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Mídia ressalta "corpo esculpido" em caso de estupro e assassinato
12 de Março de 2013, 21:00 - sem comentários aindaMídia ressalta "corpo esculpido" em caso de estupro e assassinato |
(Publicado na página do Nós Denunciamos)
Mas para a imprensa nem a cena terrível, nem a crueldade do fato, nem o desespero da família importam. O que importa era o "corpo torneado" da jovem, "conseguido com muitas horas de malhação e muay thay". Sim, vocês leram direito. O foco das reportagens sobre o caso tem sido esse. Assistam o vídeo que acompanha a matéria do portal R7 e vejam a insistência em falar e exibir o corpo da vítima:
http://noticias.r7.com/rio-de-janeiro/noticias/mulher-e-estuprada-e-enforcada-com-cadarco-do-tenis-na-zona-oeste-do-rio-20130311.html
Neste site a homenagem ao Dia Internacional da Mulher contrasta com a exposição da figura de Tatiane:
http://www.meionorte.com.br/noticias/policia/mulher-e-estuprada-e-enforcada-com-cadarco-a-caminho-da-academia-200586.html
Nós conhecemos nossa imprensa. Sabemos que na cobertura de eventos esportivos, por exemplo, o foco será sempre nos corpos e formas das atletas e pouco no seu desempenho e conquistas. O tumblr Machismo Chato de Cada Dia tratou dessa fixação da nossa imprensa com o corpo feminino aqui, por ocasião das Olimpíadas de Londres:
http://machismochatodecadadia.tumblr.com/post/28625561062/olimpiada-do-machismo-parte-1#.UUBt_BysiSo
Já seria lamentável por si só esse exercício diário de machismo por parte da nossa mídia, mas num caso como de Tatiane a coisa ganha contornos graves. Numa sociedade em que a maioria das pessoas nem reconhece que existe uma cultura do estupro, que normatiza a violência de gênero e culpabiliza a vítima, usando exatamente roupa e comportamento para tanto, ver reportagens como essas deveria causar escândalo. A quem interessa saber sobre o "corpo esculpido" de Tatiane? Pra quê inserir essa informação desnecessária e, por que não dizer, inescrupulosa, nas matérias? Isso vai ajudar a esclarecer o crime? Vai ajudar a prender o monstro que interrompeu a vida dessa mulher?
Estamos cansadas desse machismo! Cansadas de vermos nossos corpos e comportamentos serem usados pra justificar a violência. Cansadas de sermos tratadas como material pra vender jornal, mesmo quando estupradas, violentadas, mortas!
Se você também não aguenta mais, não se cale. A Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres tem acolhido esses protestos, gerando em alguns casos até processo. Você pode mandar para lá esse texto, pedindo que o caso seja averiguado:
ouvidoria@spmulheres.gov.br
Também pode reclamar com o portal R7, de onde partiu essa notícia com foco na imagem da vítima:
http://www.r7.com/institucional/fale-com-o-r7/index.html
https://www.facebook.com/portalr7
Blatter, Grondona e Teixeira: malas e depósitos suspeitos
11 de Março de 2013, 21:00 - sem comentários aindaJornalista britânico Andrew Jennings, parceiro da Pública, conta o caso do dinheiro enviado pela FIFA à Arábia Saudita e a história da mala de 400 mil dólares de Ricardo Teixeira
Por Andrew JenningsUma das primeiras coisas que Sepp Blatter fez ao assumir a presidência da FIFA, em 1998, foi abrir os cofres para um país que apoiou financeiramente sua campanha.
Ele não tinha dinheiro suficiente para pagar a dívida com esse país, mas a FIFA tinha. Então Blatter bateu um papinho com seu fiel escudeiro e cabeça do Comitê de Finanças da entidade, o malandro Julio Grondona [NT: também presidente da Associación de Fútbol Argentino, a AFA, a CBF argentina], e sem contar nada a ninguém eles repassaram 470.000,00 francos suíços (cerca de US$ 680.000,00) para alguém na Arábia Saudita, um dos países mais ricos do mundo.
Blatter afirmou que o dinheiro foi repassado para cobrir um “excesso de gastos” do ano anterior, quando a Arábia Saudita sediou a Copa das Confederações. Mas acontece que esta competição, conhecida como Copa do Rei Fahd, havia sido inteiramente bancada pelos sauditas sem custos para a FIFA.
Desonestos
Poucos na FIFA tem reputações financeiras mais duvidosas do que Blatter e Grondona. Eles contaram à empresa de auditoria KPMG, em 1999, a historinha – difícil de acreditar – de que o dinheiro tinha ido para a Arábia Saudita. Nesse caso, quem teria recebido o dinheiro? Ninguém sabia de nada porque os demais membros do Comitê de Finanças não haviam sido consultados sobre o pagamento.
No Relatório de Gestão confidencial feito pela KPMG, o ingênuo auditor Fredy Luthiger – sempre bem cuidado e cortejado por Blatter em Copas do Mundo – murmurou que, no futuro, o Comitê de Finanças deveria consultado para aprovar “pagamentos como aquele”.
Blatter, sem dúvida sorrindo, aparentemente concordou . Mas na prática ignorou aquela recomendação, mantendo até os dias atuais o direito de ser o único que assina os cheques da FIFA.
As contas bancárias offshores e secretas de Grondona – reveladas em um vídeo gravado por uma associação comercial, depois tirado de circulação -, estão sendo investigadas agora pela polícia argentina. O repórter alemão Jens Weinreich fez os cálculos: o dinheiro depositado nas várias contas bancárias, a maioria delas situada na Suíça, alcança a assombrosa quantia de US$ 121 milhões. Grondona se recusa a dizer de onde veio esse dinheiro.
LAVANDERIA DE DINHEIRO
Era um dia normal no escritório do Departamento de Finanças da FIFA. De repente entrou o membro do Comitê Executivo, Ricardo Teixeira, carregando uma mala grande e pesada. “O que podemos fazer pelo senhor?”, lhe perguntaram.
Teixeira abriu a mala e despejou espantosos US$ 400.000,00 em dinheiro vivo! Ele disse que era um pagamento adiantado à CBF para cobrir os custos da participação na Copa do Mundo de 1998, na França. Ninguém no Departamento de Finanças ousou perguntar por que Teixeira estava carregando tal volume em dinheiro vivo, nem onde ele tinha conseguido aquilo – ou o que estava fazendo com aquela mala em 2000, 18 meses depois do fim da Copa de 1998.
Se aquilo já era muito esquisito, logo ficaria ainda mais. Teixeira disse aos membros do Departamento de Finanças que queria que eles pegassem o dinheiro e o transferissem para a conta da CBF. Os funcionários ficaram confusos – eles responderam que aquele valor já havia sido pago à confederação. Mas quando checaram, não havia registro de entrada do dinheiro na CBF.
Os funcionários então concordaram em depositar o dinheiro para a CBF – mas insistiram que o valor fosse para a conta da confederação e registrado como um pagamento. “Ah não”, disse Teixeira, “não é isso que eu quero.”Em vez disso, ele pediu para que lhe devolvesse o valor, mas desta vez em um cheque. Surpreendentemente, foi atendido.
Naquele momento, a sede da FIFA passou de casa oficial do futebol à lavanderia de dinheiro ilegal.
Alguns dias depois Teixeira mudou de ideia, voltou ao escritório da FIFA, devolveu o cheque e pediu o seu dinheiro de volta. Surpreendentemente, o Departamento de Finanças da FIFA concordou e deu a ele US$ 400.000,00 de volta em uma mala.
POLIDAMENTE ESCANDALIZADA
O que aconteceu depois? O dinheiro era realmente ligado à Copa do Mundo? Para onde foi o dinheiro? Teixeira e o Departamento de Mídia da FIFA se recusam a dizer.
A história está enterrada na página 19 do Relatório de Gestão Anual – secreto – enviado ao presidente Joseph Blatter em 2000 pelos auditores da FIFA, o braço de Zurique da empresa KPMG.
A KPMG ficou polidamente escandalizada e recomendou que pagamentos em dinheiro só fossem feitos por “pessoas autorizadas”. Blatter fez cara de paisagem e concordou com a recomendação.
Relatório de gestão prévio da revisão de 2000
Pagamentos a terceiros
Identificação e impactos
O presidente da Federação Nacional brasileira filiada à FIFA [CBF] deixou uma quantia de 400.000 dólares com a solicitação de que ela fosse transferida para a própria Federação. De acordo com as informações dele, este valor era um pagamento adiantado referente à Copa do Mundo de 1998, valor o qual era destinado a todas as seleções participantes. Segundo a FIFA, o montante já havia sido pago à época da Copa e também havia sido devidamente transferido à conta final em Azbug. O pagamento não fora, contudo, registrado pela Federação Nacional brasileira. O presidente da federação brasileira retornou, então, com um pedido para que o valor fosse encaminhado para a entidade.
A FIFA declarou estar disposta a fazer o pagamento, mas apenas sob a condição de que a transação para a conta corrente da associação fosse reconhecida como pagamento para o presidente da Federação Nacional brasileira e, em seguida, a remessa poderia ser feita. Contudo, isto não foi aceito pelo presidente. Ele requisitou então um cheque assinado pela FIFA com a quantia, o que lhe foi concedido. A intenção era que o crédito do valor em cheque fosse posteriormente pago em dinheiro com a quantia do primeiro depósito feito à CBF. Depois de alguns dias, no entanto, o presidente da federação pediu para cancelar toda a transação e solicitou o montante em dinheiro vivo. O pedido dele foi aceito.
Sugestão
Recomendamos que os pagamentos em dinheiro só sejam feitos por pessoas autorizadas. Temos consciência de que, por várias razões diferentes, nem sempre isso é possível. Geralmente é recomendável pagar em cheque – pagamentos em dinheiro devem ser feitos ao menor número de pessoas possível.
Comentários sobre a recomendação
Combinado.
A CONTA SECRETA 1663
Imagine ter uma conta bancária offshore livre de qualquer fiscalização tributária para depositar todo o dinheiro que conseguiu com todo o tipo de atividades questionáveis.
Quer gastar o dinheiro? É fácil: você exige pacotes de dinheiro vivo dos contadores subservientes. Eles nunca serão um problema porque você é o patrão deles! Soa esquisito, mas vá por mim: fica ainda melhor!
Você gasta parte do dinheiro no país onde o banco está situado, (sim, na Suíça, muito bem, leitores!) comprando para si mesmo alguns presentes extravagantes – talvez um Mercedes antigo que o banco gentilmente registra no nome dele para protegê-lo de fiscais da alfândega na sua volta para casa.
Aí você pega um voo para a sua casa com o dinheiro guardado na roupa de baixo – ou na calcinha da sua namorada. Isso acontece.
Você viaja de primeira classe, é recebido por limusines com chofer e pode ter um passaporte diplomático. Dificilmente você será parado por oficiais da alfândega em busca de narco-dólares ou dinheiro suspeito proveniente de lavagem de dinheiro.
O MUNDO ISENTO DE IMPOSTOS DA FIFA
Seja bem-vindo ao mundo louco e isento de impostos dos 23 homens do Comitê Executivo da FIFA e ao modo como eles ficam ricos através do futebol. Hoje nós apresentamos o estranho mundo do brasileiro “Vigarista” Ricardo Teixeira… e a sua conta secreta na FIFA, número 1663.
Vamos voltar ao verão de 1998. Ricky Vigarista vinha dando duro no trabalho de explorar a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Ele merecia umas férias e onde seria melhor do que a Cidade do Amor?
Mas como ele conseguiria alguém para pagar a conta e ir para Paris? Em um armário na sala dos fundos de sua casa, no Rio, ele achou a taça da Copa do Mundo ganha por Romário (ugh, o Vigarista odeia aquele homem) e pela Seleção Brasileira em 1994. A taça teria de ser devolvida à FIFA e o Vigarista estava planejando mandá-la por FedEx ou DHL.
Mas… se ele pusesse a taça na sua bagagem, ele poderia arranjar um voo de primeira classe pago pela FIFA – um dos luxos que os membros do Comitê Executivo consideram direito deles. E como chefe da CBF, ele poderia cobrar o valor da viagem da confederação também, duplicando o seu dinheiro. Boa!
Teixeira cobrou US$ 5.700 da CBF pelo voo. E não foi fácil devolver o troféu: de acordo com o que registrou nos pedidos de reembolso, ele levou dez dias para achar alguém, qualquer um, que aceitasse recebê-lo. As diárias dos membros do Comitê Executivo em 1998 eram de US$ 200 – e ele embolsou mais US$ 2.000!
Com suas férias encerradas, Teixeira começou de novo a marcar reuniões com a FIFA , depois um congresso, e aí começou o mês dos jogos da Copa do Mundo.
Tudo que embolsou foi para a conta de número 1663, onde já havia dinheiro proveniente de fontes duvidosas – do comércio ilícito de ingressos para a Copa do Mundo, por exemplo. Há muito mais recursos requisitados para despesas de viagem e hospedagem – a FIFA não pede recibos – e dinheiro desviado das doações destinadas às federações nacionais. Outros membros do Comitê Executivo, que estavam na Suíça para outros negócios, incluíam Zurique na rota para que a FIFA fosse induzida a pagar a conta.
CASA SEGURA PARA DINHEIRO SUJO
O ex-presidente da FIFA, João Havelange, embolsando milhões em propina da companhia de marketing ISL sozinho, não ia causar problema algum. Em todo o caso, naquela época ele era o sogro do Vigarista e tinha mostrado ao seu garoto como sugar o leite da ISL. Para manter a sua gangue do Comitê Executivo feliz, o novo presidente Blatter (cuja conta é a de número 469), logo elevou as ajudas de custo diárias a US$ 500 e criou um novo subsídio de US$ 200 ao dia para parceiros.
Onde Teixeira iniciou sua jornada rumo a Paris? De acordo com a sua conta número 1663, parece que ele estava em Pago, na Samoa Americana. Uma rápida passagem em um local como a Samoa, onde há tempos o dinheiro sujo tem uma casa segura.
Estupro coletivo da Comissão de Direitos Humanos
11 de Março de 2013, 21:00 - sem comentários ainda“Não aceitamos e não acataremos este estupro coletivo da Comissão de Direitos Humanos. De forma que está, ela está acabada. Não existe mais. Se continuar assim, sugerimos que os partidos aliados dos direitos humanos não indiquem membros para esta comissão”
Oito deputados do mesmo partido numa só comissão não é coincidência, é trampa, e a maioria é ligada ao fundamentalismo religioso evangélico. No total, agora 13 dos 18 titulares da comissão são pastores. Estuprar a proporcionalidade da representação partidária na comissão está equivocado e fere o Regimento Interno da Câmara: as comissões devem ser plurais.
Com essa eleição, a Câmara dos Deputados rasgou a Constituição Federal e a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Tornou-se, mais uma vez, uma vergonha para o Brasil e para o mundo. O Parlamento brasileiro retornou à idade das trevas. É preciso que os (as) parlamentares relembrem e ajam de acordo com o princípio (e a lei) de que o Brasil é um Estado laico. Com a ascendência do fundamentalismo religioso no Congresso Nacional, assiste-se a um espetáculo que relembra o surgimento da tomada do poder pelos nazistas na Alemanha dos anos 1930.
O episódio foi especialmente vergonhoso pela conivência do PMDB, PSDB, PR, PTB e PP em cederem vagas na comissão para o PSC, além da incabível indicação de Jair Bolsonaro para integrá-la, bem como o PSB, o PSD e o PV indicando pastores em detrimento de pessoas historicamente atuantes no campo dos direitos humanos.
As origens de alguns desses partidos simbolizam a luta pela democracia e o rechaço ao autoritarismo no Brasil da abertura. Quem diria?! Das 20 comissões permanentes da Câmara, a de Direitos Humanos foi a penúltima a ser escolhida, mostrando uma falta de prioridade generalizada.
Não é de se surpreender a estimativa de que uma pessoa é assassinada a cada dez minutos no Brasil (Instituto Sangari, 2011) e que em 2011, segundo o Escritório sobre Drogas e Crime das Nações Unidas (UNODC), o país estava em primeiro lugar no ranking do mundo neste quesito. O exemplo vem de cima, o Congresso Nacional não está preocupado com os direitos humanos e as consequências que este descaso traz.
Decepcionou também a falta de prioridade dada pelo PT e pelo PCdoB. Uma pergunta que ficou no ar é por que o PT priorizou a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional em detrimento da Comissão de Direitos Humanos e Minorias?
Repetiu-se, mais uma vez, a imperdoável negociação dos direitos humanos em troca de interesses políticos e do projeto de manutenção do poder, o que – no caso da população LGBT, negra, mulheres, indígenas – tem se tornado corriqueiro na atual legislatura. Estamos cansados (as) de ser moeda de troca.
É uma aberração eleger para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias uma pessoa que é objeto de ação penal e inquérito no Supremo Tribunal Federal, acusada de estelionato, racismo e homofobia.
Não faltam exemplos nas redes sociais comprovando algumas dessas alegações contra o Pastor Marco Feliciano, eleito presidente da comissão em 7 de março:
Em 30 de março de 2011, ele afirmou em sua página no twitter que os africanos são descendentes de um “ancestral amaldiçoado por Noé” e que “sobre o continente africano repousa a maldição do paganismo, ocultismo, misérias, doenças oriundas de lá: ebola, Aids, fome…”.
Neste link consta vídeo no qual Feliciano afirma que “a Aids é uma doença gay”; que existe um ativismo gay promovido por satanás que está “infiltrado” no governo brasileiro; que “enquanto crentes não saem para evangelizar… satanás levantou o seu ativismo [das pessoas LGBT] neste país. Ação de satanás contra a família brasileira”. Diz, ainda, que “o problema é o ativismo gay, o problema são pessoas que têm na sua cabeça o engendramento de satanás”. Prossegue ele: “São homens e mulheres que usam dos mesmos mecanismos que Stanley usou no seu comunismo nazista, usam a mesma linguagem de Hitler… uma mentira contada várias vezes com muita ênfase se torna verdade”.
Da mesma forma, no caso da censura presidencial ao vídeo da campanha do Ministério da Saúde de combate a DST/AIDS no Carnaval de 2012, com personagens gays, o deputado Marco Feliciano não só comemorou a retirada do vídeo da campanha com o casal gay do ar como também creditou à Frente Evangélica o “feito”. Em seu twitter, o deputado postou o link de uma matéria sobre a censura do material e sentenciou: “Pressão nossa”, numa clara demonstração da interferência religiosa na laicidade do Estado.
Em outra ocasião afirmou que “a podridão dos sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime e à rejeição”.
Pastor Marco Feliciano, que diz não ser homofóbico, também é autor das seguintes proposições, entre outras, que visam a negar a igualdade de direitos à população LGBT:
- Projeto de Decreto Legislativo 637/2012 – Ementa: Susta a aplicação da decisão do Supremo Tribunal Federal proferida na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, que reconhece como entidade familiar a união entre pessoas do mesmo sexo.
- Projeto de Decreto Legislativo 521 e 495/2011 – Ementa: convoca plebiscito sobre o reconhecimento legal da união homossexual como entidade familiar.
Ele também apoia o Projeto de Decreto Legislativo 234/2011, que susta a aplicação do parágrafo único dos artigos 3º e 4º da Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 1, de 23 de março de 1999, que estabelece normas de atuação para os psicólogos em relação à questão da orientação sexual.
A cruzada anti-LGBT promovida por Feliciano e outros fundamentalistas no Parlamento Brasileiro vai contra a maré internacional, tanto dos países vizinhos como Argentina e Uruguai, quanto de europeus como França e Inglaterra, todos se esforçando para garantir o alcance da plena igualdade de direitos pelas pessoas LGBT.
No nosso continente também o presidente Obama não tem medo de expressar essa convicção publicamente, como fez no discurso da posse em janeiro deste ano: “Nossa jornada não será completa até que nossos irmãos e irmãs LGBT sejam tratados como qualquer outro perante a lei – pois se somos verdadeiramente criados iguais, então certamente o amor que dedicamos um ao outro deve ser igual também.” Não queremos privilégios, queremos tão somente direitos iguais, nem menos, nem mais.
Assim como Feliciano, os correligionários eleitos na mesma ocasião na semana passada também atuam na contramão da plenitude e universalidade dos direitos humanos em outras questões também, como as terras indígenas, os direitos sexuais e os direitos reprodutivos das mulheres, as políticas afirmativas de acesso da população negra às universidades, e assim por diante. Com sua nova composição, como bem disse a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), “esta Comissão não é mais de direitos humanos”.
Entendemos que o fundamentalismo e a intolerância religiosos manifestados pelo Pastor Marco Feliciano e seus asseclas não são representativos da maioria das pessoas evangélicas e somos defensores intransigentes da liberdade de opinião e crença, desde que não se tornem apologia de preconceitos, discriminação, violência e crimes, como o racismo e a homofobia.
Que a Câmara prime pelo bom senso e que realize uma nova eleição da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, uma vez que a maneira como a eleição foi realizada, a portas fechadas no dia 7 de março, contrariou o artigo 48 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Isto faz lembrar os idos de 1964.
Perdemos uma batalha, mas não perdemos a guerra. Todo apoio à criação da Frente Parlamentar dos Direitos Humanos e nossos agradecimentos pelos esforços expendidos pelos/as seguintes parlamentares, entre outros (as), na tentativa de reverter a desastrosa eleição: Janete Pietá (PT-SP), Domingos Dutra (PT-MA), Jean Wyllys (Psol-RJ), Érika Kokay (PT-DF), Ivan Valente (Psol-SP), Chico Alencar (Psol-RJ), Padre Ton (PT-RO), Nilmário Miranda (PT-MG), Luiza Erundina (PSB-SP), Dr. Rosinha (PT-PR), Janete Capiberibe (PSB-AP), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Luiz Couto (PT-PB), Paulão (PT-AL) e Arnaldo Jordy (PPS-PA).
Que o ministro Marco Aurélio do Supremo Tribunal Federal conclua a análise do inquérito sobre o Pastor Marco Feliciano e que seja realizado o julgamento o mais brevemente possível.
No sábado, 9 de março de 2013, em todo o Brasil milhares pessoas que ficaram revoltadas com a imoralidade da eleição da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados saíram às ruas para protestar e exigir a correção deste erro. Em Curitiba, as palavras de ordem incluíam: “Nem podridão, nem maldição, queremos igualdade na nação.” “Pelos direitos humanos, fora Feliciano”.
O paralelo com as manifestações “Fora, Collor” ficou evidente. Agora tem-se o movimento “Fora, Feliciano”. Que continue havendo protestos até que sejam reinstaladas a democracia e a ética na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Que as organizações de classe, sindicatos e todas as pessoas e instituições ligadas à promoção e defesa dos direitos humanos se juntem às manifestações de repúdio ao acontecido e reforcem a mobilização em prol da anulação dessa eleição indigna.
Não aceitamos e não acataremos este estupro coletivo da Comissão de Direitos Humanos. De forma que está, ela está acabada. Não existe mais. Se continuar assim, sugerimos que os partidos aliados dos direitos humanos não indiquem membros para esta comissão.
A luta tem de continuar:
“Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem;
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles,
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.”
(Publicado no Congresso em Foco)
Caros Amigos substitui toda redação
11 de Março de 2013, 21:00 - sem comentários aindaOs jornalistas que entraram em greve criaram uma página no Facebook para divulgar o ocorrido. Em “Redação da Caros Amigos em Greve”, a equipe formada por 11 jornalistas explicou que tal medida foi inevitável. “Nós, integrantes da equipe de redação da revista Caros Amigos, responsáveis diretos pela publicação da edição mensal, o site Caros Amigos e as edições especiais e encartes da Editora Casa Amarela, denunciamos a crescente precarização das nossas condições de trabalho, seja pela ausência de registro na carteira profissional, o não recolhimento das contribuições do FGTS e do INSS, e, agora, o agravamento da situação pela ameaça concreta de corte da folha salarial em 50%, com a demissão de boa parte da equipe.”, diz o comunicado publicado na página da internet.
Nabuco explica que assim como as demais revistas no Brasil, a Caros Amigos também vem sofrendo queda no mercado, principalmente por não contar com anúncios do setor público. Vale lembrar que a editora possui dívidas fiscais acumuladas desde o ano 2000 e por esse motivo não pode receber verba pública. Ainda de acordo com ele, ao convocar a empresa para explicar que a situação financeira estava com problemas e apresentar sua solução, a redação foi a única a tomar uma medida tão drástica. “Fui surpreendido na sexta (8) por uma carta. Não tive tempo de conversar com ninguém, quando fui à redação eles já haviam ido embora, levado todos os pertencer pessoais e criado uma página na internet”, lamenta. E continua: “Meu objetivo sempre foi, é e será, entregar uma revista com qualidade aos leitores do Brasil. Para fazer isso, a partir de então, precisarei reduzir gastos, se não, não há revista”. Para o diretor-geral, a retração da receita publicitária tornou a situação quase insustentável. “Para uma revista pequena qualquer queda é um problema complicado”, afirma.
Agora, Nabuco está focado em desenhar a nova redação para a revista Caros Amigos. Apesar disso, garante que a edição de março chegará às bancas no próximo dia 15 e que a edição de abril será fechada no fim deste mês, normalmente.
(Publicado originalmente em Meio e Mensagem)
Pequeno ensaio livre sobre nosso zeitgeist
7 de Março de 2013, 21:00 - sem comentários aindaEsta dificuldade na compreensão de um mundo social, político e econômico que, embora tenha fortes e sólidas raízes, tornou-se tendencioso ao infinito, nos faz perder o chão, diante da antiga dialética que sustentava o mundo. Quero dizer, diante das dualidades simplistas que tornavam fáceis o posicionamento de qualquer pessoa no mundo.
Hoje, posicionar-se exige muito mais empenho e esforço do que tempos passados. Exige estudos, análises e debates muito mais intensos e descentralizados. Por isso mesmo, há os que prefiram apenas invalidar a quase tudo e todos, por não serem capazes de entender a transcomplexa teia na qual as sociedades se transformaram. Os antigos discursos dualistas pouco podem ajudar no plano real de quem quer e precisa agir.
A todo instante somos surpreendidos por pessoas que considerávamos inteligentes tendo reações contraditórias e imbecis, bem como pessoas que pensávamos chafurdar na ignorância, mostrando-se sábias, muitas vezes, com seus poucos recursos argumentativos. Alguns podem dizer que isto é natural do ser humano, mas penso que esta é a marca principal que define o nosso tempo, nosso zeitgeist: descontinuidade, não-linearidade, caos, transcomplexidade, capilaridade, liquidez e um sempre presente ar blasé, daqueles que não estão entendendo nada, mas desejam estar nos palcos do espetáculo egóico e efêmero.
Não se pode mais fazer ativismo político dentro de uma lógica dualista, simplista, puramente racional ou tão somente emocional. Há que se misturar tudo, sair a campo, vivenciar, ler e estudar para formular as bases de suas novas ações. Caso contrário, a descontinuidade, a não-linearidade, o caos, a transcomplexidade, a capilaridade e a liquidez irão engolir você, seus sonhos e seu projeto de mundo. Claro que os discursos repletos de platitudes e dualidades infantis continuarão existindo, mas serão incapazes de atender às necessidades reais do mundo no qual vivemos, serão incapazes de gerar mudança. Nenhuma mudança.