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Blog Comunica Tudo

3 de Abril de 2011, 21:00 , por Desconhecido - | No one following this article yet.
Este blog foi criado em 2008 como um espaço livre de exercício de comunicação, pensamento, filosofia, música, poesia e assim por diante. A interação atingida entre o autor e os leitores fez o trabalho prosseguir. Leia mais: http://comunicatudo.blogspot.com/p/sobre.html#ixzz1w7LB16NG Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

Dê o seu Beijaço no Laerte

25 de Abril de 2013, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Este é meu beijaço no cartunista Laerte! 
Os cartunistas da Folha promoveram um beijaço em protesto contra a atuação do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

E os ilustradores continuaram no Facebook.
Aberto a todos que queiram entrar nesse protesto >http://www.facebook.com/BeijacoNoLaerte<

Página da folha do dia 25/04/2013:http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/cartum/cartunsdiarios/#25/4/2013

Para fazer seu próprio beijaço, pegue a base aqui http://marcamaria.com/laerte-base.jpg e depois publique no Facebook e mande o link para http://www.facebook.com/BeijacoNoLaerte

Veja mais beijaços




Rio de Janeiro, terra sem lei

24 de Abril de 2013, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Rio de Janeiro, terra sem lei

Estupro coletivo em van, ônibus que despenca na Av Brasil, aumento da passagem do metrô e das barcas são exemplos de como o Rio de Janeiro não vive sob o império da lei


Por Rodrigo Elias*

Os governos são a prova de como os homens podem ter sucesso no ato de oprimir em proveito próprio, não importando se a opressão se volta também contra eles.
H. D. Thoreau, em A desobediência civil (1848)

A Inglaterra vive sob o império da lei. Os súditos ingleses, durante muitos séculos, aprenderam que todas as pessoas – por mais que vivam sob uma monarquia – estão igualmente submetidas às regras reconhecidas e codificadas de convivência social. Há crimes, evidentemente, mas há processo judicial e, como previsto, punição. No geral, entretanto, conflitos que poderiam desencadear uma violência generalizada são, na maior parte das vezes, canalizados para soluções jurídicas não-violentas. Esgarçar a lei a favor de um grupo específico não é, entre os ingleses, uma forma normal de reprodução social.

O Brasil não vive sob o império da lei. A relação entre os agentes sociais, mesmo quando mediada pelo estado (e, a rigor, principalmente quando mediada pelo estado), é típica de regimes absolutistas ou de exceção – impactados por uma guerra, uma grave ameaça externa, uma grande calamidade: as leis não estão acima de todos os indivíduos e grupos, as regras socialmente aceitas podem ser quebradas episodicamente a favor deste ou daquele indivíduo, deste ou daquele grupo; regras específicas podem ser criadas para favorecer aqueles que, de fato, controlam o estado. Esgarçar a lei a favor de um grupo específico é, entre os brasileiros, uma forma normal de reprodução social.

O Rio de Janeiro tem dado, nos últimos dias, exemplos muito claros de que somos uma sociedade que não vive sob o império da lei. Há, evidentemente, indivíduos (dentro da própria estrutura estatal) interessados em aproximar nossa realidade do que ficou conhecido como “estado de direito”. Entretanto, pelo que se pode ver nas ruas e nos noticiários, estes indivíduos estão perdendo a batalha. O que nos faz lembrar de um aspecto importante em relação às formações estatais: o estado, do ponto de vista mais geral da humanidade, não é necessário – trata-se apenas de um artifício, entre outros, de organização social.

No final do mês de março, três indivíduos em uma van irregular (isto é, que circulava contrariando a lei) seqüestraram um casal de estudantes, agrediram os dois e submeteram a moça a um estupro coletivo. Fizeram isto enquanto se deslocaram entre Rio de Janeiro e São Gonçalo, ida e volta, atravessando duas vezes a Ponte Rio-Niterói. Durante este tempo, não foram incomodados por autoridades municipais, estaduais ou federais (a ponte é parte de uma rodovia federal, a BR-101, possui pedágio e policiamento federal).

No início de abril, um ônibus que trafegava em alta velocidade despencou de um viaduto em péssimas condições de conservação após uma briga entre um passageiro e o motorista-cobrador-velocista. O veículo aterrissou com o teto na Avenida Brasil, a via mais movimentada da cidade, matando instantaneamente sete passageiros.






Engarrafamento na Linha Vermelha no final dos anos 1990Sistema de transporte público: problema sem solução



O sistema público de transportes do Rio de Janeiro é administrado a partir de interesses que não são o do público. O modelo rodoviário privado, que não foi inventado pelos atuais políticos que controlam todas as esferas do estado brasileiro, foi incorporado como sendo o mais “natural”, que precisa apenas ser aperfeiçoado e expandido. As soluções hidroviária e ferroviária (que inclui o metrô), obviamente essenciais em qualquer outro país, são tratadas como questões estruturais insolúveis; uma vez que não podem ser implementadas no período de um único governo – na verdade, entram em conflito com outros interesses, os já estabelecidos em torno do transporte rodoviário, agora também aproveitado pelos milicianos e outros, sempre acobertados por autoridades locais, que acabam se tornando a única alternativa de transporte. A expansão unilinear do metrô para a Barra da Tijuca, em implementação atualmente, não atende o desejo da população carioca ou fluminense, mas se encaixa nos planos de curto prazo do governador e do seu grupo político.

Enquanto as autoridades constituídas entre o plano municipal e federal tratam o transporte como assunto menos importante, a população fluminense é massacrada diariamente – o país conta com ministérios dos Transportes e das Cidades que, como outros tantos, acabam servindo de moeda para a conquista de apoio político, mais do que para implementar transformações estruturais; no caso dos executivos estadual e municipal, as relações indecentes entre os mandatários e grandes empreiteiros e empresários do setor são mais do que notórias.

Nos últimos dias, a tarifa do metrô do Rio saltou de R$ 3,30 para R$ 3,50. Nas barcas, na mesma semana, o salto foi de R$ 4,50 para R$ 4,80. Os serviços prestados, obviamente, são péssimos - do trajeto limitado à escassez de veículos, passando pela violência dos agentes privados de segurança -, mas, para ficar no peso financeiro, basta lembrar que não há nenhum tipo de desconto para o usuário cotidiano (ou seja, o trabalhador), situação inédita no mundo. É claro que os governantes dizem se preocupar, reiteram que o sistema está melhorando gradualmente e usam a questão dos transportes como plataforma política. Às vezes até com um toque de humor: em setembro de 2009, no Dia Mundial Sem Carro (um incentivo ao uso de outros modais), o governador do Rio de Janeiro foi trabalhar de helicóptero.



A lei só beneficia seu autor

O deboche e o descaso, entretanto, não são apenas mostras de um estilo pessoal, mera fanfarronice da mais alta autoridade do Rio de Janeiro: a Assembléia Legislativa do Rio firmou há poucos dias contrato com empresa de indivíduos envolvidos em fraude para fornecimento de 936 litros de combustível por mês para cada deputado, que já possuem carro oficial fornecido pelo estado. Estas atitudes, mais do que fatos isolados, são a face mais aparente de uma histórica ausência de compromisso com a população – que é, sim, conivente, uma vez que o estado não é uma entidade que paira sobre a sociedade.

A inexistência de uma rede de transportes de massa regular e que não esteja exposta à sanha dos criminosos empresários do setor (em associação com os políticos, evidentemente) não apenas agride a população e os funcionários (como os motoristas de ônibus): a falta de um sistema público de transporte que seja eminentemente ferroviário impede a existência de uma malha urbana administrável, rouba a qualidade de vida do cidadão e deixa indivíduos a mercê de bandidos de todos os tipos, incluindo ladrões, assassinos e estupradores. As favelas que se espalharam por toda a região metropolitana, degradando as condições de existência dos moradores, os cartéis de transporte “alternativo”, o domínio de milícias e outras gangues em várias regiões do estado não são conseqüências de um destino histórico inevitável. Trata-se de uma construção de muitas décadas, com a qual políticos e empresários aprenderam a lucrar.




Acidente com ônibus na Avenida Brasil / CET-RIONa maior parte das vezes, as medidas que são implementadas para que este estado de coisas seja mantido estão amparadas na lei: senadores, ministros, deputados, governadores, vereadores e prefeitos têm direito de não usar transporte público – direito que é mais ainda assegurado na medida em que o estado (o contribuinte) arca com a despesa do seu transporte ou da sua moradia. Os empresários que têm suas concessões continuamente renovadas, ao arrepio do bom senso, são favorecidos por governadores, prefeitos, secretários, deputados e vereadores no plano da legislação. Trata-se de mais uma situação desconhecida de países que vivem sob império da lei. Entre nós, entretanto, a lei é feita para garantir o privilégio do seu autor.



O estado que assegura estes privilégios para os seus próprios administradores em detrimento da população e a favor dos magnatas e quadrilheiros é o mesmo que não se importa com a violência endêmica. A desgraça que se abate cotidianamente sobre vastas parcelas da sociedade só é alvo de atenção do ponto-de-vista publicitário-eleitoral. A grande preocupação, ultimamente, é a “imagem internacional” da cidade por conta dos grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas – oportunidades de negócio para empresários-criminosos e os seus associados governantes, uma onda na qual a própria imprensa tristemente embarcou. A resolução definitiva deste enorme abacaxi com caroço que é o transporte metropolitano fluminense associado aos interesses escusos empresário-estatais traria mais desenvolvimento e recursos para o Rio de Janeiro do que qualquer megaevento internacional.

Assim, favelas são ocupadas e “pacificadas” pela polícia nas áreas que ficarão sob holofotes durante os próximos anos – enquanto bandidos são avisados com antecedência suficiente para que se alojem em locais mais periféricos da região metropolitana, como Niterói e São Gonçalo, atualmente cidades inteiramente controladas por facções criminosas. A gangue de ladrões-estupradores da van que saiu de Copacabana, por sua vez, foi rapidamente desbaratada após o horrendo episódio que vitimou a estudante norte-americana, no meio de uma comoção que chegou justamente às manchetes internacionais – mas o estado pouco fez em relação às 23.501 mulheres estupradas no Rio de Janeiro em números crescentes entre 2008 e 2012 (algumas delas pelos mesmos criminosos).

O Rio é apenas uma parte do todo, apenas uma batalha em uma guerra perdida. O estado brasileiro tem sido relapso em relação às principais questões que afetam diretamente as populações urbanas que não pertencem àquela parcela capaz de manipular o arcabouço jurídico em benefício próprio – e tem sido bem forte para assegurar por muitas décadas esta sua auto-reprodução. Assim, vivemos longe do império da lei. Bem longe, aliás. Vivemos em um império que, se não rouba, mata e estupra, deixa roubar, matar e estuprar.

* Rodrigo Elias é historiador e professor das Faculdades Integradas Simonsen.



Jornalista pesquisou histórico de despejos das comunidades cariocas e vê agravamento da situação com os megaeventos

24 de Abril de 2013, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Jornalista pesquisou histórico de despejos das comunidades cariocas e vê agravamento da situação com os megaeventos


(Por Agência Pública)

Com a chegada da família real ao Brasil, em 1808, 10 mil casas foram pintadas com as letras “PR”, de Príncipe Regente, abreviatura que significava na prática que o morador teria que sair de sua casa para dar lugar à realeza. Logo, a sigla “PR” ficou popularmente conhecida como “Ponha-se na Rua”. Hoje, as casas removidas no Rio de Janeiro são marcadas com as letras “SMH”, de Secretaria Municipal de Habitação. A população também criou um apelido para a sigla: “Sai do Morro Hoje”.


Essa associação entre as duas eras de despejo – que afetam sempre a mesma população – é feita em “Do ‘Ponha-se na Rua’ ao ‘Sai do Morro Hoje’: das raízes históricas das remoções à construção da “cidade olímpica”, trabalho de conclusão de curso da jornalista Paula Paiva Paulo. Em entrevista à Pública, ela fala pela primeira vez sobre o estudo que revê as transformações no espaço público carioca e as remoções compulsórias que preparam o cenário. E afirma: Os despejos não acontecem por “falta de planejamento” urbano. “É simplesmente privilegiar a especulação imobiliária ao invés do direito a moradia”, explicita.

Por que você escolheu esse tema para o trabalho de conclusão?

Quando comecei a pensar sobre o tema da minha monografia, não foi difícil, o tema da habitação sempre me atraiu. A minha ideia inicial era abordar tudo: um histórico de políticas públicas para habitação, o que diz a Constituição sobre direito à moradia, qual o déficit do país, o que esse déficit causa, o descaso do governo, o sonho da casa própria, e as histórias de pessoas afetadas – pelo menos um relato de um morador de rua, um de ocupação urbana e um de área de risco.

Em março de 2012 comecei a participar do Grupo de Trabalho (GT) Remoções do Comitê Popular Rio para Copa e Olimpíadas, organização civil que reúne representantes de ONGs, de movimentos sociais, estudantes e qualquer pessoa que queira discutir e pesquisar sobre as violações de direitos humanos na preparação para os megaeventos no Rio de Janeiro. Ao entrar em contato com os moradores de comunidades ameaçadas, como Arroio Pavuna e Vila Autódromo, achei o meu gancho. O meu trabalho seria uma grande reportagem sobre as remoções que estavam acontecendo em razão da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas em 2016.

Das comunidades removidas para os megaeventos, qual ou quais você acredita serem as mais emblemáticas desta época?

Considero duas bem emblemáticas: a Restinga, no Recreio dos Bandeirantes, e o Metrô-Mangueira, na Mangueira. Na Restinga aconteceu todo o processo que tem sido padrão de reclamação dos moradores das comunidades removidas: falta de informação relativa ao projeto, falta de participação durante as remoções, oferecimento de alternativas desinteressantes para as famílias e truculência policial no ato da remoção. Essa última queixa é que torna a Restinga emblemática. O dia da remoção, dia 17 de dezembro de 2010, uma sexta-feira, foi considerado muitíssimo traumático pelos moradores. Sem aviso prévio, com forte aparato policial, remoções acontecendo madrugada adentro, sem as famílias terem sido indenizadas. Para o defensor público que atendeu a comunidade na época, Alexandre Mendes, foi a comunidade que mais sofreu nesse processo.

Já o caso do Metrô-Mangueira, que fica a 500 metros do Maracanã é emblemático pela situação que alguns moradores ficaram durante um ano e meio. Após as primeiras remoções, as casas eram demolidas, e quem ficava tinha que viver entre os entulhos, que não eram retirados, e acumulavam lixo, água parada, ratos.Como me disse um ex- morador, Eomar Freitas: “Se você conseguir entrar em alguma casa que ainda está de pé, vai ver o odor de merda que tem, e a gente tinha de almoçar, a gente tinha de jantar, a gente tinha de conviver com esse cheiro”.

O que mais te chocou ou entristeceu durante a pesquisa?

O que mais me entristeceu foi o tratamento recebido pelas famílias removidas. É tudo feito com muita brutalidade, desde o anúncio da remoção. É pressão o tempo inteiro, e os moradores são tratados como “ilegais”, independente de sua situação fundiária, mesmo com os direitos adquiridos que nossas leis nos reservam.

A moradia vai muito além de quatro paredes, ela está ligada ao direito ao trabalho, ao lazer, à saúde. É um processo muito traumático, e no qual não se faz nada para que ele seja menos traumático, muito pelo contrário. O ideal seria que esses processos fossem acompanhados de assistência psicológica aos moradores. Na verdade, ideal mesmo é que se buscassem outras soluções em vez da remoção forçada.

Apesar de não ser novidade na história do Rio de Janeiro, agora vivemos situação específica inaugurada por dois megaeventos esportivos e pelas transformações urbanísticas que eles impõem à cidade. E há um grande agravante: as remoções estão acontecendo de forma sistêmica e integrada nas 12 cidades-sede da Copa no Brasil, com a justificativa da urgência e com uma paixão nacional como bandeira. É praticamente um herege quem vai de encontro a um projeto desses.

Em seu estudo você fala de várias outras transformações no espaço público carioca. Quais foram as principais? Elas também removeram muita gente?

Acredito que a principal tenha sido a reforma realizada pelo engenheiro Francisco Pereira Passos, nomeado prefeito do Rio de Janeiro pelo então presidente Rodrigues Alves, em 1904. Inspirado em Haussmann, o prefeito de Paris responsável pela sua reforma urbana
no final do século XIX, a reforma de Pereira Passos teve como principais características o alargamento das principais artérias do Centro, a criação da Avenida Beira Mar para melhorar o acesso da Zona Sul ao Centro; a construção do Teatro Municipal; a ligação da Lapa com o Estácio; guerra aos quiosques e ambulantes; inauguração de estátuas imponentes e arborização no centro. Na maioria dos casos, a prefeitura desapropriou mais prédios do que eram necessários para depois vender o que ficou valorizado. Em paralelo às obras da prefeitura, a União também realizou grandes obras, como a construção da Avenida Central, atual Rio Branco, que demoliu de duas a três mil casas, o novo porto do Rio de Janeiro, e a abertura das avenidas que lhe davam acesso, a Francisco Bicalho e a Rodrigues Alves. É a partir daí que os morros do Centro (Providência, Santo Antônio, Castelo e outros) até então pouco habitados, passam a ser rapidamente ocupados. Ainda assim, a maior parte das pessoas que perderam suas casas não foi para as favelas centrais, e sim para o subúrbio, principalmente Engenho Novo e Inhaúma.

O que você chama de era das remoções?

Esse termo foi retirado do excelente livro do historiador Mário Brum, “Cidade Alta – História, memórias e estigma de favela num conjunto habitacional do Rio de Janeiro”.

Ele se refere ao período de 1963 a 1975, no qual foram removidas mais de 175 mil pessoas somente no Rio de Janeiro. O então governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, trabalhou com as duas perspectivas, primeiro, com o criado Serviço Especial de Recuperação de Favelas e Habitações Anti-Higiênicas (Serfha), com a perspectiva da urbanização. Depois, com a extinção do Serfha e a subordinação dos órgãos habitacionais à Secretaria de Serviços Sociais, criada em 1963, a política habitacional passou a trabalhar com muito empenho com a perspectiva remocionista, já que, com a especulação imobiliária, políticos e construtoras tinham interesse na “desfavelização” da Zona Sul.

De acordo com Mário Brum, as primeiras remoções foram em áreas de obras, como as favelas da Avenida Brasil, removidas para a construção do Mercado de São Sebastião, e a favela do Esqueleto, retirada para a construção da UERJ, no Maracanã. Em um segundo momento, as remoções visaram favelas em terrenos de alto valor imobiliário, como o caso da Favela do Pasmado, em Botafogo.

Com o financiamento americano (Usaid), entre 1962 e 1965, foram construídas a Cidade de Deus e as Vilas Kennedy, Aliança e Esperança. Por outro lado, algumas favelas foram urbanizadas. Em 1964, com o golpe militar e o início da ditadura no Brasil, o fechamento dos canais democráticos criou as condições necessárias para as remoções arbitrárias. Além disso, na conjuntura da Guerra Fria, o favelado era um revolucionário em potencial aos olhos do governo.

Nesse mesmo ano foi criado o Banco Nacional de Habitação (BNH), órgão financiador e responsável por programas habitacionais. As construções dos conjuntos habitacionais acompanhavam a remoção de favelas. Em 1964, 2273 famílias perderiam suas casas com a remoção completa de comunidades em Botafogo, Leblon, Ramos, Duque de Caxias; e despejos parciais no Humaitá, na Gávea, no Caju.

E as remoções continuaram no ano seguinte, sendo a maior delas a da comunidade do Esqueleto, no Maracanã. Segundo dados da Cohab, no governo Lacerda foram removidas 6.290 famílias, sendo 4.800 de janeiro de 64 a julho de 65. Até 1965, 30 mil pessoas foram removidas, o que foi pouco perto do que estava por vir.

Em 1968, a Federação das Associações de Favelas do Estado da Guanabara (Fafeg) ainda realizou seu 2º Congresso. No entanto, com traumáticas remoções na região da Lagoa Rodrigo de Freitas, a resistência perdeu espaço para o receio: a resistência dos moradores da Praia do Pinto, por exemplo, terminou com um misterioso incêndio na favela. Nese mesmo ano, o governo federal criou a Coordenação da Habitação de Interesse Social da Área Metropolitana do Grande Rio (Chisam), com o objetivo de criar uma política única de favela para o Rio. A Chisam definia a favela como um “espaço urbano deformado” e sua missão declarada era erradicá-las. Na ditadura, a Chisam virou a “autoridade” do programa remocionista. Era ela quem decidia quais favelas a serem removidas e onde ficariam os conjuntos, pois muitos terrenos eram do governo federal. E, na prática, quem executava as coisas era o governo do Estado.

A Chisam, extinta em 1973, removeu mais de 175 mil moradores de 62 favelas (remoção total ou parcial), transferindo-os para novas 35.517 unidades habitacionais em conjuntos nas zonas Norte e Oeste. A construção desses conjuntos habitacionais nem de longe resolveu o problema da habitação popular, mas modificou substancialmente a forma-aparência dos subúrbios, além de levar uma demanda grande de pessoas para onde não havia a infraestrutura necessária.

Após esse período, houve o esvaziamento do programa de remoções que tinha um alto custo político pela resistência dos moradores e que já tinha cumprido sua função de desocupar áreas de grande valor imobiliário e desmantelar a organização política dos favelados. Com a redemocratização do país, houve a revalorização da “moeda voto”.

O que você vê de diferente entre este histórico de remoções no Rio e o que está acontecendo agora? Há diferença de abordagem?

Antes era imperativa a ideia de remoção total das favelas como solução para a cidade. Isso foi superado depois da grande força dos movimentos sociais dos anos 80 e da nossa Constituição de 88. No Plano Diretor do Rio de Janeiro de 1992 se consolida o pensamento de integração das favelas à cidade; o Plano prevê a urbanização e a regularização fundiária, e a favela é definida por características técnicas de sua estrutura, e não mais por características morais dos moradores. Sem dúvida isso é uma evolução e deu partida a projetos como o Favela-Bairro.

No entanto, os movimentos que lutam pelos direitos humanos, sendo o direito à moradia um deles, não conseguir garantir esse direito na prática. E esse é um grande passo para trás. Outro passo para trás: apesar de não haver mais a justificativa da remoção como solução urbanística, ela está mais mascarada. E há um grande agravante, que são as remoções acontecendo de forma sistêmica e integrada nas 12 cidades-sede da Copa no Brasil, com a justificativa da urgência e com uma paixão nacional como bandeira. As obras para mobilidade urbana e construção de equipamentos esportivos não são consideradas questionáveis, e quem questiona é chamado de “do contra, baderneiro”.

A que você acha que se deve este histórico?

A primeira coisa que me vem à cabeça é “falta de planejamento urbano”. Mas na verdade o que não faltou foi planejamento. Acho que esse histórico se deve a predominância do interesse do capital na construção e ocupação da cidade. Preferiu-se e ainda se prefere privilegiar a especulação imobiliária ao direito à moradia.

O blog Copa Pública é uma experiência de jornalismo cidadão que mostra como a população brasileira tem sido afetada pelos preparativos para a Copa de 2014 – e como está se organizando para não ficar de fora.



É proibido ler em Biblioteca Portuguesa no Rio de Janeiro

24 de Abril de 2013, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

É proibido ler em Biblioteca Portuguesa no Rio de Janeiro

Essa vai para o anedotário da demofobia universal: não é permitido ler no Real Gabinete Português de Leitura. Apenas obras do acervo local, restritas a usuários cadastrados. Quem puxa uma cadeira e ameaça abrir um livro próprio, ou um jornalzinho básico, recebe a visita de uma suave funcionária que vem negar o mimo.

“Porque não pode”, ela responde, já menos simpática, à indagação óbvia. O mistério nos autoriza imaginar que se trata de medida para uma espécie (mal) disfarçada de assepsia social. Temor de que a sacralidade solene do ambiente seja conspurcada pelo populacho ignóbil.

O Real Gabinete é um verdadeiro tesouro arquitetônico, oásis oculto no abandono da região central carioca. Mas essa pretensão a templo de iniciados viola os mais rudimentares conceitos modernos de museologia e administração de aparelhos culturais. Vira gesto característico daquela nobreza colonial que, não à toa, recebeu o devido pagamento histórico na forma de chacota.

(Por GUILHERME SCALZILLI)



A velha mídia faz a cabeça dos brasileiros: e os blogueiros "sujos", os Quixotes do Século XXI?

24 de Abril de 2013, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda

Chávez: o “tirano” que venceu 16 eleições democráticas e perdeu uma em 14 anos e continua “tirano” na cabeça da grande maioria dos brasileiros (Foto: Internet)
De Salvador (Bahia), por Jadson Oliveira – “O Maduro parece que vai vencer na Venezuela, não é?” – disse minha amiga depois dos cumprimentos formais num encontro casual num shopping da capital baiana. Professora do interior, estava na capital fazendo exames médicos, como sempre acontece com os “tabaréus”, observei brincando. (A conversa foi antes das eleições venezuelanas).


- Creio que sim, os chavistas vão ganhar – respondi com a “autoridade” de quem passou mais de quatro meses em Caracas durante a última campanha eleitoral de Chávez, mas já de sinal amarelo aceso esperando o que viria por aí.

- Ele parece que quer ser Chávez…

- Ele é filho de Chávez, vamos dizer assim…

- Ele era vice-presidente, não é? Aliás, vice não sei de que, porque não se sabe que tipo de regime é aquilo – foi se revelando minha amiga professora.

- É um tipo de democracia mais avançada do que a nossa, uma democracia participativa, onde o povo pobre não apenas vota, mas vai também para as ruas defender suas conquistas – vendi meu peixe.

- Sim… democracia… é como aqui mesmo: vota no pessoal do Lula pra garantir a esmola da Bolsa Família.

Pronto. Chegou aonde eu esperava: no “tirano”, no “populista”, como TODOS, aproveitador da ingenuidade do povo. É por aí que pensam nove de 10 conhecidos que me puxam conversa sobre a Venezuela. Geralmente eles sabem que sou chavista e já passei duas temporadas por lá, em 2008 e 2012.

Como é que uma pessoa instruída, morando no interior baiano, sabe das coisas lá da Venezuela? Só pode ser pela TV (a grande maioria), pelo rádio, alguma revista semanal, algum jornal. Os blogs “limpos”? As redes sociais? Livros didáticos? As igrejas? Conversa com os vizinhos?

Qual o percentual dos que leriam (incluídos os das grandes cidades) nossos blogs ditos progressistas (ou “sujos”), em relação à artilharia das corporações da mídia hegemônica, TV Globo & Cia? Presumo ser um percentual ínfimo.

Companheiros blogueiros (progressistas, de esquerda, mais à esquerda, por aí), a situação está difícil, pra não dizer impossível. Não quero nem falar da coisa financeira, mas das possibilidades de disputar, ou não, as mentes e os corações dos brasileiros. É o que se pode chamar de quixotismo (ou voluntarismo, para usar uma palavra muito em voga na nossa militância esquerdista dos anos 60 e 70 do século passado).

Acabamos de passar por uma paulada monumental: a direita, através de seu instrumento mais visível e eficiente – a chamada grande imprensa, a velha mídia -, encostando na parede uma maioria apertada do Supremo Tribunal, conseguiu incríveis condenações no chamado mensalão, “o maior caso de corrupção da história do Brasil”, dizem na maior cara de pau. Condenações impensáveis num típico julgamento de exceção, e – pasmem – acoplado ao calendário eleitoral, escancaradamente para prejudicar os candidatos do PT.

Agora, mais uma paulada razoável: a sempre poderosa Rede Globo, dia sim, outro dia também, vai espremendo na Justiça blogueiros que ousam revelar as “entranhas do monstro” (expressão do prócer cubano José Martí, certo?). Tanto que um dos maiores e melhores desses blogs – o Vi o Mundo, criado pelo jornalista Luiz Carlos Azenha – chegou a anunciar sua extinção. Felizmente, revertida, depois da bela reação solidária.

Sem mobilização popular não há democracia verdadeira

Os blogueiros se articularam, como sempre ao redor do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, presidido pelo nosso Altamiro Borges, do Blog do Miro. Foi dado o grito e bem ecoado: “uni-vos”. Mas pra mim está claro que nosso sucesso está ligado a muitas variáveis e todas elas passam pelo grau de avanço ou de atraso do movimento democrático e popular no Brasil. Aí é que está o x do problema. Fatores como:

Vai ou não vai avançar a luta pela democratização da mídia? Pelo que sei, partidos como o PT e o PCdoB já estão decididos (depois de muita demora), através de resoluções das respectivas cúpulas dirigentes, a se engajar nessa luta, reforçando posicionamentos de movimentos sociais importantes, como o super-criminalizado MST, centrais sindicais, entidades estudantis, etc. Agora mesmo – uma boa novidade – as comemorações do 1º. de Maio terão como mote a campanha “Quero falar também”.

E o PDT do grande combatente Leonel Brizola, cujo correligionário deputado Miro Teixeira atua a serviço dos monopólios da mídia? E o PSB, e a Rede da Marina Silva? Trata-se de uma luta há muito tocada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), por blogueiros, por professores/intelectuais que atuam na área, por publicações como Carta Capital, Caros Amigos e Fórum.

Afinal, a liberdade de expressão seqüestrada por meia dúzia de famílias é ou não é o assassinato de qualquer democracia? Lembremos que a principal dessas corporações da mídia – as Organizações Globo – foi a mesma que se fez na ditadura, a mesma que ajudou a sustentar a ditadura, a mesma ditadura que censurou, que torturou, que matou patriotas.

Um líder fundamental como Lula vai participar dessa luta? Ou prefere ir levando assim e assado, afinal, assim e assado, vem ganhando eleições? Até quando? E a presidenta Dilma vai ficar repetindo aquela frase ridícula “Prefiro os excessos da imprensa…”? E o seu ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, que vexame!? É uma questão de coragem/covardia, como fala todo dia a maioria dos blogueiros “sujos”, ou uma questão de cálculo político, de oportunismo?

Alguns parlamentares têm avançado em seu posicionamento diante da ditadura da mídia, dentre eles: destaco primeiro o senador Roberto Requião, do PMDB, sempre nacionalista, especialmente pelas inúmeras brigas como governador do Paraná; a deputada Luíza Erundina (PSB-SP), na frente parlamentar contra o “terrorismo midiático”, como dizem na Venezuela; nosso baiano (nascido paulista) Emiliano José, suplente do PT (mesmo quando não está deputado, está na luta como jornalista); ultimamente tenho visto o engajamento do deputado Paulo Pimenta (PT-RS); quem mais?

Os governos da era PT na presidência vão continuar financiando TV Globo, Veja, jornais Folha, Estadão e O Globo & Cia, e minimizando o papel dos meios de comunicação alternativos, pagando aos grandes para seguir apanhando todo santo dia?

Como entender que os governos Lula/Dilma conviveram e convivem com a perseguição às rádios e TVs comunitárias? Melhor não seria dizer patrocinaram e patrocinam tal processo de criminalização, através da Polícia Federal, da Anatel e do Ministério das Comunicações?

E os partidos mais à esquerda, chamados pejorativamente de “radicais”, de “extremistas”, não afinados com os governos Lula/Dilma, engrossariam essa luta? São os casos do PSOL, PSTU, do atual PCB (antigo Partidão), PCO, etc. (Na verdade, esses nem sequer são escutados).

Pretendo ampliar estas reflexões quiçá pretensiosas dum Quixote moderno, assim meio desorganizadas, soltando as muitas dúvidas e as poucas certezas que circulam pelo juízo. Este é o capítulo 1. Até mais.

Publicado originalmente no blogEvidentemente.

Jadson Oliveira é jornalista baiano e vive viajando pelo Brasil, América Latina e Caribe. Atualmente está na Bahia. Mantém o blog Evidentemente – www.blogdejadson.blogspot.com .