA invadiram ou bombardearam 149 países.
São mais os países do mundo em que os EUA intervieram militarmente do que aqueles em que ainda não o fizeram. Números conservadores apontam para mais de 8 milhões de mortes causadas pelos EUA só no século XX. E por detrás desta lista escondem-se centenas de outras operações secretas, golpes de Estado e patrocínio de ditadores e grupos terroristas. Segundo Obama, recipiente do Nobel da Paz, os EUA têm neste momento a decorrer mais de 70 operações militares secretas em vários países do mundo. O mesmo presidente, criou o maior orçamento militar norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial, batendo de longe George W. Bush.
4- Os EUA são o único país da OCDE que não oferece qualquer tipo de subsídio de maternidade.
Embora estes números variem de acordo com o Estado e dependam dos contratos redigidos pela empresa, é prática corrente que as mulheres americanas não tenham direito a nenhum dia pago antes nem depois de dar à luz. Em muitos casos, não existe sequer a possibilidade de tirar baixa sem vencimento. Quase todos os países do mundo oferecem entre 12 e 50 semanas pagas em licença de maternidade. Neste aspecto, os Estados Unidos fazem companhia à Papua Nova Guiné e à Suazilândia com 0 semanas.
5- 125 americanos morrem todos os dias por não poderem pagar qualquer tipo de acesso à saúde.
Se não tiver seguro de saúde (como 50 milhões de americanos não têm), então, tem boas razões para recear mais a ambulância e os cuidados de saúde que lhe vão prestar, que esse inocente ataquezinho cardíaco. Com as viagens de ambulância a custarem em média 500€, a estadia num hospital público mais de 200€ por noite, e a maioria das operações cirúrgicas situadas nas dezenas de milhar, é bom que possa pagar um seguro de saúde privado. Caso contrário, a América é a terra das oportunidades e como o nome indicam, terá a oportunidade de se endividar até às orelhas e também a oportunidade de ficar em casa, fazer figas e esperar não morrer desta.
6- Os EUA foram fundados sobre o genocídio de 10 milhões de nativos. Só entre 1940 e 1980, 40% de todas as mulheres em reservas índias foram esterilizadas contra sua vontade pelo governo americano.
Esqueçam a história do Dia de Acção de Graças, com índios e colonos a partilhar placidamente o mesmo peru à volta da mesma mesa. A história dos Estados Unidos começa no programa de erradicação dos índios. Tendo em conta as restrições actuais à imigração ilegal, ninguém diria que os fundadores deste país foram eles mesmo imigrantes ilegais, que vieram sem o consentimento dos que já viviam na América. Durante dois séculos, os índios foram perseguidos e assassinados, despojados de tudo e empurrados para minúsculas reservas de terras inférteis, em lixeiras nucleares e sobre solos contaminados.
Em pleno século XX, os EUA puseram em marcha um plano de esterilização forçada de mulheres índias, pedindo-lhes para colocar uma cruz num formulário escrito num língua que não compreendiam, ameaçando-as com o corte de subsídios caso não consentissem ou, simplesmente, recusando-lhes acesso a maternidades e hospitais. Mas que ninguém se espante, os EUA foram o primeiro país do mundo a levar a cabo esterilizações forçadas ao abrigo de um programa de eugenia, inicialmente contra pessoas portadoras de deficiência e mais tarde contra negros e índios.
7- Todos os imigrantes são obrigados a jurar não ser comunistas para poder viver nos EUA.
Para além de ter que jurar que não é um agente secreto nem um criminoso de guerra nazi, vão-lhe perguntar se é, ou alguma vez foi membro do “Partido Comunista”, se tem simpatias anarquista ou se defende intelectualmente alguma organização considerada “terrorista”. Se responder que sim a qualquer destas perguntas, ser-lhe-á automaticamente negado o direito de viver e trabalhar nos EUA por “prova de fraco carácter moral”.
8- O preço médio de uma licenciatura numa universidade pública é 80 000 dólares.
O ensino superior é uma autêntica mina de ouro para os banqueiros. Virtualmente todos os estudantes têm dívidas astronómicas, que acrescidas de juros, levarão em média 15 anos a pagar. Durante esse período os alunos tornam-se servos dos bancos e das suas dívidas, sendo muitas vezes forçados a contrair novos empréstimos para pagar os antigos e ainda assim sobreviver.
7- Todos os imigrantes são obrigados a jurar não ser comunistas para poder viver nos EUA.
Para além de ter que jurar que não é um agente secreto nem um criminoso de guerra nazi, vão-lhe perguntar se é, ou alguma vez foi membro do “Partido Comunista”, se tem simpatias anarquista ou se defende intelectualmente alguma organização considerada “terrorista”. Se responder que sim a qualquer destas perguntas, ser-lhe-á automaticamente negado o direito de viver e trabalhar nos EUA por “prova de fraco carácter moral”.
8- O preço médio de uma licenciatura numa universidade pública é 80 000 dólares.
O ensino superior é uma autêntica mina de ouro para os banqueiros. Virtualmente todos os estudantes têm dívidas astronómicas, que acrescidas de juros, levarão em média 15 anos a pagar. Durante esse período os alunos tornam-se servos dos bancos e das suas dívidas, sendo muitas vezes forçados a contrair novos empréstimos para pagar os antigos e ainda assim sobreviver.
O sistema de servidão completa-se com a liberdade dos bancos de vender e comprar as dívidas dos alunos a seu bel-prazer, sem o consentimento ou sequer a informação do devedor. Num dia deve-se dinheiro a um banco com uma taxa de juro e no dia seguinte, pode-se dever dinheiro a um banco diferente com nova e mais elevada taxa de juro. Entre 1999 e 2012, a dívida total dos estudantes americanos ascendeu a 1.5 triliões de dólares, subindo uns assustadores 500%.
9- Os EUA são o país do mundo com mais armas: para cada 10 americanos, há 9 armas de fogo9.
Não é de espantar que os EUA levem o primeiro lugar na lista dos países com a maior colecção de armas. O que surpreende é a comparação com o resto do mundo: No resto do planeta, há 1 arma para cada 10 pessoas. Nos Estados Unidos, 9 para cada 10. Nos EUA podemos encontrar 5% de todas as pessoas do mundo e 30% de todas as armas, qualquer coisa como 275 milhões. E esta estatística tende a se extremar, já que os americanos compram mais de metade de todas as armas fabricadas no mundo.
10- São mais os americanos que acreditam no Diabo que os que acreditam em Darwin.
A maioria dos americanos são cépticos; pelo menos no que toca à teoria da evolução, em que apenas 40% dos norte-americanos acredita. Já a existência de Satanás e do inferno, soa perfeitamente plausível a mais de 60% dos americanos. Esta radicalidade religiosa explica as “conversas diárias” do ex-presidente Bush com Deus e mesmo os comentários do ex-candidato Rick Santorum, que acusou os acadêmicos americanos de serem controlados por Satã.
9- Os EUA são o país do mundo com mais armas: para cada 10 americanos, há 9 armas de fogo9.
Não é de espantar que os EUA levem o primeiro lugar na lista dos países com a maior colecção de armas. O que surpreende é a comparação com o resto do mundo: No resto do planeta, há 1 arma para cada 10 pessoas. Nos Estados Unidos, 9 para cada 10. Nos EUA podemos encontrar 5% de todas as pessoas do mundo e 30% de todas as armas, qualquer coisa como 275 milhões. E esta estatística tende a se extremar, já que os americanos compram mais de metade de todas as armas fabricadas no mundo.
10- São mais os americanos que acreditam no Diabo que os que acreditam em Darwin.
A maioria dos americanos são cépticos; pelo menos no que toca à teoria da evolução, em que apenas 40% dos norte-americanos acredita. Já a existência de Satanás e do inferno, soa perfeitamente plausível a mais de 60% dos americanos. Esta radicalidade religiosa explica as “conversas diárias” do ex-presidente Bush com Deus e mesmo os comentários do ex-candidato Rick Santorum, que acusou os acadêmicos americanos de serem controlados por Satã.
Em plena Rio+20, EUA restringem a cobertura jornalística dos incêndios florestais
21 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaFoto publicada no L.A. Times |
Autoridades restringiram a cobertura jornalística dos enormes incêndios florestais na parte ocidental dos Estados Unidos, e pelo menos um fotógrafo foi agredido, algemado e acusado de obstrução, o que levou o jornal de Nevada, onde ele trabalha, a preparar uma queixa formal, relatou a Associated Press.
Tim Dunn, editor de fotografia do Reno Gazette-Journal, foi detido na segunda-feira, 18 de junho, e deputados o empurraram antes de citá-lo criminalmente por "resistir a um funcionário público", apesar de Dunn ter cumprido os pedidos das autoridades para deixar o área, de acordo com a CBS News. Autoridades acusaram o editor de querer se passar por bombeiro por causa do equipamento de proteção que estava usando.
No Colorado, repórteres foram proibidos de entrar em áreas que foram evacuadas em razão dos incêndios e barrados dos comunicados feitos pelas autoridades a residentes sobre a situação de suas casas e propriedades, disse o Los Angeles Times.
Nós, os puros
21 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Deu-se estes dias que chegamos a uma encruzilhada inaudita. Assim, os que ousaram se alinhar ao sentimento de Luiza Erundina, de repúdio à ligação do PT e de Lula a Paulo Maluf, passaram a ser chamados de “puros”. Assim mesmo, entre aspas, para que fique claro a conotação de que, uma vez puros, são também tolos, tristes sonhadores, idealistas cuja atitude pueril não só transgride as …regras do jogo como, no fim das contas, subverte a ordem de uma guerra santa. Em meio ao jihadismo estabelecido nas eleições paulistanas, de demônios tão nítidos quanto malignos, a atitude de Erundina contra a aliança da esquerda com um bandido procurado pela Interpol, com o cúmplice ativo dos assassinos da ditadura militar, com o construtor da vala comum do cemitério de Perus, com a representação do pior da direita, enfim, tornou-se um ato de traição, de purismo político, de angelical perversão.
Ato contínuo, os mesmos que dias antes haviam comemorado a chegada da deputada do PSB à campanha de Fernando Haddad passaram, de uma hora para outra, a demonizá-la, curiosamente, pelo viés de um purismo atávico e infantil. Erundina, a louca idealista, a tresloucada individualista capaz de destruir os planos de redenção da esquerda por causa de uma foto, uma imagem de nada, um instantâneo sem relevância nem simbolismo, apenas o registro banal de um líder da resistência a se confraternizar com chefe da escória. Ah, os puros, como são tolos! Justo quando deles se exige fortaleza e dedicação, aparecem esses sonhadores cheios de escrúpulos e regramentos éticos.
De toda parte, então, passaram a rugir leões do pragmatismo político, militantes de uma realpolitik feroz, implacável, a pregar a irrelevância dos puros, dos tolos da ética, quando não de sua influência nefasta sobre os jovens e, claro, do enorme desserviço prestado à democracia e ao admirável mundo novo que se anuncia. Os puros, dizem, nunca ganham eleições. E se não o fazem, portanto, que não atrapalhem os que as querem ganhar a qualquer custo. É preciso impedi-los, portanto, de se mostrar em público. É preciso calá-los, desqualificá-los, torná-los ridículos, patéticos em sua fraqueza.
Nem que para isso seja preciso transformar em traidora uma brasileira digna, com 40 anos de vida pública inatacável, uma heroína da resistência, uma política que passou a vida levando assistência a favelas e cortiços, uma parlamentar que dedica seus mandatos a defender a democratização da comunicação e o resgate da memória dos que foram seqüestrados, torturados e mortos pelo regime ao qual serviu Paulo Maluf. Este mesmo Maluf contra o qual os puros, os tolos e os sonhadores da política, vejam vocês, tem a ousadia de se voltar.
Erundina, a última petista
21 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaPublico abaixo um texto interessante para nossa reflexão.Escrito e publicado por Rudá Ricci
Erundina deixou todos petistas constrangidos. Fez o que qualquer petista histórico faria. O PT dos anos 1980, não este pragmático, sem cor, sem cheiro, sem forma. Praticamente matou a candidatura de Haddad. Só uma reviravolta para colocar a militância engajada (da zona leste e sul) na rua.
Os pragmáticos, do PT e PSB, estão furiosos e jogam a culpa na escolha do nome da ex-prefeita. Não se importam com programa ou ideologia. Se importam com vitória, com cálculo de votos. Assim, pautados pela popularidade, se tornam conservadores, fiéis escudeiros do status quo, justamente porque não querem mudanças fundamentais, mas apenas se tornarem populares. Um atalho para a construção da hegemonia gramsciana. Em Gramsci, havia diálogo e costura de múltiplos interesses. Mas o pragmatismo petista de hoje é rebaixado. Não procura costurar interesses a partir de um programa. Faz o contrário: constrói seu programa a partir do cálculo de força eleitoral. Cede. Se rebaixa. Na verdade, não se preocupa com programa algum. Eleito, administra e sai a cata de programas que tenham algum sentido estatal-desenvolvimentista, o que sobrou do modo petista de governar. Aquele modo petista, mesmo difuso e confuso, tinha uma inspiração de transformação social, plasmada no slogan "inversão de prioridades". O participacionismo, outra marca do início dos governos petistas, foi abruptamente abandonado. O motivo parece óbvio: não há como abrir a participação dos de baixo se os cálculos eleitorais exigem acordos com as elites coronelistas de sempre.
Erundina é a última petista. O que deve incomodar profundamente os caciques do PSB e do PT.
“Julian está trabalhando na embaixada”, diz jornalista amigo de Assange
20 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Em entrevista à Pública, Gavin MacFadyen fala das manifestações de apoio que o fundador do Wikileaks tem recebido e do que viu e ouviu na embaixada do Equador em Londres
“Eu fiquei chocado”, conta por telefone o jornalista americano Gavin MacFadyen, amigo de Assange e diretor do Centro de Jornalismo Investigativo da City University, em Londres (CIJ), e conselheiro da Pública. “Julian não contou para ninguém que iria pedir asilo, para não nos colocar em dificuldades”. Segundo o jornalista, que dirigiu alguns dos mais famosos programas de jornalismo investigativo da televisão britânica, Assange recebeu uma carta de apoio à sua luta pela não-extradição do cineasta Michael Moore e outras manifestações de nomes de peso como os jornalistas Philip Knightley e John Pilger.
Uma delegação de movimentos sociais da Aliança Bolivariana das Américas (Alba) – da qual o brasileiro MST faz parte – entregou um documento nesta quinta-feira pedindo que Rafael Correa que forneça asilo a Assange. João Pedro Stedile, líder do MST, explicou durante o encontro: “Assange lidera a batalha contra os americanos e o monopólio da informação. Então, nós pedimos, em nome dos movimentos sociais, que o Equador possa recebê-lo”.
Para MacFadyen, porém, mesmo se o Equador conceder asilo diplomático, “Julian vai ficar por lá na embaixada) durante muito tempo”. Leia a entrevista.
Você esteve ontem na embaixada no Equador em Londres. Como está a situação? Tensa?
A atmosfera é muito boa, até de maneira surpreendente. Julian está bem, com bom humor. E os funcionários da embaixada são muito solícitos, mais do que eu esperava. O quarto onde Julian está dormindo é um escritório muito pequeno. Ele dorme em um colchão inflável, desses de acampamento, no meio de algumas mesas. Mas durante o dia ele está com a sua equipe o tempo todo, trabalhando normalmente.
Por que o Equador?
Nada disso aconteceu de uma hora para outra, eu acredito que muitas coisas devem ter pesado na escolha. Mas Julian recebeu uma oferta de residência lá no Equador há dois anos, e o mensageiro disse que se ele estivesse em dificuldade poderia ir para a embaixada. Na entrevista que Corrêa deu a Julian para o programa “O mundo amanhã”, ficou claro que ambos compartilhavam críticas à política externa americana, eles até riram juntos ao falar disso.
Mas foi uma decisão que te surpreendeu? Foi repentina?
Olha, obviamente devem ter havido discussões anteriores, não é algo que se faz assim de uma hora para outra. Mas nós, os amigos mais próximos não sabíamos de nada. Julian preferiu não contar a ninguém porque qualquer um que soubesse que ele planejava pedir asilo político seria obrigado por lei a entregá-lo às autoridades. Se alguém soubesse, poderia ser responsabilizado legalmente, então ele decidiu não avisar a ninguém – nem aos que deram dinheiro para a sua fiança – para protegê-los.
A imprensa tem noticiado que aqueles que pagaram sua fiança, como Michael Moore, o jornalista Philip Knightey e a socialite Jemima Khan, ficaram surpresos e decepcionados com o ato. Eles podem peder seu dinheiro.
Olha, eu falei com muitos deles. Todos ficaram surpresos, mas no momento em que entrou na embaixada Julian mandou uma carta a todos eles se explicando. Eu também fiquei chocado quando soube disso como todo mundo. Mas se você pensa um pouco, percebe que houve uma reflexão séria que antecedeu esta decisão. Tanto que todos os apoiadores deles que pagaram a fiança, pelo menos os que falei, mandaram cartas de apoio depois de receberem a carta de Julian. O jornalista Philip Knightley mandou um email, e o Michael Moore enviou uma carta de apoio.
Mas diversos jornais têm afirmado que os apoioadores estão se afastando de Julian.
Isso não é verdade. Michael Moore enviou uma carta oferecendo seu apoio e dizendo que entendia por que Julian tinha tomado esta decisão. Eu li essa a carta. A questão é: se há perigo de Julian ser entregue aos EUA, então a decisão que ele tomou foi correta.
Gavin, você é americano. Você acredita que existe este risco?
Eu acho que há um perigo potencial. E eu vou te dizer por que. Há um júri secreto que está se reunindo no estado da Virgínia há mais de um ano, e todas as decisões tomadas pelo júri são secretas. O governo dos EUA admitem que ele existe, mas não falam o que está sendo decidido ali. Basicamente eles estão testando uma acusação formal que deve ser feita contra o Julian. Estão buscando um tribunal que concorde em emitir um pedido de extradição. É esse o propósito do júri secreto. Advogados costumam dizer que um júri deste tipo, que existe nos EUA, consegue incriminar até um sanduíche de presunto. E o pior é que há muito segredo sobre o que está acontecendo, ninguém sabe o que se passa. É sinistro. Outra coisa: quatro membros do Comitê Nacional Republicano pediram a morte de Assange, dizendo que ele deveria ser caçado e assassinado. Eu nunca ouvi falar em algo assim em toda minha vida. E o próprio Obama, em um evento público, disse que Assange violou as leis, que ele é culpado. Como alguém pode ser considerado culpado antes de ter havido qualquer julgamento?
Mas daí a buscar de fato a extradição…
Veja, os Estados Unidos são a única potência mundial que admite sequestrar pessoas. Eles têm uma política de assassinar pessoas no exterior quando são consideradas inimigas. Afinal, eles fazem sequestros, rendições extraordinárias quando é o caso. E todos sabem que os EUA gostaria de vê-lo preso. Algumas das acusações que estão cogitando fazer contra ele são a prisão perpétua ou pena capital. Estão cogitando acusá-lo de espionagem, ou de assessorar o inimigo – já se chegou a dizer que ele teria auxiliado a Al Qaeda, por exemplo, com os vazamentos no Afeganisão, o que é uma loucura completa.
A cobertura da batalha judicial de Assange mudou muito de tom desde o vazamento dos documentos diplomáticos. Hoje em dia grande parte da cobertura é bastante negativa. Qual a sua visão sobre isso?
Os veículos que decidiram ser hostis a Assange continuam sendo. Hoje de manhã, por exemplo, alguns veículos reportavam que ele estavam com a barba por fazer. É terrível. Há grandes e importantes exceções, mas grande parte da mídia tem sido histil à figura do Julian. Os jornais falam pouco dos documentos, não analisam seriamente o papel do WikiLeaks, o jornalismo do WikiLeaks, eles sugerem que Assange é um homem horrível, que tem maus hábitos, uma bobajada.
Não há uma sensação de que ele deveria ir encarar a justiça sueca de uma vez?
Sim, háum sentimento de que ele deveria ir à Suécia, mas muitas pessoas não se sentiram confortáveis com o fato de que ele deter muitos documentos secretos. Muitos jornalistas acham que ele é um anarquista, um homem louco, uma pessoa difícil de lidar. Mas uma parte disso é porque ele fez a grande imprensa a fazer coisas que ela não queria fazer.
Como por exemplo?
Como por exemplo, sentarem todos na mesma mesa e colaborarem. O Guardian e o New York Times em particular, queriam exclusividade sobre os documentos, eles acharam que Julian era um nerd que eles iam conseguir dobrar, mas mudaram quando perceberam que ele é inteligente, e que manteve a mesma linha desde o começo. Eles não o convenceram, e ficaram muito bravos, todo mundo começou a acusar todo mundo… Em alguns casos, é uma questão de inveja mesmo. É um cara que não é um jornalista conhecido e respeitado, e de repente dá mais furos em alguns dias do que toda a imprensa ocidental em um ano. Eles odiaram isso. Além disso, Julian não segue as regras e normas deles, ele tem seu jeito de fazer as coisas…
Você considera Julian Assange um jornalista?
Claro, por qualquer critério que você quiser medir. Há algumas semanas ele recebeu o maior prêmio de jornalismo na Austrália, e é membro da associação australiana de jornalistas há muitos anos. Não há a menor dúvida que alguém que recebe documentos,que publica informações, que defende a liberdade de informação, que escreve sobre elas e produz material jornalístico é um jornalista. Mas essa é uma falsa discussão. Porque o problema é que quem diz que ele não é jornalista está retirando a proteção que a Constituição americana dá aos jornalistas. E isso é muito perigoso não só para o Julian, mas para todos os jornalistas.
Se o Equador der asilo politico a Julian, o que acontece?
Está claro que se ele colocar o pé para fora da embaixada ele será preso, então vai ficar por lá durante muito tempo. Eu acredito que casos assim levam algum tempo para ser esquecidos, depois pode haver um acordo baseado em algum aspecto técnico, mas no final os britânicos vão concordar em deixá-lo ir se ganharem algo com isso. Depende do Equador decidir se estão dispostos a pagar um preço por isso.
Você acredita que Rafael Correa vai garantir asilo a Julian?
Eu não sei. Espero que sim. O que ficou claro durante a minha visita à embaixada é que o pessoal lá tem sido muitoo amigável, caloroso e generoso. Eles estão tratando o Julian muito bem, então há uma postura obviamente amigável. Mas é claro que eles terão que procurar todo o auxílio jurídico necessário. Alguns jornais estão dizendo que deve sair uma resposta hoje, mas eu acho impossível. O governo do Equador já disse que terá que conversar com o Reino Unido, a Suécia e os Estados Unidos – o que é uma prova de como eles estão conscientes de que o governo americano tem interesse em extraditá-lo.
O governo de Obama iria até o fim na busca da extradição? O próprio governo é acusado de vazar documentos para a imprensa…
Olha, o governo de Obama é ainda pior do que o governo Bush neste aspecto. Ele processou mais whistleblowers (informantes) do que qualquer presidente americano, e endureceu as regras internas do governo para quem vaza informações. Até o New York Times criticou duramente Obama por isso. E é claro, o caso de Bradley Manning é responsabilidade do governo Obama. É um caso terrível, se você pensar. Um jovem rapaz que já está sofrendo uma punição não usual e brutal, pela administração Obama. O que eles estão fazendo com Manning é tão sério que um membro do alto escalão do Departamento de Estado pediu demissão em protesto.