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3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | 1 person following this article.
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Golpe avança. Meganhas da PF querem entregar Lula às Forças Armadas

11 de Abril de 2018, 13:52, por Bertoni

Enquanto coxinhas festejam a perda de direitos e mortadelas acreditam na possibilidade de justiça neste país da Casagrande, os meganhas que fizeram campanha pro tucano Aécio Neves e ajudaram a instalar o sistema autoritário e corrupto que tomou o Brasil na mão grande com o Golpe de 2016, num documento mentiroso e de caráter abertamente fascista, não assumem a própria a obra e querem entregar Lula ao militares.

Leia o artigo Vizinhos da PF abrem a casa e também colaboram com acampamento em Curitiba que demsente a versão dos golpistas.

Acorda Brasil!

Prediopoliciafederalparanaagbrasil
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

NOTA À IMPRENSA

Solicitação de transferência imediata do Réu Luiz Inácio Lula da Silva

O Sindicato dos Delegados de Polícia Federal do Estado do Paraná – SinDPF/PR, solicitou, neste dia 11 de abril de 2018, via ofício ao Superintendente da Polícia Federal no Estado do Paraná, a transferência imediata do Réu condenado Luiz Inácio Lula da Silva da Sede da Superintendência Regional da Polícia Federal no Estado do Paraná (Rua Professora Sandália Monzon, 210, Santa Cândida, Curitiba/PR) para outro local que possa oferecer condições de segurança e que não traga os transtornos e riscos à população e aos funcionários da Polícia Federal.

Foi salientado no pedido que, na Sede da Superintendência Regional da Polícia Federal no Estado do Paraná, são realizados, além da rotina policial, atendimentos ao público, dentre eles, emissão de passaportes e questões relacionadas a produtos químicos, segurança privada, armas e emissão de certidões de antecedentes criminais da Polícia Federal.

Assim, diariamente, centenas de pessoas que frequentam estas instalações precisam, por razões diversas e relevantes, de segurança e agilidade no atendimento.

No entanto, desde que a Justiça Federal determinou que o Réu condenado Luiz Inácio Lula da Silva fosse conduzido para a Sede da Superintendência Regional da Polícia Federal no Estado do Paraná para cumprimento de sentença penal condenatória, em razão da invasão da região próxima deste prédio de centenas de pessoas ligadas a movimentos sociais e outras facções, por questões de segurança, foi determinado o bloqueio de acessos e demais medidas assecuratórias, causando graves inconvenientes e atrasos nos atendimentos e ações policiais.

Ademais, os Policiais Federais envolvidos nesta operação de segurança estão sem poder desenvolver suas atividades policiais normalmente.

No mesmo sentido, causando ainda mais preocupação a este Sindicato dos Delegados de Polícia Federal no Estado do Paraná, há comprovados riscos à população que reside no entorno do prédio da PF, aos Policiais Federais e demais integrantes do sistema de segurança pública que moram nas imediações da Sede da Polícia Federal, ao passo que os alguns invasores, que já se instalaram com barracas e determinada estrutura, já estão promovendo ações no sentido de intimidar estas pessoas.

Outrossim, outros Policiais Federais e moradores estão informando, extra oficialmente, que temem pela segurança de suas famílias em face das ameaças e presença de tais manifestantes.

Salientou ainda no pedido que, a Sede da Superintendência Regional da Polícia Federal no Estado do Paraná não é, sob nenhum aspecto, local apropriado para o cumprimento de sentença penal condenatória, por questões alusivas à segurança da população e à ordem pública, devendo, na opinião do Sindicato dos Delegados da Polícia Federal, o Réu condenado Luiz Inácio Lula da Silva ser imediatamente transferido deste local.

Por fim, foi afirmado no pedido que, pelas questões acima explicadas, a medida mais acertada seria a transferência imediata do Ex-Presidente para uma unidade das Forças Armadas, que possua efetivo e estrutura à altura dos riscos envolvidos.



Não há Justiça no Brasil, apenas justiSSa da Casagrande

11 de Abril de 2018, 13:34, por Bertoni

Ministro Marco Aurélio suspende tramitação de ação sobre prisão em 2ª instância

Partido que moveu ação em 2016 tentou manobrar para desistir de ação que pode rever critério de prisão e garantir liberdade ao ex-presidente Lula

Por Redação RBA

São Paulo – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio aceitou na noite desta terça-feira (10) pedido do Partido Ecológico Nacional (PEN) e suspendeu por cinco dias a discussão de ação movida pelo partido que contesta a legalidade da prisão em segunda instância.

A Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC), movida em 2016, deveria ser apreciada a partir desta quarta-feira (11), mas o partido mudou de posição e chegou a tentar desistir de liminar protocolada que pedia urgência na apreciação da matéria. 

A manobra encontrada então foi destituir o advogado da legenda, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que respondia pela ação. A justificativa é que o adiamento serve para que o novo advogado escolhido tome conhecimento do processo. 

Apesar de ser matéria constitucional, em que a discussão se daria em tese pela defesa de princípios, o PEN recuou porque a ADC proposta pelo partido poderia beneficiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Nós somos de direita conservadora, e isso não faria sentido", afirmou o presidente nacional do PEN, Adilson Barroso. 

Apesar da tentativa de desistência, o adiamento e a manobra da troca de advogados, a ação deverá ser discutida na próxima semana, porque o ordenamento jurídico não possibilita voltar atrás, principalmente em se tratando de matéria constitucional. 

Nunca nos esqueçamos dos versos de A Internacional

Ainternacional Crime de rico a lei cobre,
O Estado esmaga o oprimido.
Não há direitos para o pobre,
Ao rico tudo é permitido.
À opressão não mais sujeitos!
Somos iguais todos os seres.
Não mais deveres sem direitos,
Não mais direitos sem deveres!



Vizinhos da PF abrem a casa e também colaboram com acampamento em Curitiba

11 de Abril de 2018, 13:20, por Bertoni

Manifestação de apoio ao ex-presidente Lula sensibilizou parte dos moradores do bairro Santa Cândida

Por Júlia Rohden e Diangela Menegazzi, Brasil de Fato | Curitiba (PR)

                                                                                                                                          Foto: Gibran Mendes
Acampamento gilbranAcampados montaram uma tenda para recebimento de materiais de higiene e alimentos não perecíveis

“Pode entrar, fica à vontade!” É assim que Gelsoli Bandeira dos Santos, funcionário público da Prefeitura de Curitiba, recebe as pessoas que estão acampadas a poucos metros da Superintendência da Polícia Federal (PF), no bairro Santa Cândida, em Curitiba.

Gelsoli mora com esposa e filha e oferece a casa, em frente ao acampamento, para quem quiser tomar água, banho, e carregar o telefone celular: “Tocou no meu coração e eu estou fazendo”, justifica. O funcionário público conta que já trabalhou na rua, com antipó e asfalto. “Eu sei o que é sofrer no trecho, quando a gente pede água, o povo não dá, ou dá água quente. Então, o que eu puder fazer, eu faço mesmo”, completa.

O acampamento Lula Livre foi montado no último sábado (7) para fazer vigília permanente em defesa do ex-presidente. Todos os dias, dezenas de ônibus com apoiadores de Lula chegam de várias partes do país. Autoridades, lideranças de movimentos sociais e artistas também estão mobilizados.

Quem precisa de ajuda?

Thais Flessak mora no Jardim Aliança, a cerca de quatro quilômetros do acampamento. Na manhã desta terça-feira (10), ela foi ao local para levar doações e conversar com as pessoas. “Fui lá para ver se o pessoal estava precisando de alguma coisa. Levei cobertores, suporte para galão de água, porque acho que facilita muito, algumas roupas, porque tem feito frio aqui à noite”, disse.

Ela ficou surpresa com a atitude de uma mulher que a abordou no acampamento. “Uma senhora com a camiseta do MST me perguntou se eu morava em Curitiba. Eu disse que sim e ela me respondeu: ‘Não se preocupa que vocês não estão sozinhos’. Como se quem estivesse precisando de alguma ajuda fosse eu. A pessoa foi de uma generosidade e de uma fé tão bonita. Ela me deu um abraço e se dispôs a me ajudar, sendo que, na verdade, eu achei que não precisasse de ajuda nenhuma”, contou, emocionada.

Thais disse ainda que quer voltar outras vezes ao acampamento. “Quero ver se consigo arrecadar mais com alguns amigos e passar mais um tempinho com o pessoal”, completou.

Infraestrutura e doações

No local, há banheiros químicos e cozinhas comunitárias onde são preparadas refeições para os acampados. Foram divididas equipes de trabalho para cuidar da saúde, da segurança e da limpeza do local.

Também há uma equipe no acampamento que ajuda a organizar os alimentos doados e os distribui para as cozinhas montadas no local. Existe uma tenda específica para atender as pessoas que queiram fazer doações.

Zenilda Pereira, do assentamento Elias Gonçalves de Moura, em Carlópolis, no norte do Paraná, é uma das responsáveis pelo recebimento das doações. Ela afirma que, assim como Thais, muitas pessoas são solidárias e levam até o local itens de higiene, alimentos não perecíveis, água e até filtro solar.

“Tem muita doação da própria vizinhança que apoia a mobilização e quer dar suporte para a demanda que nós temos”, garante Zenilda.

Fluxo de veículos

Durante a apuração das informações para esta matéria, um policial procurou a reportagem para pedir que as pessoas que pretendam ir ao acampamento tomem cuidado com a sinalização de trânsito, as faixas amarelas e as guias rebaixadas, para evitar que os veículos sejam multados.



Lula, da custódia da militância à da PF em 48 horas

11 de Abril de 2018, 11:56, por Bertoni

Relatos dos dois dias em que o ex-presidente ficou "preso" com seus amigos, assessores, colegas da política e apoiadores

Lula carregado 07042018 Foto: Ricardo Stuckert

Quando Lula conseguiu, no sábado 7, atravessar a pé a rua João Lotto e enfim entrar na antiga gráfica do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o ex-presidente saiu dos cuidados de sua militância, que há dois dias permanecia no local em vigília contra a prisão do petista, para a custódia da Polícia Federal.  

Um dia após o julgamento e a negativa do habeas corpus pelo Supremo Tribunal Federal (STF), a notícia de que o juiz Sérgio Moro havia determinado a prisão veio no início da noite da quinta-feira 5. O ex-presidente foi direto do Instituto Lula para a sede do Sindicado dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, onde também está sua casa. 

A ideia de que Lula ficaria aquartelado no sindicato, blindado não apenas pelos muros do prédio, mas pelos próprios militantes, é defendida pelos metalúrgicos desde a condução coercitiva do ex-presidente em março de 2016, também determinada por Moro. O plano foi posto em prática. 

Lula foi rápido. Chegou pouco antes da mídia, que se juntou nos diversos portões do prédio com saída para três ruas diferentes. Na sequência, vieram os sem-teto da ocupação Povo Sem Medo, localizada também em São Bernardo e liderada por Guilherme Boulos,coordenador nacional do MTST e pré-candidato pelo PSOL à presidência. Imprensa, sindicalistas e sem-teto dividiam a madrugada, as ruas e informações desencontradas.

Mtst comeca a chegar Foto: Carol Score

O clima esquentou naquela noite quando alguns militantes viram imagens vindas do helicóptero da Rede Globo, acompanhadas da narração segundo a qual eles estavam desmobilizados. Um repórter da emissora foi agredido e socorrido pela própria militância, e não se feriu.

Entre amigos íntimos, pessoas ligadas ao sindicato, políticos, família, imprensa, apoiadores e adoradores do "sapo barbudo", como é conhecido entre os metalúrgicos, o prédio de quatro andares foi se enchendo. De quinta a sábado, Lula passava o dia, a noite e uma parte da madrugada em uma sala nos fundos do segundo andar, onde ficam as diretorias.

Devido à emergência do ato, convocado horas após o juiz Sérgio Moro decretar a prisão, quase a totalidade dos presentes no sindicato eram ligados a algum partido ou a movimentos sociais. Os independentes estavam em minoria.

A logística dos militantes para o pernoite de quinta para sexta-feira ficou por conta própria. Muitos dormiram dentro do próprio sindicato, em barracas ou colchonetes. Militantes da Apeosp, sindicato dos professores de São Paulo, dormiram nas vans que os trouxeram, e integrantes do MTST armaram barracas nas ruas adjacentes.

Soldado no quartel quer serviço

Na tarde de sexta-feira 6, qualquer um podia entrar no sindicato e explorar seus andares livremente. O difícil era chegar ao segundo andar, no qual Lula passou o dia recebendo a cúpula do PT, aliados de outros campos da esquerda, amigos e assessores.

O único espaço no andar com circulação de ar era uma varanda, onde militantes fumavam, tinham conversas pessoais e gravavam vídeos. Não havia água corrente no banheiro. Em nota, a Sabesp alegou que o desabastecimento foi causado pelo excesso de consumo. O sindicato afirma que a água foi cortada, e que nunca houve falta do recurso em função de uma grande concentração de pessoas.

A água para consumo direto — e para o café adoçado, disponível em garrafas térmicas em todo o prédio — veio em garrafas de 1,5 litros, trazidas por ajudantes ao longo do dia.

Até chegar à ilha montada com grades móveis que parecia ser o último bloqueio dos populares e da imprensa ao ex-presidente, era preciso furar tantos outros. Mais que crachá e paixão, era importante conhecer e convencer os "guardas", saber onde estavam todas as escadas, entradas e saídas. Não são poucas. A segurança era feita pelos próprios sindicalistas.

Quem chegasse por ali e que tivesse alguma ligação com os metalúrgicos, ganhava uma missão. Apenas na entrada principal, local de maior concentração, havia seguranças profissionais, que tiveram muito trabalho para conter a multidão. Muitas vezes não conseguiram.

O silêncio do ex-presidente, dos advogados e dos mais próximos foi um balde de água fria na esperança da militância de que Lula não se entregaria. Mais gente chegava, e a expectativa era a de que mais hora, menos hora, o ex-presidente fosse ao caminhão de som posicionado do lado de fora para dar seu próprio veredicto.

Xadrez

Cada político que chegava se tornava rapidamente um interlocutor com a imprensa e com a militância. Mas o xadrez ainda não estava montado, e como não havia comunicado oficial, cada um deles defendia sua própria estratégia.

A cena no hall onde estava parte da imprensa e por onde os personagens principais entravam e saíam parecia mais com a cobertura de um jogo de futebol. Senadores e deputados surgiam à beira do campo, apontavam as falhas, tentavam passar uma mensagem de esperança e luta, e saíam sem dizer muita coisa sobre o futuro próximo do ex-presidente.

Lula ainda aguardava do advogado Cristiano Zanin as informações atualizadas do processo, do advogado e deputado federal Wadih Damous e do ex-ministro da justiça José Eduardo Cardozo as tratativas com a PF, e dos conselheiros políticos para saber quantas pessoas ainda iriam se somar a uma eventual resistência no sindicato.

Por volta das 16h da sexta-feira 6, o ex-presidente sentiu que havia base suficiente para negociar um pouco mais e planejava adiar sua entrega à PF.

A essa altura já estavam todos mortos de fome. O restaurante self service da Branca, no quarto andar, virou bandejão. Arroz, feijão, alface, vinagrete e bisteca, além de um foco de churrasco na parte externa, davam conta de alimentar quem quisesse se aventurar no salão, que foi compartilhado por apoiadores, intelectuais, figuras públicas, artistas, sindicalistas, políticos e imprensa. O papo no almoço era o que cada um sabia sobre os próximos passos do ex-presidente. E como cada um imaginava o que deveria ser feito.

Passadas às 17h, a possibilidade de Lula se entregar como Moro determinara já tinha sido descartada. A multidão do lado de fora inflamou. Mais apoiadores chegavam, agora com posições ideológicas muito mais pulverizadas.

Não eram mais os filiados ao PT e os metalúrgicos, mas simpatizadas de Lula, gente que dizia estar ali para defender a democracia, o estado de direito, que não escondiam críticas e a admiração pelo ex-presidente, e que viam na resistência de Lula a esperança de um ponto de virada para a esquerda.

Sempre atento, o segurança e motorista de Lula, Marcos Azevedo, assistia sentado na ponta de uma das escadas, com semblante taciturno, à militância gritar e o dia cair. "De hoje até quarta-feira 11, a vida vai dar uma guinada. Ainda não sei para onde. Só espero que não apareça um fanático estilo o cara que matou o John Lennon, porque com esse pessoal apaixonado é difícil de conversar. E o Lula não tá nem ai. Ele vai se meter no meio do povo se for necessário."

Preso no sindicato, o ex-presidente queria sair e falar com o povo, mas a produção improvisada não conseguia pensar numa maneira de levá-lo até o caminhão. Este foi o momento de maior aglomeração do lado de dentro e de fora.

Com muito esforço, conseguiram levá-lo, através dos corredores internos das salas, de uma ponta do prédio a outra, para uma rápida aparição pela janela. Animou a torcida, mas não satisfez os corações. As palmeiras do sindicato e a janela que não abria por inteiro bloquearam a visão.

Um cordão humano foi feito, por onde a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o senador Lindbergh Farias, e demais parlamentares e lideranças políticas passaram até chegarem, primeiro no estacionamento, depois no caminhão de som. Lula não foi. Não havia segurança suficiente para sair. Seguiu confinado em sua sala improvisada. 

Ficou para Lindbergh a função de avisar no carro de som que "Lula, num ato de extrema coragem, havia decidido não se entregar". A multidão respondeu com o grito "aqui está o povo sem medo, sem medo de lutar", que originalmente é usado pela Frente Povo Sem Medo, ligada principalmente ao MTST. 

De fato, o ex-presidente não se apresentou à PF no prazo determinado por Moro. Naquele momento, articulava-se, porém, a entrega de Lula ou no sábado após o ato ecumênico para a ex-primeira dama Marisa, ou no domingo, preferência do corinthiano, que queria assistir à final do Campeonato Paulista pela televisão, vencida pelo Timão. Ele acompanhou a partida, mas já preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba no domingo 8. Moro permitiu a instalação de uma televisão na cela do ex-presidente.

O grupo confinado no que seria o espaço "VIP" do sindicato, entre eles diversos políticos, jantavam sentados no chão. O menu era composto por pão sem nada dentro e suco processado quente. O ex-ministro de Lula Renato Rebelo, do PCdoB, circulava dizendo "amigos, sem providência não há resistência." As negociações com a PF avançaram, e a cúpula de Lula foi para casa tomar banho e dormir.

O começo da noite da sexta 6 foi quando o ex-presidente recebeu o maior número de visitas pessoais. Entre elas, as dos jornalistas Mino Carta, diretor de redação de CartaCapital, e Ricardo Kosctho, da cientista social Laura Carvalho, e de Frei Beto, com quem gravou um vídeo.

Do lado de fora, a militância permaneceu em grande maioria até o começo da madrugada, aproveitando o encontro com os amigos para colocar o papo em dia, tomar cerveja e comer churrasquinho. Os bares ao redor ficaram completamente cheios. O caminhão de som tocava samba e rap. O clima nesse momento era de solidariedade e um bocado de bom humor.

Lula 07042018Foto: Paulo Pinto

Dia D

No sábado, a notícia de que Lula se entregaria à polícia no mesmo dia, ainda que em termos incertos, já havia se espalhado pelo povo na rua. Mas a palavra final era de Lula, o que cultivou na militância a esperança de poder atuar ainda no xadrez sem desfecho.

A aglomeração nas ruas era menor nas primeiras horas da manhã, em maioria de jovens, que tocavam violão, dormiam, buscavam café para os camaradas, se maquiavam. "Estou aproveitando que a missa da dona Marisa ainda não começa para cortar as unhas. No último ato que eu fui com o Lula eu perdi uma", disse Ricardo Bazzil, da União da Juventude Socialista (UJS). 

Por volta das 7h, o presidente ainda dormia com os filhos num quartado montado no subsolo. Lá a movimentação era restrita apenas a família e seguranças. Pouco depois das 8h, Lula tomou café e foi se reunir com a cúpula. O ex-presidente dormiu pouco à noite. Não por falta de sono, mas porque mais uma vez mal conseguia se descolar da sala onde recebia amigos e advogados para o quarto improvisado. 

Do lado de dentro, os ânimos já estavam exaltados essa hora. A multidão aglomerada
somada a inexistência de um roteiro, cuja a saída de Lula dali não era uma possibilidade, transformou o saguão do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em bomba-relógio. Uma cadeira caiu e foi suficiente para um grupo sair correndo, levando mais gente a correr.

Nesse momento, outra equipe da Rede Globo que não estava com crachás e uniformes foi reconhecida e hostilizada. Na confusão uma barreira de vidro se quebrou. A equipe teve de se sair do prédio. Outros jornalistas trabalhavam, porém, sem sofrerem constrangimentos.

Não demorou muito para começar o ato ecumênico em homenagem ao aniversário de 68 anos de Marisa Letícia, esposa de Lula morta em 2016. A celebração fundiu a celebração religiosa, comandada pelo bispo católico Dom Angélico Sândalo, com o ato político de Lula, que era acompanhando dos músicos Xênia França, Thaíde, Tulipa Ruiz, Alia e Renegado, Leci Brandão e Edu Brechó. 

Entre uma fala e outra, os músicos tocaram Asa Branca, Deixa a Vida Me Levar, Zé do Caroço, Maria Maria, entre outras. Pouco antes a multidão já cantava espontaneamente em coro outras músicas, como Nego Drama, dos Racionais MC`s. "É o Lulapalooza", brincou um dos presentes ao carro de som.

O último discuso de Lula lembrava um comício, mas tinha tom de despedida. Chorava-se muito, e não apenas os militantes do PT. "O que mata a gente é a sensação de injustiça. A verdade é que ele personificou a nossa esperança. Hoje estou exausta, mas amanhã vai ser outro dia. Não acaba aqui não", disse a professora Marlene Carlos, que veio de Belho Horizonte para o ato.

O choro geral deu trégua quando o próprio Lula pegou, enfim, no microfone. Os manifestantes começaram a pedir: "não se entrega". Eles estavam dispostos a convencê-lo de que fariam a resistência. Lula não colocou em votação, como fazia nas assembleias dos metalúrgicos. Informou monocraticamente que irá cumprir o mandado judicial, e saiu do caminhão a caminho do seu QG  da única maneira que a multidão permitiria: por cima.

A grande maioria dispersou em menos de duas horas após o fim do ato. Restou o mistério de como Lula sairia do prédio para entrar no carro da Polícia Federal. Um grupo expressivo afirmava que não permitiria sob nenhuma condição que o petista deixasse o sindicato. Esses apoiadores não eram, de modo geral, militância do PT e nem ligados ao sindicato. 

Eles primeiro se juntaram em frente ao portão de carros do subsolo, por onde o ex-presidente sairia. Depois, "abraçaram" o sindicato fechando todas as saídas possíveis. No começo da noite, na iminência de Lula sair, quebraram o portão do subsolo, inviabilizando que qualquer carro saísse por ali. 

O ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho e Gleisi Hoffmann tentaram dialogar com a militância, pedindo que a decisão de Lula fosse respeitada, e apelando para a negociação anteriormente feita com a PF. Lembravam ainda que a Polícia Militar e Tropa de Choque já estavam posicionadas para dispersá-los. Marinho pediu para que pensassem juntos, e a militância entoou o coro dizendo "não é assembleia". 

Na rua paralela, na entrada da antiga gráfica do sindicato, três carros da PF e duas vans do COT (Centro de Operações Táticas) permaneciam estacionados com os motores ligados. A militância que aguardava ao redor - em menor número da que a que tentava impedir a passagem na rua de cima - não tinha acesso aos policiais, que permaneciam dentro do automóveis com vidros pretos. 

Um vendedor de pé-de-moloque bem que tentou contato, mas conseguiu ver apenas um sinal de joia vindo de dentro. 

Para poder cumprir o acordo com a PF, restou a Lula o que o motorista Azevedo tanto temia: ir a pé até o portão da antiga gráfica, localizada do outro lado da rua, e com acesso a uma saída pela rua paralela. A multidão foi para cima. Uma parte para agarrá-lo, outra para deixá-lo ir, outra que já não sabia mais como agir. Muitos para protegê-lo. 

Dentro da gráfica, a passagem da custódia da militância para a PF foi feita. Lula saiu rapidamente já em poder da PF rumo à Lapa, em São Paulo, e depois para Congonhas, onde embarcou para o Paraná. Ao cruzar esse "portal", deixou uma multidão de militantes órfãos de sua maior liderança. A eles, só restou confiar na promessa do ex-presidente em seu último discurso antes da prisão: "Quanto mais dias eles me prenderem, mais Lulas nascerão".

 


Precisei de algumas horas para refletir a respeito do que ocorreu em São Bernardo do Campo

10 de Abril de 2018, 8:49, por Bertoni

Creio que agora posso relatar, como testemunha e participante dos atos que tentaram impedir a prisão do Lula. É necessário que os meus amigos entendam o que ocorreu e o que nos moveu a impedir que Lula se entregasse.

Lula 07042018

Por Sandro Caje

Pernoitamos no sindicato na sexta-feira. As pessoas que estavam desde quinta-feira dormiram e fiz parte do grupo que ficou em vigília. Exceto os irmãos do MTST, que são organizadíssimos, não havia nenhuma coordenação orientando os demais. As pessoas não seguiam nenhuma liderança, obedecendo apenas ao comando do próprio juízo. Durante a madrugada as pessoas caminhavam com extremo cuidado para não pisar nas pessoas que dormiam no chão, se cobrindo com blusas. Alguns conseguiam jornal e forravam o chão. Éramos, seguramente, pelo menos três mil pessoas ocupando todos os andares e o entorno do sindicato, durante a madrugada. Pela manhã chegaram mais pessoas. Enquanto acontecia a missa em lembrança ao aniversário de Dona Marisa, dei uma volta no quarteirão e vi que mais gente chegava. Muita gente. Não sei dizer quantas pessoas eram, só sei que era muita gente. Mas a multidão se dispersou após o pronunciamento de Lula. Anunciando que se apresentaria à Polícia Federal, a multidão se desfez em lágrimas e sentimentos, inclusive decepção.

Estou entre os que se decepcionaram. Esperava resistência e luta, mas a personagem que podia unir os políticos progressistas, os partidos de esquerda, os sindicalistas, os movimentos sociais e a população das quebradas estava desistindo de lutar para entregar-se ao inimigo. Entendo que Lula renunciou a um destino de luta e aceitou o calvário. É a escolha dele e respeito, porque só ele pode decidir como conduzir a vida dele. Isso não o minimiza como ser humano, nem sua história. Ele o fez com dignidade. Mas gostaríamos que ele tivesse acolhido o que todos nós que fomos a São Bernardo desejávamos: desafiar os corruptos que hoje operam dentro dos três poderes da república.

No momento em que toda a esquerda do mundo está com os olhos postos em São Bernardo, a negativa de Lula a Moro seria o divisor de águas entre passado e futuro. Todos sabemos que Executivo, Legislativo e Judiciário estão com Romero Jucá, Michel Temer, Aécio Neves e com a Rede Globo/Folha/Abril/Três etc. Era a oportunidade da ruptura com a ilegalidade que sequestrou o país com o golpe e, necessariamente, anunciar que Dilma continuava presidente do Brasil.

Guerra civil? Não haveria. Mas haveria revoltas. E haveria confrontos. Para recuperar a nossa soberania e a democracia, em qualquer tempo, precisaremos lutar. E muito. Não temos a capacidade que o inimigo teve ao produzir um golpe nos iludindo com a ladainha da imparcialidade do judiciário, com a honestidade dos juízes e com o bom senso filosófico dos ministros das cortes mais altas. Fomos enganados e os discursos no STF que assistimos ao vivo mostram claramente que o jogo é "... com o judiciário, com tudo".

Lutamos para que Lula ficasse no sindicato sem a menor dúvida de que chegariam caminhões de policiais com bombas, balas de borracha, balas de verdade, cassetetes, jatos d´água, bombas de gás e spray pimenta. Àquela altura já não importava o que pensavam Lula, os dirigentes do PT, os delegados da PF, o juiz mequetrefe de Curitiba e os ministros do STF. O que importava era sinalizar ao povo e, especialmente para o cidadão engajado na defesa da democracia, que temos o poder de interferir na narrativa política e histórica. Temos condição de agir e mudar. E, contrariando sábios do século XX, somos capazes de discernimento a respeito do que fazemos. Não somos a massa que os intelectuais de Frankfurt, Ortega Y Gasset, Cannetti, Baudrillard e outros diziam ser energia sem discernimento. Somos capazes de agir independentemente de lideranças, compreendendo perfeitamente o que fazemos. E por isso Lula não saiu do sindicato sem resistência.

Li nos portais de notícias algumas matérias escritas por gente que não estava em São Bernardo. Gente que seria escorraçada, como ocorreu com um jornalista da CBN. 90% do que foi publicado no UOL é fantasioso, tendencioso e irresponsável. Não é jornalismo, é estelionato contra o leitor. É enganação. Dizem que Lula não saiu porque estava usando-nos para impedi-lo de sair. É mentira! Posso testemunhar em qualquer momento, mesmo sob pena de sanções, que Lula não saiu, como pretendia, porque o impedimos. E nos organizamos para fechar os portões. O deputado Paulo Teixeira e outros dirigentes do PT vieram argumentar, pedir que abríssemos caminho e nós não apenas lhes dissemos que não abriríamos como anunciávamos que o controle da narrativa estava agora no nosso controle. Lula não sairia do sindicato antes das 18 horas e a PF não entraria após as 18 horas; nem antes. Nós, povo, que éramos centenas nos portôes, vimos chegar mais gente que já havia desistido após o pronuciamento e retornava para continuar a vigília.

Sabíamos que chegaria a polícia. Desde quinta-feira houve boatos nas redes sociais de que a tropa de choque estava a caminho de São Bernardo. Um ônibus que acidentalmente pegou fogo em Santo André circulou como notícia falsa atribuindo aos militantes pró-Lula o crime de incendiar o ônibus, mas agora em Santo Bernardo, não onde realmente ocorreu. Muitas mentiras, muita manipulação de informação e até gente infiltrada inventando relatos fantasiosos por meio do celular para as inúmeras redes. O boato de que o sindicato estaria cercado pela tropa de choque foi reforçado, ontem, pelos dirigentes petistas. Do alto de um carro de som, Gleisi Hoffmann, Luiz Marinho e um dirigente do MST disseram que lavariam as mãos caso a polícia chegasse para nos atacar. Olhei em volta e vi pais com crianças, idosos e trabalhadores que nunca tiveram uma experiência de sofrer um ataque com bombas e balas de borracha. Com os dirigentes petistas lavando as mãos e decididos a deixar que Lula se entregasse ao inimigos, foi o momento de refletir. Já era noite.

Dando uma volta no quarteirão, decidi que era melhor ir embora e deixar que as pessoas presentes decidissem com os petistas o que fazer. Estava com um amigo e refletimos. Estávamos entre os que guardavam os portões da rua sem saída. Enquanto dávamos a volta descobrimos duas vans brancas fechando a rua onde fica o estacionamento da TVT, sem interferir no trânsito de pedestres. Essas vans faziam parte dos carros que haviam ido buscar Lula, mas não sabíamos, porque a saída de Lula não havia ocorrido. Descobrimos que não havia nenhum cerco da tropa de choque. Os dirigentes petistas mentiram e distraíram as pessoas que estavam nos portôes, o que favoreceu a saída escoltada de Lula até o estacionamento onde estavam as viaturas da PF, que foram escoltadas por viaturas da PM de São Paulo e as vans brancas, que alguém disse ser também da PF ou da ABIN.

Sabíamos que Lula seria levado em algum momento. Mas o povo entendeu que Lula não devia se entregar. Lula corre riscos, preso num prédio da PF sobre o qual pesam suspeitas de ter agentes ligados à espionagem americana. Entendemos que Lula não deveria obedecer uma ordem de um juiz que pratica crimes e abusos sem que nenhuma instância do judiciário lhe ponha limites. Entendemos que nosso judiciário é tão corrupto quanto os outro poderes da república. Os votos de Fachin, Moraes, Barroso, Weber e Carmen Lúcia são um escárnio contra a humanidade, são um crime contra os direitos de todos os seres humanos do planeta.

Por que decidimos manter Lula o quanto fosse possível no sindicato? Porque precisávamos sinalizar para o mundo que mesmo com o mínimo direito ou poder de participar da narrativa histórica e política, temos a obrigação moral de interferir e intervir quando percebermos necessário. Mantivemos Lula preso porque não concordamos com os petistas e também não concordamos com ele. Enquanto ele e os petistas estavam preocupados com o agravamento da pena e com a punição de não poder concorrer à eleição de 2018, estávamos preocupados com a democracia e com os direitos de todo e qualquer cidadão. Se não concordamos com a prisão de Lula, não concordamos com a prisão de pessoas inocentes. Mais do que o direito de concorrer em uma eleição, o que nos move é o direito de viver em paz numa sociedade em que um policial, um delegado, um promotor, um juiz ou um ministro de tribunal superior não tenham o direito de prender ou matar alguém porque se consideram no direito de fazê-lo e uma constituição lhes permite. Foi esse o resultado do julgamento do Habeas Corpus de Lula no STF: os ministros afirmaram a si o direito de mandar prender um inocente. Mas esse inocente não é especificamente Lula: é todo cidadão brasileiro. Qualquer um de nós pode ser preso se um juiz assim determinar, mesmo que seja inocente, mesmo que não tenha cometido nenhum crime. Basta que o juiz justifique "tecnicamente": "... mandei prender o cidadão Fulano da Silva porque suspeita-se que esteja envolvido em crime de tráfico e corrupção, posto que chega a nosso conhecimento fotografia do mesmo celebrando premiação sorrindo desbragadamente com um conhecido traficante e corrupto que enriqueceu mediante carreira criminosa praticada durante décadas de usufruto de foro privilegiado".

Não é possível conceber, sob qualquer juízo e em perfeita sanidade espiritual e mental, que um inocente possa ser preso por ordem de um magistrado. A liberdade de um inocente é sagrada na democracia e só corre risco sob o regime do fascismo e da escravidão. O voto dos ministros que negaram o habeas corpus a Lula explicitam que qualquer inocente pode ser preso. Discordo e creio que todos os meus amigos e cidadãos que estavam em São Bernardo também discordam disso. Estávamos lá por Lula porque neste momento Lula está submetido a uma sanção que pode atingr cada um de nós. Não somos lulistas, nem somos militantes de partido político. Somos professores, operários, artistas, esportistas, ativistas, estudantes, ricos, pobres, classe-média, favelados, sem-teto, sem-terra, sem ninguém.

Temos consciência de que atrasando a prisão de Lula sinalizamos para o Brasil e para o mundo a necessidade de lutar e resistir contra o fascismo, contra a corrupção e contra a desinformação que hoje afeta uma parcela da população brasileira sensível às narrativas do fascismo. É entristecedor ver pessoas alfabetizadas que fazem o papel ridículo e ao mesmo tempo trágico de apoiar mentiras que ganharam consistência trágica na Alemanha nazista. Falta discernimento e falta conhecimento histórico dos fatos e das suas decorrências.

Estamos vivendo um período dramático e é possível que novamente o fascismo prospere e vença novamente. Se isso acontecer, em 20 anos o Brasil será um país branco. Não se iludam com Joaquim Barbosa e Luislinda Valois. O Brasil nunca foi, não é e não será um país para negros, indígenas e mestiços. A prisão de Lula sinaliza poder para punir quem se atreva a desafiar o projeto de embranquecimento e de dominação política do Brasil. A reduzidíssima elite do Brasil e seus lacaios farão tudo o que for necessário para a manutenção do Estado Colonial, que dominam e controlam com mão de ferro e sem mostrar a cara. Gente das trevas da história, povo que se move na escuridão. Mas que sairá à luz quando o primeiro proletário arremessar suas tochas nos seus covis.

Que o Brasil prospere. Que a justiça não falhe.

Nota desta edição: Este texto foi sugerido por @pdralex no twitter e decidi reproduzi-lo aqui, pois infelizmente o Sandro Caje o publicou naquela rede norteamericana envolvida no vazamento de dados pessoais de centenas de milhões de usuários



Bertoni