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Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Noam Chomsky: democracias europeias entraram em colapso

27 de Janeiro de 2014, 15:16, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Chomsky no Festival de Ciências de Roma: neoliberalismo é "um grande ataque contra a população mundial, o maior ataque ocorrido nos últimos 40 anos".
Falando em Roma, o intelectual e ativista político deu como exemplo o governo do ex-comissário europeu Mario Monti em 2011: “Este político foi nomeado pelos burocratas de Bruxelas e não pelos eleitores”.

“As democracias europeias entraram em colapso total, independentemente da cor política dos governos, porque as decisões são tomadas em Bruxelas”, disse este sábado em Roma o linguista e ativista política norte-americano Noam Chomsky.

Numa intervenção durante o Festival das Ciências de Roma, Chomsky advertiu que com a destruição das democracias na Europa dirigimos-nos a ditaduras.

Referindo-se ao país onde se encontrava, sublinhou que a democracia deixou de existir desde que chegou ao governo o ex-comissário europeu Mario Monti em 2011. “Este político foi nomeado pelos burocratas de Bruxelas e não pelos eleitores", disse Chomsky, citado pelo portal de notícias italiano Rai News.

Trata-se porém de um fenómeno que ocorre a nível global.

“Até uma fonte insuspeita, o Wall Street Journal tem escrito que a democracia dos Estados Unidos está à beira do colapso, pois todo o governo, seja de direita ou de esquerda, segue a mesma política”, afirmou, descrevendo o neoliberalismo como "um grande ataque contra a população mundial, o maior ataque ocorrido nos últimos 40 anos".

Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



O encontro do Batman com o cineasta rico e a fotógrafa olavete é a melhor tradução do Brasil

23 de Janeiro de 2014, 13:04, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

“A democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-entendido”
Harold Von Kursk, nosso colaborador, me pede, frequentemente, notícias do Brasil. Alemão, naturalizado canadense, ele tem a intenção de voltar para cá um dia. O jornalista Marcelo Zorzanelli já lhe ofereceu pouso algumas vezes.

Von Kursk esteve em meados dos anos 80 no Rio de Janeiro, jovem e cheio de esperança. Conta que não se lembra muito bem. Menciona um bar, mulheres estranhas e sua mente fica enevoada daí em diante.

Harold tenta entender o momento por que nós passamos. As manifestações são como as da praça Tahrir, no Cairo? A Copa vai ser cancelada? O que são rolezinhos? Quem é Barbosa?

Eu tento explicar o Brasil para o gringo, mas o Brasil é inexplicável. Ou era. Eu preciso mandar a ele um vídeo com a perfeita tradução do país. Aquele mesmo, o registro magnífico do encontro entre um cineasta que se diz “rico”, uma fotógrafa macartista, um francês desavisado e o Batman.

O diretor de cinema – Rodolfo “Dodô” Brandão, de “Dedé Mamata”, cult dos anos 80 — topou com o protético Eron Morais de Melo, que se fantasia como o Cruzado Encapuçado (ai) desde os protestos no ano passado.

Os dois se cruzaram na esquina das avenidas Ataulfo de Paiva e Afrânio de Melo Franco, no Leblon, no dia em que um rolezinho estava marcado para acontecer no shopping.

“ Você é o símbolo da Justiça vestido de capitalismo americano?”, pergunta Brandão, do nada, de graça.

“Eu venho para a rua combater. Quantas vezes você foi às ruas para lutar pela população?”, devolve Eron. “Você quer discutir Batman COMIGO?”. Eron transmitia uma indignação gigantesca ao ver sua legitimidade contestada, logo ele, que provavelmente conhece o personagem melhor do que seu criador, logo ele, que num calor de 40 graus põe uma roupa preta e sai para passear.

No meio do bate boca, entra uma senhora apoplética, se auto-declarando de direita, irritadíssima com o homem morcego. “Manipulado, manipulado!” Ela dá um tapa na lente da câmera (!?!). “Existe um plano, sim! Pode botar aí. Existe um plano de ocupação comunista, totalitarista no país! Será que ninguém quer ver isso?”

Um pobre coitado francês faz perguntas estranhas a Brandão, com tradução capenga do cameraman que o acompanha. Quer saber se há algum tipo de discriminação (?!?). Brandão responde que não, emenda que ganha “muito bem” e que vai beber depois com o “pessoal da Cruzada”, que é, segundo consta, um condomínio famoso na área.

A cena toda é maravilhosa, farsesca, estupidamente brasileira. Nada é o que parece. Num dia lindo, quatro tipos absurdos, diferentes e complementares, sem a mais remota possibilidade de se entender, se encontram numa esquina arborizada para discutir a política e a vida. Há uma tensão crescente e a impressão de que a coisa vai descambar para a pancadaria e o caos num segundo. Tudo se acomoda.

Lembra o final de “Fellini 8 e Meio”, com aquele cortejo, sem a música de Nino Rotta. Lembra mais ainda o comício populista de “Terra em Transe”, de Glauber Rocha. “Por que você mergulha nessa desordem?”, indaga, no filme, a ativista política ao intelectual interpretado por Jardel Filho.

Mas é bem melhor que isso.

Batman é um dentista, o cineasta rico de Havaianas não tem essa grana, a fotógrafa é só uma olavete triste, o francês mora em Santa Teresa. Você não surpreenderia se, na seqüência do bate boca, todos fossem tomar uma cerveja e dividir uma porção de bolinho de bacalhau no boteco.

A única certeza é que aquela bagunça é nossa. Fico pensando em enviar o vídeo ao Harold, mas temo que, ao assistir, ele desista de aparecer por aqui. Ou não — se isso acontece numa esquina carioca num dia de semana, tudo é possível.

“A democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-entendido”, já dizia Bruce Wayne, ou melhor, Sérgio Buarque de Hollanda. Bom, é a mesma coisa.


(Publicado por DCM)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



Moradores do Rio de Janeiro se mobilizam contra alto custo de vida na cidade

22 de Janeiro de 2014, 19:08, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Os moradores do Rio de Janeiro começaram a se mobilizar para combater os cada vez mais altos preços de hotéis, aluguéis, comida, roupas e entretenimento, que têm feito da Cidade Olímpica de 2016, e uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, uma cidade difícil de sustentar.
Com o humor próprio dos cariocas, a mobilização nas redes sociais remete o alto custo de vida na cidade a uma situação que perdeu o senso de realidade. O termo “surreal” tem sido cada vez mais usado para referir o que acontece no Rio de Janeiro. Foi esse aliás o nome proposto, com bom humor, pelo webdesigner Toinho Castro para a criação de uma moeda exclusiva para a cidade, em substituição à moeda brasileira Real: o Surreal. A proposta foi comentada em nota publicada em um jornal de grande circulação:
“Tem mais a ver com a nossa realidade”, diz, citando um diálogo-que-gostaríamos-de-ouvir: “Quanto é a água, moço?” E a resposta: “Cinco surreais…” [cerca de 2 dólares americanos]
“Os surreais: a cara da nova moeda que andam falando por aí…” Arte por Patrícia Kalil partilhada no Facebook.
A página do Facebook Rio $urreal – NÃO PAGUE  “divulga e boicota preços extorsivos” praticados na cidade. Criada em 17 de janeiro deste ano, em três dias já é seguida por mais de 95 mil pessoas.
A gente aqui não faz a apologia de “tudo tem que ser barato”. Não, não é isso. Quem quiser comer ostra, beber espumante, jantar em um lugar cujo chef estudou no Cordon Bleu… Bem, tem que arcar com este preço. E, de vez em quando, todo mundo tem direito a tomar espumante, comer uma iguaria, enxugar a boca com guardanapo de pano – se puder pagar por este luxo ocasional. Comer bem dá alegria, dá conforto, é um convite à confraternização.
Bons ingredientes custam caro. Funcionários bem treinados também. Logo, ninguém aqui acha absurdo pagar mais por aquilo que de fato custa mais. É o justo. E você merece fugir do feijão com arroz e do trivial de vez em quando. Não merece?
Duro mesmo é pagar R$ 30 reais por batata frita [cerca de 13 dólares americanos]. Ou R$ 11 por um suco [4,7 dólares americanos]. Ou R$ 8, R$ 9 ou R$ 10 por uma garrafinha de água mineral [entre 3,4 e 4,3 dólares]. Ou R$ 15 pelo aluguel de cadeira e barraca na praia [cerca de 6,4 dólares]. Estes são alguns dos absurdos.
Um “caso de hiper-surrealismo” foi relatado na página pela seguidora Clarissa Biasotto:
Hoje fui à praia do leblon e me deparei com um gringo sul-americano perguntando a um vendedor ambulante se ali era a praia do leblon. O vendedor respondeu que ali era copacabana, ficou enrolando o gringo dizendo que não sabia e no fim disse que aqui no Rio tudo é pago e que, por isso, a informação também era paga.. enfim, o gringo já tava pegando a carteira e perguntando quanto o ambulante queria quando eu tive que gritar pro gringo que era sim a praia do leblon.. o gringo chegou a perguntar se aquilo foi uma pegadinha.. enfim, achei vergonhoso, surreal..
Cardápio de barraca na praia de Ipanema partilhada no Facebook de Marketing na CozinhaCardápio de barraca na praia de Ipanema partilhada no Facebook de Marketing na Cozinha
Mas as denúncias mais comuns surgem na forma de fotos de cardápios com preços abusivos, como um strogonoff de frango por 72 reais (ou 30 dólares americanos), um misto quente por 20 reais e uma salada verde por 43 reais (respectivamente, 8,50 e 18,20 dólares americanos; ver foto à direita).
Os administradores do Rio $urreal indicam que a página foi criada acima de tudo com a “pretensão de contribuir para uma reflexão dos consumidores”:
Cabe a nós decidirmos quando queremos pagar o preço por determinada coisa – seja ela uma roupa, refeição ou um serviço. Está caro? Não compre. O prato é inviável? Mude de restaurante. Ainda assim não achou o que quer? Chame os amigos para jantar na sua casa. Foi à praia e o aluguel da cadeira tá um horror? Já pensou que ter a sua pode ser um bom custo-benefício? Consumo consciente – esta é nossa meta.
Outras iniciativas também se tornaram populares. A página Se Vira no Rio tem mais de 14 mil seguidores e divulga locais que praticam preços acessíveis para comer e se entreter.
A ascensão da bolha imobiliária
Em uma das publicações a página incentiva os usuários a partilharem soluções que permitam reverter ou impedir a inflação dos preços de moradia. Nos quase 300 comentários deste post, há vários casos relatados e algumas soluções propostas, muitas envolvendo algum tipo de “leis anti-especulação” ou intervenção estatal; outras motivando uma mudança de comportamento dos consumidores, como a busca de zonas alternativas na cidade ou a desistência das imobiliárias.
Muitos apostam também que a bolha do mercado imobiliário está prestes a estourar. Vinicius Bito Trindade, funcionário do Banco do Brasil, comentou:
há quem diga que o que encarece os imóveis aqui é o excesso de crédito para o financiamento… inflaciona o mercado e tal, assim que a política econômica mudar, a tendência é cair e ferrar quem estiver preso a uma prestação irreal…
Outra iniciativa para dar visibilidade ao aumento crítico de custo de vida no Brasil é o site “Tem algo errado ou estamos ricos??“, que compara anúncios de aluguel e compra e venda de imóveis no país e no exterior. Com isso, expõe altos preços, no Brasil, para imóveis velhos e em condições ruins, em comparação com valores semelhantes ou menores para imóveis charmosos e em boas vizinhanças, em países de primeiro mundo ou em desenvolvimento.
O site mostra, por exemplo, um apartamento de 600m2, no Rio, anunciado por 66 milhões de reais (ou quase 30 milhões de dólares americanos). Com alguns milhões a menos, seria possível comprar a mansão onde John Lennon escreveu as músicas Sargent Pepper's ou um prédio inteiro na nobre Upper West Side, em Nova York. Em outro caso,quitinetes (apartamentos de quarto e sala conjugados) saem por mais de 1 milhão de reais (cerca de 430 mil dólares). Com as publicações do site, é possível perceber que a explosão dos preços não é exclusiva do Rio de Janeiro:
Casinha em condomínio fechado em Valencia – Alicante (Torremendo) [Espanha]. Casa novinha em folha, perto da praia, perto de um clube de golf, em um condomínio fechado com tudo (solário, etc etc). garagem para 2 carros… bela vista… bla bla bla bla
casavalencia
casavalencia2
casavalencia3
casavalencia4
(…)
Imóvel novo, condomínio fechado com tudo, perto da praia, bonito, etc etc… quanto?? Cerca de US$88.952 (em torno de R$ 200/ 210 mil reais… depende desse dólar maluco oscilando)
Mas não fique triste brazuquinha… você tem belas opções aqui no Braziu… Na nobre cidade de Lajeado no RS… no bairro Planalto você encontra uma linda casa pelo mesmo preço!! Incrível não???
Dá uma olhadinha…
casalajeado
É uma versão + root (a rua não é pavimentada… não tem piscina no condomínio, clube de golf… praia… vista… mas… é reflexo de nossa proximidade com os países de primeiro mundo né?? fazer o q??
Para o período da Copa do Mundo, o Governo Federal tem anunciado medidas para conter o preço de passagens aéreas e hotéis, como a intervenção do Procon (órgão de defesa dos direitos do consumidor) e a fiscalização da Agência Nacional de Aviação, a ANAC. Uma recente medida foi a autorização de 1.973 novos voos para aumentar a competição no setor aéreo durante os meses de junho e julho, nos quais a Copa toma lugar.
Optar por uma intervenção estatal para conter preços é sempre uma decisão delicada em Estados de livre mercado. Para o setor aéreo, que é regulado e considerado estratégico para os interesses nacionais, esta política já é uma realidade no Brasil da Copa. Mas a contenção de preços de bens de consumo é ainda um grande desafio para os brasileiros e também para setores tradicionalmente dinâmicos. Pelo menos nas redes sociais, a mobilização começou.

(Publicado por Global Voices Online)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



Meios alternativos ganham espaço em estratégia da Venezuela

20 de Janeiro de 2014, 20:05, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


O desenho da nova estratégia de comunicação da Venezuela, prevista para o período de 2014-2019, mostra hoje como um de seus elementos-chave a consolidação de uma rede de meios alternativos e comunitários.

Segundo o Ministério de Comunicação e Informação (Minci), nessa direção destacou precisamente o II Encontro Nacional dessas estruturas, encarregadas de definir os objetivos para o ano atual.

Representantes de 473 meios impressos, audiovisuais e sites debateram durante três dias sobre quatro eixos temáticos, entre eles a formação, unidades de produção de conteúdo, projetos socioprodutivos e uso responsável do espectro radioelétrico. O encontro, indicaram os organizadores, contou com 18 mesas técnicas de trabalho, onde se debateu um tema para cada uma para abarcar o maior numero possível de aspectos.

Nesse sentido, o comissionado para a Comunicação Popular do Minci, Rolando Corao, indicou que é necessário uma maior influência destes meios para converterem-se na voz do processo revolucionário.

Corao contabilizou 116 ações propostas pelas mesas de trabalho, relacionadas com a formação, a produção de conteúdo e a forma de sustentar os meios alternativos.

Em relação a esse último aspecto, afirmou que se avaliam diversas formas para que os meios alternativos comunitários possam conseguir essa sustentabilidade.

Entre as propostas está a criação da Escola Nacional de Formação da Comunicação Popular, bem como o reconhecimento acadêmico através de um título universitário que reconheça aos que se dedicam a esse trabalho.

Ao mesmo tempo, em matéria de conteúdos impõe-se visibilizar os processos e vivências das comunidades, criar programas educativos e outros dirigidos a impulsionar a articulação do Poder Popular com os comunicadores.

Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..



‘Vamo pa Lapa’ - documentário retrata a poesia e a mazela do bairro carioca

14 de Janeiro de 2014, 21:50, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Com menos de meia hora de duração e imagens encantadoras, o documentário Vamo lá pa Lapa, produzido por um grupo de graduandos em cinema e disponível na internet, consegue unir a obscuridade e a tristeza da marginalização à sinergia própria aos lugares de pertencimento e identificação, pessoais ou coletivos. Não se trata de uma história contada com a “pena da galhofa e a tinta da melancolia”, tal como Machado de Assis, uma vez morador da Lapa, pôde definir o espírito do brasileiro. Mas com os ares de uma inteligência juvenil mal reconhecida pelas gerações anteriores. Marcada pelo desejo de conhecer aquilo que outrora esteve consagrado, se inscreve no mundo a partir de novos olhares.

Do aqueduto aos arcos da Lapa, passando por Madame Satã e uma trilha sonora composta por Pixinguinha, Noel Rosa e Vinicius de Moraes; até os personagens contemporâneos da noite carioca como o compositor da música tema do curta “meia noite na Lapa” e o rapper Marcelo D2, o espectador encontrará um presente tão amplo quanto o tempo de sua própria fermentação, desde o século XVIII.

Em 1968, o ano que não terminou, o escritor Zuenir Ventura falara daquela que para ele teria sido a “última geração literária”. Mais de 40 anos depois, em entrevista à RHBN, o próprio autor recompunha sua opinião: “Hoje, há a internet e isso foi uma mudança revolucionária. O conceito de geração também mudou, não há apenas uma geração, mas muitas tribos, e cada uma se veste de uma maneira, cada uma é quase uma geração”.

Aliar a consciência histórica, lenta promotora de sentimentos de reconhecimento e enraizamento, à capacidade de lidar com a informação rápida, quase instantânea, porém carregada de um progressismo ainda desconhecido das esquerdas políticas parece ser o trunfo inocente do documentário. Conforme completou Zuenir, esta é uma inteligência diferente e desafiadora; contempla a “nostalgia do não vivido” e, ao mesmo tempo, a energia da entrega passional e, talvez, inconsciente, da possibilidade de ação no mundo de hoje. Não há censura ou autocensura, apenas o espaço público tomado, estudado e apropriado de diferentes maneiras por seus cidadãos-personagens.

É o historiador e velho conhecido dos alunos do ensino médio carioca Milton Teixeira quem explica as origens fidalgas da Lapa, homenageada em 1723 com a maior construção do Rio antigo, o Aqueduto da Carioca, que deveria resolver problemas de abastecimento de água na região. O nome “Lapa”, ele explica, sugere a ideia de uma gruta, algo escuro, onde acontecem as coisas proibidas durante o dia. Com o tempo, a convergência dos meios de transporte tornou o local “popular” demais, cheio demais, brasileiro demais, e as elites subiram para Santa Teresa, enquanto o espaço foi sendo ocupado pelos “malandros”.

Em si, uma desqualificação voltada para o “negro, pobre, nordestino, analfabeto, e homossexual” - como afirma o cantor, compositor e ex-morador de rua Seu Jorge - o “malandro” virou mito, música e peça, símbolo de bravura e sofrimento, nunca de dignidade. “Só que ele era vivo, ficou muito forte e jogava capoeira pra caralho”, continua Seu Jorge a respeito de Madame Satã, personagem de um do filmes que mais chocou a plateia carioca em 2002, lançando o ator Lázaro Ramos a fama de que ouvimos falar hoje.

Jogava capoeira com a navalha entre os dedos, cozinheiro, presidiário e ainda pai adotivo, sintetizou durante muito tempo a ira do rejeitado e a coragem que a historia, do alto da sabedoria livresca, costuma ainda atribuir àqueles que ela julga não terem nada a perder.

À versão do cantor se soma a do morador da Lapa que, sem identificação ao longo do documentário, parece encarnar a voz da moralidade das ruas: “Muita gente fala em Madame Satã, tudo bem que ele fazia as bravuras dele lá, mas eu conheci uma pessoa muito menos falada que pra mim era muito mais valente, era o Lionel Galego”. E continua: “Se alguém achar o contrário, eu até peço perdão. Mas no meu entender - porque eu vi, vi os dois. A diferença é que Lionel não era covarde”.

Sem entrar na densa discussão sobre os projetos de reforma dos centros históricos do Rio de Janeiro, tanto de outrora como os atuais, ou nos conflitos relacionados à repressão social, comercialização do espaço público e uso e abuso de drogas facilmente acessíveis na região, o curta aponta para o modo como as “gentes” lidam com aquele espaço. Entre entrevistas e filmagens na madrugada, juntando famosos, gringos e anônimos, é possível ver no rosto, na expressão, na linguagem e na voz de cada um todos esses problemas, de forma quase indizível, porém. Como se o contato, de fato, nos tirasse momentaneamente a capacidade de teorizar, como se a linguagem não desse conta de tudo e a lógica não pudesse bem representar aquelas sensações, emoções, inconscientes, enfim, o indefinido de cada “personagem”.

Se é verdade que a força da história reside em descrever os comportamentos, nesse caso ela falhou; será preciso apenas senti-los.



(Publicado por Revista de História)
Artigo original do Comunica Tudo por M.A.D..