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Caso Orlando: Veja diz que não tem que dar satisfação à verdade
26 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaEm 12 de junho, a Comissão de Ética, por absoluta falta de provas, arquivou o processo contra o ex-ministro. O caso foi baseado em matérias da revista Veja com o policial militar João Dias, que acusou Orlando de ter recebido dinheiro ilegal de ONGs.
A matéria intitulada “Ministro recebia dinheiro na garagem”, da edição de 13 de outubro de 2011, foi assinada por Rodrigo Rangel, também editor da Veja Brasília. Rodrigo e Policarpo Junior, editor chefe do semanário em Brasília e um dos personagens envolvidos nos esquemas do bicheiro Carlinhos Cachoeira, se empolgaram na fabricação do texto. Ambos deram seis páginas para o suspeito PM João Dias e apenas oito linhas para a defesa de Orlando, por sinal, nenhuma apas do ministro.
Em entrevista à TV Vermelho, o ex-ministro afirma que, na época, foi apenas comunicado, por um editor daVeja, de que uma matéria sobre ele seria publicada no dia seguinte. Orlando afirma que a única chance de defesa que a revista ofereceu foi publicar uma nota do ministério na Veja Online. A edição impressa já estava a caminho das bancas.
Satisfação
Em agosto do ano passado, o mesmo Rodrigo Rangel chegou a ser agredido pelo lobista Júlio Fróes enquanto tentava cumprir uma das obrigações do bom jornalismo: ouvir o outro lado da história (aqui a notícia). Por que no caso de Orlando não foi possível ter o mesmo empenho?
Para saber esta e outras respostas é que a TV Vermelho procurou o editor da Veja. Basta ver o vídeo acima para saber a versão do outro lado: “Sim, mas eu tenho que dar satisfação a você?”, ironizou Rodrigo Rangel.
Tentamos explicar que não era à repórter que o jornalista devia uma satisfação, mas sim aos milhões de brasileiros que foram enganados ao longo de oito meses, graças às mentiras veiculadas na Veja. Mas e a verdade, ela não merece nenhuma satisfação? “Agora não posso falar, agora não posso falar”, repetia o editor da revista à nossa reportagem.
Proceso na Justiça
O única tentativa do editor para justificar o absoluto silêncio da Veja sobre a absolvição de Orlando foi de que o processo continua correndo na justiça.
Então noticie, pelo menos, há quantas anda o processo na Justiça! Sim, porque até o presente momento há apenas um processo e este foi movido pelo próprio Orlando Silva contra os caluniadores João Dias e Célio Soares, funcionário do PM que disse à Veja ter entregue dinheiro ao ex-ministro.
Já houve uma primeira audiência. Célio Soares não compareceu e está desaparecido. Por este motivo, a Justiça não consegue intimá-lo para depor. O único a comparecer foi João Dias. Ele propôs a conciliação ao ex-ministro, que não aceitou.
Além do processo movido por Orlando contra os caluniadores, há um inquérito, a pedido da Procuradoria Geral da União, em andamento no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Inquérito não é processo, mas sim, investigação. Até o momento, o ex-ministro não foi chamado para depor.
Impunidade
A grande ironia de toda esta história está nas duas frases que fecharam a primeira matéria, aquela de oito meses atrás: “A polícia e o Ministério Público têm uma excelente oportunidade para esclarecer o que se passava no terceiro tempo do Ministério do Esporte. As testemunas [João Dias e Célio Soares] estão prontas para entrar em campo”.
Que piada. Mesmo dias depois da reportagem, João Dias se negou a comparecer ao Congresso para falar sobre o caso (aqui a matéria).
Já se passaram oito meses. Orlando segue a batalha de cabeça erguida. E a Veja? Só mesmo um milagre tem evitado que o dono da revista, Roberto Civita, não seja chamado a depor na CPI do Cachoeira.
Até quando a mídia vai ficar impune?
Publicado por Carla Santos
For you, Jimmy!
26 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda Era um início de tarde e eu estava prestes a fazer uma prova na faculdade de Psicologia. Há detalhes que o tempo apagou da memória, mas lembro-me de ter recebido um telefonema ou mensagem falando sobre sérias mudanças de saúde e eu não poderia fazer a tal prova. Teria de ir ao hospital.Confesso que eu estava nervoso, preocupado. Não sabia exatamente o quê ou como fazer. Lembro-me de ter falado com ela pelo telefone e ela também estava nervosa, como era de se imaginar, como qualquer um ficaria.
Não tenho certeza, mas acho que a Bárbara foi quem me levou ao hospital naquele dia. Quando cheguei, tudo o que pude fazer foi esperar, esperar e esperar. Fumava um cigarro atrás de outro e esperava.
A ansiedade de saber o que estava acontecendo, se tudo estava bem ou se estava mal, realmente fazia o tempo marcar com ferro cada segundo que passava. Eu não me controlava e isso era nítido. Eu estava muito nervoso.
Até que uma enfermeira me chamou e disse: venha, tem que ser agora. Percorri os mesmos espaços e segui seus passos até receber orientação para aguardar ali. O local era como uma passagem da sala de cirurgia para outras salas. E eu fiquei ali até me deparar com o inimaginável.
Envolto numa toalha azul bem clara, no colo de uma enfermeira, podia-se ver um rosto muito pequeno, enrugado e de olhos bem fechados. Ele mesmo estava tão branquinho que sua cor quase se confundia com a toalha. E ele estava ali, diante de mim, transbordando o milagre da vida.
Embora pareça contraditório, tenho que dizer: aquele momento realmente vibrava como algo eterno. Hoje o sinto assim, como se eu ainda estivesse lá olhando para aquele milagre ao qual tenho por filho. Lindo.
Dezesseis anos se passaram e aquele tão breve momento ainda mantém o frescor de um orvalho de manhã em meu coração. Neste mundo muita coisa pode morrer, menos o amor que sinto por ti. E como sou grato por cada sorriso, por cada palavra, por cada momento que passamos juntos. O aniversário é teu, mas o presenteado sou eu porque tenho a ti. Te amo!
No Brasil, só 8% de homicídios são solucionados e 63% da população não confia na polícia
25 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Por Décio Viotto
Aos 30 anos, Humberto Ramos é o que chamam de linha de frente da polícia civil paulista. Escrivão, trabalha no plantão policial com a arma na cintura no 49º Distrito, em São Mateus, o mais movimentado de São Paulo, e quiçá do Brasil. Desde janeiro até maio foram registradas nove mil ocorrências. Ali Humberto passa até mesmo as suas férias.“Vim para ajudar, tem muito serviço”, explicou. Naquele dia também estava ali para dar uma entrevista sobre o livro que está lançando, “Dê um novo poder ao policial”, o primeiro escrito por um policial brasileiro sobre neurolinguística, neurociências e as técnicas de Reid, processo desenvolvido pelo policial de Nova York, John Reid, que integra entrevista e interrogatório. É aí que o escrivão quer colocar o dedo. “A polícia não precisa usar a força desnecessária, basta usar o poder de persuasão. O verdadeiro poder policial está na habilidade de conquistar e influenciar pessoas”, diz ele, que garante querer ser escritor e palestrante “para melhorar a polícia brasileira”.
Não é uma tarefa fácil. Segundo diagnóstico da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp), traçada pelo Ministério Público, Conselho Nacional de Justiça e Ministério da Justiça com o objetivo de reduzir a impunidade dos crimes de homicídio no país, o treinamento técnico da polícia deve ser prioridade para melhorar a segurança pública. A Enasp realizou um mutirão nacional com as policiais estaduais para levantar os inqúeritos de homicídios não solucionados até 2007 – 135 mil – e conseguiu denunciar suspeitos em 19% dos casos. A porcentagem parece pequena, mas é grande quando comparada à média nacional de elucidação de homicídios: de 5 a 8%. Os mais de 90% restantes ficam sem solução.
São 50 mil homicídios por ano no país, o maior do mundo em termos absolutos, segundo relatório da ONU de 2011, que colocou o Brasil no 3º lugar em violência na América Latina, e 26o do mundo. Desses, apenas 4 mil por ano têm seus autores presos, segundo estimativa de Julio Jacobo Waiselfisz, coordenador da pesquisa Mapas da Violência.
CSI brasileiro
A fragilidade das investigações policiais é regra do norte ao sul do país. Em Alagoas, o grupo de trabalho do Enasp descobriu o sumiço de mil dos 4.180 inquéritos instaurados entre 1990 e 2007 para apurar homicídios dolosos. No Rio Grande do Sul, o Relatório de Controle Externo da Atividade Policial, encaminhado à cúpula da Secretaria de Segurança Pública, constatou que delitos com “repercussão na imprensa” têm preferência nas delegacias da grande Porto Alegre, enquanto os demais permanecem parados. Em 2008, apenas 16% dos inquéritos tornavam-se processos judiciais em Porto Alegre. O restante era devolvido ou arquivado pelo Ministério Público por insuficiência de provas técnicas para denunciar os réus.
E por que o Ministério Público devolve e arquiva tantos inquéritos? Porque em muitos casos as investigações são insuficientes ou incompletas, diz a promotora de Justiça da área criminal e professora doutora em Ciências Penais, Ana Luiza Almeida Ferro. Ela explica que o Ministério Público só pode apresentar denúncia para o juiz – abrindo assim um processo judicial – se houver suporte “testemunhal, pericial ou documental” que mostre que houve um crime e indícios que apontam para o suspeito. Senão, o processo será rejeitado pelo juiz.
Em sua rotina de promotora, Ana Luiza raramente encontra inquéritos consistentes: “Enfrento esta realidade cotidianamente. Em expressiva parte dos casos, o inquérito chega incompleto, deficiente, sem provas suficientes para a formulação da denúncia e a fundamentação de uma futura condenação. Então o Ministério Público não tem outra escolha que não se manifestar pela devolução do inquérito à polícia para o cumprimento dessas necessárias diligências complementares. O Judiciário, de sua parte, nada pode fazer sem a denúncia. Se os inquéritos fossem mais fundamentados, menos incompletos, haveria maior rapidez”, diz.
O vai-e-vem de inquéritos entre Ministério Público e polícia acaba facilitando a vida dos autores dos assassinatos. “A prescrição lhes favorece. Fica mais difícil localizar testemunhas. Vestígios se apagam. Provas esmaecem. Por outro lado, denunciar sem dispor de provas suficientes para tal e, sobretudo, para alicerçar uma futura condenação também interessa aos criminosos e àqueles que torcem pela impunidade”, reconhece Ana Luiza, para quem “a Justiça tardia e, pior, a impunidade são negações da democracia.”
O sociólogo Michel Misse, coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da Universidade Federal do Rio de Janeiro, acredita que a divisão de funções entre Ministério Público e polícia civil entre investigação (feita pela polícia civil), e a denúncia (a cargo do MP, que é o titular da ação penal) é o principal problema: “É o chamado pingue-pongue, o vai e vem entre o delegado e o MP, um modo de o inquérito não ficar em lugar nenhum até que, passados meses e, em vários casos anos, ele venha a ser arquivado”.
Segundo a Constituição, a investigação também é atribuição do MP. “Apenas no Brasil encontramos uma solução ambivalente na persecução criminal”, diz Misse. Em qualquer outro país, diz, a fase destinada a apurar se houve crime e a identificar o autor pode ser exclusiva da polícia ou do Ministério Público. Ou seja, o Ministério Público pode investigar e apresentar a denúncia e não apenas encampar o inquérito policial ou devolver ao delegado.
A promotora Ana Luiza acredita que reforçar a capacidade de investigação da polícia também ajudaria a reduzir o “pingue-pongue” que favorece a impunidade: “Uma deficiência crônica, por exemplo, está na parte pericial, nos casos em que tal prova é exigida. E há casos complexos, particularmente aqueles que envolvem crimes do colarinho branco e de lavagem de dinheiro, além de atividades do crime organizado”, pondera.
“Não podemos viver numa tragédia e achar normal”
Apesar da ineficiência do sistema, os gastos do país em segurança atingem R$ 60 bilhões por ano. “Em relação ao PIB gastamos mais que a França e estamos no mesmo patamar da Alemanha”, compara Renato Sérgio de Lima, secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.“Só que o serviço é muito pior”, constata.
Renato, como a maioria dos especialistas ouvidos pela Pública, acredita que é preciso pensar em um novo modelo de segurança pública no Brasil. Porque este que está aí “é caro e ineficiente, com altas taxas de violência”, diz. O maior problema, diz, é que “a polícia que temos não está voltada para o cidadão, está preparada para defender os interesses do Estado”.
“Precisamos saber o que a gente quer”, afirma o secretário do Fórum. “O governo, o Estado tem que ter responsabilidade, não é só punir quem está na ponta. Tem que punir quem autoriza, quem delega poderes. Não podemos viver numa tragédia e achar normal, precisamos de política pública”.
O relatório da Enasp enfatiza a necessidade de contratar mais peritos e obter mais equipamentos para os órgãos periciais de algumas regiões do país – a distribuição de recursos e expertising é bastante desigual, já que os Estados têm capacidade financeira e prioridades políticas diferentes. Mas dá maior ênfase à necessidade de treinamento dos que participam da elucidação dos crimes, de estimular a meritocracia na carreira policial e estabelecer o controle externo das investigações nos crimes de homicídio.
Uma conclusão parecida à que chegou em seu dia-a-dia na polícia o escrivão Humberto, que investiu as economias dos nove anos de carreira em cursos de treinamento. Nos últimos dez anos, ele diz, os investimentos que viu na polícia civil paulista ficaram concentrados em armamentos e tecnologias digitais. “Nesse mesmo tempo quase nada foi aplicado em desenvolvimento humano”, lamenta.
63% da população não confia na polícia
A curva ascendente da violência acompanha a da impunidade. Entre 1992 e 2009, a taxa de homicídios cresceu 41% de acordo com pesquisa divulgada pelo IBGE em junho. Os números de 2009, os mais recentes, mostram uma média de 27,1 mortes para cada 100 mil habitantes. De acordo com parâmetros internacionais, a violência em um país pode ser considerada endêmica a partir de 10 mortes para cada 100 mil.
Números que contribuem para a má imagem da polícia junto à população. Pesquisa da Fundação Getúlio Vargas realizada no primeiro trimestre de 2012 apontou que 63% da população de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Distrito Federal não confia na polícia. Conforme o levantamento, coordenado pela professora Luciana Gross Cunha, a população com renda inferior a dois salários mínimos (R$ 1.244) é a que mais desconfia dos policiais: 77% disseram-se “muito insatisfeitos” ou “um pouco insatisfeitos” com os policiais. “São as pessoas que sofrem mais discriminação e preconceito da polícia”, diz ela.
São as mais frequentes vítimas da violência policial que fez o Conselho de Direitos Humanos da ONU pedir a extinção da PM e a Anistia Internacional denunciar a tortura como “método” de interrogatório nas delegacias paulistas e as execuções extrajudiciais praticadas por forças policiais.
“Precisamos urgentemente discutir que tipo de polícia a gente tem”, diz a professora.
As conclusões do relatório mais recente da Anistia Internacional convergem para a percepção da violência policial entre os mais pobres. A prática da tortura, afirma a entidade só joga mais lenha na fogueira; é usada nas ruas, em delegacias, presídios, centros de recolhimento de adolescentes “como meio de obter confissões, subjugar, humilhar e controlar pessoas sob detenção, ou com frequência cada vez maior, extorquir dinheiro ou servir aos interesses criminosos de policiais”.
Como agravante, relata a Anistia, “a grande maioria das vítimas é composta de suspeitos criminais de baixa renda, com grau de instrução insuficiente, frequentemente de origem afro-brasileira ou indígena, setores da sociedade cujos direitos sempre foram ignorados no Brasil”.
Já o Conselho de Direitos Humanos da ONU pediu ao Brasil maiores esforços para “combater a atividade dos esquadrões da morte” (compostos por policiais civis e militares) e que trabalhe para “suprimir a Polícia Militar, acusada de numerosas execuções extrajudiciais”.
O relatório também pediu que o Brasil garanta que “todos os crimes cometidos por agentes da ordem sejam investigados de maneira independente”.
Seguir essa recomendação significa mexer em outro ponto crítico do sistema de segurança pública: o corporativismo que substitui a rivalidade entre as polícias e departamentos policiais quando o réu é agente do sistema de segurança. No estado de São Paulo, por exemplo, a Secretaria de Segurança Pública determinou em abril de 2011 que mortes em confrontos com PMs fossem investigadas pelo departamento de homicídios da Polícia Civil. De lá para cá, nenhum policial foi punido. Dos 500 casos analisados, todos na região metropolitana, 40% foram esclarecidos e em nenhum deles constatou-se desvio de conduta, ou seja, em todos os casos os PMs teriam tido motivo para atirar.
O que fez o relatório da Enasp incluir como medida a ser adotada imediatamente a “definição de parâmetros específicos para o controle externo nas investigações dos crimes de homicídio”.
Armas que vão e voltam
A corrupção também está entre os ingredientes que enfraquecem a segurança pública e multiplicam os homicídios. Armas de criminosos recolhidas pela polícia voltam a circular e o comércio ilegal de armas raramente é investigado, menos ainda punido. Policiais fazem bicos, aceitam propinas e vendem proteção para comerciantes, o que dá origem à formação de esquadrões da morte e à circulação ilegal de armas, como aponta o relatório da Anistia. Mais de 80% das armas apreendidas em situação ilegal é de fabricação brasileira, ou seja, foram comercializadas aqui.
“O debate da segurança pública é frequentemente contaminado por considerações de ordem ideológica, impedindo a implementação de medidas importantes nessa seara. Falta a sensibilidade de entender que deve haver um equilíbrio entre o interesse da garantia dos direitos dos cidadãos (e dos investigados) e o interesse da segurança pública”, defende a promotora Ana Luiza.
Junte-se a isso o apelo à força policial, a ideia de que “bandido não tem direitos humanos”, rotineiramente defendidos por uma parte da sociedade, também são vistos como fatores que enfraquecem a segurança pública de acordo com especialistas e estudiosos do tema.
Em março de 2012, confrontado com os indíces de homícidio haviam aumentado 50% em comparação com o mês anterior, o coronel Josiel Freire, subsecretário de operações da secretaria de segurança de Brasília – cuja polícia é a mais bem paga do país –declarou à imprensa: “Quase 70% das vítimas de homicídios estão envolvidas com crime e tráfico. O transeunte mesmo não está sendo vítima”. É digno de nota que a declaração não tenha causado escândalo – e nem mesmo muitas críticas.
Para o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, que há mais de uma década vem fazendo mapas de violência no Brasil, a situação da violência chegou a um ponto do que ele chama de pandemia. “É um problema estrutural, mais difícil de cuidar. A violência está incorporada”.
“A identificação do brasileiro como ‘homem cordial’ não se sustenta mais”, lamenta ele.
“Pobre Paraguai. Somos pobres e poucos”
22 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
Por Gustavo Menon
“Pobre Paraguai. Somos pobres e poucos”, disse um homem que viaja com Eduardo Galeno numa viagem rumo à Assunção. O país até hoje sofre a herança de uma guerra exterminou a população paraguaia. Pouco restou. “A guerra maldita” dizimou inúmeros habitantes. A indústria paraguaia que tentava se diversificar entrou em profunda decadência. O país acabou se entregando ao capital externo e as primeiras dívidas internacionais foram adquiridas. Brasil, Argentina e Uruguai financiados sob o capital inglês ceifaram a única tentativa de desenvolvimento econômico autônomo e sustentado no continente durante o século XIX.
O genocídio com a população não foi um ato de violência singular ao longo da história paraguaia. O ditador Alfredo Stroessner perdurou 35 anos no governo do país impondo um governo autoritário (54-89). A marca da ditadura paraguaia mais uma vez foi mortes, torturas, perseguições e censura.
Passado alguns anos, Fernando Lugo foi eleito o novo presidente do Paraguai em abril de 2008 colocando fim a quase seis décadas de domínio do partido colorado. O teólogo e ex-bispo católico foi recebido com entusiasmos pelas esquerdas latino-americanas e as forças progressistas do país. Sua plataforma era realizar uma ampla reforma agrária, combater a corrupção e lutar pela soberania enérgica revendo, inclusive, os tratados de Itaipu.
Desde sua eleição, Lugo vêm sofrendo grandes dificuldades em governar e aprovar leis, pois o parlamento paraguaio ainda concentra-se sob as mãos do partido colorado. No âmbito institucional, piorando ainda mais situação, o PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), principal partido governista - que conta com 14 representantes no congresso - retirou seu apoio ao presidente. O ápice dessa crise política aconteceu na última quinta-feira (21) quando o congresso paraguaio instaurou um processo de impeachment contra o presidente. Composta por 80 representantes, a câmara dos deputados aprovou o julgamento de impeachment por 73 votos a favor e 1 contra. O motivo alegado pela oposição é o fraco desempenho do presidente e a responsabilização pela morte de camponeses e oito policiais durante um conflito agrário na região de Curuguaty (no leste do país à 250 km de Assunção). O problema da terra no Paraguai é antigo e, caso não seja resolvido com uma reforma agraria radical - que vise a distribuição de terras para as classes pobres – a violência no campo apenas se perpetuará.
A ação do partido colorado é uma tentativa de golpe mascarada por via institucional. Vale ressaltar que o mesmo parlamento de cunho conservador foi responsável por não aprovar o ingresso da Venezuela no MERCOSUL. A velha classe dominante oligárquica aliada ao latifúndio, que se articulada no interior do partido colorado, volta a dar sinais golpistas em terras Guarani.
Até o final do ano passado os paraguaios comemoravam o bicentenário de sua independência. De fato, ainda falta muito para o povo paraguaio se liberte das garras das classes dominantes. A queda de Lugo pode significar um retrocesso na correção de forças do continente, uma vez que abre espaço para que as forças direitistas voltem assumir o executivo. Mais do que isso, representa uma ruptura no ensaio latinoamericano de dar respostas significativas ao neoliberalismo e a crise capitalista. Que as vontades das urnas sejam respeitadas! Pelo bem da democracia.
- Gustavo Menon é sociólogo pela PUC-SP. Mestrando bolsista no programa de Estudos de Pós-Graduados em Ciências Sociais pela PUC-SP. Funcionário do Núcleo de Pesquisas Tecnológicas da PUC-SP (NPT-PUC/SP) e docente na Faculdade de Ciências de Guarulhos – Facig.
Pistoleiros atiram e ferem manifestantes sem terra
22 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaDo MSTTruculência e ilegalidade: Justiça determinou desapropriação há três anos
Cerca de 20 pessoas estão feridas a bala na fazenda Cedro, em Marabá, sudeste do Pará. Militantes acusam os capangas da fazenda de propriedade do banqueiro Daniel Dantas pelo ataque.
Os Sem Terra faziam um ato com mais de 1000 famílias em frente à sede da fazenda contra o desmatamento, o uso intensivo de agrotóxico e grilagem da terras públicas.
Depois do ataque dos capangas, as famílias ocuparam a rodovia.
“Fomos recebido com muitos tiros por parte da escolta armada. Há muitos feridos, inclusive crianças de colo, que foram levados para o hospital de Eldorado do Carajás, a 50 Km do local”, denuncia Charles Trocatte, dirigente do MST.
A ocupação
Cerca de 240 famílias ligadas ao MST ocuparam em março de 2009 a fazenda Cedro.
A área é objeto de imbróglio jurídico que envolve o estado, a família Mutran e o grupo Santa Bárbara, do banqueiro Daniel Dantas, imortalizado pela sua esperteza no mundo dos negócios do mercado financeiro e investigação da PF.
O antigo castanhal foi transferido através da ferramenta jurídica do aforamento, para ser explorado de forma extrativa pela família Mutran, em particular o pecuarista Benedito.
Ao longo dos anos o castanhal deixou de existir e em seu lugar surgiu o pasto. No Pará o aforamento abrange um período de concessão de 1955 a 1966. A família Mutran foi a principal oligarquia do sudeste do Pará.
É conhecida pela forma truculenta com que costuma tratar os seus adversários e pela prática de mão de obra escrava em áreas que controlou.
Cabaceiras, desapropriação depois de 10 anos de ocupação, Mutamba e Peruano freqüentaram a lista suja do trabalho do Ministério Público do Trabalho (MPT) nos anos de 2003 e 2004.
Naquele período, receberam uma multa de maior robustez da história do MPT, de R$ 1,3 milhão.
Abaixo, leia nota oficial sobre o ataque dos pistoleiros:
Trabalhadores Sem Terra são feridos a bala no Pará
Na manhã desta quinta-feira (21/6), jagunços travestidos de seguranças da fazenda Cedro, de propriedade do banqueiro Daniel Dantas, atiraram contra um grupo de trabalhadores rurais Sem Terra ligados ao MST, no Sudeste do Pará, que realizavam um ato político de denuncia da grilagem de terra pública, de desmatamento ilegal, uso intensivo de venenos na área e violência cotidiana contra trabalhadores rurais.
Até o momento, há confirmação de que 16 trabalhadores foram feridos a bala, sendo que, alguns deles, estão em estado grave. Não há confirmação de mortes.
Cerca de 300 famílias já estão acampadas nessa fazenda desde o dia 1º de março de 2009. Ao todo, foram seis fazendas do grupo de Dantas ocupadas pelos movimentos sociais no período.
Mesmo a então juíza da Vara Agrária de Marabá tendo negado o pedido de liminar de despejo feito pelo grupo à época, o Tribunal de Justiça do Estado cassou a decisão da juíza de autorizou o despejos de todas as famílias.
Através de mediação da Ouvidoria Agrária Nacional, foi proposto um acordo judicial perante a Vara Agrária de Marabá, através do qual, os movimentos sociais, com apoio do Incra, desocupariam três fazendas (Espírito Santo, Castanhais, Porto Rico) e outras três (Cedro, Itacaiunas e Fortaleza) seriam desapropriadas para o assentamento das famílias.
O grupo Santa Bárbara, que administra as fazendas do banqueiro, concordou com a proposta. Em ato contínuo, os trabalhadores Sem Terra desocuparam as três fazendas, mas, o Grupo Santa Bárbara tem se negado a assinar o acordo.
A formação da Fazenda Cedro e de muitas outras fazendas adquiridas pelo Grupo Santa Bárbara no sul e sudeste do Pará (ao todo, adquiriram mais de 60 fazendas num total de mais de 500 mil hectares) vem de uma trama de ilegalidades históricas envolvendo grilagem, apropriação ilegal de terras públicas, fraude em Títulos de Aforamento, destruição de castanhais, trabalho escravo e prática de muitos outros crimes ambientais.
História, que até o momento, por falta de coragem política, nem o Incra nem o Iterpa se propuseram a enfrentar. Terras públicas cobertas de floresta de castanheiras se transformaram em pastagem para criação extensiva do gado.
Frente à situação exposta, o MST exige:
- A liberação imediata das três fazendas para o assentamento das famílias dos movimentos sociais;
- Uma audiência urgente no Incra de Marabá, com a presença da Sema, do Iterpa, da Casa Civil para encaminhamento do assentamento e apuração dos crimes ocorridos na área.
- Apuração imediata, por parte da polícia do Pará dos crimes, cometidos contra os trabalhadores.
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST Pará.
Comissão Pastoral da Terra – CPT Marabá