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Advogados denunciam Editora Abril ao Ministério Público
10 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda
O Coletivo Advogados para a Democracia, protocolou na última quarta-feira (06/06) uma representação ao Ministério Público contra a Editora Abril.
Há algumas semanas, recebemos a informação de que a empresa circulava por escolas estaduais de São Paulo distribuindo pacotes de figurinhas e bonecos em miniaturas pertencentes a um álbum produzido por ela em uma prática covarde e criminosa de induzir crianças e adolescentes ao consumismo infantil.
Como se isso não bastasse, funcionários devidamente vestidos com camisas com o logotipo da empresa adentraram às escolas sem que a direção dessas escolas consentissem.
Os produtos distribuídos gratuitamente não possuem nenhuma relação com o ambiente escolar tratando-se apenas de publicidade voltada a seres humanos em fase de formação.
Entendemos que a Editora, com esta prática socialmente condenável, age ilegalmente, pois fere a vulnerabilidade do consumidor, os valores sociais básicos e a própria sociedade como um todo reforçando valores meramente mercadológicos no processo de socialização de crianças e adolescentes, senão vejamos:
- As crianças e os adolescentes não têm maturidade suficiente para discernir que aqueles produtos recebidos não são parte do universo escolar. A Editora se utiliza da vulnerabilidade dos alunos;
- Ao invés das tradicionais propagandas da televisão (fiscalizadas pelo Ministério Público e outras entidades) a Editora se utiliza de subterfúgios para atingir um consumidor vulnerável e protegido pela Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código de Defesa do Consumidor, o Código Brasileiro de Auto-regulamentação Publicitária e tantas outras normas que dispõem a respeito;
- É impossível não reconhecer que o local para tal publicidade é inapropriado e está absolutamente desvinculado do contexto do ambiente escolar além de atrapalhar o andamento normal das atividades escolares desviando a atenção dos alunos para os produtos;
- Além disso, ficou explícita a relação de competitividade criada entre os educandos. Aqueles que receberam mais figurinhas e miniaturas se colocavam como superiores a outros que receberam uma quantidade menor. Ato contínuo, nos dias subsequentes, a mesma relação surgiu com os alunos que puderam comprar o álbum e mais figurinhas e miniaturas nas bancas de jornal com aqueles que, por não ter a mesma possibilidade financeira, não puderam fazer o mesmo. Trata-se de uma lógica perversa de socialização entre crianças e adolescentes em processo de formação;
- É necessário perceber a dor, humilhação, sofrimento e constrangimento daqueles cujos pais não têm condições financeiras de comprar o álbum e as demais figurinhas para completá-lo. Eles passam a ser alvo de gozações diárias surgindo a nefasta prática do bullying;
- Para além do universo escolar, é fundamental lembrar do possível conflito que pode existir no âmbito familiar quando um aluno chega em casa com tais produtos pedindo aos pais que comprem o álbum sendo que eles não possuem poder econômico para tanto.
É preciso reiterar que o Estatuto da Criança e do Adolescente adotou, em consonância com a Constituição Federal, o sistema da proteção integral, sempre ressaltando a condição de ser humano em formação e por isso merecedor de cuidados especiais e a Editora Abril com essa prática simplesmente ignora de forma vil todas as legislações que garantem os direitos fundamentais de cidadãos em desenvolvimento.
Ressalte-se que estes menores, alvos do agressivo marketing publicitário da citada empresa, gozam de tripla proteção: como crianças e adolescentes, como consumidores e como usuários dos serviços públicos.
Diante de tais fatos fomos a campo atuando na defesa da criança e do adolescente contra a lógica voraz do mercado que não tem qualquer preocupação social, apenas empresarial.
(Publicado no blog Advogados para a democracia)
Há algumas semanas, recebemos a informação de que a empresa circulava por escolas estaduais de São Paulo distribuindo pacotes de figurinhas e bonecos em miniaturas pertencentes a um álbum produzido por ela em uma prática covarde e criminosa de induzir crianças e adolescentes ao consumismo infantil.
Como se isso não bastasse, funcionários devidamente vestidos com camisas com o logotipo da empresa adentraram às escolas sem que a direção dessas escolas consentissem.
Os produtos distribuídos gratuitamente não possuem nenhuma relação com o ambiente escolar tratando-se apenas de publicidade voltada a seres humanos em fase de formação.
Entendemos que a Editora, com esta prática socialmente condenável, age ilegalmente, pois fere a vulnerabilidade do consumidor, os valores sociais básicos e a própria sociedade como um todo reforçando valores meramente mercadológicos no processo de socialização de crianças e adolescentes, senão vejamos:
- As crianças e os adolescentes não têm maturidade suficiente para discernir que aqueles produtos recebidos não são parte do universo escolar. A Editora se utiliza da vulnerabilidade dos alunos;
- Ao invés das tradicionais propagandas da televisão (fiscalizadas pelo Ministério Público e outras entidades) a Editora se utiliza de subterfúgios para atingir um consumidor vulnerável e protegido pela Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código de Defesa do Consumidor, o Código Brasileiro de Auto-regulamentação Publicitária e tantas outras normas que dispõem a respeito;
- É impossível não reconhecer que o local para tal publicidade é inapropriado e está absolutamente desvinculado do contexto do ambiente escolar além de atrapalhar o andamento normal das atividades escolares desviando a atenção dos alunos para os produtos;
- Além disso, ficou explícita a relação de competitividade criada entre os educandos. Aqueles que receberam mais figurinhas e miniaturas se colocavam como superiores a outros que receberam uma quantidade menor. Ato contínuo, nos dias subsequentes, a mesma relação surgiu com os alunos que puderam comprar o álbum e mais figurinhas e miniaturas nas bancas de jornal com aqueles que, por não ter a mesma possibilidade financeira, não puderam fazer o mesmo. Trata-se de uma lógica perversa de socialização entre crianças e adolescentes em processo de formação;
- É necessário perceber a dor, humilhação, sofrimento e constrangimento daqueles cujos pais não têm condições financeiras de comprar o álbum e as demais figurinhas para completá-lo. Eles passam a ser alvo de gozações diárias surgindo a nefasta prática do bullying;
- Para além do universo escolar, é fundamental lembrar do possível conflito que pode existir no âmbito familiar quando um aluno chega em casa com tais produtos pedindo aos pais que comprem o álbum sendo que eles não possuem poder econômico para tanto.
É preciso reiterar que o Estatuto da Criança e do Adolescente adotou, em consonância com a Constituição Federal, o sistema da proteção integral, sempre ressaltando a condição de ser humano em formação e por isso merecedor de cuidados especiais e a Editora Abril com essa prática simplesmente ignora de forma vil todas as legislações que garantem os direitos fundamentais de cidadãos em desenvolvimento.
Ressalte-se que estes menores, alvos do agressivo marketing publicitário da citada empresa, gozam de tripla proteção: como crianças e adolescentes, como consumidores e como usuários dos serviços públicos.
Diante de tais fatos fomos a campo atuando na defesa da criança e do adolescente contra a lógica voraz do mercado que não tem qualquer preocupação social, apenas empresarial.
(Publicado no blog Advogados para a democracia)
Juros baixaram, mas tarifas bancárias aumentaram em até 41%
10 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaJuros baixaram, mas tarifas bancárias aumentaram em até 41% |
Pesquisa feita pelo Procon mostra que a alta do preço dos pacotes bancários em um ano foi superior à inflação
As tarifas cobradas pelos principais bancos aumentaram até 41% em um ano, de acordo com pesquisa publicada pelo Procon-SP.
A pesquisa comparou o valor de pacotes oferecidos em maio de 2011 e em maio de 2012 pelos sete principais bancos privados e públicos: Banco do Brasil, Itaú, Bradesco, Caixa Econômica Federal, HSBC, Safra e Santander.
O aumento, na maioria dos casos, fica acima da inflação acumulada no período, de cerca de 5%.
O Itaú teve o maior aumento no preço cobrado por um pacote: 41%. O pacote do banco que sofreu o menor aumento teve alta de 5%, igual à inflação do período.
O Banco do Brasil teve uma elevação nos preços nivelada, com altas de 9,5% e 10%.
A Caixa Econômica Federal teve seus pacotes reajustados mais elasticamente, com o menor aumento do pacote de 2,99% e o maior de cerca de 30%.
No HSBC, o menor aumento foi de 6,4%, enquanto o máximo foi de 20%.
O banco Safra fez dois reajustes, de 11% e 28% no período analisado.
O Santander fez as menores alterações. O único pacote que teve aumento subiu somente 3%.
De acordo com Paulo Arthur Góes, diretor-executivo da Fundação Procon-SP, a grande quantidade de pacotes dificulta a comparação e a escolha do consumidor.
O Itaú diz que os dados da pesquisa mostram que o banco tem tarifas competitivas e seus pacotes estão entre os mais baratos do mercado.
Além disso, afirma que o Pacote Itaú Econômico, apontado na pesquisa como de maior variação, não tinha reajuste desde 2008 e não é mais comercializado.
O Banco do Brasil disse que não aumenta as tarifas desde abril de 2008, apenas tendo corrigido os preços praticados em percentuais inferiores à inflação do período.
A Caixa informou que, entre os pacotes analisados, a maior tarifa cobrada pelo banco é 60% mais barata que as semelhantes. O reajuste realizado em um dos pacotes, segundo o banco, ocorreu com o aumento da quantidade de serviços.
O Santander afirmou que oferece diversos pacotes de serviços para suprir as necessidades dos clientes de acordo com o perfil de consumo.
Os bancos Safra e HSBC não comentaram.
ONG da Globo garfou R$ 2,9 milhões dos cofres públicos às custas da UNE
10 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaO jornalão O Globo critica convênios e patrocínios à UNE (União Nacional dos Estudantes) bem acima do tom.Mas o que o jornalão não conta, é que a ONG da Globo, Fundação Roberto Marinho, usando da lei de incentivo à cultura, garfou R$ 2,9 milhões do dinheiro público dos impostos, para fazer a "Memória da UNE" (Ver PRONAC nº 030926 no Ministério da Cultura), quando queria melhorar um pouco sua imagem de empresa filhote da ditadura.
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http://www.mme.org.br |
O que os amigos leitores que são webmasters ou webdesign acham?
Que tal o jornalão fazer uma reportagem a respeito, abrindo com transparência a prestação de contas?
Detalhes sórdidos
Na proposta apresentada ao Ministério da Cultura, a ONG da Globo queria que os cofres públicos pagassem:
- R$ 5.000,00 para "coquetel"
- R$ 37.800,00 para compra de computador Pentium.
Estes itens foram vetados.
(Publicado no blog Amigos do Presidente Lula)
Qual o seu valor?
6 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários aindaPor anna.guimaraes no Blog da Pacificação
Ver a imagem do próprio rosto em uma nota de dinheiro. Esse é privilégio de poucos, já que a maioria dos homenageados nas moedas pelo mundo não são vivos. Mas na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, duas senhoras notáveis conseguiram esse feito. Com a cara carimbada na moeda social, que circula desde o ano passado no local, elas experimentam a fama para além da comunidade que as elegeu em assembleia, entre os cerca de 40 mil moradores, para estampar as cédulas.
“Sorria, você fica muito mais bonita assim, fazendo o bem, sorrindo com alegria, só alegria não tem fim”, a canção foi lembrada por Dona Geralda, quando ela passou suas compras no caixa do mercado e a funcionária não a tratou, digamos, com muita simpatia. A partir daí, já dá para imaginar um pouco sobre Geralda Maria de Jesus, 83 anos, moradora da Cidade de Deus que estampa a nota de 1 CDD (R$ 1).
O que não dá para imaginar é que, com toda essa felicidade, ela passou por muitas coisas difíceis na vida. Entre elas, a perda de sua casa num deslizamento no Morro do São Carlos, Catumbi, onde vivia com filhos e marido na década de 60. Depois da tragédia, eles foram removidos para a Cidade de Deus, na época um lugar ermo na Zona Oeste do Rio, onde foram construídos conjuntos habitacionais para quem perdeu suas casas por causa das fortes chuvas que caíam na cidade.
Naquele tempo, Dona Geralda não imaginava a ligação que teria com a comunidade. Foram oito filhos de sangue, mas ao longo dos anos se tornou mãe de coração de milhares de moradores dali. “Eu vi quase todo mundo nascer aqui. Ajudei até alguns a vir ao mundo”, revela ela, que há mais de 30 anos dá curso de gestante em sua casa e providencia enxoval para os bebês que estão para chegar.
Nos primeiros 10 minutos de nossa visita à casa de Dona Geralda, pelo menos três mulheres grávidas bateram à porta. E ela não dá mole. “Já fez os exames? Tem que fazer o pré-natal direitinho”, enfatiza. “Então traga aqui para eu ver”.
Além das grávidas, a casa de Dona Geralda também é abrigo para quem tem fome. Ela serve café da manhã e almoço para os mais necessitados. “Isso aqui eu faço porque tenho que fazer. Sabe como é? Eles precisam”, resume ela, que trabalha com a ajuda de voluntários e doações.
Vaidosa, a homenageada está sempre com um lencinho no pescoço, marca registrada. Cada dia se enfeita com um diferente no pescoço. “Quer me dar um presente? Escolhe um lenço”, sugere ela. Na cozinha simples, chama a atenção os mais de 30 panelões, carregados de histórias. “Eu uso eles para fazer os sopões. O número de gente foi aumentando e eu sempre precisava de maiores”, explica Dona Geralda.
Algumas quadras à frente, encontramos Benta Neves do Nascimento, 79. Fundadora da ONG Comitê da Terceira Idade, ela já formou centenas de pessoas em cursos de corte e costura, bordado e artesanato. A senhora que tem o rosto na nota de 5 CDD sabe do seu valor. “Eu falei que não queria estampar nota barata não ”, fala Dona Benta, que brinca com a homenagem. “Vê só, eu com essa idade passando de mão e mão”.
Em sua casa, além das colchas de fuxico, tapetes de pachtwork, máquinas de costura, os detalhes do candomblé chamam a atenção. Dona Benta é “cabeça raspada” – a raspagem do cabelo faz parte da iniciação – e joga búzios. Apresentou-nos um espaço sagrado dentro de sua casa, onde ficam seus santos, o cantinho onde ela se guarda para fazer suas reclamações e chorar. “Eu venho pra cá, penso no que preciso e choro muita vezes”, revela.
Mais dois moradores, já falecidos, foram eleitos pela comunidade para estampar as notas de 10 e de 2 CDD. São, respectivamente, Julio Grooten, o primeiro padre do bairro; e João Batista, que dirigia a Associação Beneficente Obra Social Estrela da Paz, que cuida de crianças e adolescentes em fase de desnutrição. A nota de o,50 CDD (R$0,50) tem como símbolo a Casa do Barão. Antigo dono daquelas terras, Francisco Pinto da Fonseca Telles, o Barão da Taquara, foi um reconhecido benfeitor da Zona Oeste.
O Banco Comunitário da Cidade de Deus foi inaugurado em 15 de setembro de 2011 depois de muitas reuniões dos moradores que defendiam a criação de uma moeda própria para valorizar o comércio local. Desde então já foram realizadas cerca de 4 mil pagamentos de contas, 55 empréstimos, e um valor em torno de R$ 7 mil reais em trocas diárias. Hoje existem mais de 10 mil CDDs em circulação.
Fotos: Allana Amorim
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O governo Dilma diante das greves
6 de Junho de 2012, 21:00 - sem comentários ainda Por Maurício Caleiro, no blog Cinema & Outras Artes:Vive-se um momento contraditório no país: ao mesmo tempo em que o governo mantém altos índices de popularidade e a estabilidade econômica alcançada em meio à mais grave crise do capitalismo desde 1929, graves problemas na Educação e na Saúde vêm a público, no bojo da insatisfação de médicos e professores. A greve destes atinge 20 dias, tem número de adesões crescente (já são 51 instituições paradas) e permanece sem perspectiva de solução. Concomitantemente, ocorrem dezenas de greves de professores estaduais e municipais.
Agora a situação se deteriora ainda mais: desde ontem, quando o ministro Aloizio Mercadante (Educação) chamou os representantes docentes à mesa de negociação mas, invocando as incertezas do cenário econômico internacional, não apresentou proposta, servidores públicos de 31 categorias profissionais, que protocolaram sua pauta de reivindicações no longínquo janeiro, decidiram aderir à paralisação até o próximo dia 18, como forma de protesto, após uma dezena de reuniões infrutíferas com o governo.
Não obstante a gravidade da situação, tal cenário quase não tem atraído as atenções da mídia corporativa, cuja orientação neoliberal inclui, naturalmente, um desprezo acentuado pelo funcionalismo público. Só abre eventuais exceções quando – como ontem, no MEC - há quebra-quebra e a possibilidade sempre excitante de incriminar os movimentos sociais. Para muito além desses interesses de fundo, porém, tal comportamento se insere em um contexto histórico e político específico que ora já pode ser entendido como demarcador de um capítulo da história da imprensa: o seu relacionamento com os governos federais petistas.
Mídia omissa
A mais grave crise da imprensa brasileira, tanto em termos comerciais - face às dificuldades para competir com o conteúdo gratuito oferecido pela internet - quanto éticos – graças à negligência de regras básicas do bom jornalismo e à ação como partido político, que fazem com que se encontre profundamente desacreditada - está prestes a completar uma década, posto que deflagrada a partir da campanha eleitoral de 2002, a qual levou Lula, pela primeira vez, à Presidência.
Muitos e graves são os efeitos deletérios ora ocasionados ao país pela virtual ausência de um jornalismo sério que, malgrado suas ligações com o grande capital, ao menos se esforçasse para aparentar profissionalismo e imparcialidade, como se faz em boa parte do mundo.
Mas não: além da insistência obsessiva em reafirmar, como dogma, um receituário neoliberal desautorizado pela história socioeconômica – como os índices de desemprego e a grave crise vivenciados no passado pelo Brasil e ora pelas nações do norte ocidental ilustram de forma cabal – e da tendência a se aferrar a um conservadorismo patrimonialista, contrário a tudo que recenda a lutas sociais – de reforma agrária a liberdades comportamentais, de direitos sobre o próprio corpo a greve como forma de reivindicação –, a imprensa brasileira abusa de expedientes baixos, de manipulações grosseiras, de armações várias, dos quais o inacreditável fuzuê em torno das declarações de Gilmar Mendes e as evidências da CPI do Cachoeira envolvendo a revista Veja e o crime organizado são as provas mais recentes.
O nó da questão
Esse quadro acima descrito, que promove o esvaziamento do jornalismo como campo de valoração e intermediação, acaba por afetar substancialmente a circulação qualitativa da comunicação na sociedade, a difusão de critérios valorativos à ética na política e seu acompanhamento, o grau de consciência cívica dos cidadãos, a constituição de narrativas histórico-políticas, entre outros temas. Tudo isso faz com que a relação entre mídia, cidadania e democracia se afigure, atualmente, como um ponto nodal para o avanço da democracia no país.
Para além dessas características eminentemente negativas, talvez o aspecto mais contraditório – e mais revelador da pouca inteligência política que caracteriza a estratégia do conservadorismo midiático – seja que, ao optar pela desqualificação grosseira, pelo denuncismo seletivo e pela repetição de mantras e dados em sua maioria inverídicos, ele deixa tanto de reconhecer méritos (a muitos evidentes) quanto de apontar falhas e deméritos efetivos dos governos Lula e Dilma. Isso, por sua vez, acaba por gerar um fenômeno paradoxal, uma vicissitude crítica de consequências anestesiantes, que merece ser examinado com maior detalhamento.
Um ano e meio de governo
Pois desse modo agindo, a parcialidade antigovernista tende, por um lado, a tornar indistintas, do ponto de vista de seu grau de procedência e de sua veracidade, as críticas que faz ao governo. Isso, por outro lado, incita - nas redes sociais, sobretudo – uma resposta contrária e em igual medida, porém pró-governista. Assim, seja pela dificuldade de separar o joio do trigo nas críticas da mídia ao governo, peneirando o que é procedente e o que não é, ou seja pela impropriedade de se esperar que as respostas coletivas e de natureza eminentemente reativa das redes sociais somem à exaltação dos méritos o ato de botar o dedo nas feridas governistas, acaba-se por não se desenvolver devidamente e a contento o exame de questões problemáticas e dos pontos fracos da gestão federal – e isso, ao contrário do que possa inicialmente aparecer, é prejudicial não só para a mídia, mas, mais ainda, para o governo Dilma Rousseff e para o país.
E fica cada vez mais claro que o governo Dilma oferece até agora, quase um ano e meio depois de seu início e na iminência de ingressarmos em mais um período eleitoral, um legado contraditório, cujos méritos diversos merecem, sem dúvida, ser reconhecidos, mas cujos pontos indubitavelmente problemáticos não podem permanecer eclipsados pelo paradoxo gerado pela atuação obscurantista da imprensa neoliberal, de um lado, e, de outro, pelo otimismo muitas vezes condescendente de seus simpatizantes, entusiastas e militante nos blogs e redes sociais (neste sentido, é altamente simbólico que o ápice da deterioração das relações entre governo e servidores tenha se dado concomitantemente a um momento em que as redes sociais fervilhavam de irônica autocongratulação, com tags como #serpetralha e #BolsaTwitter).
Pois, desse modo, acabamos no pior dos mundos para as demandas trabalhistas, posto que tanto o entusiasmo cego de uns quanto o neoliberalismo dogmático de outros acaba por fazer vista grossa para tais reivindicações – advindas, no caso, de servidores responsáveis justamente pela aplicação das políticas sociais do Estado, na Educação, na Saúde e para além destas.
Méritos e desacertos
Não se deve, por certo, deixar de reconhecer os méritos do atual governo, em que se destacam, por estruturais, as políticas de erradicação da miséria e de seguridade socioeconômica, de um lado, e a estabilidade econômica de outro, esta notadamente por se dar em meio a uma grande crise mundial, como já mencionado. Trata-se de um feito que não pode ser menosprezado: a título de comparação, basta examinar as consequências devastadoras que a crise do petróleo gerou na economia brasileira do início dos anos 80 ou, num exemplo mais próximo e com a economia já altamente globalizada, as três vezes em que o Brasil quase foi à falência durante o segundo governo de Fernando Henrique devido a crises econômicas localizadas, bem menores do que a atual, e que legaram ao país muita carestia e desemprego.
Convém frisar ainda que, a despeito do baixo crescimento dos últimos meses, o desempenho da economia brasileira, no governo Dilma, tem contemplado, de forma inédita, um esforço para redução substancial dos juros e atenção aos níveis de desemprego (que se encontram no menor índice da série histórica), de crédito e de consumo. Destarte, não tem sido possível, nos últimos anos, bradar a constatação antes renitente de que “a economia vai bem, mas o país vai mal”.
Recursos há
Por outro lado, o rigor fiscal continua recebendo um tratamento prioritário que é negado a áreas sociais fundamentais, tais como saúde e educação. Mesmo já atingida a por si excessiva meta de superávit primário em abril, o governo continua economizando, enquanto promove um inaceitável corte de salários de 48 mil médicos e trata com marasmo a greve dos professores universitários federais.
Saúde e educação são – ou deveriam ser duas áreas de máxima prioridade para um governo alegadamente comprometido com a real promoção de avanços sociais e democráticos. Durante toda a campanha eleitoral e em seu discurso de posse, Dilma reiterou que a Educação seria, em suas palavras, “prioridade número um”.
Porém o que se vê agora está muito distante de honrar esse compromisso: o governo, embora siga promovendo um superávit primário absurdamente alto e disponha de recursos que o permitem perdoar dívidas milionárias das teles e continuar abdicando de impostos para estimular compra de carros e de eletrodomésticos, se recusa a sequer apresentar uma contraproposta às categorias profissionais em greve, que tem sido tratadas com um descaso incompatível com um governo popular.
Incoerência programática
Tal postura intransigente acaba por permitir lances do mais hipócrita oportunismo, como o recente apoio do PSDB à greve. Ora, os tucanos não têm moral para se solidarizar com quem sempre maltrataram: quando no poder, com FHC, faltou giz e dinheiro para pagar conta de luz nas universidades federais, que estiveram à beira do colapso (este era mesmo o objetivo, para privatizar o ensino superior).
No entanto, se continuar a tratar as demandas de seus servidores como os últimos itens a serem contemplados em sua agenda governamental, a administração Dilma Rousseff estará não só facilitando o trabalho de seus opositores – seja através de lances hipócritas como o acima mencionado, seja por desvalorizar o setor público para gáudio do conservadorismo – mas diminuindo a qualidade e a efetividade da ação do Estado nas áreas de Saúde e de Educação - e, assim, afastando-se da plataforma de um governo progressista e prejudicando o povo e o país.